
NEURALGIA DE ARNOLD
RELATO DE CASO
NEURALGIA DE ARNOLD
Wilson Farias da Silva
Professor Titular, Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia
Joaquim Costa Neto
Chefe do Serviço de Neurologia do HC
Ivana Silva da Cruz, Fabiola L. Medeiros e Hercília Albuquerque
Médicos Residentes
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco.
Ambulatório de Cefaléia do
INTRODUÇÃO
Processos degenerativos, infecciosos, inflamatórios, tumorais, traumáticos ou deformações congênitas das estruturas da região cervical alta ou da zona de transição crâniocervical podem acarretar o aparecimento de dores na região occipital, por vezes com propagação para o pescoço (áreas de inervação das raízes C2 e C3), de início insidiosas ou subagudas, contínuas ou intermitentes, desencadeadas ou agravadas por movimentação ativa ou passiva da coluna cervical. Há dor à pressão dos nervos occipitais e/ou das estruturas ósseas da coluna cervical, hiperestesia no território neural, podendo se encontrar, ainda, contratura muscular de defesa. Alguns pacientes experimentam, concomitantemente, sensações vertiginosas, náuseas e vômitos.
O diagnóstico de neuralgia occipital é relativamente fácil, mas o determinar da etiologia, por vezes, é difícil, exigindo a realização de estudos por neuroimagem, do crânio e da coluna cervical, e exame do líquido cefalorraquidiano.
No diagnóstico diferencial estão inclusas condições de nosologia discutíveis, tais como cefaléia cervicogênica, síndrome de
O tratamento pode exigir o concurso de ortopedistas e fisioterapeutas. A resposta positiva, porém temporária, à injeção local de anestésico e corticosteróide assegura a permanente resolução do quadro clínico com a rizotomia de C2.
As considerações acima dizem respeito à modalidade passível de ser denominada de sintomática,
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A neuralgia de Arnold, entendida aqui apenas a essencial,
éuma condição pouco freqüente, evoluindo com dores unilaterais e de grande intensidade, iniciadas na região nucal daí se irradiando para a região occipital, podendo se estender até a região retromastoidea, indo, ocasionalmente, até a região parietal.
O início comumente é agudo, porém a instalação pode ser progressiva, com sensação de queimação,
O habitual é que, após uma salva de dores, sobrevenha um período de latência durante o qual o território neural pode permanecer hipoestésico.
As dores aparecem de modo espontâneo ou podem ser desencadeadas por estímulos cutâneos tais como colocar um chapéu, pentear os cabelos, realizar movimentos de flexão, extensão e rotação da cabeça e, também, exercer pressão sobre a região occipital.
Hiperestesia do couro cabeludo que recobre a área interessada freqüentemente é encontrada.
A neuralgia de Arnold tem evolução bastante irregular, os surtos de dor são espontâneos e surgem de modo aleatório, persistindo por tempo variável e com período de latência, por vezes longos, ocorrendo durante a evolução.
O tratamento clínico da neuralgia de Arnold, de modo análogo ao que ocorre com as outras neuralgias craniofaciais essenciais, tem na carbamazepina, em doses individualizadas para cada paciente, a medicação de escolha. Uma outra opção hodiernamente sugerida para tratar as neuralgias é a gabapentina na dose de 600 a1800 mg ao dia. Na falha do tratamento conservador e após criteriosa avaliação, medidas cirúrgicas podem ser cogitadas.
Migrâneas e Cefaléias, vol 5, nº 1, abril/maio/junho 2002
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NEURALGIA DE ARNOLD
CASUÍSTICA
CASO 1. SMF; 46 anos; masc.; br; prof. universitário Há três semanas, espontaneamente e ao fletir a cabeça,
dor no território do nervo occipital esquerdo, agudas, intensas, duração de segundos, isoladas ou agrupadas em pequenas salvas. Ao exame, dor à pressão do ponto de emergência do nervo occipital esquerdo. Rx de crânio mostrou espessamento do osso occipital com importante exostose na correspondência da protuberância occipital externa. A tomografia computadorizada do crânio
CASO 2. EJA; 73 anos; masc.; br.; engenheiro.
Há vários anos, esporadicamente, dores em pontadas, intensas, curtíssima duração, erráticas, projetadas em áreas restritas do território dos nervos trigêmeo (Jabs and Jolts). Há 15 dias, dores na região occipital direita, intensas, como uma facada (sic), duração efêmera, pouco freqüentes e mais vezes surgindo quando apoiava o occiput no travesseiro. Exame clínico neurológico sem anormalidades. Rx de crânio normal. Rx da coluna cervical com osteófitos e pinçamentos de C4 a C8. Hemograma, VSH e protidograma normais. Medicado com carbamazepina, não retornou para controle.
CASO 3. LRN; 42 anos; masc.; br.; eletricista.
Há oito dias, com início abrupto, dores na região occipital esquerda, intensa e de curta duração
rados por longos períodos de latência; resposta em geral excelente à carbamazepina.
•Neuralgia sintomática; prognóstico na dependência da doença primária, que também é o referencial para o tratamento se medicamentoso ou, com bastante freqüência, cirúrgico
REFERÊNCIAS
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9.Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and managemen of headache. 6ª ed. p
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12.Sjaastad O, Dale I. Evidence for a new tratable headache entity. Headache 1974;14
COMENTÁRIOS
•Neuralgia de Arnold (essencial); bom prognóstico; possibilidade de
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