October/November/December 2018
Nº 4
9
VOL UME
Headache
Medicine
Headache
Medicine
ISSN 2178-7468
Af-Capa_HM_4_2018.indd 1 22/10/19 17:18
EDITORIAL
The XXXII Brazilian Congress of Headache (2018) held in Porto de Galinhas,
Pernambuco, Brazil, was a great success!
Marcelo Moraes Valença
ORIGINAL ARTICLE
Categorias da CIF comprometidas na migrânea
Suellen Freitas da Silva, Hugo Feitosa, Alyne Karine de Lima Santos, Manuella Moraes Monteiro
Barbosa Barros, Karinne Josepha Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara
Cavalcanti de Morais Coutinho Neta, Débora Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
Alterações de funcionalidade de mulheres migranosas
Alyne Karine Lima Santos, Hugo Feitosa, Suellen F Silva, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros,
Josepha Karinne de Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara Cavalcanti de
Morais Coutinho Neta, Paulo José Moté Barboza, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho, Débora
Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
VIEW AND REVIEW
Mecanismos farmacológicos do topiramato na prolaxia e tratamento da enxaqueca: uma revisão
Emanuela Paz Rosas, Raisa Ferreira Costa, Silvania Tavares Paz, Ana Paula Fernandes da Silva,
Manuela Freitas Lyra de Freitas, Marcelo Moraes Valença
O lado escuro da migrânea: uma análise cefaliátrica de "The Dark Side of the Moon", de Pink Floyd
Patrick Emanuell Mesquita Sousa Santos, Iara Alves Coelho, Raimundo Pereira Silva-Néto
Interações entre enxaqueca, hipertensão arterial sistêmica e acidente vascular cerebral:
uma revisão integrativa
Gizele da Silva Lima, Iris Milleyde da Silva Laurentino, Vânia Nazaré da Costa Silva,
Antonio Flaudiano Bem Leite, Marcelo Moraes Valença, Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
LETTER TO EDITOR
XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CEFALÉIA: "Que tamanho tenho eu?"
Alan Chester Feitosa de Jesus
Headache Medicine, v.9, n.4, p.173, Oct/Nov/Dec 2018 173
CONTENTS
EDITORIAL
The XXXII Brazilian Congress of Headache (2018) held in Porto de Galinhas, Pernambuco, Brazil, was a great
success!
O XXXII Congresso Brasileiro de Cefaleia realizado em Porto de Galinhas, Pernambuco, Brasil, foi um grande
sucesso!........................................................................................................................................................ 176
Marcelo Moraes Valença
ORIGINAL ARTICLE
Categorias da CIF comprometidas na migrânea
ICF categories compromised in migraine ....................................................................................................... 177
Suellen Freitas da Silva, Hugo Feitosa, Alyne Karine de Lima Santos, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros,
Karinne Josepha Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara Cavalcanti de Morais Coutinho Neta,
Paulo José Moté Barboza, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho, Débora Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
Alterações de funcionalidade de mulheres migranosas
Functionality changes of migraine women ..................................................................................................... 183
Alyne Karine Lima Santos, Hugo Feitosa, Suellen F Silva, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros, Josepha Karinne de
Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara Cavalcanti de Morais Coutinho Neta, Paulo José Moté
Barboza, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho, Débora Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
VIEW AND REVIEW
Mecanismos farmacológicos do topiramato na profilaxia e tratamento da enxaqueca: uma revisão
Pharmacological mechanism of topiramate in the prophylaxis and treatment of migraine: a review ............... 190
E
manuela Paz Rosas, Raisa Ferreira Costa, Silvania Tavares Paz, Ana Paula Fernandes da Silva,
Manuela Freitas Lyra de Freitas, Marcelo Moraes Valença
O lado escuro da migrânea: uma análise cefaliátrica de "The Dark Side of the Moon", de Pink Floyd
The dark side of the migraine: an analysis of the semiotic of headache of the Pink Floyd's album .................. 196
Patrick Emanuell Mesquita Sousa Santos, Iara Alves Coelho, Raimundo Pereira Silva-Néto
Interações entre enxaqueca, hipertensão arterial sistêmica e acidente vascular cerebral:
uma revisão integrativa
Interactive between headache, systemic arterial hypertension and stoke: a integrative review ...................... 199
Gizele da Silva Lima, Iris Milleyde da Silva Laurentino, Vânia Nazaré da Costa Silva, Antonio Flaudiano Bem Leite,
Marcelo Moraes Valença, Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
LETTER TO EDITOR
XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CEFALEIA: "Que tamanho tenho eu?" ............................................................ 205
Alan Chester Feitosa de Jesus
INFORMATIONS FOR AUTHOR................................................................................................................. 207
Capa/Cover – Capa criada por Marcelo M. Valença - An illustration of a piece of art depicting a subject
suffering from severe head pain. The piece was purchased at an art gallery in Porto, Portugal.
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
Volume 9 Number 4 October/November/December 2018
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
174 Headache Medicine, v.9, n.4, p.174-175, Oct/Nov/Dec 2018
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
A revista Headache Medicine é uma publicação de propriedade da Sociedade Brasileira de Cefaleia, indexada no Latindex e no Index Scholar, publicada pela
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Marcelo Moraes Valença
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Headache Medicine
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
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Headache Medicine, v.9, n.4, p.174-175, Oct/Nov/Dec 2018 175
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Prêmios
Carlos Alberto Bordini, Djacir Dantas Pereira de Macedo,
Jano Alves de Souza, Mauro Eduardo Jurno, Pedro
Ferreira Moreira Filho, Raimundo Pereira da Silva Neto
176 Headache Medicine, v.9, n.4, p.176, Oct/Nov/Dec 2018
he XXXII Brazilian Congress of Headache (2018) held in Porto de Galinhas,
Pernambuco, Brazil, was a great success, with over 500 participants and dozens of stimulating
lectures covering the various areas of Headache Medicine. There were about 100 poster
presentations with new data on headache by Brazilian students or specialists. The invited
international speakers were outstanding. Professor Thomas Ward, Editor-in-Chief of Headache
of Head and Face Pain (American
Headache Society) made three
brilliant presentations: "The new forms
of treatment available for refractory
headache", "Useful hints on the acute
and preventive treatment of a migraine
patient in the doctor´s office" and
"Advices on how to optimize the
chances of publication in international
journal".
Professor Messoud Ashina, the
President-Elect of the International
Headache Society, on the other hand,
showed in detail the frontier of research in the specialty in humans, stimulating the young
researchers to dream of a better control of the our patient´s suffering, with the lectures "Setting
research idea into motion" and "Targeting downstream migraine signaling pathways".
We were also glad to have Professor Robert Cowan, Professor of Neurology and Chief of
the Division of Headache Medicine at Stanford University, USA, who shared with us his vast
experience in the treatment of headache patients.
The XXXII Brazilian Congress of Headache (2018) held in
Porto de Galinhas, Pernambuco, Brazil, was a great success!
T
EDITORIAL
Marcelo Moraes Valença, MD, PhD, FAHS
Professor of Neurology and Neurosurgery,
Federal University of Pernambuco, Brazil.
Editor-in-Chief, Headache Medicine
mmvalenca@yahoo.com.br
Pedro Kovaks (former president of the Brazilian Headache Society),
Marcelo M. Valença (President of the XXXII Brazilian Headache
Congress, 2018) and Mauro Eduardo Jurno (President of the
Brazilian Headache Society, 2017-2018).
Headache Medicine, v.9, n.4, p.177-182, Oct./Nov./Dec. 2018 177
Categorias da CIF comprometidas na Migrânea
ICF categories compromised in Migraine
Suellen Freitas da Silva1, Hugo Feitosa
1
, Alyne Karine de Lima Santos
1
, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros
1
,
Karinne Josepha Oliveira Ferro
1
, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza
1
, Tamara Cavalcanti de Morais Coutinho Neta
1
,
Paulo José Moté Barboza
2
, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho
3
, Débora Wanderley
1
, Daniella Araújo de Oliveira
1
1
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife - Brasil
2
Fisioterapeuta, Centro Integrado de Reabilitação e Terapia Aquática (CIRTA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3
Departamento de Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil e Hospital Universitário
Oswaldo Cruz, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil
Silva SF, Feitosa H, Santos AKL, Barros MMMB, Ferro KJO, Souza AISO, Coutinho Neta TCM, Barboza PJM, Rocha Filho PAS,
Wanderley D, Oliveira DA. Categorias da CIF comprometidas na Migrânea. Headache Medicine. 2018;9(4):177-82
ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Objetivo: Identificar quais categorias da Classificação Inter-
nacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) es-
tão comprometidas em pacientes com migrânea sob a pers-
pectiva dos profissionais de saúde. Métodos: Trata-se de um
estudo transversal desenvolvido no ambulatório de cefaleia
do Hospital das Clínicas de Pernambuco, do Hospital Univer-
sitário Oswaldo Cruz e no Laboratório de Aprendizado e Con-
trole Motor da Universidade Federal de Pernambuco. Foi utili-
zado um questionário composto por cinco seções na versão
impressa e online baseado no checklist 2.1 da CIF. Foram
convidados profissionais de saúde de diferentes especialida-
des, que tivessem experiência no tratamento de pacientes com
migrânea. Os profissionais foram instruídos a preencher o
questionário e eleger, com base em sua experiência clínica,
quais categorias apresentam maior grau de comprometimen-
to ou maior relação com a condição clínica de pacientes com
migrânea, sendo considerado um ponto de corte de 70%
para aprovação das categorias. Resultados: Dezesseis pro-
fissionais participaram da pesquisa. O questionário foi com-
posto por 106 categorias, das quais 32 atingiram o ponto de
corte de 70% para serem consideradas aprovadas. Dentre
estas categorias, sete (21,8%) fazem parte do componente
funções do corpo, cinco (15,6%) de estruturas do corpo, 13
(40,6%) de atividades e participação e sete (21,8%) de fato-
res ambientais. Conclusão: Na percepção dos profissionais
de saúde, os indivíduos com migrânea apresentam compro-
metimento em todos os domínios da CIF e os domínios ativi-
dades e participação foram os que apresentaram maior nú-
mero de categorias comprometidas.
Palavras-chave: Transtornos de enxaqueca; Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; pes-
soal de Saúde; atividades e participação
ABSTRACT
Objective: To identify which categories of the International
Classification of Functioning, Disability, and Health (ICF) are
compromised in patients with migraine from the perspective of
health professionals. Methods: This is a cross-sectional study
conducted at the headache outpatient clinic of the Clinical
Hospital of Pernambuco, Oswaldo Cruz University Hospital and
at the Motor Learning and Control Laboratory of the Federal
University of Pernambuco. A five-section printed and online
questionnaire based on ICF checkList 2.1 was used. Health
professionals from different specialities who had experience in
treating patients with migraine were invited. Professionals were
instructed to complete the questionnaire and to choose, based
on their clinical experience, which categories had the highest
degree of impairment or the highest relationship with the clinical
condition of migraine patients. A cut-off point of 70% for
approval of categories was considered. Results: Sixteen
professionals were enrolled in the survey. The questionnaire
was compost by 106 categories, of which 32 reached the cut-
off point of 70% to be considered approved. Among these
categories, seven (21.8%) are part of the body functions
component, five (15.6%) body structures, thirteen (40.6%)
activities, and participation and seven (21.8%). of
environmental factors. Conclusion: In the perception of health
professionals, individuals with migraine present impairment in
all domains of the ICF and the activity and participation
domains presented the highest number of compromised
categories.
Keywords: Migraine disorders; International Classification of
Functioning, Disability, and Health; health personnel; activity
and participation
178 Headache Medicine, v.9, n.4, p.177-182, Oct./Nov./Dec. 2018
SILVA SF, FEITOSA H, SANTOS AKL, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
INTRODUCTION
A migrânea é uma cefaleia primária
(1)
que está entre
as mais incapacitantes em todo o mundo. Em 2016 esta
condição de saúde esteve entre os dez transtornos mais
incapacitantes nas 21 regiões do Global Burden of
Disease. Além disso, ocupou o sexto lugar nas desordens
mais prevalentes e o segundo em anos de vida vividos
com incapacidade.
(2)
Atinge principalmente mulheres jo-
vens e de meia idade, entre 15 e 49 anos.
(3)
Entretanto,
apesar dos dados epidemiológicos alarmantes e o cres-
cente número de pesquisas sobre o tema, a migrânea
ainda é uma condição que necessita de instrumentos ca-
pazes de trazer uma abordagem biopsicossocial e
mensurar a funcionalidade e a incapacidade auxiliando
a diminuir a sobrecarga na condição de saúde dos indi-
víduos acometidos como proposto pela Classificação In-
ternacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF).
(4)
A CIF surge no cenário mundial a partir de pesquisas
iniciadas nos anos 1990 que buscavam trazer inovações
e melhorias na área da saúde.
(5)
Ela originou-se da ne-
cessidade de expandir a discussão sobre os conceitos de
Funcionalidade e Incapacidade que, sozinha, a Classifi-
cação Internacional de Doenças (CID) não era capaz de
abranger de forma satisfatória. Assim, a partir da CIF foi
possível trazer uma perspectiva biopsicossocial que incor-
pora a dimensão biomédica, psicológica e social e é peça-
chave no processo de superação do modelo biomédico:
baseado no diagnóstico etiológico da disfunção sem le-
var em consideração outros fatores relacionados à condi-
ção do paciente.
(6,7)
Na perspectiva da CIF, o corpo está subdivido em:
funções do corpo, que dizem respeito ao mecanismo fisi-
ológico e psicológico do sistema orgânico; e estruturas
do corpo, as quais estão relacionados com a definição
anatômica. Já a atividade está relacionada à execução
de uma tarefa, enquanto que a participação diz respeito
ao envolvimento do indivíduo na execução dessa ativida-
de em um meio real.
(8)
Somando-se a estes, os fatores
ambientais e pessoais, temos os componentes da CIF, es-
senciais para a discussão a respeito dos complexos con-
ceitos de funcionalidade e incapacidade e como eles se
aplicam em diferentes condições clínicas como a
migrânea.
(7)
Apesar da avaliação da funcionalidade e da incapa-
cidade na migrânea ser de relevância primordial devido
ao alto grau de comprometimento provocado por ela,
foram realizadas poucas tentativas de mensurar o impac-
to na funcionalidade e incapacidade de indivíduos com
migrânea a partir de uma abordagem biopsicossocial,
como propõe a CIF.
(9)
Assim, o objetivo deste trabalho é identificar quais
categorias da CIF estão comprometidas em pacientes com
migrânea sob a perspectiva dos profissionais de saúde da
cidade do Recife.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, realizado
por meio de entrevistas com questionário semiestruturado
aplicado a profissionais da área de saúde. A pesquisa foi
aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da Universida-
de Federal de Pernambuco (UFPE), sob o parecer:
2.361.804, conforme os termos estabelecidos pela resolu-
ção 510/2016.
Amostra
Foram incluídos profissionais da área de saúde que
fossem médicos, odontólogos, enfermeiros, psicólogos ou
fisioterapeutas
(10)
e que possuíssem conhecimento prévio
a respeito da situação clínica da migrânea ou experiên-
cia no atendimento de pacientes com esta condição.
Procedimentos
Inicialmente foi desenvolvido um questionário na ver-
são impressa e online baseado no checklist 2.1 da CIF.
O checklist 2.1 é um instrumento cuja finalidade é anali-
sar o índice de comprometimento funcional do paciente
partindo das diretrizes estabelecidas pela CIF. Assim, ele
leva em conta as 125 categorias que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) considera de maior relevância
no contexto clínico.
(11)
O questionário contou com 106
categorias, das quais 32 eram referentes às funções do
corpo, 16 às estruturas do corpo, 48 a atividades e parti-
cipação e 10 categorias representando os fatores
ambientais.
Este questionário foi dividido em cinco seções: a
primeira para a coleta de dados pessoais e informações
profissionais, a segunda para as categorias referentes às
funções do corpo, a terceira referente às estruturas do
corpo, a seção quatro referente às atividades e participa-
ção e a última sessão destinada aos fatores ambientais.
Em seguida foi realizado o recrutamento dos profissionais
de saúde no Laboratório de Aprendizado e Controle Mo-
tor (LACOM) da Universidade Federal de Pernambuco,
no Hospital das Clínicas de Pernambuco e no Hospital
Universitário Oswaldo Cruz.
Headache Medicine, v.9, n.4, p.177-182, Oct./Nov./Dec. 2018 179
CATEGORIAS DA CIF COMPROMETIDAS NA MIGRÂNEA
Os profissionais foram esclarecidos a respeito do ob-
jetivo do trabalho e apresentados ao termo de consenti-
mento livre e esclarecido (TCLE) o qual foi lido e assina-
do. Em seguida eles foram convidados a preencher o ques-
tionário a partir das categorias disponíveis e assim eleger,
com base em sua experiência clínica, quais elementos
têm maior grau de comprometimento ou maior relação
com a condição clínica de pacientes com migrânea.
Análise dos dados
Os dados coletados foram organizados em planilha
do Excel em frequência absoluta e relativa de apareci-
mento das respostas. Só foram consideradas aprovadas
as categorias que obtiveram aprovação de pelo menos
70% da amostra.
RESUL TADOS
Foram recrutados 27 profissionais de saúde de diferen-
tes especialidades atuantes na cidade do Recife, dos quais
16 aceitaram participar. O perfil dos profissionais que cons-
tituíram a amostra deste estudo está descrito na Tabela 1.
Alcançaram o ponto de corte sendo consideradas apro-
vadas 32 categorias, das quais 7 (21,8%) concernentes a
funções do corpo, 5 (15,6%) relacionadas a estruturas do
corpo, 13 (40,6%) no domínio de atividades e participa-
ção e 7 (21,8%) pertencentes aos fatores ambientais, como
apresentado nas Tabelas 2 e 3.
180 Headache Medicine, v.9, n.4, p.177-182, Oct./Nov./Dec. 2018
DISCUSSÃO
Foram aprovadas neste estudo categorias relaciona-
das aos quatro grandes domínios da CIF, com atividades e
participação sendo o domínio que apresentou maior nú-
mero de categorias aprovadas. Assim, é possível afirmar
que, a partir da perspectiva dos profissionais de saúde en-
volvidos no tratamento desta população, a migrânea pro-
voca alto impacto e grau de incapacidade nas diferentes
áreas da vida, o que afeta diretamente a qualidade de
vida desta população.
(12)
Funções do corpo
Neste domínio, as categorias eleitas foram em sua
maioria pertencentes ao capítulo funções mentais globais,
que estão relacionadas às questões pessoais, emocionais e
de relacionamentos interpessoais dos pacientes que sofrem
com migrânea. Entre estas categorias está a categoria sono
(b134). A relação entre distúrbios do sono e migrânea tem
sido verificada em alguns estudos, atualmente, porém os
mecanismos ainda não são completamente entendidos. Há
estudos que demonstram que as desordens do sono podem
funcionar como gatilhos para as crises de migrânea, au-
mentando a sua frequência da mesma forma que pacien-
tes com migrânea têm apresentado uma pior qualidade de
sono.
(13)
No que diz respeito à categoria "b140 atenção" um
estudo recente apontou uma diminuição das funções
cognitivas como atenção e memória em pacientes com
migrânea quando comparadas a controles saudáveis,
(14)
enquanto que no tocante a "b152 funções emocionais" o
que a literatura tem mostrado é que o estresse emocional e
suas repercussões têm importante papel como fator
desencadeante da migrânea e no manejo terapêutico des-
ses pacientes.
(15,16)
As funções da visão "b210", segundo a CIF, são fun-
ções sensoriais relacionadas à percepção da presença de
luz e a fatores relacionados ao estímulo visual tais como
formas, cores e tamanhos.
(5)
Sua relação com a migrânea
é bem fundamentada na literatura, compondo inclusive
os critérios diagnósticos da migrânea (fotofobia) estabe-
lecidos pela Classificação Internacional de Cefaleia.
(1)
Além disso, um estudo publicado em 2018 também
mostrou que pacientes com migrânea apresentam uma re-
dução da qualidade de vida relacionada à visão quando
comparados a indivíduos saudáveis,
(17)
ratificando os acha-
dos do presente estudo. Outra categoria que é de impor-
tância primordial para pacientes com migrânea e que tam-
bém possui uma relação bem estabelecida na literatura é
a dor "b210", categoria eleita de forma unânime pelos
profissionais de saúde certamente devido ao seu alto com-
prometimento da funcionalidade e impacto negativo na
qualidade de vida.
(9,18,19)
Concernente à categoria "b710 mobilidade das arti-
culações", acreditamos que tenha sido aprovada devido à
restrição de movimentação que tem sido percebida em pa-
cientes com migrânea, especialmente no que diz respeito à
mobilidade da coluna cervical. Esta, apesar de não ter sua
relação com a migrânea consolidada, é frequentemente
citada nas desordens musculoesqueléticas nesta região tais
como: menor ativação muscular,
(20)
trigger-points e limita-
ção da amplitude de movimento em mulheres com
migrânea.
(21,22)
Estruturas do corpo
O papel desempenhado pelo sistema nervoso central,
especialmente o cérebro, na fisiopatologia da migrânea
envolvendo sua modulação nas estruturas trigêmino-vascular
e as cascatas inflamatórias que provocam sensibilização
central
(23)
já é bastante discutido na literatura, o que faz
com que "s110 cérebro" seja escolhido quase unanime-
mente pelos profissionais de nosso estudo. A categoria "s2
olho, ouvido e estruturas relacionadas" também já apre-
senta sua relação bem estabelecida na literatura, especial-
mente ao se considerar a foto e a fonofobia e a aura visual
e auditiva que compõem critérios diagnósticos desta con-
dição.
(1)
Por outro lado, a respeito da categoria "s710 cabeça
e pescoço" é importante salientar que faltam evidências
científicas que comprovem o comprometimento da região
do pescoço na migrânea, embora algumas pesquisas este-
jam debruçando-se sobre o tema, como já citado anterior-
mente, o que nos leva a crer que esta categoria tenha
alcançado a aprovação unânime dos participantes em
grande parte devido a agrupar juntamente com a estrutura
do pescoço, a cabeça, que é a estrutura primariamente
comprometida na migrânea.
As últimas categorias eleitas do domínio estrutura do
corpo foram "s720 região do ombro" e "s730 extremidade
superior", um achado bastante interessante visto que não
existem estudos que correlacionem diretamente a migrânea
a estas estruturas. Uma possível explicação para a eleição
destas categorias está relacionada
à
presença de trigger
points na musculatura do trapézio,
(24)
os quais, ao serem
ativados, provocam a dor referida, e uma das regiões que
pode ser alvo dessa dor é o ombro; entretanto, são neces-
SILVA SF, FEITOSA H, SANTOS AKL, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
Headache Medicine, v.9, n.4, p.177-182, Oct./Nov./Dec. 2018 181
sários estudos que se proponham a identificar se de fato há
comprometimento dessas regiões em pacientes com
migrânea.
Atividades e participação
Este foi o domínio com maior quantidade de categori-
as eleitas. Isso se deve ao grande comprometimento provo-
cado pela migrânea na realização das tarefas básicas do
dia-a-dia, sejam atividades sociais, de lazer ou trabalho,
(25)
assim como a participação na interação com familiares no
contexto de realização dessas tarefas.
(4)
Isto justifica que as
categorias com maior índice de aprovação sejam ligadas
a este contexto. A categoria "d210 realizar uma única ta-
refa" também está relacionada a este contexto, apesar de
não ter obtido um índice de aprovação tão alto quanto as
demais categorias desta seção, provavelmente por não
possuir o mesmo nível de complexidade da realização de
tarefas múltiplas, por exemplo.
Entre outros aspectos, nosso estudo também demons-
tra o impacto da migrânea sobre a aprendizagem e apli-
cação do conhecimento, o que repercute não apenas de
maneira individual mas também coletivamente na medida
em que estas dificuldades ocasionam entraves do ponto de
vista profissional, dificultando a realização de tarefas no
ambiente de trabalho, queda de produtividade e absen-
teísmo gerando custos para os serviços nos quais estas pes-
soas estão inseridas e significativos impactos socioeconô-
micos.
(9,18)
Outra categoria eleita foi "d430 levantar e trans-
portar objetos". Os autores do presente estudo acredi-
tam que a eleição desta categoria está relacionada a
um dos critérios diagnósticos da migrânea: o agravo da
dor mediante atividade física.
(1)
Ainda na classificação
de mobilidade temos as categorias " d470 e d475" rela-
cionadas de maneira geral ao trânsito, uma possível ex-
plicação para a eleição dessas categorias poder ser a
relação com a diminuição da atenção e pacientes com
migrânea
(15)
e também a exposição ao estresse decor-
rente das condições desfavoráveis do trânsito na cidade
do Recife.
Fatores ambientais
Neste domínio, esta pesquisa traz uma importante co-
laboração ao eleger a categoria "e225 clima," que inclui
fatores que ainda não apresentam evidências suficientes
na literatura. Yang,
(26)
em seu estudo, vincula a sensibili-
dade à temperatura ao aumento da incidência de dor em
pacientes com migrânea. Da mesma forma, Ozdemir et
al.
(17)
também relacionam as variações climáticas com a
prevalência de crises.
A fotofobia e a fonofobia são sintomas característicos
amplamente relatados na literatura ao se discutir sobre
migrânea,
(15,27)
de modo que já era esperado que as cate-
gorias "e240 luz" e "e250 som" fossem eleitas, uma vez
que os achados clínicos apenas corroboram o que já se
tem consolidado no meio científico. É importante ressaltar
que diante disso é fundamental que os profissionais este-
jam atentos à influência desses fatores tanto como desen-
cadeadores como perpetuadores de crises.
As demais categorias aprovadas referentes aos fatores
estão relacionadas ao capítulo "Apoio e Relacionamentos"
e têm um papel relevante ao destacar a influência que o
suporte familiar e a rede de relacionamentos com os pro-
fissionais de saúde têm nesta condição clínica, podendo
funcionar tanto como uma barreira ao tratamento e me-
lhora da qualidade de vida quanto como um facilitador.
Pesquisas apontam na direção de entender como a migrâ-
nea influencia na dinâmica dessas relações familiares
(28)
e
terapeuta-paciente.
(29)
Diante do exposto, o presente trabalho mostra que,
na percepção dos profissionais de saúde, pessoas com
migrânea apresentam comprometimento em todos os do-
mínios da CIF e o domínio "atividades e participação" foi o
que apresentou maior número de categorias comprometi-
das. Assim, este trabalho reitera a importância de uma
abordagem biopsicossocial no manejo de pacientes com
migrânea, além de apresentar novas perspectivas que de-
vem ser consideradas por futuras pesquisas envolvendo esta
população.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq (Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tecnológico) por promover e dar
suporte ao desenvolvimento científico deste projeto através
da bolsa de Iniciação Científica (Bolsista-CNPq Processo
180413705)
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Correspondência
Daniella Araújo de Oliveira.
Av. Jorn. Aníbal Fernandes,173, Cidade Universitária
50740-560, Recife -PE.
E-mail: sabinodaniellaufpe@gmail.com
telefone: +55 81 2126-1045
Recebido: 10 de setembro de 2018
Aceito: 28 de novembro de 2018
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SILVA SF, FEITOSA H, SANTOS AKL, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018 183
Alterações de funcionalidade de mulheres migranosas
Functionality changes of migraine women
Alyne Karine Lima Santos
1
, Hugo Feitosa
1
, Suellen F Silva
1
, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros
1
,
Josepha Karinne de Oliveira Ferro
1
, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza
1
,
Tamara Cavalcanti de Morais Coutinho Neta
1
, Paulo José Moté Barboza
2
, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho
3
,
Débora Wanderley
1
, Daniella Araújo de Oliveira
1
1
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife - Brasil
2
Fisioterapeuta, Centro Integrado de Reabilitação e Terapia Aquática (CIRTA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3
Departamento de Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil e Hospital Universitário
Oswaldo Cruz, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil
Santos AKL, Feitosa H, Silva SF, Barros MMMB, Ferro KJO, Souza AISO, Coutinho Neta TCM, Barboza PJM,
Rocha Filho PAS, Wanderley D, Oliveira DA. Alterações de funcionalidade de mulheres migranosas.
Headache Medicine. 2018;9(4):183-89
ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Objetivo: Identificação das alterações na funcionalidade de
mulheres com migrânea de acordo com a Classificação inter-
nacional da funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF). Mé-
todo: Trata-se de um estudo qualitativo, realizado no forma-
to de entrevistas em grupos focais, no qual foram incluídas
mulheres entre 18 e 55 anos com diagnóstico de migrânea
baseado nos critérios da Sociedade Internacional de Cefaleia.
As mulheres foram divididas em grupos com médias de duas
a quatro pessoas e, guiadas por um moderador, foram in-
centivadas a falar sobre a influência da migrânea na realiza-
ção das tarefas a que são expostas diariamente, levando em
consideração o ambiente em que estão inseridas. As catego-
rias que alcançaram o ponto de corte de 30% de concordân-
cia nos grupos foram aprovadas. Resultados: Foram reali-
zadas 10 rodadas de entrevistas, cada uma com um grupo
focal com média de duas a quatro pessoas, totalizando 29
mulheres com média de idade de 34,7 anos (95%; IC: 18 -
51). Foram aprovadas 18 categorias, sendo quatro no domí-
nio de Função do Corpo, quatro no domínio de Estruturas do
corpo, seis categorias no domínio de Atividade e Participa-
ção e quatro categorias no domínio de Fatores Ambientais.
Conclusão: Mulheres com migrânea percebem alteração na
funcionalidade em todos os domínios da CIF, sendo o domí-
nio Atividades e Participação o que apresentou mais catego-
rias mencionadas.
Palavras-chave: Transtornos de enxaqueca;
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacida-
de e Saúde; impacto psicossocial; biopsicossocial; ativida-
des e participação.
ABSTRACT
Objective: Identification of changes in functionality of women
with migraine according to the International Classification of
Functioning, Disability, and Health (ICF). Method: This is a
qualitative study conducted in the format of focus group
interviews, which included women between 18 and 55 years
old diagnosed with migraine based on the criteria of the
International Headache Society. The women were divided into
groups with averages of two to four people and, guided by a
moderator, they were encouraged to talk about the influence
of migraine on performing the tasks to which they are exposed
daily, taking into account the environment in which they are
inserted. The categories that reached the 30% agreement cut-
off point in the groups were approved. Results: There were 10
rounds of interviews, each with a focus group with an average
of two to four people, totaling 29 women with a mean age of
35 years old (95% CI: 18 - 51). Eighteen categories were
approved, four in the Body Function domain, four in the Body
Structure domain, six categories in the Activity and Participation
domain and four categories in the Environmental Factors
domain. Conclusion: Women with migraine perceive
alteration in functionality in all ICF domains, with the Activities
and Participation domain presenting the most mentioned
categories.
Keywords: Migraine disorders; International Classification of
Functioning, Disability, and Health; psychosocial impact;
biopsychosocial; activity and participation.
184 Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018
SANTOS AKL, FEITOSA H, SILVA SF, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
INTRODUÇÃO
A migrânea é uma cefaleia primária classificada no
Global Burden Disease 2015 como a terceira maior causa
de incapacidade no mundo, em ambos os sexos, responsá-
vel por 1,4% de todos os dias perdidos por ano por incapa-
cidade de um indivíduo.
(1)
Ademais, a incapacidade causa-
da pela migrânea gera repercussões na qualidade de vida e
economia do indivíduo, visto que as repercussões desta con-
dição são responsáveis pela ausência e ineficiência no âm-
bito de trabalho, faltas e redução de concentração no am-
biente escolar.
(2)
As suas implicações interferem também no
âmbito da atenção à saúde e também na economia mundi-
al, pois a migrânea chega a provocar um custo estimado
em 27 bilhões de euros por ano na Europa. Já no Brasil, ela
atinge mais de 10% da população causando limitação em
cerca de 93% das pessoas atingidas.
(3,4)
No contexto de uma percepção mais ampla a respeito
do impacto das condições de saúde sobre os indivíduos aco-
metidos, a OMS propõe a Classificação Internacional da Fun-
cionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Este instrumento
surgiu como resposta à eminente necessidade de homogeneizar
a avaliação e descrição de incapacidades em pacientes com
quaisquer tipos de doença.
(5)
Para isto, busca classificar a
funcionalidade do indivíduo com ênfase no aspecto positivo
em contrapartida ao modelo biomédico, que classifica o indi-
víduo a partir de seu diagnóstico clínico. A CIF aborda uma
grande quantidade de ítens, o que a torna uma ferramenta
completa e integral, que qualifica cada aspecto abordado e
traz uma visão mais completa a respeito do indivíduo.
(6)
Diante do exposto, é notório o grande impacto da
migrânea sobre os indivíduos acometidos. Logo, ao ampliar
a perspectiva de classificação de pacientes com migrânea
por meio da proposta da CIF, é possível perceber com mais
clareza as incapacidades enfrentadas por esta população,
visto que estes indivíduos são desafiados a enfrentar diversas
limitações e restrições que podem ser melhor abordadas e
esclarecidas com base na CIF. Desta forma, tornam-se mais
simples a identificação e o manejo dos profissionais ao lidar
com esta condição. Assim, o presente trabalho objetiva a
identificação das alterações na funcionalidade de mulheres
com migrânea de acordo com a CIF.
MATERIAL E MÉTODOS
Desenho do estudo
Trata-se de um estudo qualitativo, que possibilita co-
nhecer e esclarecer sentimentos, ideias e comportamentos
que a migrânea representa e sua influência na vida das
mulheres.
(7)
O presente estudo foi aprovado pelo comitê
de ética em pesquisa com seres humanos do Centro de
Ciências de Saúde da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) sob o parecer 2.361.804.
Amostra
Os pacientes selecionados para o estudo foram mulhe-
res com idade entre 18-51 anos, com o diagnóstico clínico
feito por um neurologista e que correspondiam aos critérios
da migrânea descritos na ICHD-3 BETA.
(8)
Foram excluídas
deste estudo as mulheres com dificuldade de interação em
grupo, visto que essas não se sentiriam à vontade para res-
ponder às perguntas que embasariam a pesquisa.
As mulheres foram recrutadas no ambulatório de
cefaleia do Hospital das Clínicas de Pernambuco e convi-
dadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclare-
cido (TCLE) após explicação detalhada dos procedimen-
tos. Em seguida eram encaminhadas para uma sala no
próprio hospital, onde foram realizadas as entrevistas com
abordagem qualitativa no formato de grupos focais.
Procedimentos
As pacientes foram divididas em grupos focais forma-
dos por até sete pessoas, guiados por um moderador e um
assistente que conduziam as sessões a partir de um questi-
onário semiestruturado (Tabela 1). O moderador teve a
função de facilitar a interação entre os membros do grupo,
no sentido de enriquecer a discussão, buscando mais a
compreensão do que a explicação dos fenômenos estuda-
dos.
(9,10)
Cada sessão foi gravada e transcrita através do
método de condensação. A seguir, dois pesquisadores in-
dependentes analisaram as falas, identificando os pontos
principais de cada trecho.
(9,10)
Em seguida, esses conceitos foram organizados e agru-
pados para que pudessem ser correlacionadas com as
categorias da CIF que melhor os descrevessem. Os resul-
tados levaram em consideração a frequência em que cada
categoria foi mencionada nos grupos focais, sendo con-
Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018 185
ALTERAÇÕES DE FUNCIONALIDADE DE MULHERES MIGRANOSAS
siderada aprovada a categoria que alcançou concordân-
cia de ao menos 30% dos grupos.
(9)
RESULTADOS
Foram realizadas rodadas de entrevistas com grupos
focais com média de 2-4 pessoas, totalizando 29 mulhe-
res. Após um total de dez grupos, o assunto foi considera-
do saturado devido à repetição das informações relatadas
pelos indivíduos, como preconiza o método de saturação.
(11)
Mais de oitenta assuntos relacionados a categorias de to-
dos os domínios da CIF foram mencionados durante as
entrevistas. Destes, 18 alcançaram o ponto de corte e fo-
ram considerados aprovados neste estudo.
O domínio "Funções do corpo" teve quatro categorias
aprovadas sendo a mais frequente a "b132 apetite" menci-
onada em 90% dos grupos (Tabela 2). Outras categorias
como "b1263 estabilidade psíquica", "b4552 fatigabilidade"
e "b1301 motivação" também foram mencionados em um
ou mais grupos, mas não alcançaram o ponto de corte
necessário para aprovação neste estudo.
Outras quatro categorias foram aprovadas no domí-
nio "Estruturas do corpo", com "s720 estruturas da cabeça
e pescoço" sendo a mais frequente, além de ser uma das
únicas categorias de toda a pesquisa que foi mencionada
em todos os grupos focais (Tabela 3). Além das categorias
apresentadas na tabela, merecem destaque a citação da
categoria "s310 estrutura do nariz" e "s730 estrutura de
membro superior" que também foram mencionadas, mas
não o suficiente para alcançarem o ponto de corte.
O domínio "Atividades e Participação" apresentou o
maior número de categorias aprovadas, seis. Dentre elas,
"d850 Trabalho remunerado" foi a mais frequente, sendo
uma das que foram citadas em todos os grupos focais (Ta-
bela 4). "d9301 Espiritualidade" "D5 autocuidados" e "d825
Formação profissional" foram algumas das categorias des-
te domínio que foram mencionadas em um ou mais gru-
pos mas não obtiveram o número mínimo de citações para
aprovação neste estudo. Já no domínio "Fatores ambientais"
mais quatro categorias foram aprovadas, dentre elas "e2400
intensidade da luz" que foi a última categoria mencionada
em todos os grupos desta pesquisa (Tabela 5).
186 Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018
DISCUSSÃO
A migrânea traz impactos negativos para a funciona-
lidade das mulheres acometidas em todos os domínios da
CIF, especialmente nas categorias do domínio "Atividades
e Participação". Isto corrobora com a ideia de que uma
abordagem biopsicossocial é importante para a melhoria
da qualidade de vida de pacientes acometidas por esta
condição de saúde, posto que a mesma é multifatorial e
gera impactos em todas as áreas da vida das mulheres
acometidas.
Funções do corpo
Neste domínio é relevante destacar a grande quanti-
dade de grupos que apresentaram a categoria Apetite
(b1302). Este achado chama atenção pois trata-se de um
tema pouco pesquisado nesta população e que foi menci-
onado em 90% dos grupos focais, sendo bastante enfatizado
pelas mulheres entrevistadas essa alteração e seu compro-
metimento em sua qualidade de vida. Apesar de ainda
não haver muitos estudos que demonstrem esta relação
entre a migrânea e o apetite, Sanford e colaboradores,
demonstram em estudos experimentais, que o CGRP
SANTOS AKL, FEITOSA H, SILVA SF, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018 187
peptídeo que pode estar relacionado à fisiopatologia da
migrânea é também responsável pela diminuição do ape-
tite e aumento da sensação de saciedade, o que pode
explicar esta relação.
(12)
Ademais, um estudo transversal
de 2017 apontou para a diminuição do apetite numa popu-
lação com migrânea, o que corrobora com os achados de
nosso estudo.
(13)
A alteração nas Funções do Sono (b134), foi outra
categoria bastante mencionada pelas participantes deste
trabalho, o que corrobora com achados já descritos na
literatura que mencionam a relação entre a migrânea e
distúrbios do sono, principalmente a insônia, sendo esta
condição considerada tanto um fator desencadeador como
sendo desencadeado pela migrânea.
(14, 15)
A Sensação de Náusea (b5350) foi outra categoria
aprovada neste estudo, o que reafirma a importância desta
categoria que já está consolidada na descrição desta po-
pulação, sendo, inclusive, um dos critérios de classifica-
ção para a migrânea.
(8)
Além disso, a Amplitude de Emo-
ção (b1522) foi a última categoria aprovada neste estudo,
o que comprova todo aspecto geral biopsicossocial envol-
vido na condição do estado de saúde do indivíduo e já
relatado na literatura algumas disfunções emocionais como
ansiedade e sua correlação com a migrânea.
(16, 17)
Estruturas do corpo
No domínio de "Estruturas do Corpo", a categoria es-
truturas de Região de Cabeça e Pescoço (s710) foi menci-
onada em 100% dos grupos focais, o que pode ser expli-
cado pelo fato de ser esta a localização primária da
migrânea. A estrutura de Olho e Ouvido (s2) foi também
bastante frequente, o que já esperado, posto que a Classi-
ficação Internacional de Cefaleia descreve que indivíduos
com migrânea podem ter fotofobia e fonofobia, bem como
as auras visual e auditivas, o que explica o fato das estru-
turas relacionados a estas categorias.
(8)
Ainda neste domínio, viu-se que há relatos de alte-
ração em estruturas na região de ombro (s720) e pes-
coço (s710) e coluna vertebral (s7600). Ainda não existe
consenso sobre a relação entre a migrânea e as estrutu-
ras extracefálicas, entretanto já há pesquisas que de-
monstram indícios importantes do impacto dessas estru-
turas no desencadeamento e prevenção de crises de
migrânea.
(18,19)
Esse fato traz grande repercussão na vida da popula-
ção com migrânea, visto que profissionais da área de saú-
de capazes de atuar na melhoria destas estruturas, como
fisioterapeutas, podem estar inseridos no contexto de trata-
mento, trabalhando com técnicas que possam diminuir a
dor e promover maior qualidade de vida para esta popula-
ção. Dada a importância, a fisioterapia pode ser uma es-
tratégia fisioterapêutica não farmacológica, principalmen-
te para pacientes que recusam tomar medicamentos, ou
até mesmo aqueles que fazem uso abusivo de fármacos.
Além disso, gestantes, idosos e crianças também podem se
beneficiar. Consubstanciando essa afirmativa, em 2011, a
OMS, em colaboração com Lifting the Burden, publicou o
Atlas of headache disorders and resources in the world.
Nesse documento, a fisioterapia obteve o maior porcentual
entre as três terapias mais frequentemente utilizadas para
cefaleia (fisioterapia 44%, acupuntura 39% e naturopatia
25%).
(20)
Atividades e Participação
Este foi o domínio que obteve mais categorias aprova-
das neste estudo, o que comprova o grande impacto que
esta doença ocasiona na vida do indivíduo e dos que vi-
vem ao seu redor. A categoria trabalho (d850) foi mencio-
nada em todos os grupos, o que demonstra a importância
desta categoria na vida das mulheres com migrânea. Este
achado reitera os achados na literatura que falam sobre os
prejuízos econômicos gerados pela migrânea tanto para o
migranoso quanto para a empresa e empregador devido à
baixa produtividade e alto absenteísmo.
(1,20)
Outras categorias são observadas como importan-
tes, como Relações Familiares (d760), visto que as mu-
lheres se ausentam de suas atividades como esposa, mãe
e filha e nem sempre são compreendidas; no Lazer (d920)
é observado que o momento de leitura, sair para
shopping, teatro, cinema, realização de exercícios físicos
são deixados de lado devido às crises de migrânea. Há
dificuldades para Andar (d450), mesmo que pequenas
distâncias, e há comprometimento na comunicação em
suas relações Interações Interpessoais Básicas (d710), in-
terferindo no convívio diário, devido ao fato de que os
indivíduos não conseguem se manter em um grupo de
conversas, ou manter uma interação social, seja ela for-
mal ou informal. E ainda há um comprometimento nas
Relações Íntimas (d770) dessas mulheres.
Assim, é possível perceber a dimensão do quanto a
migrânea é uma condição incapacitante, posto que inter-
fere diretamente em tarefas relacionadas a todos os âmbi-
tos de vida das mulheres acometidas. Além disto, a partici-
pação social destas mulheres acaba ficando bastante res-
trita, como demonstram os achados deste artigo, fator im-
portante na classificação realizada com o modelo biopsi-
cossocial proposto pela CIF e ainda não tem sido tão ex-
plorado nas pesquisas com esta população.
(20)
ALTERAÇÕES DE FUNCIONALIDADE DE MULHERES MIGRANOSAS
188 Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018
Fatores ambientais
Por fim, o domínio Fatores Ambientais, apresentou tam-
bém categorias já bem estabelecidas na literatura que cor-
roboram com as questões ligadas aos critérios diagnósti-
cos da Classificação Internacional de Cefaleia, como In-
tensidade da Luz (e2400), categoria ligada à fotofobia;
Intensidade do Som (e2500), categoria ligada à fonofobia
e Qualidade do ar (e260), que está relacionada com a
osmofobia.
Contudo, é importante destacar a categoria Tempera-
tura (e2250), descrita pelas mulheres, que afirmaram que
baixas ou altas temperaturas podem desencadear a migrâ-
nea ou agravá-la. Os poucos estudos que buscam enten-
der esta interação apontam para a mesma direção dos
nossos achados, demonstrando que as variações de tem-
peratura podem atuar como desencadeadoras de cri-
ses.
(21,22)
Desta forma é possível perceber que há diversos fato-
res ainda não explorados, no aspecto biopsicossocial, que
são de suma importância e interferem diretamente na saú-
de das mulheres com migrânea, como as funções de ape-
tite e sono, comprometendo sua qualidade de vida.
Alterações nas estruturas de ombro, pescoço e coluna
vertebral podem gerar limitações nas atividades diárias bem
como restrições importantes em sua participação social,
como no trabalho e nas relações familiares e lazer. A rela-
ção da temperatura com as crises de migrânea é um outro
achado deste estudo que indica para novas perspectivas
de estudos já que este ainda é um campo pouco explora-
do nas pesquisas com esta população.
Assim, estes achados demonstram que é necessária
uma maior atenção de todos os envolvidos no manejo da
migrânea à proposta de abordagem da CIF, posto que a
migrânea é uma condição multifatorial que precisa que os
profissionais envolvidos busquem compreender em sua to-
talidade o impacto gerado sobre a vida dos pacientes para,
assim, contribuir para qualidade de vida dessas mulheres.
Agradecimentos
Agradecemos a Fundação de Amparo à Ciência e
Tecnologia de Pernambuco (FACEPE) por promover e dar
suporte ao desenvolvimento científico deste projeto através
da bolsa de Iniciação Científica (BIC-0636-4.08/18) da
aluna Alyne Karine Lima Santos.
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SANTOS AKL, FEITOSA H, SILVA SF, BARROS MMMB, FERRO KJO, SOUZA AISO, COUTINHO NETA TCM, BARBOZA PJM, ROCHA FILHO PAS,
WANDERLEY D, OLIVEIRA DA
Headache Medicine, v.9, n.4, p.183-189, Oct./Nov./Dec. 2018 189
Correspondência
Daniella Araújo de Oliveira.
Av. Jorn. Aníbal Fernandes,173, Cidade Universitária
50740-560, Recife -PE.
E-mail: sabinodaniellaufpe@gmail.com
telefone: +55 81 2126-1045
Recebido: 13 de setembro 2018
Aceito: 3 de novembro de 2018
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ALTERAÇÕES DE FUNCIONALIDADE DE MULHERES MIGRANOSAS
190 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
Mecanismos farmacológicos do topiramato na
profilaxia e tratamento da enxaqueca: uma revisão
Pharmacological mechanism of topiramate in the prophylaxis and treatment of migraine:
a review
Emanuela Paz Rosas
1
,
Raisa Ferreira Costa
2
, Silvania Tavares Paz
3
, Ana Paula Fernandes da Silva
1
,
Manuela Freitas Lyra de Freitas
4
, Marcelo Moraes Valença
1,2
1
Programa de Pós-graduação em Biologia Aplicada à Saúde, Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil
2
Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas, UFPE, Brasil
3
Programa de Pós-graduação em Saúde Translacional, UFPE, Brasil
4
Departamento de Anatomia, UFPE, Brasil
Rosas EP, Costa RF, Paz ST, Silva APF, Freitas MFL, Valença MM. Mecanismos farmacológicos do topiramato na profilaxia e
tratamento da enxaqueca: uma revisão. Headache Medicine. 2018;9(4):190-95
VIEW AND REVIEW
RESUMO
Objetivo: Esta revisão buscou trazer evidências de estudos
que abordam os mecanismos de ação do topiramato na
prevenção e tratamento da enxaqueca. Introdução: A en-
xaqueca é um distúrbio neurovascular que acomete grande
parte da população mundial. O uso de profiláticos contribui
para a diminuição da frequência e gravidade desta doença.
Dentre os fármacos neuromoduladores utilizados, o
topiramato vem se mostrando como um dos mais eficazes
para o tratamento preventivo de enxaqueca. Apesar dos
mecanismos de ação desta droga ainda não estarem bem
elucidados na literatura, existem diversos mecanismos
moleculares propostos. Metodologia: Foi realizado um le-
vantamento na literatura, no período de fevereiro a março
de 2018, em diferentes bases de dados, utilizando os se-
guintes termos: topiramato, enxaqueca e mecanismos de
ação. Após uma seleção criteriosa, 25 artigos foram seleci-
onados para esta revisão. Resultados: Estudos apontaram
que os principais mecanismos de ação os quais o topiramato
atua está relacionado a uma modulação dos canais iônicos
de sódio e cálcio voltagem-dependentes, o bloqueio da trans-
missão excitatória do glutamato e inibição através dos re-
ceptores Ácido gama-aminobutírico (GABA), AMPA/kainato
e de algumas isoenzimas da anidrase carbônica. Além dis-
so, o topiramato está envolvido na supressão da depressão
alastrante cortical, na influência da atividade trigemino-
vascular e na excitabilidade neuronal. Conclusão: Sendo
assim, o topiramato poderia estar envolvido na prevenção
dos principais eventos da fisiopatologia da enxaqueca. Atu-
ando diretamente na depressão alastrante cortical (DAC),
na sinalização trigeminovascular e na diminuição da
sensibilização central da dor da enxaqueca.
Palavras-chave: Topiramato; transtornos de enxaqueca;
farmacologia
ABSTRACT
Objective: This review sought to bring evidence of studies
addressing the mechanisms of action of topiramate in the
prevention and treatment of migraine. Background: Migraine is a
neurovascular disorder that affects a large part of the world
population. The use of prophylactics contributes to the decrease
in the frequency and severity of this disease. Among the
antiepileptic drugs, the topiramate, has proven to be the most
effective for the treatment of migraine. Although the mechanism of
action of this drug is still not well elucidated in the literature, there
are several molecular mechanisms proposed. Methodology: A
survey was carried out in the literature, from February to March
2018, in different databases, using the descriptors: topiramate,
migraine and mechanisms of action. After a careful selection, 25
manuscripts were chosen for this review. Results: Evidence from a
number of studies has indicated that the main mechanisms of action
of topiramate are related to the modulation of voltage-dependent
sodium and calcium ion channels, blockade of excitatory
glutamate transmission and inhibition by gamma-aminobutyric
acid receptors (GABA), AMPA/kainate and some isoenzymes of
carbonic anhydrase. In addition, topiramate is involved in the
suppression of cortical spreading depression, besides influencing
trigeminovascular activity, and neuronal excitability. Conclusion:
Thus, topiramate could be involved in the prevention of major
events of the pathophysiology of migraine. Acting directly on
cortical spreading depression (DAC), trigeminovascular signals
and decreased central sensitization of migraine pain.
Keywords: Topiramate; Migraine disorders; Pharmacology
Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018 191
INTRODUÇÃO
A enxaqueca é um distúrbio neurológico de nature-
za multifatorial e de caráter hereditário, que ocorre em
todos os indivíduos em algum momento da vida, inde-
pendente da faixa etária e gênero.
(1)
Tem sido conside-
rada mais prevalente no sexo feminino, devido princi-
palmente ao ciclo hormonal.
(2)
Episódios de enxaqueca ocorrem em torno de 50%
da população ao longo do ano e em geral 90% das
pessoas relatam ao menos um episódio durante a vida.
(3)
Devido a constância, este distúrbio é considerado atu-
almente como a sexta doença mais incapacitante do
mundo, por afetar a qualidade de vida e a capacidade
funcional, além de trazer prejuízos socioeconômicos.
(4)
A etiologia da enxaqueca ainda não está bem evi-
denciada na literatura científica. Estudos vêm propondo
que haja o envolvimento de alguns eventos na
patogênese da enxaqueca, sendo estes: (1) depressão
alastrante cortical (DAC), (2) ativação do sistema
trigeminovascular (nociceptores durais) e, de alguma
forma, (3) sensibilização periférica e central desta via
da dor,
(5)
que pode ser desencadeada por uma
multiplicidade de fatores que contribuem para um au-
mento da hiperexcitabilidade neuronal. Além disso, a
dor ligada à enxaqueca pode ser resultante de uma ati-
vação repetida e inadequada de neurônios nociceptivos
dentro do nervo trigeminal, que posteriormente, induz a
liberação de neuropeptídios e um processo inflamatório
estéril.
(6)
A profilaxia na enxaqueca tem sido um método bas-
tante utilizado para reduzir a frequência, a gravidade e
as deficiências associadas à esta doença.
(7)
Vários me-
dicamentos são empregados na prevenção da enxaque-
ca, incluindo fármacos da classe dos antiepilépticos, dos
β-bloqueadores, dos bloqueadores dos canais de cál-
cio, e dos antidepressivos tricíclicos.
(8,9)
A classe dos antiepiléticos tem sido largamente uti-
lizada para prevenção deste distúrbio, e dentre eles o
topiramato (TPM) é um dos mais conhecidos, possuindo
um amplo espectro de mecanismos de ação.
(10-12)
Estudos vêm provando cada vez mais sua eficácia
na enxaqueca com uma redução média de 72% na
frequência de dor de cabeça e de 55% na gravidade.
(13)
No entanto, os mecanismos de ação desta droga ainda
não estão bem esclarecidos. Portanto, o objetivo dessa
revisão é trazer evidências de estudos que abordam os
mecanismos de ação do TPM no tratamento da enxa-
queca.
MÉTODO
A presente revisão foi realizada no período de feverei-
ro a março de 2018. Foram avaliados artigos de diferentes
delineamentos disponíveis nas bases de dados Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online
(SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ci-
ências da Saúde (LILACS), U.S. National Library of Medicine
and the National Institutes Health (PubMed) e Web of
Science.
Como estratégia de busca foram utilizados os seguintes
termos livres: "Topiramato" e "Mecanismos de Ação" e "Enxa-
queca" e seus equivalentes em inglês ("Topiramate" and
"Action Mechanism" and "Migraine") selecionados median-
te consulta ao Medical Subject Headings (MeSH). Apenas
os manuscritos que descrevessem os mecanismos de ação
do topiramato na profilaxia da migrânea foram inclusos.
O processo de seleção desta revisão de literatura ocor-
reu em três etapas. Na primeira foi realizada a leitura dos
títulos e resumos dos artigos encontrados. Posteriormente,
procedeu-se com a leitura dos artigos e, por último, foram
identificados artigos a partir da lista de referências destes
manuscritos. Além disso, artigos que não apresentassem
mecanismos de ação que não fossem do topiramato ou de
doenças que não fossem enxaqueca, e os artigos presentes
em mais de uma das bases de dados foram excluídos. Do
total de 80 artigos encontrados, 25 foram selecionados
para esta revisão.
OS MECANISMOS DE AÇÃO DO TOPIRAMATO
NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA MIGRÂNEA
O topiramato é um derivado do monossacarídeo
D-frutose natural, que vem sendo usado não só como
uma droga antiepiléptica, mas também como um método
preventivo em doenças não epilépticas como a enxaque-
ca.
(10-12)
Devido à semelhança fisiopatológica entre epi-
lepsia e enxaqueca mecanismos farmacológicos têm sido
propostos em ambas as doenças tais como: a modulação
dos canais iônicos de sódio dependentes de voltagem
(14-24)
e dos canais iônicos de cálcio (Ca
2+
) dependentes de volta-
gem
(14,17,19,20,22-25)
e do tipo L,
(15-17,24,26)
o bloqueio da trans-
missão do glutamato excitatório e inibição de algumas
isoenzimas II e IV da anidrase carbônica.
(14-16,18,19,22,26)
Es-
tes mecanismos podem influenciar o estado excitatório das
células por influenciar os complexos proteicos receptor/
canal, incluindo alterações nos seus estados de fosforilação.
Tais atuações são conhecidos por influenciar a atividade
trigeminovascular.
(15)
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS DO TOPIRAMATO NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA ENXAQUECA: UMA REVISÃO
192 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
A redução do disparo neuronal no complexo trigemi-
nocervical mediado pelo ácido gama-aminobutírico (GABA)
também é um dos mecanismos do topiramato. Por meio
dos receptores GABA, o TPM eleva o fluxo de cloreto.
(17,21)
Em humanos saudáveis, o TPM aumenta os níveis de GABA
no cérebro e de forma indireta, intensifica a transmissão
mediada pelo GABA.
(14-17,21,27)
Além disso, este fármaco
pode ter mecanismos de ação complementares como o de
interromper o ciclo fisiopatológico da enxaqueca por inibir
a sinalização glutamatérgica pelos nervos aferentes do
trigêmeo e pela modulação da sinalização nociceptiva atra-
vés dos receptores GABA
A
no núcleo caudal do trigêmeo
ou nas vias descendentes de tronco encefálico.
(26-28)
Outro efeito observado pelo TPM é sua ação inibitó-
ria na excitabilidade dos córtices motor e visual. Com esta
ação, o TPM pode impedir o desenvolvimento de DAC
reduzindo a transmissão nociceptiva e, na maioria das ve-
zes, inibindo a hiperexcitabilidade neuronal.
(14)
Entre as outras drogas antiepilépticas (AEDs) que são
utilizadas no tratamento da enxaqueca, o TPM é a única
droga que possui a capacidade de modificar a neuro-
transmissão excitatória através dos receptores de glutamato
Alfa-amino-3-hidroxi-metil-5-4-isoxazolpropiónico (AMPA)
subtipo kainato.
(15,17,21,26)
Andreou e Goadsby
( 29)
avalia-
ram os efeitos do TPM na ativação trigeminovascular em
neurônios de segunda ou terceira ordem do complexo
trigeminocervical (TCC) e do núcleo talâmico ventropos-
teriormedial (VPM), bem como sua ação nos receptores de
glutamato ionotrópico ácido N-metil-D-aspártico (NMDA),
e AMPA/kainato dentro desses núcleos. Observou-se que
nas duas vias houve uma inibição significativa da ativida-
de trigeminovascular no TCC e VPM. Em ambos os núcle-
os, a aplicação do TPM diminuiu significativamente a ação
induzida pelo ativação do receptor kainato, propondo as-
sim que o TPM pode modular a transmissão nociceptiva
trigeminovascular na via trigeminotalâmica, e que uma das
vias de ação deste fármaco tanto no núcleo do TCC quan-
to no VPM é o receptor AMPA/kainato.
(29)
A substância cinzenta periaquedutal (PAG) tem sido
apontada como relevante na modulação da nocicepção
craniovascular e está envolvida no sistema que modula a
dor descendente, participando na fisiopatologia da enxa-
queca.
(30-32)
Os canais de Ca
2+
em neurônios da PAG
modulam a nocicepção trigeminal e sua atividade disfun-
cional tem certa influência na enxaqueca.
(28)
A ativação
de aferências trigeminovasculares das meninges, que ocorre
na crise de dor na enxaqueca, e evidências substanciais
apontam que o sistema trigeminovascular é também ativa-
do por depressão alastrante cortical, e que é resultante da
hiperexcitabilidade neocortical. A alteração na atividade
dos canais de Ca
2+
nos neurônios corticais e da PAG pode
representar um alvo para a prevenção da enxaqueca.
(33)
Martella et al.
(34)
demonstraram em seu estudo que o TPM
agiu no bloqueio de canais de Ca
2+
ativados por alta vol-
tagem, de forma mais potente e eficaz, em neurônios do
PAG do que em células piramidais corticais. Essa diferen-
ça foi observada porque o TPM inibiu canais do tipo N, P
e L da PAG, enquanto que nos neurônios corticais esse
fármaco modulou apenas canais do tipo P e L. Esse blo-
queio de subtipos específicos de canais de Ca
2+
depen-
dentes de voltagem pode restaurar a atividade elétrica nor-
mal do córtex e o PAG, e assim pode ser uma das aborda-
gens terapêuticas deste fármaco na prevenção da enxa-
queca.
(34)
Em um estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego
realizado por Hebestreit e May,
(35)
observou-se que TPM
diminuiu significativamente a atividade no tálamo e em
outras áreas de processamento da dor, bem como foi visto
que o TPM aumentou a conectividade funcional entre o
tálamo e várias regiões cerebrais, tais como o precuneus
bilateral, o córtex cingulado posterior e o córtex soma-
tossensorial secundário. Sugere-se assim, que o TPM tem
como alvo um sistema, em vez de uma estrutura única, e
exibe efeitos modulatórios no processamento nociceptivo
em redes tálamo-corticais durante a dor do trigêmeo.
(35)
Ayata et al.
(24)
avaliaram o TPM na supressão da DAC
através da estimulação elétrica e aplicação com cloreto de
potássio (KCl) nos hemisférios direito de ratos. Os efeitos
dessa droga foram dependentes da dose: 60 e 80 mg/kg/
dia reduziram o número de DACs em 30% e 50%, respec-
ROSAS EP, COSTA RF, PAZ ST, SILVA APF, FREITAS MFL, VALENÇA MM
Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018 193
tivamente. Além disto, foi visto que com uma semana de
tratamento (80 mg/kg/dia) não foi suficiente para reduzir
o número de depressão alastrante, contudo tratamentos
mais longos suprimiram. Porém, o TPM reduziu significati-
vamente a velocidade de propagação de DAC após teste
agudo de uma única injeção. Esses dados fornecem fortes
evidências experimentais que a DAC está implicada na
fisiopatologia da enxaqueca, e que o tratamento sistêmico
crônico com drogas profiláticas como TPM suprimem a
DAC como uma de suas ações farmacológicas.
(24)
No estudo de Wiedemann et al.,
(36)
o TPM foi utiliza-
do para investigar se havia inibição da DAC através de
parâmetros da excitabilidade neuronal, tais como a veloci-
dade de espalhamento, latência e distúrbios de gradientes
iônicos em retinas de frangos. O TPM não apresentou efei-
to sobre a latência entre o estímulo e o início da onda,
mas reduziu a velocidade de propagação. Isto pode estar
relacionado ao seu efeito inibidor nos receptores AMPA.
Portanto, a redução da frequência da DAC pode ser uma
via de mecanismo que o TPM atua na prevenção do início
da enxaqueca, pois a mesma está diretamente associada a
liberação de moléculas durante a propagação de ondas
da DAC.
(36)
Em um estudo prospectivo realizado por Akerman e
Goadsby,
(37)
utilizaram-se 17 ratos e 13 gatos para observar
o efeito do topiramato (10 e 30 mg/kg) na depressão
alastrante cortical. No rato, o topiramato (10 mg/kg) não
afetou a velocidade de propagação, embora tenha atrasa-
do o início da resposta hiperêmica. No gato, a mesma con-
centração foi incapaz de impedir a ocorrência de depressão
alastrante ou retardar o início da resposta hiperêmica. Em
ambos, o topiramato (30 mg/kg) foi capaz de bloquear as
alterações no fluxo sanguíneo cerebral e pico cortical das
células na depressão alastrante, porém dos 13 gatos ape-
nas oito responderam. Sendo assim, é observado que o
topiramato pode agir por mecanismos relacionados à inici-
ação e propagação da depressão alastrante.
(37)
Medicamentos que impedem a produção de citocinas
ou bloqueiam a liberação de peptídeos vasoativos a partir
das terminações vasculares do trigêmeo podem ser úteis
no tratamento de enxaqueca.
(38)
A interleucina-6 (IL-6) é
uma das quimiocinas responsáveis por estimular a ativa-
ção dos nervos trigêmeos e liberação de peptídeos
vasoativos, resultando em inflamação. Em um estudo, rea-
lizou-se a medição dos níveis séricos de IL-6 em pacientes
com enxaqueca crônica, alguns utilizando o TPM como
tratamento preventivo e outros não. Com isso, foi visto que
este fármaco não atua em mecanismos da concentração
sérica de IL-6 em pacientes com enxaqueca crônica, per-
manecendo sem alterações como os que não utilizaram o
tratamento.
(39)
No estudo de Akerman e Goadsby,
(40)
foi avaliado o
efeito do TPM na vasodilatação neurogênica dural induzida
pelo peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP),
oxido nítrico (NO) e estimulação elétrica. O TPM foi ca-
paz de inibir a vasodilatação neurogênica dural na estimu-
lação elétrica apenas na maior dosagem e foi capaz de
inibir a dilatação dos vasos sanguíneos durais induzida
por NO em todas as doses. A dilatação dos vasos sanguí-
neos induzida por CGRP não foi alterada com o pré-trata-
mento com TPM em nenhuma das doses que foram usa-
das. O TPM, portanto, inibe a vasodilatação neurogênica
dural influenciando o estado excitatório das células, e, desse
modo, impede a liberação de neurotransmissores.
(40)
O estudo de Storer e Goadsby
(41)
demonstrou que a
aplicação local de TPM na sinapse de neurônios de se-
gunda ordem do sistema trigeminovascular de gatos cau-
sava uma inibição significativa do disparo de neurônios
induzidos por L-glutamato apenas nas maiores correntes
microiontoforéticas. Contudo, neste estudo,
(41)
também foi
visto que o TPM, quando administrado sistemicamente, ini-
bia parcialmente este disparo. Posterior a esta administra-
ção sistêmica, foi notada uma inibição profunda da ativa-
ção de células evocadas pelo L-glutamato no complexo
trigeminocervical na sinapse de segunda ordem do sistema
trigeminovascular. E, com isso, sugere-se que o topiramato
pode atuar fora do complexo trigeminocervical, em espé-
cies como o gato.
(41)
Em seu estudo. Karadas et al.
(42)
avaliaram a eficácia
do TPM na reatividade vasomotora (VMR) da artéria cere-
bral média (ACM) (direita e esquerda), e da artéria cere-
bral posterior (PCA), e o fluxo sanguíneo cerebral antes e
após tratamento em pacientes de enxaqueca com aura.
Houve também neste mesmo estudo o grupo controle (pes-
soas sem cefaleia) que foi submetido à medida de VMR
com a mesma técnica e usando as mesmas artérias. As
velocidades de fluxo obtidas a partir da ACM direita e es-
querda e os valores de VMR no grupo tratado com TPM
não diferiram daqueles do grupo controle. Desta forma, o
TPM mostrou-se um profilático eficaz em pacientes com
enxaqueca com aura exercendo um importante papel na
regulação do controle autonômico cerebrovascular.
(42)
Esse medicamento anticonvulsionante pode bloquear
a ativação de neurônios trigeminais.
(22,23)
Observou-se no
estudo de Storer e Goadsby
(43)
o efeito do topiramato na
ativação trigeminocervical através da estimulação do seio
sagital superior (SSS), que resultou em uma inibição dose-
dependente na ativação neuronal do SSS com queima
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS DO TOPIRAMATO NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA ENXAQUECA: UMA REVISÃO
194 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
máxima reduzida na dose 50 mg/kg aos 60 minutos e
evocou atividade de c-Fos e fluxo sanguíneo do núcleo
trigeminocervical. Além disso, o TPM teve um efeito quase
máximo em trinta minutos na dose de 5 mg/kg. Essa
estimulação do seio sagital superior na presença de
topiramato não indica necessariamente uma ação no com-
plexo trigeminocervical, mas demonstra regiões importan-
tes no mesencéfalo e ponte a ser ativada em ambas as
crises episódicas e crônicos. O topiramato pode, portanto,
bloquear a ativação de neurônios em um local distante do
complexo trigeminocervical.
(43)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do levantamento bibliográfico realizado nesta
revisão, estudos sugerem que o topiramato pode atuar em
neurônios dentro do sistema trigeminovascular ou secun-
dariamente em um local distante como no tálamo-córtices.
Sua ação, além de inibir o disparo excitatório dos neurônios,
bloqueando os canais de Na
+
e Ca
2+
, diminui a liberação
de neurotransmissores e peptídeos vasoativos que ajudam
na ativação e sensibilização dos neurônios aferentes pri-
mários e centrais da dor de enxaqueca. Além disso, a su-
pressão da DAC e a inibição de algumas isoenzimas de
anidrase carbônica, de receptores GABA
A
e AMPA/kainato
são vias pelas quais o topiramato tem prevenido e tratado
a enxaqueca.
Agradecimentos
À CAPES e FACEPE, pelo apoio financeiro dado a
este projeto de pesquisa, sem o qual esta pesquisa não
poderia ter sido desenvolvida.
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ROSAS EP, COSTA RF, PAZ ST, SILVA APF, FREITAS MFL, VALENÇA MM
Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018 195
Correspondência
Emanuela Paz Rosas.
Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária,
Recife - PE, 50670-901.
E-mail: manu_pathy@hotmail.com
telefone: +55 81 2126-8529
Recebido: 6 dezembro 2018
Aceito: 22 de dezembro de 2018
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196 Headache Medicine, v.9, n.4, p196-198, Oct./Nov./Dec. 2018
O lado escuro da migrânea: uma análise cefaliátrica de
"The Dark Side of the Moon", de Pink Floyd
The dark side of the migraine: an analysis of the semiotic of headache of the Pink Floyd's album
Patrick Emanuell Mesquita Sousa Santos
1
, Iara Alves Coelho
2
, Raimundo Pereira Silva-Néto
3
1,3
Universidade Federal do Piauí
2
Universidade Regional de Blumenau
Santos PEMS, Coelho IA, Silva-Néto RP. O lado escuro da migrânea: uma análise cefaliátrica de
"The Dark Side of the Moon", de Pink Floyd. Headache Medicine. 2018;9(4):196-98
VIEW AND REVIEW
RESUMO
The dark side of moon é um álbum do grupo inglês Pink Foyd,
considerado um dos mais influentes discos do século XX. Nes-
te artigo, realizamos uma análise cefaliátrica do álbum. As
faixas são correlacionadas com a crise migranosa, desde os
critérios diagnósticos (fotofobia, fonofobia, piora com exercí-
cio e aura) até a relação com o trabalho, gatilhos e síndromes
raras como "Alice no País das Maravilhas".
Palavras - chave: Medicina nas artes; Cefaleia; Pink Floyd.
ABSTRACT
The dark side of moon is an album of the British group Pink
Foyd, considered one of the most influential discs of century
XX. In this article, we performed an analysis of the semiotic of
headache of the album. The songs are correlated with the
migraine attacks, from the diagnostic criteria (photophobia,
phonophobia, worsening with exercise and aura) to the
relationship with work, triggers and rare syndromes like "Alice
in Wonderland".
Keywords: Medicine in the arts; Headache; Pink Floyd.
INTRODUÇÃO
Há 46 anos, o grupo inglês Pink Floyd lançou seu
oitavo álbum de estúdio: The dark side of the moon.
(1)
Considerado um dos melhores álbuns de todos os tempos,
este disco conquistou o primeiro lugar da lista da Billboard
entre os 200 mais vendidos e permanecendo nessa lista
por 15 anos. Atualmente, estima-se que uma em cada
quatro casas britânicas tenham esse disco.
(2)
O enorme sucesso veio acompanhado de muitas ex-
plicações e teorias sobre os significados contidos no disco,
entre as quais as mais famosas são a vida do ser humano,
o tempo, o dinheiro, a guerra e a doença mental.
(2)
Hipotetiza-se também que o disco é perfeitamente sincro-
nizado com o filme "O mágico de Oz", de 1939, funcio-
nando como uma trilha sonora.
(3)
Neste artigo, propomos-nos a realizar uma análise
cefaliátrica do álbum The dark side of the moon.
MÚSICAS E CEFALEIA
O disco inicia com palpitações que vão aumentan-
do de intensidade e frequência, tal qual o prenúncio da
resposta adrenérgica inerente à crise de migrânea. Logo
após o aumento da intensidade da pulsação, uma série
de elementos auditivos ganha destaque, como sorriso,
barulho de moedas, caixa registradora e passos acelera-
dos. Os sons vão aumentando, assim como os passos,
como um presságio, sugerindo angústia e desejo de fuga.
Seria uma aura?
Headache Medicine, v.9, n.4, p.196-198, Oct./Nov./Dec. 2018 197
A segunda faixa é instrumental e nela se percebe o
crescente incômodo dos sons que passam de "ilusões" de
risadas ou moedas, dentre outros sons conhecidos, para um
barulho angustiante, que faz o personagem querer fugir (On
the run). Os sons "explodem" no final da faixa, cada som se
torna uma bomba para o ouvinte. Conhecemos esse fenô-
meno como fonofobia, uma intolerância ao barulho.
A música seguinte, Time, é também uma das mais
famosas da carreira do Pink Floyd e nos abre uma interes-
sante discussão: a percepção do tempo. Nessa faixa, o
personagem parece não perceber o tempo passar correta-
mente ("And a day you findten years have got behind you",
"You frit the hours on a day"e "Never seems to find time").
Sabe-se que a causa mais frequente de "Síndrome de Alice
no País das Maravilhas" é a migrânea.
(4,5)
Nessa rara
síndrome, o indivíduo apresenta distorções na percepção
da realidade, dentre elas a aceleração ou desaceleração
do tempo.
(6)
Almeida e Valença
(6)
relataram um caso de
uma paciente com migrânea que apresentou dois episódi-
os de distorção na percepção temporal, sentindo-se acele-
rada e as pessoas ou objetos ao seu redor estavam desa-
celerados, "em câmera lenta". Ambos os episódios foram
acompanhados de fortes crises de cefaleia.
O disco segue com a próxima música, “The great gig
in the sky, uma canção instrumental. Aqui podemos no-
tar uma forte crise dolorosa, cantada brilhantemente pela
cantora Clare Torry. O som é forte, quase latejante, e pode
representar o momento da crise migranosa precedida pela
aura, caracterizada pela distorção na percepção do tem-
po, como no artigo de Almeida e Valença.
(6)
A música
termina em calmaria, configurando o fim da crise migranosa
e a paciente livre de dor.
As duas próximas canções, Money e Us and Them,
conectam-se com outras passagens do disco, em nossa in-
terpretação cefaliátrica. Ambas têm citações de atividades
laborais, com a busca pelo dinheiro, relação com os chefes,
realização ou não com o trabalho, assim como a primeira
faixa Speakto Me. Desde Bernadino Ramazzini, em 1700,
já sabemos que as cefaleias estão relacionadas com ativida-
des laborais. Dentre as sessenta ocupações listadas em seu
livro, "As doenças dos trabalhadores - o primeiro tratado de
medicina ocupacional", havia 12 que provocavam cefaleia
como distúrbio relacionado às condições de trabalho.
(7)
San-
tos e colaboradores
(8)
publicaram uma adaptação da classi-
ficação de Schilling para as cefaleias, na qual a migrânea é
classificada no grupo III, em que o trabalho pode ser fator
desencadeante ou de piora da doença.
A sétima música é mais uma instrumental. O título
Any colour you like fala sobre cores que são representadas
na capa do disco. Ela se contrapõe à música seguinte,
Brain Damage, onde está incluído o título do álbum, na
passagem "If your head explodes with dark forebodings,
I'll see you on the dark side of the moon". A citação de um
universo colorido, da decomposição da luz branca e de
um desejo de encontrar-se com um lado escuro nos faz
pensar em fotofobia.
O "grand finale" do disco, Eclipse, sua última faixa,
pode ser interpretado como a carga que a migrânea traz
para o paciente, tudo que ele deixou de fazer, os dias e as
experiências perdidas por conta da dor, tais como, em pas-
sagens como"All that you do", "All that you creat" e
"Everyone you meet". Um interessante trecho dessa música
é "All that you touch, all that you taste, all that you feel"
(traduzido como "Tudo que você prova; tudo que você sen-
te"). Sabemos que entre os desencadeantes de uma crise
migranosa estão determinados alimentos e odores, tais como
perfumes ou derivados de petróleo.
(7,9)
A experiência sen-
sorial (visão, audição, olfato, paladar e tato) encontra-se
diretamente ligada às crises migranosas. Podemos inter-
pretar essa ideia no penúltimo verso da canção "And every
thing under the Sun is in tune". Ao final do disco, os
batimentos cardíacos reaparecem, mas dessa vez, diminu-
Capa do álbum "The
Dark Side of the
Moon", do grupo Pink
Floyd, inspirada na
experiência de Sir
Isaac Newton.
O LADO ESCURO DA MIGRÂNEA: UMA ANÁLISE CEFALIÁTRICA DE "THE DARK SIDE OF THE MOON", DE PINK FLOYD
198 Headache Medicine, v.9, n.4, p196-198, Oct./Nov./Dec. 2018
em em frequência e intensidade, dando fim ao ciclo
hiperadrenérgico da migrânea.
CONCLUSÃO
Podemos encontrar no álbum The Dark Side of the
Moon
(10)
diversas passagens que lembram a vida de um
paciente que sofre de migrânea com aura, desde critérios
diagnósticos – como dor forte precedida por aura, fotofobia
e fonofobia, piora com o exercício, até apresentações ra-
ras, como síndrome de Alice no País das Maravilhas. Além
disso, podemos extrapolar a análise para gatilhos (alimen-
tos ou odores) e realizar ligações com atividades laborais.
Por fim, caso não esteja com fonofobia, experimente colo-
car os fones de ouvido e apreciar o belo clássico do rock,
agora como uma percepção cefaliátrica. Afinal, a ciência
é efêmera, mas a arte permanece para sempre.
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10. Pink Floyd. The Dark Side of the Moon. Londres: EMI, 1973. 1
disco (42:52 min).
Correspondência
R. P. Silva-Néto
Universidade Federal do Piauí
Avenida Frei Serafim, 2280, Centro
64001-020 – Teresina, PI Brasil
Tel. + 55 863215-5696 - E-mail: neurocefaleia@terra.com.br
Recebido: 3 novembro 2018
Aceito: 27 de novembro 2018
SANTOS PEMS, COELHO IA, SILVA-NÉTO RP.
Headache Medicine, v.9, n.4, p.199-204, Oct./Nov./Dec. 2018 199
Interações entre enxaqueca, hipertensão arterial
sistêmica e acidente vascular cerebral: uma revisão
integrativa
Interactive between headache, systemic arterial hypertension and stoke: a integrative review
Gizele da Silva Lima
1
, Iris Milleyde da Silva Laurentino
1
, Vânia Nazaré da Costa Silva
1
, Antonio Flaudiano Bem Leite
3,5
,
Marcelo Moraes Valença
2,5
, Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
4,5
1
Collaborator of Research Group: Circle of Research in Technologies, Strategies and Instruments Applied to Health
2
Full Professor, Neuropsychiatry Department
3
Adjunct Professor, Colective Health Department
4
Assistent Professor, Colective Health Department
5
Federal University of Pernambuco - UFPE, Pernambuco, Brazil
Lima GS, Laurentino IMS, Bem-Leite AFB, Costa-Silva VN, Valença MM, Santos ERR.
Interações entre enxaqueca, hipertensão arterial sistêmica e acidente vascular cerebral: uma revisão integrativa.
Headache Medicine. 2018;9(4):199-204
VIEW AND REVIEW
RESUMO
Introdução: Estudos apresentam evidências de que a cefaleia
é um sintoma frequentemente associado à hipertensão arte-
rial sistêmica (HAS) e que pode contribuir com um maior
potencial no desenvolvimento dessas doenças, incluindo ris-
cos de danos mais graves, como o acidente vascular cere-
bral (AVC). Objetivo: Identificar nas publicações científicas
a relação entre enxaqueca, HAS e desfecho secundário de
AVC. Procedimentos metodológicos: Trata-se de um es-
tudo de revisão integrativa da literatura de 2014 a 2018,
nas bases de dados bibliográficas da Literatura Latino-Ame-
ricana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/
PUBMED) realizado em abril de 2019. De 50 registros iden-
tificados, considerando os descritores selecionados, através
de processos de seleção e elegibilidade de acordo com
critérios de inclusão e exclusão, resultou na eleição de qua-
tro artigos originais. A ferramenta PRISMA (Preferred Reporting
Items for Systematic Reviews and Meta-analyses) foi utilizada
como orientação na redação da revisão integrada. Resul-
tados: Dos estudos analisados, 50% direcionaram os obje-
tivos para a investigação da associação entre enxaqueca e
doença cardiovascular. Os demais priorizaram como objeti-
vo a avaliação da enxaqueca como um fator de risco para
AVC. Os achados relatados na totalidade confirmam a pre-
sença da associação da enxaqueca com a HAS e o AVC.
Desses, apenas um não apresentou significância no modelo
estatístico, quando inclusa a enxaqueca de forma geral para
o risco de AVC, porém quando inserida a enxaqueca com
aura, revelou resultados positivos. Conclusão: A enxaque-
ca se associa à HAS como fator de risco para doenças
cardiovasculares e pode gerar impacto significativo para
incapacidade dos pacientes. Esse contexto, portanto, requer
um olhar específico das políticas de saúde pública, a qual
necessita aprimorar as estratégias de acompanhamento e pre-
venção dos desfechos negativos a longo prazo.
Palavras-chave: Cefaleia; Transtorno da enxaqueca; Hi-
pertensão; Acidente Vascular Cerebral.
ABSTRACT
Introduction: Several studies present evidence that headache
is a symptom often associated with systemic arterial
hypertension (SAH) and it may contribute to a greater potential
for the development of these diseases, including the risks of
more serious damages, such as stroke). Objective: To identify
in the existing scientific publications the relation between
migraine, systemic arterial hypertension and secondary
outcome of cerebrovascular accident. Methodological
procedures: This is an integrative literature review from 2014
to 2018, in the bibliographic databases of Latin Literature
(LILACS) and the Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (MEDLINE /PUBMED) conducted in April 2019.
From 50 identified records, considering the selected descriptors,
through selection and eligibility procedures according to the
proposed inclusion and exclusion criteria, 04 articles were
selected. The PRISMA tool (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-analyzes) was used as a guideline
200 Headache Medicine, v.9, n.4, p199-204, Oct./Nov./Dec. 2018
LIMA GS, LAURENTINO IMS, BEM-LEITE AFB, COSTA-SILVA VN, VALENÇA MM, SANTOS ERR
in the writing of the integrated review. Results: 50% of the
analyzed studies directed the objectives for the investigation
of the association between migraine and cardiovascular
disease. The others, prioritized as objective the evaluation of
migraine as a risk factor for stroke. The findings of the studies
analyzed in full confirm the presence of the association of
migraine with systemic arterial hypertension and stroke. Of
these, only one presented no significance in the statistical model,
when migraine was generally included for the risk of stroke,
but when migraine with aura was inserted, it showed positive
results. Conclusion: Migraine is directly associated with
cardiovascular diseases and can have a significant impact, both
for the patients' disability and for the public health policy, which
needs to improve strategies for monitoring and preventing
negative outcomes in the long term.
Keywords: Headache; Migraine Disorder; Hypertension;
Stroke.
INTRODUÇÃO
A cefaleia é um sintoma universal, decorrente de alte-
rações funcionais do sistema nervoso central, que se apre-
senta como um problema de saúde pública no mundo,
com prevalência significativa no Brasil. É um exemplo de
dor crônica, a qual interfere na qualidade de vida dos
indivíduos e que também é uma das causas mais relatadas
quando se discute o absenteísmo nas organizações traba-
lhistas.
(1)
As cefaleias podem ser ser classificadas como:
primárias, secundárias, neuropatias cranianas dolorosas,
e outras dores faciais. Nesse estudo, o objeto selecionado
é a cefaleia primária, que pode ser avaliada por exames
clínicos, associados à aplicação dos critérios da Classifi-
cação Internacional das Cefaleias. As mais prevalentes no
país são a cefaleia do tipo-tensão e a enxaqueca.
(2)
A enxaqueca é um distúrbio neurovascular comum,
por constantes episódios de cefaleia por sinais e sintomas
como náuseas, fotofobia, fonofobia e dor variando de
moderada a intensa, podendo durar até 72 horas quan-
do não é tratada. Afeta mais as mulheres na faixa etária
produtiva. Estudos mostraram que apenas 56% dos paci-
entes com enxaqueca procuram atendimento de médico
generalista e, destes, apenas 4%-16%, respectivamente,
se consultam com especialistas em cefaleias.
(2,3)
Estudos anteriores apresentam evidências de que a
cefaleia é um sintoma frequentemente associado à hiper-
tensão arterial sistêmica (HAS). A primeira descrição des-
sa associação foi no início do século XX. Por um longo
tempo, autores continuaram descrevendo tal associação,
apesar de várias evidências contrárias. Outros estudos já
demonstram que a queixa de cefaleia partia frequente-
mente de pessoas que sabiam do diagnóstico de HAS,
comparados aos que desconheciam sua condição de pres-
são arterial.
(4)
As prevalências da cefaleia são diferentes em diversos
grupos de populações o que causa grande impacto no
sistema de saúde. Nos ambulatórios de clínica médica, a
cefaleia é a terceira queixa mais frequente. Já nas unida-
des de saúde, é responsável por 9,3% das consultas não
agendadas e nos ambulatórios de neurologia é a causa
mais frequente da consulta.
(5)
A maior parte da evidência científica que indica a
associação entre cefaleia e HAS foi encontrada a partir de
investigações anteriores a dos diagnósticos de cefaleia e
de estudos realizados em hospitais e clínicas especia-
lizadas.
(4)
Em 2004, a Sociedade Internacional de Cefaleia
chegou à conclusão de que a pressão arterial elevada (leve
e moderada) na forma crônica não causaria dor de cabe-
ça. As diretrizes atuais apresentam que a dor de cabeça
desencadeada pelos níveis pressóricos elevados precisa
ceder logo após o manejo de intervenções clínicas para a
sua normalização. As menores elevações na pressão arteri-
al não causam dor de cabeça e, quando a dor de cabeça
persistir após a diminuição da pressão arterial, a hiperten-
são não deve ser a causa.
(6)
O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das maio-
res causas de morte e incapacidade adquirida em todo o
mundo. O Brasil apresenta a quarta taxa de mortalidade
por AVC entre os países da América Latina e sua incidên-
cia gira em torno de 150 casos por 100 mil habitantes. É
uma doença crônica não transmissível, e pode ser
consequência do controle inadequado da hipertensão ar-
terial.
(7)
Estudo realizado nos EUA revelou que sofrer com dor
de cabeça forte, fotofobia e tontura, não é o maior proble-
ma de quem precisa lidar com a enxaqueca, porém o au-
mento do risco de doenças cardiovasculares desencadeadas
por quadros de vasos constrição, como o AVC, muitas ve-
zes decorrentes do uso indiscriminado de anti-inflamatóri-
os, vasoconstritores para enfrentar o problema da dor, con-
tribuir com ocorrências na esfera cardíaca.
(8)
Um dos problemas mais comuns enfrentados por pro-
fissionais de saúde é a HAS, pois há dificuldades para
realizar o diagnóstico precoce, tratamento e controle
pressóricos dos usuários.
(9)
A realização do exame clínico,
é importante na identificação de uma emergência
hipertensiva, contribuindo para o encaminhamento ade-
quado do paciente a uma unidade hospitalar especializa-
Headache Medicine, v.9, n.4, p.199-204, Oct./Nov./Dec. 2018 201
INTERAÇÕES ENTRE ENXAQUECA, HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
da. A falha no controle da hipertensão pode colaaborar
para desfechos negativos a longo prazo, como infarto e
AVC.
(5,6)
No diagnóstico precoce e tratamento adequado pode-
se evitar a ocorrência de um AVC. Neste caso, a Atenção
Primária no Sistema Único de Saúde, que é a porta de
entrada do paciente para prevenção, diagnósticos,
monitorização e controle da hipertensão arterial, possui
papel fundamental na melhora da adesão ao tratamen-
to.
(10)
Considerando o panorama, faz-se necessário des-
crever as conclusões de estudos dos últimos quatro anos,
que buscam verificar a associação da enxaqueca com a
HAS, relacionada à consequência mais frequente quando
o controle dessa morbidade não acontece, que é o AVC.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da litera-
tura. O período para o levantamento bibliográfico foi en-
tre 2014 a 2018, nas bases de dados bibliográficos da
Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saú-
de (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (MEDLINE/PubMed). Na primeira base,
foram utilizados os descritores selecionados de acordo com
o padrão dos Descritores em Ciência da Saúde edição
2018 (DECs/Bireme), na base LILACS, foram: "enxaque-
ca", "hipertensão" e "acidente vascular cerebral". Para a
base PubMed, foram: "migraine", "arterial hypertention" e
"stroke".
Após a aplicação dos descritores utilizados, combina-
dos entre si, em busca integrada nos campos título, resu-
mo e assunto, foram obtidos cinquenta documentos inici-
almente. Em seguida foram aplicados critérios de inclu-
são, nos quais foram observados os seguintes itens: (I) pes-
quisas originais que discorrem acerca da associação da
migrânea com a hipertensão arterial sistêmica e acidente
vascular cerebral; (II) estudos com a população de 18 a
50 anos; (III) escritos em Inglês, Espanhol e Português.
Como critérios de exclusão foram retirados artigos: (I) de
revisão da literatura; (II) com mais de cinco anos de publi-
cação; e (III) em outros idiomas não especificados nos cri-
térios de inclusão.
Do total de documentos, após realização de procedi-
mento de leitura de cada título, resumo, dentro do período de
publicação, objetivo proposto, dos critérios de inclusão e ex-
clusão, resultou em quatro estudos selecionados (Figura 1).
Todos os estudos selecionados foram analisados, na
íntegra, por três revisores, coletando-se os dados de inte-
resse em formulários predefinidos, com a inclusão de cam-
pos para anotação das variáveis de desfecho em saúde,
fontes de dados dos desfechos, variáveis independentes ava-
liadas e associadas positivamente aos desfechos, ano de
publicação dos estudos, período de ocorrência dos desfe-
chos avaliados, grupos populacionais estudados, locais in-
vestigados e origem dos dados. A leitura dos artigos e a
extração dos dados e das informações foram realizadas de
maneira integrada entre os revisores. Divergências foram
identificadas, discutidas e resolvidas entre os revisores, sem
a necessidade de consulta de mais revisores.
A ferramenta PRISMA (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-analyses) foi utilizada para
orientar a redação da revisão sistemática.
(11)
RESULTADOS
Os resultados obtidos são visualizados na Tabela 1, na
qual são identificados autores, ano de publicação, objetivo,
método, conclusão, limitações dos estudos e possíveis viés.
Foram estudos recentes, dos últimos quatro anos. A
maioria aconteceu na Europa, sendo apenas um realizado
na América do Norte. Os objetivos foram semelhantes,
porém dois com ênfase na investigação da associação en-
tre enxaqueca e doença cardiovascular, e dois priorizando
a avaliação da enxaqueca como um fator de risco para
acidente vascular. O tipo de estudo predominante à coorte,
com análises a partir do uso da regressão logística multi-
variada. Com relação ao sexo, a maioria dos participantes
é constituída por mulheres nos quatro estudos.
Os achados acerca da associação da enxaqueca com
a hipertensão arterial sistêmica e o acidente vascular cere-
bral demonstram presença da associação na totalidade
dos estudos analisados. No entanto, foi observada uma
discordância com relação ao risco de um desfecho negati-
vo a longo prazo.
Um dos estudos não apresentou significância no mo-
delo estatístico para as análises, quando inclusa a enxa-
queca de forma geral para risco de AVC. Contudo, quan-
do inserida a enxaqueca com aura, revelou resultados po-
sitivos, destacando que além de eventos isquêmicos, tam-
bém pode ser um fator de risco para AVC hemorrágico,
gerando alguns questionamentos e pautando como limita-
ção o número restrito de eventos cerebrovasculares estuda-
Figura 1. Seleção dos estudos segundo o método descrito.
202 Headache Medicine, v.9, n.4, p199-204, Oct./Nov./Dec. 2018
dos e a impossibilidade de analisar a causalidade entre o
início da hipertensão arterial, enxaqueca e eventos
cerebrovasculares. Presença de fator do confundimento re-
sidual devido a viés imensurável.
Com relação ao risco de viés, predominou nessa aná-
lise, a possibilidade dos diagnósticos confirmados pelos
questionários de auto relato, apresentarem classificação
equivocada acerca do tipo de enxaqueca.
LIMA GS, LAURENTINO IMS, BEM-LEITE AFB, COSTA-SILVA VN, VALENÇA MM, SANTOS ERR
Headache Medicine, v.9, n.4, p.199-204, Oct./Nov./Dec. 2018 203
DISCUSSÃO
A maior parte da evidência científica que indica a
associação entre enxaqueca e hipertensão artérial foi
identificada a partir de investigações anteriores a dos diag-
nósticos de cefaleia e de estudos realizados em hospitais e
clínicas especializadas.
(4)
As evidências encontradas nesse estudo de revisão
estão em sintonia quando considerada a relevância de
outros estudos anteriores, que apresentam associações im-
portantes nas frequentes condições da enxaqueca relaci-
onada à HAS, e que corroboram com as primeiras descri-
ções dessa associação, datadas no início do século XX e
que até os dias atuais vêm demonstrando consistên-
cia.
(6,16,17)
Um aspecto importante a ser destacado no estudo é
que além da associação entre enxaqueca e hipertensão,
também é preocupante a perspectiva de um desfecho se-
cundário como o AVC, o que corrobora com estudo prévio
de meta-análise que apresentou um risco duas vezes maior
de AVC isquêmico para pessoas de enxaqueca com aura,
é um trabalho de grande consistência
.(4,16)
Outra evidência deste estudo também corrobora para
a associação dessas variáveis, pois apresentou uma
prevalência de comorbidade hipertensão e enxaqueca como
substancial, revelando que paciente nessa condição apre-
senta maior histórico AVC e/ou ataque isquêmico transitó-
rio (AIT) quando comparados a pacientes hipertensos sem
enxaqueca.
(7,12)
Ainda na mesma perspectiva das evidências sobre a
associação aqui investigada, estudo apresenta resultados
que discutem um dos principais e maiores problemas de
quem sofre de dores de cabeças fortes como a enxaqueca,
não é por si só a dor, mas também as causas e o aumento
do risco de doenças cardiovasculares, que muitas vezes
são desencadeadas por quadros de vasoconstrição, como
o AVC, e entre outras alterações susceptíveis a contribuir
com outras ocorrências cardíacas.
(8)
No entanto, é importante ressaltar que um dos moti-
vos pela qual a enxaqueca pode elevar o risco de doenças
cardiovasculares é o fato de que, geralmente, a maioria
das pessoas que costumam utilizar anti-inflamatórios
vasoconstritores para enfrentar o problema da dor, o me-
dicamento utilizado culmina
na potencialização do au-
mento dos riscos dessas doenças cardíacas.
(18,15)
As evidências também apontam para a cefaleia o sin-
toma clássico relacionado à hipertensão, com diretrizes atu-
ais para o controle do paciente, associada à recomenda-
ção do registro via questionamento, para detecção da ocor-
rência de episódios da dor de cabeça durante a investiga-
ção de um paciente hipertenso. A cefaleia constitui um
importante sinal de alerta sintomático para pacientes e
médicos.
(9,10)
Compreendendo a grande quantidade de pacientes
hipertensos cadastrados na Estratégia Saúde da Família no
Brasil (importante porta de acesso ao Sistema Único de
Saúde), torna-se pertinente a discussão de um controle efe-
tivo e a prevenção de desfechos secundários como o AVC,
para os que, além do diagnóstico de HAS, apresentam a
enxaqueca como comorbidade, pois ela é um distúrbio de
alta prevalência, afetando em maioria a população de
mulheres e pode representar um elo potencial com a do-
ença vascular. Portanto é de grande interesse na perspecti-
va científica e de saúde pública.
(1,9,19,20)
CONCLUSÃO
A enxaqueca é um distúrbio neurovascular comum,
caracterizada por constantes episódios de cefaleia, e afeta
mais as mulheres na sua faixa etária produtiva. Está asso-
ciada às doenças cardiovasculares, como Hipertensão Ar-
terial Sistêmica (HAS). Também pode estar associada a um
desfecho secundário como o AVC, que pode ocorrer por
consequência da dificuldade do controle da HAS. Um dos
motivos pelos quais a enxaqueca pode elevar o risco de
doenças cardiovasculares é o fato de que, geralmente a
maioria das pessoas que utilizam anti-inflamatórios
vasoconstritores para enfrentar o problema da dor, acaba
potencializando o aumento dos riscos das ocorrências de
desfechos para níveis de complexidade mais altos dos Ser-
viços de Saúde, o que gera impacto significativo, tanto
para a potencial incapacidade dos pacientes, quanto para
a política de enfrentamento da doença (HAS) pela saúde.
A detecção dos casos de enxaqueca, associados à
HAS, precisa do uso das tecnologias para o diagnóstico
apropriado e tratamento, que deveriam estar estruturadas
nas Unidades da Estratégia Saúde da Família, que com-
põem a base do Sistema Púbico de Saúde no país, possibi-
litando, assim, à população, o acesso às estratégias de
controle com maior efetividade.
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LIMA GS, LAURENTINO IMS, BEM-LEITE AFB, COSTA-SILVA VN, VALENÇA MM, SANTOS ERR
Recebido: 23 de outubro de 2018
Aceito: 17 de novembro de 2018
Headache Medicine, v.9, n.4, p.205-206, Oct./Nov./Dec. 2018 205
XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CEFALEIA:
Que tamanho tenho eu?"
LETTER TO EDITOR
Nosso cérebro é uma máquina mágica, e isso não é
novidade para ninguém, particularmente para os que se
dedicam ao estudo das neurociências. Porém, ainda nos
surpreendemos com situações do cotidiano e com a capa-
cidade desta interface cérebro/mente nos levar a lugares
que há muito estavam silentes na "casinha" do nosso in-
consciente.
Ao chegar no Congresso de Porto de Galinhas, ime-
diatamente veio-me ao pensamento o livro que citei aci-
ma, que devo ter lido ainda nos primeiros anos de educa-
ção infantil.
Uma sala lotada, pessoas nos corredores, sentadas no
chão...absortas com o conhecimento que estava sendo
passado pelos palestrantes, escolhidos com muita compe-
tência pela organização do evento. Será que nosso con-
gresso havia crescido em volume e não tínhamos percebi-
do? Será que não sabemos ainda o quanto de interesse
existe em médicos e estudantes sobre dores de cabeça?
Era uma vez uma menina.
Não era uma menina deste tamanhinho. Mas também não era uma meni-
na deste tamanhão. Era uma menina assim mais ou menos do seu tamanho. E
muitas vezes ela tinha vontade de saber que tamanho era esse, afinal de contas.
Porque tinha dias que a mãe dizia assim:
- Helena, você já está muito grande para fazer uma coisa dessas. Onde já
se viu uma menina do seu tamanho chegar em casa assim tão suja de ficar
brincando na lama? Venha logo se lavar!
Então ela achava que já era bem grande. Mas às vezes, também, o pai
dela dizia assim:
- Helena, você é muito pequenininha para fazer uma coisa dessas. Onde
já se viu uma menina do seu tamanho ficar brincando num galho de árvore tão
alto assim? Desça já daí. Se não, você pode cair. E pode derrubar o ninho do
joão-de-barro. Aí Helena achava que ela era mesmo uma bebezinha que não
podia fazer nada sozinha.
(Machado, Ana Maria. Bem do meu tamanho. São Paulo:
Editora Salamandra, 1980).
Mesmo competindo com as belezas naturais do local, sol a
pino, a ciência pulsava.
Mérito total para os Drs Marcelo Valença e Pedro
Sampaio.
Mérito para o mestre Wilson Farias da Silva, que fez
de Pernambuco uma das Mecas do estudo das Cefaleias.
Era um sucesso anunciado.
Estudantes foram privilegiados com sessões direta-
mente voltadas para eles. Inclusive o Congresso foi fina-
lizado com uma sessão de educação e ensino. "Pensa-
mos na formação dos pequenos para que grandes se
tornem".
E por falar em pequenos, que Mesa-Redonda genial
foi a de Cefaleia na Infância.
Atenção especial também foi dada à sessão de
Pôsteres, além do horário estratégico de discussão e apre-
sentação dos Temas Livres no início das atividades. Mais
um ponto para a organização do evento.
206 Headache Medicine, v.9, n.4, p.205-206, Oct./Nov./Dec. 2018
DE JESUS ACF
Não menos importante foi atividade de início do con-
gresso, voltada para o cotidiano. Em liberdade poética,
seria uma analogia ao "Cefaliatra adolescente", em ama-
durecimento. Atualizações de conceitos, revisão de temas
frequentes e ousadas propostas de abordagens de trata-
mento.
Mas o "Cefaliatra adulto" não foi esquecido e esse
foi um Congresso em que percebemos que estamos
vivenciando o futuro da especialidade. Decididamente,
entramos na era dos anticorpos monoclonais. No que diz
respeito à inovação em tratamentos, uma revolução com-
parada ao furor do lançamento dos triptanos em décadas
anteriores. As palestras do Dr Messoud Ashina foram um
show à parte.
Como de costume, recebemos os exemplares da
Headache Medicine. Recomendo a todos a leitura dos ar-
tigos publicados, e não tenho dúvidas de que nossa Revis-
ta está madura o suficiente para o processo de indexação.
E o que falar da Conferência "Inteligência Artificial" ?
Somos todos muito sortudos por termos a oportunidade de
poder ouvir as palavras serenas e sempre pertinentes do
Professor Wilson Sanvito. Passado e perspectivas em um
conversa de uma hora, que passou como se fossem segun-
dos. Certamente o clímax, com sotaque paulistano, no
coração do nordeste brasileiro.
Sotaque que nos faz lembrar que o próximo congresso
será na cidade de São Paulo, Estado de tantos mestres,
que inspiraram gerações de Neurologistas de todo o País,
e que já nos deixa ansiosos por este encontro.
Ficam a saudade de um evento ímpar e o desejo de
sucesso a Dra Thais Villa, que terá a honra de escrever
mais um capítulo de sucesso na história da Sociedade Bra-
sileira de Cefaleia e de aumentar essa boa dúvida sobre o
real tamanho que temos.
Até São Paulo, em 2019.
Alan Chester Feitosa de Jesus
Neurologista, Membro Titular da Academia Brasilei-
ra de Neurologia e Membro Efetivo da
Sociedade Brasileira de Cefaleia
Headache Medicine, v.9, n.4, p.207, Oct/Nov/Dec 2018 207
INFORMATIONS FOR AUTHORS
Headache Medicine is the official scientific journal of the Brazilian
Headache Society (SBCe) and of the Latin American Headache
Association (ASOLAC). It is published quarterly for the purpose of
recording and disseminating scientific production and contributions
from the scientific community in the field of Headache. Submitted
papers considered by the editors to be suitable for publication in the
journal will be evaluated by at least two reviewers and then accepted
or rejected according to the peer review system.
General Remarks
Manuscripts written in English are preferred, but those written in
Portuguese and Spanish are also accepted. The full title must be
written both in English and in Portuguese and the running title is
limited to a maximum of 50 characters. It is obligatory to list the
institution in which the work was carried out as well as the authors'
full names without abbreviations and their present position and
institution. Additionally, information about any possible conflict of
interest must be disclosed. The full address of the corresponding
author must include telephone numbers and e-mail. The manuscript
should be send as a Word file (double spacing, Arial or Times New
Roman, font 12) and must include abstracts in English and in
Portuguese, both of up to 250 words and three to five descriptors
(keywords and descritores).
References
Headache Medicine adopts the International Committee of Medical
Journal Editors (ICMJE) Uniform Requirements for Manuscripts
(URM), available at http://www.icmje.org/manuscript_1prepare.html.
The references must be numbered as they appear on the text.
Illustrations and Pictures
CMYK pattern should be used for illustrations and pictures and the
minimum resolution is 300 dpi. Only TIFF, JPG or CDR formats will
be accepted. Figures should not be included within the text, but sent
as individual files. Tables: Tables should be consecutively numbered
using Arabic numerals and cited in the text in numerical order. The
tables should be as DOC files, instead of image files.
Authors: ll designated authors should qualify for authorship by
sufficiently participating in the work in order to accept responsible
for its contents. Authorship includes substantial contributions in: (a)
conception and design, analysis and interpretation of data; (b) drafting
or critical review of the intellectual content; (c) approval of the final
version. Further information on the criteria of authorship credits can
be obtained at www.icmje.org/ethical_1author.html. Participation
in the acquisition of funds, compilation of data and general
supervision of the research team does not justify authorship. The
number of authors should follow the guidelines of the NML/NIH/
Index Medicus which, depending on the type of contribution, may be
increased at the discretion of the editors.
Original Article
Maximum of 4000 words, including references. Title in English
and in Portuguese and running title up to 50 characters. Abstract in
English and Portuguese or English and Spanish (up to 250 words
each). Tables, illustrations and photographs: up to 7. References: up
to 30. The text should be divided in sections: Introduction, Methods,
Results and Discussion.
View and Review Article
Maximum of 5000 words, including references. Abstract in English
and Portuguese or English and Spanish (up to 250 words each).
Tables, Illustrations and Photographs: up to 7. References: up to
100. Title in English and Portuguese and running title up to 50
characters. A Review Article should include a synthesis and critical
analysis of a relevant area and not only a chronological
description of publications. It should be written by a researcher
who has significant contributions in the specific area of Headache
Medicine.
Clinical Correspondence
Maximum of 1800 words (including references). Number of authors:
up to five. Abstract in English and Portuguese or English and Spanish:
maximum of 250 words each. Tables, Illustrations and Photographs:
up to 2. References: up to 20. Title in English and in Portuguese.
Apart from the general remarks, it must have at least one of the
following characteristics: (a) be of special interest to the scientific
community; (b) be a rare case which is particularly useful to
demonstrate disease mechanisms or diagnostic issues; (c) presents
a new diagnostic method or treatment modality. The text should be
divided in Introduction, Case Report and Discussion and must
describe only well-defined, non ambiguous, relevant findings.
Letter to the Editor
Maximum of 1000 words (including references). Number of authors:
up to four. References: up to seven. Title in English and in Portuguese
and running title up to 50 characters. The format is free and apart
from the General Remarks, it may include a maximum of two
illustrations (photographs, tables, figures).
Thesis Abstract
Title in English and in Portuguese. Maximum of 500 words (including
keywords). One author and one mentor.
The Image Section
Maximum of 300 words (no Abstract). Title in English and Portuguese.
One or two images and up to three authors. Maximum of three
references.
Corresponding Address
Marcelo M. Valença (mmvalenca@yahoo.com.br)
Editor-in-chief
Publisher
Trasso Comunicação Ltda.
Rua das Palmeiras, 32 / 1201 - Botafogo
22270-070 - Rio de Janeiro-RJ - Brazil
October/November/December 2018
Nº 4
9
VOL UME
Headache
Medicine
Headache
Medicine
ISSN 2178-7468
Af-Capa_HM_4_2018.indd 1 22/10/19 17:18
EDITORIAL
The XXXII Brazilian Congress of Headache (2018) held in Porto de Galinhas,
Pernambuco, Brazil, was a great success!
Marcelo Moraes Valença
ORIGINAL ARTICLE
Categorias da CIF comprometidas na migrânea
Suellen Freitas da Silva, Hugo Feitosa, Alyne Karine de Lima Santos, Manuella Moraes Monteiro
Barbosa Barros, Karinne Josepha Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara
Cavalcanti de Morais Coutinho Neta, Débora Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
Alterações de funcionalidade de mulheres migranosas
Alyne Karine Lima Santos, Hugo Feitosa, Suellen F Silva, Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros,
Josepha Karinne de Oliveira Ferro, Ana Izabela Sobral de Oliveira Souza, Tamara Cavalcanti de
Morais Coutinho Neta, Paulo José Moté Barboza, Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho, Débora
Wanderley, Daniella Araújo de Oliveira
VIEW AND REVIEW
Mecanismos farmacológicos do topiramato na prolaxia e tratamento da enxaqueca: uma revisão
Emanuela Paz Rosas, Raisa Ferreira Costa, Silvania Tavares Paz, Ana Paula Fernandes da Silva,
Manuela Freitas Lyra de Freitas, Marcelo Moraes Valença
O lado escuro da migrânea: uma análise cefaliátrica de "The Dark Side of the Moon", de Pink Floyd
Patrick Emanuell Mesquita Sousa Santos, Iara Alves Coelho, Raimundo Pereira Silva-Néto
Interações entre enxaqueca, hipertensão arterial sistêmica e acidente vascular cerebral:
uma revisão integrativa
Gizele da Silva Lima, Iris Milleyde da Silva Laurentino, Vânia Nazaré da Costa Silva,
Antonio Flaudiano Bem Leite, Marcelo Moraes Valença, Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
LETTER TO EDITOR
XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CEFALÉIA: "Que tamanho tenho eu?"
Alan Chester Feitosa de Jesus