Editorial
Migraine-inspired art
Fernando Kowacs, Marcelo M. Valença
Review
Disease progression to chronic migraine: onset of symptoms of headaches, anxiety and
mood disorders
Progressão da doença em enxaqueca crônica: Análise do início dos sintomas de cefaleia,
ansiedade e humor
Juliane P. P. Mercante, Mario F. P. Peres, Marcio A. Bernik, Felipe Corchs, Vera Z. Guendler,
Eliova Zukerman
Cerebrovascular reactivity in migraineurs
Vasorreatividade cerebral em migranososArthur de Carvalho Jatobá e Sousa,
Ciro Martins Gomes, Rodolfo de Souza Coelho, Ricardo Afonso Teixeira
O uso de um diagrama craniano na localização da dor
The use of a diagram of the skull in the localization of pain
Raimundo Pereira da Silva Neto
Migrânea e rendimento escolar entre alunos de medicina
Migraine and academic performance among medical students
Barbara Silva Diniz, Flavia Oliveira Alves, Julia Rocha Dias, Laura Toledo de Vasconcelos,
Vanessa Tavares Esteves, Dilermando Fazito de Rezende, Mauro Eduardo Jurno
Enxaqueca e sua aura na gênese das visões místicas e da criação artística:
o caso de Hildegard von Bingen
Migraine and aura in the genesis of mystical visions and artistic creation:
the case of Hildegard von Bingen
Ermelinda Maria Araújo Ferreira
Allodynia in cluster headache: A review
Alodinia na cefaléia em salvas: Uma revisão
Elder Machado Leite, Hugo André de Lima Martins, Marcelo Moraes Valença
January/February/March 2011
Nº. 1
2
VOLUME
Headache
Medicine
Headache
Medicine
ISSN 2178-7468
2 Headache Medicine, v. 2, n.1, p.2-3, jan./feb/mar. 2011
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
Jornalista responsável: Ana Carneiro Cerqueira – Reg. 23751 DRT/RJ
A revista Headache Medicine é uma publicação de propriedade da Sociedade Brasileira de Cefaleia, publicada pela Trasso Comunicação Ltda., situada
na cidade do Rio de Janeiro, na Av. N. Sra. de Copacabana, 1059 sala 1201- 22060-001 - Copacabana - Rio de Janeiro-RJ - Tel.: (21) 2521-6905 -
Email: trasso@trasso.com.br - site: www.trasso.com.br. Tiragem: 2.000 exemplares. Distribuição gratuita para os membros associados, bibliotecas
regionais de Medicina e faculdades de Medicina do Brasil, e sociedades congêneres. Os manuscritos aceitos para publicação passam a pertencer à
Sociedade Brasileira de Cefaleia e não podem ser reproduzidos ou publicados, mesmo em parte, sem autorização da HM & SBCe. Os artigos e
correspondências deverão ser encaminhados para a HM através de submissão on-line, acesso pela página www.sbce.med.br - caso haja problemas no
encaminhamento, deverão ser contatados o webmaster, via site da SBCe, a Sra. Josefina Toledo, da Trasso Comunicação ou a Sra. Magda, da SBCe , ou
os editores (fkowacs@yahoo.com, mmvalenca@yahoo.com.br ou fkowacs@yahoo.com). Publicidade: Paulo Carneiro
Editors-in-ChiefEditors-in-Chief
Editors-in-ChiefEditors-in-Chief
Editors-in-Chief
Fernando Kowacs
Marcelo M. Valença
PP
PP
P
ast Editorsast Editors
ast Editorsast Editors
ast Editors
-in--in-
-in--in-
-in-
ChiefChief
ChiefChief
Chief
Edgard Raffaelli Júnior (1994-1995)
José Geraldo Speciali (1996-2002)
Carlos Alberto Bordini (1996-1997)
Abouch Valenty Krymchantowsky (2002/2004)
Pedro André Kowacs and Paulo H. Monzillo (2004-2007)
Editors EmeritiEditors Emeriti
Editors EmeritiEditors Emeriti
Editors Emeriti
Eliova Zukerman, São Paulo, SP
Wilson Luiz Sanvito, São Paulo, SP
International Associate EditorsInternational Associate Editors
International Associate EditorsInternational Associate Editors
International Associate Editors
Cristana Peres Lago, Uruguai
Gregorio Zlotnik, Canadá
Isabel Luzeiro, Portugal
José Pereira Monteiro, Portugal
Kelvin Mok, Canadá
Marcelo Bigal, USA
Nelson Barrientos Uribe, Chile
Editorial BoardEditorial Board
Editorial BoardEditorial Board
Editorial Board
Abouch Valenty Krymchantowski, Rio de Janeiro, RJ
Alan Chester F. Jesus, Aracaju, SE
Ana Luisa Antonniazzi, Ribeirão Preto, SP
Ariovaldo A. Silva Junior, Belo Horizonte, MG
Carla da Cunha Jevoux, Rio de Janeiro, RJ
Carlos A. Bordini, Batatais, SP
Celia P. Roesler, São Paulo, SP
Claudia Tavares, Belo Horizonte, MG
Cláudio M. Brito, Barra Mansa, RJ
Deusvenir de Sousa Carvalho, São Paulo, SP
Djacir D. P. Macedo, Natal, RN
Domingos Sávio de Souza Vieira, Caruaru, PE
Élcio Juliato Piovesan, Curitiba, PR
Elder M. Sarmento, Barra Mansa, RJ
Eliana Meire Melhado, Catanduva, SP
Fabíola Dach, Ribeirão Preto, SP
Fabíola Lys Medeiros, Recife, PE
Jano Alves de Sousa, Rio de Janeiro, RJ
João José F. Carvalho, Fortaleza, CE
Joaquim Costa Neto, Recife, PE
José G. Speciali, Ribeirão Preto, SP
Luis Paulo Queiróz, Florianópolis, SC
Marcelo M. Ciciarelli, Ribeirão Preto, SP
Marcelo Rodrigues Masruha, Vitória, ES
Marcos A. Arruda, Ribeirão Preto, SP
Mario Fernando Prieto Peres, São Paulo, SP
Maurice Vincent, Rio de Janeiro, RJ
Pedro A. S. Rocha Filho, Recife, PE
Pedro F. Moreira Filho, Rio de Janeiro, RJ
Pedro Kowacs, Curitiba, PR
Raimundo Silva-Néto, Teresina, PI
Renan Domingues, Vitória, ES
Renata Silva Melo Fernandes, Re
cife, PE
Headache Medicine
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
Headache Medicine, v. 2, n.1, p.2-3, jan./feb/mar. 2011 3
Sociedade Brasileira de Cefaleia – SBCe
filiada a International Headache Society – IHS
Rua Eusébio Matoso, 366 - Pinheiros-São Paulo-SP - Brasil - CEP: 05423-000 - Tel: + (16) 3662-1774
Secretária executiva: Sra. Lidiane Roberta Bento - www.SBCe.med.br -secretaria@sbcefaleia.com
Presidente: Marcelo C. Ciciarelli
Secretário: Luiz Paulo Queiroz
Tesoureiro: Carlos A. Bordini
Departamento Científico: Mário P. Peres, Luis Paulo
Queiróz, Eliova Zukerman, Marcelo Ciciarelli,
Pedro Kowacs, José Geraldo Speciali, Eliana Melhado
Editores de Migrâneas & Cefaléias: Marcelo Valença &
Fernando Kowacs
ComitêsComitês
ComitêsComitês
Comitês
Comitê de Dor Oro-Facial: Renata Campi
Diretoria Biênio 2010/2012Diretoria Biênio 2010/2012
Diretoria Biênio 2010/2012Diretoria Biênio 2010/2012
Diretoria Biênio 2010/2012
Presidente
Carlos Federico Buonanotte
Vice-Presidente
Elder Sarmento
1º Secretário
Cristina Perez Lago
Associação Latino-americana de Cefaleia – ASOLACAssociação Latino-americana de Cefaleia – ASOLAC
Associação Latino-americana de Cefaleia – ASOLACAssociação Latino-americana de Cefaleia – ASOLAC
Associação Latino-americana de Cefaleia – ASOLAC
Diretoria Biênio 2008-2010Diretoria Biênio 2008-2010
Diretoria Biênio 2008-2010Diretoria Biênio 2008-2010
Diretoria Biênio 2008-2010
2º Secretário
Marco Antônio Arruda
1º Tesoureiro
Lorenzo Gardella
2º Tesoureiro
Claudio Martinez
Comitê de Cefaléia na infância: Sandro Espósito
Comitê de Leigos: Célia Roesler, Ana Antoniazzi,
Marcelo C. Ciciarelli, Patrícia Peixoto e Claudia Tavares
Delegado junto à IHS: Mario Peres
Delegado junto à ASOLAC: Elder Sarmento
Responsável pelo Portal SBCe: Mario Peres
Representante junto à SBED: José Geraldo Speciali
Presidente do XXV Congresso Brasileiro de Cefaleias:
Mário Peres e Célia Roesler
4 Headache Medicine, v. 2, n.1, p. 4, jan./feb/mar. 2011
T
Migraine-inspired art
EDITORIAL
The experience with recurrent migraine attacks, particularly those with aura, were used
as artistic inspiration by some famous people such as Hildegard of Bingen, Salvador Dali,
Marina Abramovic, Giorgio de Chirico, Yayoi Kusama, Sarah Raphael, among others. In
the present issue Ermelinda Ferreira comments the work of the German nun Hildegard von
Bingen, author of two of the first medical compendiums of the history of mankind and
migraine sufferer. Other interesting and informative articles commenting disease progression
to chronic migraine, cerebrovascular reactivity in migraineurs, use of a diagram of the skull
to report localization of pain, migraine and academic performance, and allodynia in cluster
headache were included in this issue.
Marcelo M. Valença & Fernando Kowacs
Headache Medicine, v.2, n.1, p.5-9, jan./feb./mar. 2011 5
Disease progression to chronic migraine:
onset of symptoms of headaches, anxiety and
mood disorders
Progressão da doença em enxaqueca crônica: Análise do início dos
sintomas de cefaleia, ansiedade e humor
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Background:Background:
Background:Background:
Background: Psychiatric conditions, mostly anxiety and mood
disorders, are common in patients with chronic migraine. There
has recently been extensive debate on migraine progression,
but little is known about the role of psychiatric disorders in this
respect.
Objective: Objective:
Objective: Objective:
Objective: In order to evaluate the role of psychiatric
disorders in migraine progression, we analyzed the temporal
profile of migraine, mood and anxiety disorders, and years
since onset of symptoms in chronic migraine (CM) patients.
Methods: Methods:
Methods: Methods:
Methods: Fifty CM patients diagnosed according to the
International Headache Society (2004) criteria were interviewed
and diagnosed for mental disorders using the Structured
Clinical Interview for DSM-IV (SCID-I/P).
Results:Results:
Results:Results:
Results: Anxiety
disorders preceded the onset of episodic migraine, which was
followed by depression and daily headaches.
Conclusions:Conclusions:
Conclusions:Conclusions:
Conclusions:
Psychiatric comorbidity evaluation in chronic migraine may
lead to better patient management and clinical outcomes.
Patients with a history of anxiety, episodic migraine, and
depression may be at risk of developing CM. Early treatment
of anxiety, mood disorders, and episodic migraine may prevent
disease progression to CM.
Keywords:Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: Anxiety disorders; Mood disorders; Disease
progression; Comorbidity
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
Juliane P. P. Mercante
1,2
; Mario F. P. Peres
1
; Marcio A. Bernik
2
; Felipe Corchs
1,2
; Vera Z. Guendler
1,3
; Eliova Zukerman
1
1
Hospital Israelita Albert Einstein, Institute of Teaching and Research, São Paulo, SP, Brazil
2
Institute of Psychiatry, HCFMUSP, São Paulo, SP, Brazil
3
Universidde Federal de São Paulo –
UNIFESP – EPM, São Paulo, SP, Brazil
Mercante JP, Peres MF, Bernik MA, Corchs F, Guendler VZ, Zukerman E
Disease progression to chronic migraine: onset of symptoms of headaches,
anxiety and mood disorders. Headache Medicine. 2011;2(1):5-9
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Introdução:Introdução:
Introdução:Introdução:
Introdução: Ansiedade e depressão são condições clínicas
comuns em pacientes com enxaqueca crônica. Um intenso
debate em relação ao processo de cronificação da enxaqueca
tem acontecido recentemente, mas pouca ênfase tem sido
dada a comorbidade psiquiátrica.
Objetivos:Objetivos:
Objetivos:Objetivos:
Objetivos: Para avaliar
o papel das comorbidades psiquiátricas na progressão da
enxaqueca, analisamos o perfil temporal de início dos sintomas
de humor, ansiedade e dor nos pacientes com enxaqueca
crônica.
Métodos: Métodos:
Métodos: Métodos:
Métodos: Cinquenta pacientes diagnosticados de
acordo com os critérios da Sociedade Internacional de Cefaleias
(2004) foram entrevistados e diagnosticados para transtornos
mentais de acordo com a entrevista estruturada para o DSM-
IV (SCID-I/P).
RR
RR
R
esultados:esultados:
esultados:esultados:
esultados: Transtornos de ansiedade prece-
deram o início das enxaquecas episódicas, que foram seguidas
pelo aparecimento pelos transtornos de humor e sequen-
cialmente a evoluçãoo/transformação para enxaqueca
crônica.
Conclusões:Conclusões:
Conclusões:Conclusões:
Conclusões: A avaliação das comorbidades
psiquiátricas na enxaqueca crônica podem levar a um melhor
diagnóstico e tratamento dos pacientes. Pacientes com história
de ansiedade, enxaqueca e depressão podem ter risco de
desenvolverem enxaqueca crónica. Tratamento precoce destas
condições podem previnir a ocorrência da enxaqueca crônica.
Descritores:Descritores:
Descritores:Descritores:
Descritores: Transtornos de ansiedade; Transtornos do
humor; Progressão da doença; Comorbidade
6 Headache Medicine, v.2, n.1, p.5-9, jan./feb./mar. 2011
INTRODUÇÃO
Migraine is a chronic and sometimes progressive
disorder characterized by recurrent episodes of headache
and associated symptoms. Chronic migraine (CM) is
debilitating and has a substantial impact on a patient's
life;
(1)
it has recently been added to the second revised
International Headache Society Classification (2004),
(2)
and redefined
(3)
under a broader concept of the disorder,
accepting as migraine headaches occurring more than 8
days a month (previously 15 days), for more than three
months. The diagnosis of medication overuse headache
must be excluded.
(4)
Chronic migraine has been shown to
be an early stage of chronification of transformed
migraine.
(5)
CM is common in the general population
(6)
and accounts for up to 60% of consultations at tertiary
headache centres.
(7)
Mental disorders are common conditions among
these patients and are associated with a high degree of
disability, low level of satisfaction, and low quality of life.
(8
)
Psychiatric comorbidities are also significant factors in the
development and maintenance of chronic headaches.
(9)
Some degree of depression is found in 85% of CM
patients, and severe depression in 25%.
(10)
Anxiety disorders
affect 75% of CM patients,
(11,12)
but anxiety and mood
disorders overlap in this condition.
(13)
CM is often difficult
to treat and its refractoriness has been attributed to
psychiatric comorbidity.
(14)
Mental disorders were also found to be more
common in migraine than in non-migraine individuals;
relative risk for major depressive disorders was 2.2%,
bipolar disorder 2.9%, generalized anxiety disorder 5.3%,
panic disorder 3.3%, simple phobia, 2.4%, and social
phobia, 2.0%.
(15)
Studies have consistently shown that
migraine with aura is more closely associated with
psychiatric comorbidity than migraine without aura.
(16)
Merikangas et al
(17)
observed that anxiety disorders
generally preceded migraine, followed by mood disorder
diagnoses, and postulated a syndromic relation between
migraine, anxiety and depression involving a range of
symptoms starting with anxiety (frequently in early
childhood), followed by migraines and depressive
episodes in adult life. CM has never been studied in this
context.
Recent evidence suggests that a subgroup of
migraine patients may have a clinically progressive
disorder,
(18-21)
but little emphasis has been given to the
putative role of psychiatric disorders in migraine
progression.
MERCANTE JP, PERES MF, BERNIK MA, CORCHS F, GUENDLER VZ, ZUKERMAN E
Our own study analyzed the years since onset of
anxiety-disorder symptoms, episodic migraine, mood
disorders, and daily headaches in chronic migraine
patients in order to evaluate the chronological relations
between these conditions. We predicted that CM would
be the next stage of disease progression after anxiety
disorders, episodic migraine and mood disorders had
set in.
METHODS
Fifty patients (forty women, ten men) were consecutively
diagnosed with chronic migraine in accordance with the
International Headache Society (2004)
(2)
criteria and
enrolled in the study. Their mean age was 41.1 ± 11.6
years (SD), range 23-65 years, most being caucasians
(45, 90%), with 4 black and 1 asian. Mean headache
frequency was 22.2 ± 2.7 days/month, mean headache
intensity (0-10 scale) was 8.1 ± 0.7. All patients had daily
headaches (more than 15 headache days/month). All
patients were enrolled at a tertiary headache centre in
Sao Paulo and interviewed using the Structured Clinical
Interview for DSM-IV SCID-I/P22;23 for psychiatric
assessment. Patients were asked about the onset of anxiety
symptoms and mood disorders using the standardized
SCID interview procedure. Questions about the onset of
symptoms of episodic and chronic migraine were asked
by the same SCID interviewer, and responses were
confirmed by the neurology team. We only included
responses with significant degree of confidence by both
patients and research team. The study protocol was
approved by the local Ethics Committee and all patients
gave written consent. We analyzed the onset of symptoms
in different groups; all patients had a history of daily
headaches and episodic migraine. We compared patients
with both anxiety and mood disorders (22 patients, 44%),
as well as patients with anxiety but not depression (16
patients, 32%), depression but not anxiety (6 patients,
12%), and no psychopathology (8 patients, 16%). A
Student t-test and Mann-Whitney rank sum test were used
to compare groups. Five percent was chosen as a
minimum level of statistical significance for two-sided tests.
Results were presented as mean ± standard deviation.
RESULTS
Forty-two patients (84%) met lifetime diagnostic criteria
for some mental disorder; 38 (76%) presented an anxiety
disorder; 25 (50%) presented a mood disorder; 22 (44%)
Headache Medicine, v.2, n.1, p.5-9, jan./feb./mar. 2011 7
DISEASE PROGRESSION TO CHRONIC MIGRAINE: ONSET OF SYMPTOMS OF HEADACHES, ANXIETY AND MOOD DISORDERS
presented both anxiety and mood disorder; 26 (52%)
presented generalized anxiety disorder; 3 (6%) presented
panic disorder, 2 (4%) obsessive-compulsive disorder, 3
(6%) posttraumatic stress disorder and 27 (54%) specific
or social phobia. Twenty-two (44%) presented major
depressive episode, 14 (28%) of them had a recent, and
17 (34%) patients had previous episodes. Two patients
met diagnostic criteria for dysthymic disorder, and 2 for
bipolar II disorder.
Patients with both anxiety and mood disorders,
episodic migraine, daily headaches onset and
comorbidities presented the following features: mean years
since onset of anxiety disorders was significantly earlier
than migraine (27.1 ± 16.9 vs. 20.5 ± 11.1 years since
onset, p=0.016), mood disorders (6.8 ± 1.9 years,
p<0.001) and daily headaches (4.6 ± 2.8 years,
p<0.001).
Migraine onset was significantly earlier than mood
disorder and daily headaches onset, p<0.001, as was
mood disorder onset compared to daily headaches onset
(p<0.01).
Anxiety disorders preceded the onset of episodic
migraine, which was followed by a mood disorder and
daily headaches (Figure 1).
In patients with anxiety but not mood disorders,
anxiety onset also preceded episodic migraine onset and
daily headaches onset (23.7 ± 17.4 vs. 21.6 ± 11.2,
p<0.01, vs. 5.5 ± 3.8, p<0.001). In patients with mood
disorders alone, episodic migraine preceded depression
symptoms (27.5 ± 8.2 vs. 4.2 ± 2.7, p<0.001). Mood
disorder onset also preceded daily headaches, but only
a trend toward significance was observed (4.2 ± 2.7 vs.
3.7 ± 2.8, p=0.054).
DISCUSSION
The findings of our study of the pattern of psychiatric
comorbidity symptoms and headaches in CM matched
those of Merikangas et al
(24)
who reported that anxiety
disorders preceded migraine, which preceded onset of
depression, but did not record daily headaches in young
adults aged 27-28 in Zurich (whereas the mean age of
our participants was 41.1 ± 11.6, range 23-65). Perhaps
the younger age of the Zurich population explains the
absence of daily headaches as a common symptom. We
also found that the last step in the symptom progression
from anxiety disorders to episodic migraine and mood
disorders may be migraine chronification and a daily
pattern. Even when anxiety patients without mood disorder
were compared with mood disorder patients without
anxiety, the same pattern was observed: anxiety preceded
episodic migraine onset in the former group, and episodic
migraine preceded mood disorders onset in the latter. The
small sample size of the latter may explain why depression
onset was not significantly different to daily headaches
onset, but a trend toward significance was found at
p=0.054.
CM may also be transformed to a wide spectrum of
symptoms, as elegantly reported by Bigal et al
(25)
who
suggested that the frequency of migraine attacks is high
in the early stages of migraine chronification, but the
frequency of nonmigraine headaches increases as the
illness progresses. Early descriptions of transformed
migraine mentioned anxiety and mood disorders as key
elements for developing daily headaches from episodic
migraines.
(26,27)
Our findings suggest that CM may be the result of a
combination of anxiety and mood disorder symptoms in
an episodic migraineur, but prospective studies are
required to draw causal inferences. In this context, CM
would be a truly neuropsychiatric condition. Another
possibility is that CM is a broader syndrome, involving
anxiety manifested frequently in early childhood,
adolescence or young adulthood, followed by episodic
migraines and then depressive disorders in adult life. There
may well be genetic predisposition for this disease
progression. Other comorbid conditions such as sleep
disorders, fibromyalgia, and other functional somatic
syndromes require further investigation to better define their
Figure 1. Mean onset age (years) of anxiety disorders, mood disorders,
episodic migraine and daily headaches. Profiling migraine and
comorbidities showed that mean ± SD onset age of anxiety disorders
was significantly lower than that of migraine (13.9 ± 13.7 (range 0-
44) vs. 20.9 ± 12.5 (range 4-54); onset of mood disorders (33.4 ±
10.1 (range 10-54); and CM (36.7 ± 11.3 (range 19-64). Mean onset
age of migraine was significantly lower than that of mood disorders
and CM, p<0.001, as it was for mood disorder onset compared to
daily headaches onset (p<0.01).
8 Headache Medicine, v.2, n.1, p.5-9, jan./feb./mar. 2011
role and level within a broader concept of disease
progression, which would hypothetically include these
syndromes.
Progression of symptoms in headache is common.
A longitudinal epidemiologic study found that 3% of
individuals with episodic headache (frequency from 2
to 104 days per year) progressed to chronic daily
headache (CDH, episode frequency >180 days per
year) in the course of a year.
(28)
The study concluded
that the incidence of CDH in subjects with episodic
headache is 3% per year. A one-year follow-up of 532
consecutive episodic migraine patients (<15 days per
month) found that 64 (14%) developed chronic daily
headache.
(29)
Despite its clinical relevance, the evidence of risk
factors for migraine progression is limited. The
prevalence of CDH has been reported to decrease
slightly with age and to be higher in women [odds ratio
(OR) = 1.65 (1.3 to 2.0)] and in divorced, separated,
or widowed individuals [OR = 1.50 (1.2 to 1.9)]. Social
risk factors have also been described: the risk of CDH in
individuals with less than high-school education was
threefold that of a college-educated sample [OR = 3.56
(2.3 to 5.6)].
(30)
CDH was also associated with a self-
reported diagnosis of arthritis [OR = 2.50 (1.9 to 3.3)],
diabetes [OR = 1.51 (1.01 to 2.3)],
(31)
previous head
trauma
(32
) and medication overuse.
(33)
Interestingly, the
highest risk factor described for development of CDH
was obesity [OR = 5.53 (1.4 to 21.8)].
(34)
A study
comparing 41 migraineurs with 41 medication overuse
headache (MOH) patients found that the latter showed
excess risk of suffering from mood and anxiety disorders
associated with use of psychoactive substances.
Psychiatric disorders occurred significantly more often
before rather than after the transformation from migraine
to medication overuse headache (MOH).
(35)
Most studies failed to explore one of the main issues
in migraine management: psychiatric comorbidity. Our
sample, although relatively small, showed a consistent
pattern of disease progression based on the onset of
symptoms described by patients. Recollection bias may
be present, but previous studies have utilized and validated
the same method.
(14)
The ideal methodology would be a
prospective study, but long term follow-up (decades) is
also very difficult.
This paper raises the possibility of early
pharmacological or non-pharmacological intervention for
adolescents or young adults with anxiety disorders in order
to prevent the future onset of migraine.
CONCLUSION
Psychiatric disorders, mostly anxiety and mood
disorders, are common in patients with CM. Anxiety
disorders may occur before the onset of episodic migraine
and be followed by depression and finally daily
headaches.
Psychiatric evaluation for CM patients may enhance
patient management and clinical outcomes. Even though
the present findings are limited by the cross-sectional
design of this study, the data suggests that anxiety disorders
may be an important risk factor for subsequent migraine
and that both anxiety and mood disorders play an
important role in migraine progression to CDH.
Therefore, early treatment of anxiety disorder and/
or episodic migraine may prevent long term
complications, such as depression and CM.
REFERENCES
1. Bigal ME, Lipton RB, Stewart WF. The epidemiology and impact of
migraine. Curr Neurol Neurosci Rep. 2004;4(2):98-104.
2. Headache Classification Subcommittee of the International
Headache Society. The International Classification of
Headache Disorders. 2nd ed. Cephalalgia. 2004; 24 Suppl
1:9-160.
3. Headache Classification Committee, Olesen J, Bousser MG,
Diener HC, Dodick D, First M, Goadsby PJ, Göbel H, Lainez MJ,
Lance JW, Lipton RB, Nappi G, Sakai F, Schoenen J, Silberstein
SD, Steiner TJ. New appendix criteria open for a broader concept
of chronic migraine. Cephalalgia. 2006;26(4):742-6.
4. Silberstein SD, Olesen J, Bousser MG, Diener HC, Dodick D,
First M, Goadsby PJ, Gobel H, Lainez MJ, Lance JW, Lipton RB,
Nappi G, Sakai F, Schoenen J, Steiner TJ. The International
Classification of Headache Disorders, 2nd Edition (ICHD-II) -
revision of criteria for 8.2 Medication-overuse headache.
Cephalalgia 2005;25(6):460-5. Erratum in: Cephalalgia.
2006 Mar;26 (3): 360.
5. Bigal ME, Sheftell FD, Tepper SJ, Rapoport AM, Lipton RB. Migraine
days decline with duration of illness in adolescents with
transformed migraine. Cephalalgia 2005;25(7):482-7.
6. Pascual J, Colas R, Castillo J. Epidemiology of chronic daily
headache. Curr Pain Headache Rep. 2001;5(6):529-36.
7. Mathew NT. Transformed migraine. Cephalalgia 1993;13 Suppl
12:78-83.
8. Alonso J, Angermeyer MC, Bernert S, Bruffaerts R, Brugha TS,
Bryson H, de GG, Graaf R, Demyttenaere K, Gasquet I, Haro
JM, Katz SJ, Kessler RC, Kovess V, Lepine JP, Ormel J, Polidori G,
Russo LJ, Vilagut G, Almansa J, rbabzadeh-Bouchez S, Autonell
J, Bernal M, Buist-Bouwman MA, Codony M, Domingo-Salvany
A, Ferrer M, Joo SS, Martinez-Alonso M, Matschinger H, Mazzi
F, Morgan Z, Morosini P, Palacin C, Romera B, Taub N, Vollebergh
WA. Disability and quality of life impact of mental disorders in
Europe: results from the European Study of the Epidemiology of
MERCANTE JP, PERES MF, BERNIK MA, CORCHS F, GUENDLER VZ, ZUKERMAN E
Headache Medicine, v.2, n.1, p.5-9, jan./feb./mar. 2011 9
DISEASE PROGRESSION TO CHRONIC MIGRAINE: ONSET OF SYMPTOMS OF HEADACHES, ANXIETY AND MOOD DISORDERS
Mental Disorders (ESEMeD) project. Acta Psychiatr Scand Suppl.
2004;(420):38-46.
9. Guidetti V, Galli F, Fabrizi P, Giannantoni AS, Napoli L, Bruni O,
Trillo S. Headache and psychiatric comorbidity: clinical aspects
and outcome in an 8-year follow-up study. Cephalalgia
1998;18(7):455-62.
10. Mercante JP, Peres MF, Guendler V, Zukerman E, Bernik MA.
Depression in chronic migraine: severity and clinical features.
Arq Neuropsiquiatr. 2005;63(2A):217-20.
11. Peres MF, Zukerman E, Young WB, Silberstein SD. Fatigue in
chronic migraine patients. Cephalalgia. 2002;22(9):720-4.
12.Mercante JP, Peres MF, Bernik MA. Primary headaches in patients
with generalized anxiety disorder. J Headache Pain. 2011 (in
press).
13. Peres MF, Young WB, Kaup AO, Zukerman E, Silberstein SD.
Fibromyalgia is common in patients with transformed migraine.
Neurology 2001;57(7):1326-8.
14. Lipton RB, Silberstein SD, Saper JR, Bigal ME, Goadsby PJ. Why
headache treatment fails. Neurology 2003;60(7):1064-70.
15. Merikangas KR, Angst J, Isler H. Migraine and psychopathology.
Results of the Zurich cohort study of young adults. Arch Gen
Psychiatry 1990;47(9):849-53.
16. Peroutka SJ, Price SC, Wilhoit TL, Jones KW. Comorbid migraine
with aura, anxiety, and depression is associated with dopamine
D2 receptor (DRD2) NcoI alleles. Mol Med. 1998;4(1):14-21.
17. Merikangas KR, Merikangas JR, Angst J. Headache syndromes
and psychiatric disorders: association and familial transmission.
J Psychiatr Res. 1993;27(2):197-210.
18. Kruit MC, Launer LJ, Ferrari MD, van Buchem MA. Infarcts in the
posterior circulation territory in migraine. The population-based
MRI CAMERA study. Brain. 2005;128(Pt 9):2068-77. Comment
in: Brain. 2006 Jan;129(Pt 1):E39.
19. Dahlof CG, Linton-Dahlof P, Lainez JM, Pascual J. [Is migraine a
progressive cerebral disease?]. Neurologia. 2005;20(7):356-
65. Article in Spanish.
20. Goadsby PJ. Is migraine a progressive disorder? Considering
the clinical implications of new research data on migraine and
brain lesions. Med J Aust. 2005;182(3):103-4.
21. Lipton RB, Bigal ME. Migraine: epidemiology, impact, and risk
factors for progression. Headache 2005;45 Suppl 1:S3-S13.
22. Spitzer RL, Williams JB, Gibbon M, First MB. The Structured
Clinical Interview for DSM-III-R (SCID). I: History, rationale, and
description. Arch Gen Psychiatry 1992;49(8):624-9.
23. Ventura J, Liberman RP, Green MF, Shaner A, Mintz J. Training
and quality assurance with the Structured Clinical Interview for
DSM-IV (SCID-I/P). Psychiatry Res. 1998;79(2):163-73.
24.Merikangas KR, Swanson SA. Comorbidity in anxiety disorders.
Curr Top Behav Neurosci. 2010;2:37-59.
25. Bigal ME, Rapoport AM, Sheftell FD, Tepper SJ, Lipton RB. Chronic
migraine is an earlier stage of transformed migraine in adults.
Neurology 2005;65(10):1556-61.
26. Masruha MR, Lin J, de Souza Vieira DS, Minett TS, Cipolla-Neto
J, Zukerman E, Vilanova LC, Peres MF. Urinary 6-
sulphatoxymelatonin levels are depressed in chronic migraine
and several comorbidities. Headache. 2010 ;50(3):413-9.
27. Corchs F, Mercante JP, Guendler VZ, Vieira DS, Masruha MR,
Moreira FR, Bernik M, Zukerman E, Peres MF. Phobias, other
psychiatric comorbidities and chronic migraine. Arq
Neuropsiquiatr. 2006;64(4):950-3.
28. Scher AI, Lipton RB, Stewart W. Risk factors for chronic daily
headache. Curr Pain Headache Rep. 2002;6(6):486-91.
29. Katsarava Z, Schneeweiss S, Kurth T, Kroener U, Fritsche G,
Eikermann A, et al. Incidence and predictors for chronicity of
headache in patients with episodic migraine. Neurology
2004;62(5):788-90.
30. Mathew NT, Stubits E, Nigam MP. Transformation of episodic
migraine into daily headache: analysis of factors. Headache
1982;22:66-8.
31. Scher AI, Bigal ME, Lipton RB. Comorbidity of migraine. Curr
Opin Neurol. 2005;18(3):305-10.
32. Couch JR, Bearss C. Chronic daily headache in the posttrauma
syndrome: relation to extent of head injury. Headache
2001;41(6):559-64. Comment in: Headache. 2002;42(2):
162-3.
33. Mathew NT. Transformed migraine, analgesic rebound, and other
chronic daily headaches. Neurol Clin. 1997;15(1):167-86.
34. Bigal ME, Rapoport AM, Sheftell FD, Tepper SJ, Lipton RB.
Transformed migraine and medication overuse in a tertiary
headache centre--clinical characteristics and treatment outcomes.
Cephalalgia 2004;24(6):483-90.
35. Radat F, Creac'h C, Swendsen JD, Lafittau M, Irachabal S,
Dousset V, Henry P. Psychiatric comorbidity in the evolution
from migraine to medication overuse headache. Cephalalgia
2005;25(7):519-22.
Received: 10/8/2010
Accepted: 10/30/2010
Correspondence
DrDr
DrDr
Dr
. Mario F. Mario F
. Mario F. Mario F
. Mario F
ernando Pernando P
ernando Pernando P
ernando P
rieto Prieto P
rieto Prieto P
rieto P
ereseres
ereseres
eres
Al. Joaquim Eugenio de Lima, 881 cj 708
01403-001 – São Paulo, SP, Brazil
Tel. 55-11-8111-6662 – Fax. 55-11-3285-5726
marioperes@yahoo.com
10 Headache Medicine, v.2, n.1, p. 10-12, jan./feb./mar. 2011
Cerebrovascular reactivity in migraineurs
Vasorreatividade cerebral em migranosos
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Cerebrovascular reactivity (CR) assessed by transcranial
Doppler (TCD) has been evaluated among migraineurs with
conflicting results. We assessed the CR using the breath holding
index (BHI) among 228 migraineurs during ictal or interictal
phase and 56 controls. Migraineurs exhibited increased BHI
values in the interictal phase and reduced BHI in the ictal
phase when compared to controls.
KK
KK
K
eywords:eywords:
eywords:eywords:
eywords: Transcranial Doppler Ultrasonography; Migraine
disorders; Headache; Cerebrovascular circulation.
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A vasorreatividade cerebral medida pelo Doppler transcra-
niano tem sido avaliada em pacientes com migrânea com
resultados conflitantes. Nós avaliamos a vasorreatividade
cerebral utilizando o índice de apnéia (IA) em 228 pacientes
com o diagnóstico de migrânea nas fases ictal e interictal e
56 controles. Os pacientes apresentaram valores do IA
aumentados durante a fase interrictal e reduzidos durante a
fase ictal quando comparados aos controles.
Descritores:Descritores:
Descritores:Descritores:
Descritores: Ultrassonografia Doppler transcraniana;
Migrânea; Cefaleia; Circulação cerebrovascular
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
Arthur de Carvalho Jatobá e Sousa
1
, Ciro Martins Gomes
2
, Rodolfo de Souza Coelho
3
, Ricardo Afonso Teixeira
1
1
Instituto do Cérebro de Brasília, Brasília, DF, Brazil;
2
Hospital Universitário de Brasília, Brasília, DF, Brazil
3
Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, DF, Brazil
Sousa AC, Gomes CM, Coelho RS, Teixeira RA
Cerebrovascular reactivity in migraineurs. Headache Medicine. 2011;2(1):10-12
neuronal and/or vascular dysfunction,
(1)
which may be
due to genetic mutations associated to ion-transporting
mechanisms.
(2)
Conflicting results about cerebrovascular reactivity
and cerebral blood flow velocities have been described
among migraineurs. A few studies have reported an
increased cerebrovascular reactivity (CR),
(3,4)
while others
a normal and even a reduced CR.
(5-8)
The diagnosis of migraine headaches can be usually
made on clinical grounds alone in most patients. However,
it would be interesting to find a complementary assessment
tool to support its diagnosis. Cerebrovascular reactivity
assessed by transcranial Doppler could be a noninvasive
and cost effective tool that could possibly help in the
differential diagnosis of primary headaches.
The aim of this study is to compare the CR among
patients with migraine and controls. Our hypothesis is that
migraineurs show different CR status when compared to
controls.
METHODS
Two hundred and twenty eight consecutive migraineurs
were included in the study under informed consent
conditions (mean age = 33.82 years; range = 13 - 67;
women= 189). One hundred and fifty nine patients were
evaluated in the interictal period: 71 suffering from
migraine with aura (MA) and 88 from migraine without
aura (MWA). In addition, we evaluated 69 patients during
headache attacks: 36 with MA, 33 with MWA. We
compared the results to a control group of 56 individuals
INTRODUCTION
Migraine is one of the most common types of primary
headaches in clinical practice, but its pathophysiology is
not completely elucidated. The mechanism of migraine
headaches appears to involve the activation of the
trigeminocervical pain system by stimuli elicited by
Headache Medicine, v.2, n.1, p. 10-12, jan./feb./mar. 2011 11
with no personal history of headache (mean age = 42.41
years; range = 15-75; 31 women). All patients were
recruited from the neurology clinic of Santa Luzia Hospi-
tal in the city of Brasília - Brazil, from February 2003 to
June 2005. None of the patients was using prophylactic
antimigraine medication. Neither patients nor controls had
any antecedent of major disease and no vascular risk
factors such as hypertension, diabetes, dyslipidemia,
smoking. Diagnosis of migraine was made according
to the 1988 international classification of headache
disorders - 1 (ICHD-I).
(9)
In 2004 a revised international
classification of headache disorders (ICHD-II) was
published.
(10)
Since we had already started recruiting
patients using the ICHD-1, we carried on our study using
this previous classification. The study was conducted with
full approval by the institutional review boards.
The transcranial Doppler (TCD) study was carried
out in a quiet room with the individuals in supine position,
always during the afternoon. The reactivity to hypercapnia
was measured by the breath holding index (BHI). The
index was obtained by dividing the percentage increase
in mean flow velocity occurring during breath-holding by
the time (30 seconds) subjects held their breath after a
period of three minutes of normal breathing. We
considered the peak maximum value of the velocity curve,
which usually occurs a few seconds after the release. This
method has been validated as effective as methods
requiring carbon dioxide inhalation or acetazolamide
administration. We used an EZ-Dop transcranial Doppler
instrument (DWL Elektronische Systeme GmbH), with a
2-MHZ transducer fitted on a headband. The mean of
right and left BHI values were calculated.
ANOVA test and Tukey post hoc pairwise comparisons
were applied for comparisons on continuous variables
among the groups. The level of significance was set at
0.05.
RESULTS
All patients were able to hold their breath during 30
seconds when submitted to the test. Mean values of BHI
for migraineurs and controls are given in Table 1.
We found an increased BHI among migraineurs in
the interictal phase when compared to the control group
(migraine-interictal = 1.35; range = 0.37-2.87; controls
= 1.04; range = 0.535-1.177; p-value<0.001). During
migraine attacks, a significant decrease in BHI was
observed when compared to controls (migraineurs-ictal
= 0.82; range = 0.18-1.505; controls = 1.04; range
= 0.535-1.177; p-value < 0.001).
The BHI mean values were similar when comparing
migraineurs with aura and without aura in the ictal phase
(MA-ictal = 0.87; range = 0.18-1.41; MWA-ictal = 0.78;
range = 0.305-1.505; p = 0.214) and interictal phase
(MA-interictal = 1.35; range = 0.37-2.87; MWA-interictal
= 1.36; range = 0.465-2.305; p-value = 0.778).
DISCUSSION
Headache is a usual patient complaint in almost every
medical specialty. The very common occurrence of this
symptom in our population can lead to an expressive
economic loss and can also limit patients in ordinary life
activities. In the United States migraine affects about 12%
of the population, being three times more prevalent in
women than men, negatively affecting daily functioning
of most patients.
(11)
In Brazil, the prevalence of migraine
is estimated to be about 15%, being 2.2 times more
prevalent in women.
(12)
The use of the ICHD criteria for migraine headaches
can be considered a reliable tool to its diagnosis in most
patients. A large population-based study showed that self-
reported migraine among women was confirmed in 87%
when applying the ICHD-II criteria for migraine or
probable migraine without aura.
(13)
Although most patients
can be diagnosed on clinical grounds using the ICHD-II
criteria, sometimes the correct diagnosis of migraine
represents a challenge for both clinical practice and clinical
research.
The transcranial Doppler has been evaluated by some
studies as a potential tool for this purpose. Studies that
measured CR in the interictal phase have yielded conflicting
results, which may be due to different study methodologies.
Silvestrini et al. reported similar BHI in controls and in
patients during headache free periods. In this study the
BHI was calculated using the mean cerebral blood flow
(CBF) 4 seconds after the release.
(14)
Another study found
an exaggerated interictal BHI in migraineurs without aura
compared with the control group.
(4)
This study considered
the maximum point of CBF to calculate CR, which was
the methodology used in our study.
CEREBROVASCULAR REACTIVITY IN MIGRAINEURS
12 Headache Medicine, v.2, n.1, p. 10-12, jan./feb./mar. 2011
Correspondence
DrDr
DrDr
Dr
. Ricardo A. Ricardo A
. Ricardo A. Ricardo A
. Ricardo A
. T. T
. T. T
. T
eixeiraeixeira
eixeiraeixeira
eixeira
Instituto do Cérebro de Brasília
SHLS 716 - Conjunto L - Centro Clínico Sul - Torre II
2
o
andar - Sala 211
70390-700 – Brasília, DF, Brazil
Tel. (61) 3346-5383 - Fax. (61) 3346-9102
ricardoateixeira@yahoo.com
Studies that used different stimuli (e.g.; CO2
inhalation, hyperventilation) reported normal
(5,6)
or
reduced
(7,8)
CR in the interictal period. Other studies using
methods such as Xenon blood flow studies, SPECT, PET,
and functional magnetic resonance also reported
discordant results. The different methods of CR
measurement is a major factor that limits comparison
between studies.
Migraineurs might have an increased CR during the
headache-free period due to alterations in their autonomic
tonus. These patients might have a state of vagal
hyperactivity during headache free periods leading to an
enhanced vasodilatatory response. Furthermore, it has been
reported that migraineurs present an enhanced secretion
and response to nitric oxid.
(15)
A previous comparison between tension-type
headache (TTH) and migraine using the transcranial
Doppler was performed by Rosengarten et al., measuring
the evoked flow velocity in the posterior cerebral artery
utilizing a visual stimulation paradigm.
(16)
This study
showed that TTH patients had similar flow velocity
response during the ictal and interictal periods, which
was also comparable to controls. The same evaluation
in migraineurs demonstrated that CR was reduced during
the ictal phase when compared to the interictal phase,
suggesting an impaired vasodilatation reserve during the
ictal phase.
Our study has several limitations. Individuals evaluated
in the ictal phase were not the same ones tested in the
interictal phase. We did not control for the presence of
carotid stenosis, which can influence the breath holding
index. However, the mean age of the migraineurs and
the control group was relatively low to be influenced by
this variable.
In addition, due to the wide BHI variability found
among migraineurs, it does not seem possible to set a
BHI cutoff value to define migraine using the transcranial-
Doppler. However, it is tempting to consider that a
significant CR variation between ictal and interictal phase
in a single patient could be an additional information to
the diagnosis of migraine. Further research evaluating CR
of the same patient during ictal and interictal phases of
migraine would be of great value.
REFERENCES
1. Cutrer FM. Pathophysiology of migraine. Semin Neurol. 2010;
30(2):120-30.
2. Sanchez-Del-Rio M, Reuter U, Moskowitz MA. New insights into
migraine pathophysiology. Curr Opin Neurol. 2006;19(3):294-8.
3. Fiermonte G, Pierelli F, Pauri F, Cosentino FII, Soccorsi R,
Giacomini P. Cerebrovascular CO2 reactivity in migraine with
aura and without aura. A transcranial Doppler study. Acta Neurol
Scand. 1995;92(2):166-9.
4. Dora B, Balkan S. Exaggerated interictal cerebrovascular reactivity
but normal blood flow velocities in migraine without aura.
Cephalalgia. 2002;22(4):288-90.
5. Silvestrini M, Cupini LM, Troisi E, Matteis M, Bernardi G.
Estimation of cerebrovascular reactivity in migraine without aura.
Stroke. 1995;26(1):81-3.
6. Thomsen LL, Iversen HK, Olesen J. Increased cerebrovascular
pCO2 reactivity in migraine with aura - a transcranial Doppler
study during hyperventilation. Cephalalgia. 1995;15(3):211-5.
7. Anzola GP, Magoni M, Volta GD. Abnormal cerebrovascular
reactivity in headache free migraineurs - a transcranial Doppler
study. Cerebrovasc Dis. 1993;3:105-10.
8. Totaro R, Marini C, De Matteis G, Di Napoli M, Carolei A.
Cerebrovascular reactivity in migraine during headache-free
intervals. Cephalalgia. 1997;17(3):191-4.
9. Headache Classification Committee of the International
Headache Society. Classification and diagnostic criteria for
headache disorders, cranial neuralgias, and facial pain.
Cephalalgia. 1988;8(suppl 7):1-96.
10. The International Classification of Headache Disorders: 2nd
edition. Cephalalgia. 2004;24:9-160.
11. Lipton RB, Bigal ME, Diamond M, Freitag F, Reed ML, Stewart
WF; AMPP Advisory Group. Migraine prevalence, disease
burden, and the need for preventive therapy. Neurology.
2007;68(5):343-9.
12. Queiroz LP, Peres MF, Piovesan EJ, Kowacs F, Ciciarelli MC,
Souza JA, Zukermann E. A nationwide population-based study
of migraine in Brazil. Cephalalgia. 2009;29(6):642-9.
13. Schürks M, Buring JE, Kurth T. Agreement of self-reported migraine
with the ICHD-II criteria in the Women´s health study.
Cephalalgia. 2009;29(10):1086-1090.
14. Silvestrini M, Matteis M, Troisi E, Cupini LM, Bernardi G.
Cerebrovascular reactivity in migraine with and without aura .
Headache. 1996;36(1):37-40.
15. Thomsen LL, Iversen HK, Brinck TA, Olesen J. Arterial
supersensitivity to nitric oxide (nitroglycerin) in migraine
sufferers. Cephalalgia. 1993;13(6):395-9.
16. Rosengarten B, Sperner J, Görgen-Pauly U, Kaps M.
Cerebrovascular reactivity in adolescents with migraine and
tension-type headache during headache-free interval and attack.
Headache. 2003;43(5):458-63.
SOUSA AC, GOMES CM, COELHO RS, TEIXEIRA RA
Headache Medicine, v.2, n.1, p.13-16, jan./feb./mar. 2011 13
O uso de um diagrama craniano na localização
da dor
The use of a diagram of the skull in the localization of painThe use of a diagram of the skull in the localization of pain
The use of a diagram of the skull in the localization of painThe use of a diagram of the skull in the localization of pain
The use of a diagram of the skull in the localization of pain
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A localização da cefaleia é um dado semiológico importante,
pois esta informação é útil no conhecimento da etiologia e
do diagnóstico diferencial, além de influenciar na escolha
terapêutica. O objetivo deste trabalho é apresentar um mode-
lo de diagrama craniano, onde o paciente localiza com
exatidão a sua dor, pois o simples registro descritivo da região
craniana que dói não é suficiente. Quando um diagrama
craniano é apresentado ao paciente, as informações são mais
precisas e aumenta a acurácia do diagnóstico.
Descritores:Descritores:
Descritores:Descritores:
Descritores: Crânio; Cefaleia; Anamnese; Localização
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The localization of the headache is important semiological
dada, therefore this information it is useful in the knowledge
of the etiology and of the distinguishing diagnosis, beyond
influencing in the therapeutic option. The objective of the
present study is to present a model of diagram of the skull,
where the patient locates with exactness its pain. The simple
descriptive register of the region of the skull that aches is not
enough. When a diagram of the skull is presented the pa-
tient, the informations are more necessary and increase the
accuracy of the diagnosis.
Keywords:Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: Skull; Headache; Medical history taking;
Localization
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLE
Raimundo Pereira da Silva Neto
Neurologista e Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, Centro de Neurologia e Cefaleia do
Piauí - Teresina, PI, Brasil
Silva Neto RP. O uso de um diagrama craniano na localização da dor.
Headache Medicine. 2011;2(1):13-16
A dor é definida como uma experiência subjetiva
desagradável, sensitiva e emocional, associada à lesão
real ou potencial dos tecidos.
(1)
Dentre as dores mais
referidas pelos pacientes, a cefaleia é a mais frequente
com diferentes características clínicas e inúmeras etiologias.
O avanço das pesquisas em cefaleia culminou com
o surgimento de uma classificação internacional.
(2)
Nela,
são descritos cerca de 150 tipos diferentes de cefaleia,
cada um com seu quadro clínico peculiar e seu tratamento
diferenciado. A maioria é classificada como primária, ou
seja, não apresenta lesão estrutural cerebral subjacente.
A anamnese é a única maneira de diagnosticar uma
cefaleia primária, uma vez que o exame físico e os
exames complementares são inexpressivos. É através dela
que se avalia a necessidade da solicitação de exames e
a tomada de decisão terapêutica.
O grande desafio de uma boa anamnese em
cefaleia é o conhecimento de suas características se-
miológicas, as quais incluem localização, irradiação,
caráter ou qualidade, intensidade, frequência, horário
das crises, evolução, duração, pródromos, modo de
instalação, fatores desencadeantes, de alívio ou de piora
e as manifestações associadas.
Vale ressaltar que nenhum dos dados tem valor
absoluto, como também nenhum é totalmente destituído
de valia. Em outras palavras, é o conjunto de todas as
características da cefaleia que permite formular um
diagnóstico correto.
(3
) No entanto, neste artigo, ressalta-
se a importância da localização da dor.
Geralmente, o médico questiona o paciente sobre
as regiões do crânio que doem e realiza o registro
14 Headache Medicine, v.2, n.1, p. 13-16, jan./feb./mar. 2011
SILVA NETO RP
descritivo. Quando se trata de outras dores, é apre-
sentado ao paciente um diagrama corpóreo para que
ele assinale as áreas dolorosas.
(4)
O SURGIMENTO DE UM DIAGRAMA
CRANIANO
No início dos anos de 1970, o neurocefaliatra
Edgard Raffaelli Júnior (1930-2006) idealizou uma fi-
gura com cabeças esquematizadas para que o paciente
pudesse localizar a sua dor com mais precisão e lhe
auxiliasse na evolução do tratamento (Figura 1).
Em 1979, o artista plástico Francisco Raffaelli, falecido
em 4 de julho de 1977, foi o responsável pelo desenho
desse diagrama. Naquele ano, esse mesmo artista também
desenhou a atual logomarca da Sociedade Brasileira de
Cefaleia (SBCe), por ocasião do I Congresso Brasileiro
de Cefaleia realizado nos dias 9 e 10 de março.
(5)
Esse diagrama consiste em dividir a cabeça em várias
regiões e identificá-las com números ou letras (Tabela
1). Os números representam dores de localização bem
definida, à direita ou esquerda, e as letras representam
dores de localização difusa ou bilateral. Caso a dor
acometa a cabeça inteira, será anotado 0 (zero).
Habitualmente, os diários da cefaleia trazem infor-
mações dos pacientes a respeito da localização da dor,
além da data, hora de início, duração, intensidade,
caráter, medicamentos utilizados e menstruação. No
entanto, a descrição da localização da dor é incompleta,
pois o paciente tem poucas opções para assinalar aquela
que melhor represente a sua dor: unilateral direita,
unilateral esquerda ou bilateral.
O diagrama de Raffaelli é um instrumento de
avaliação diagnóstica muito importante para o médi-
co, pois permitirá que ele conheça com mais profundidade
uma das características da cefaleia. Ele veio como um
complemento do diário da dor, sendo bastante utilizado
pelos especialistas e por médicos generalistas, tanto na
anamnese como em pesquisas clínicas.
Raffaelli et al.
(6)
testaram o diagrama num estudo
onde os pacientes com migrânea foram orientados a
anotar a localização de todas as suas dores durante 12
meses. Ao fim desse período, observou-se que 28,0%
eram localizadas nas têmporas, mais à esquerda do que
à direita.
A determinação da localização da cefaleia é impor-
tante tanto no diagnóstico quanto no tratamento. E isto
depende da preciosa colaboração do paciente no
preenchimento do diário.
Observando a Classificação das Cefaleias da
International Headache Society,
(2)
nota-se que a localiza-
ção é um critério diagnóstico da maioria das cefaleias,
tanto primárias quanto secundárias (Tabelas 2 e 3).
É comum a localização ser variável e são raras as
modalidades de cefaleia nas quais as dores são es-
tritamente unilaterais e sempre do mesmo lado.
(3)
Alguns
pacientes podem ter unilateralidade mantida por vários
anos.
(7)
Quando há mudança de localização da dor,
pode ser um sinal de uma nova cefaleia ou uma compli-
cação.
Figura 1 – Diagrama de Raffaelli
Headache Medicine, v.2, n.1, p.13-16, jan./feb./mar. 2011 15
O USO DE UM DIAGRAMA CRANIANO NA LOCALIZAÇÃO DA DOR
16 Headache Medicine, v.2, n.1, p. 13-16, jan./feb./mar. 2011
Alguns tipos de cefaleia são diferenciados pela
localização, como, por exemplo, a migrânea, que mais
frequentemente é unilateral, e a cefaleia do tipo tensional,
que é classicamente descrita como bilateral. No estudo
de Matta & Moreira Filho,
(8)
a unilateralidade da cefaleia
do tipo tensional episódica foi vista em apenas 10% e
na cefaleia do tipo tensional crônica em 8%, sendo a
localização bifrontal a mais frequente.
CONCLUSÃO
Durante a anamnese das cefaleias, o simples registro
descritivo da região craniana que dói não é suficiente.
Quando é apresentado ao paciente um diagrama
craniano, as informações são mais precisas e aumentam
a acurácia do diagnóstico.
REFERÊNCIAS
1. Carvalho MMMJ. Prefácio. In: Carvalho MMMJ. Dor: Um estudo
multidisciplinar. São Paulo: Summus 1999;7-8.
2. Headache Classification Subcommittee of the International
Headache Society. The International Classification of Headache
Disorders. Cephalalgia 2004;24(Suppl 1):1-160.
3. Farias da Silva W. Diagnóstico das cefaleias. São Paulo: Lemos
Editorial 2003;317 p.
4. Chaves LD. Dor pós-operatória: aspectos clínicos e assistência
de enfermagem. In: Chaves LD, Leão ER. Dor - 5º sinal vital:
reflexões e intervenções de enfermagem. Curitiba: Editora Maio
2004;151-68.
5. Silva-Néto RP. Quem foi Edgard Raffaelli Júnior. Migrâneas
Cefaleias. 2006;9(4):152-8.
6. Raffaelli Jr E, Roesler CP, Silva-Néto RP. The posterior deep temporal
artery. Migrâneas Cefaleias. 2008;11(2):60-2.
7. Almeida RF et al. Cefaleia com unilateralidade mantida secundária
a meningioma. Migrâneas Cefaleias. 2008;11(1):25-8.
8. Matta APC & Moreira Filho PM. A cefaleia do tipo tensional
pode ter localização unilateral? Migrâneas Cefaleias. 2003;
6(3):96-9.
Correspondência
DrDr
DrDr
Dr
. R. R
. R. R
. R
aimundo Paimundo P
aimundo Paimundo P
aimundo P
ereira da Silva Netoereira da Silva Neto
ereira da Silva Netoereira da Silva Neto
ereira da Silva Neto
Centro de Neurologia e Cefaleia do Piauí
Rua São Pedro, 2071 – Centro
Ed. Raimundo Martins – Salas 303/304
64001-260 – Teresina, PI, Brasil
Tel./fax: + 55 86 3221.9000
neurocefaleia@terra.com.br
SILVA NETO RP
Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011 17
Migrânea e rendimento escolar entre alunos de
medicina
Migraine and academic performance among medical students
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Objetivo:Objetivo:
Objetivo:Objetivo:
Objetivo: Estimar a frequência da migrânea e analisar sua
influência no rendimento escolar dos estudantes do 2º ao 9º
período da Faculdade de Medicina de Barbacena.
Méto-Méto-
Méto-Méto-
Méto-
dos:dos:
dos:dos:
dos: A partir de um estudo de corte transversal analisou-se
uma amostra de 336 alunos que foram submetidos a um
questionário construído especialmente para a ocasião, pelo
qual foi realizado o diagnóstico de migrânea e suas reper-
cussões.
Resultado: Resultado:
Resultado: Resultado:
Resultado: Entre os 336 participantes do estudo,
43 (12,8%) eram migranosos, enquanto que 293 (87,2%)
não apresentavam migrânea. Faltas às atividades escolares
foram mais frequentes no grupo de migranosos (85,0%) con-
tra (69,0%) no grupo de não migranosos. Dos migranosos,
49,0% deixaram de fazer atividades físicas e 29,0% de ir a
encontros sociais; em contrapartida, no grupo de não
migranosos, 50,0% deixaram de fazer atividades físicas e
15,0% de ir a encontros sociais. Na avaliação do rendimen-
to escolar através de provas suplementares ou especiais, o
estudo mostrou que 26,0% dos migranosos fizeram tais pro-
vas no primeiro período enquanto essa frequência foi de 12,0%
nos não migranosos.
Conclusões: Conclusões:
Conclusões: Conclusões:
Conclusões: A frequência da migrânea
foi de aproximadamente 13,0%. Conclui-se que existe uma
forte relação entre a migrânea e o rendimento escolar; ficou
evidente que os alunos migranosos parecem ser mais pro-
pensos ao baixo rendimento, demonstrado através do núme-
ro de provas suplementares e ao absenteísmo escolar e a
prejuízos das atividades sociais.
DescritoresDescritores
DescritoresDescritores
Descritores: Cefaleia; Aprendizado; Absenteísmo
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
Barbara Silva Diniz
1
, Flavia Oliveira Alves
1
, Julia Rocha Dias
1
, Laura Toledo de Vasconcelos
1
,
Vanessa Tavares Esteves
1
, Dilermando Fazito de Rezende
2
, Mauro Eduardo Jurno
3
1
Aluna da Faculdade de Medicina de Barbacena, MG, Brasil
2
Professor de Estatística e Metodologia da Faculdade de Medicina de Barbacena, MG, Brasil
3
Doutor em Neurologia, Professor da Faculdade de Medicina de Barbacena e Coordenador da
Residência de Clínica Médica do Hospital Regional de Barbacena – FHEMIG, MG, Brasil
Diniz BS, Alves FO, Dias JR, Vasconcelos LT, Esteves VT, Rezende DF, Jurno ME
Migrânea e rendimento escolar entre alunos de medicina. Headache Medicine. 2011;2(1):17-24
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Objective:Objective:
Objective:Objective:
Objective: To estimate the frequency of migraine and analyze
its influence on the academic performance of students between
2nd and 9th period of the Barbacena Medicine College.
Methods:Methods:
Methods:Methods:
Methods: From a cross-sectional study, samples of 336
students were examined. They answered a questionnaire
constructed specially for the occasion, in which migraine was
diagnosed and its repercussions were analyzed.
Results:Results:
Results:Results:
Results:
Among 336 analyzed students, 43 (12.8%) had migraine,
while 293 (87.2%) didn't evidence it. Absences from school
activities are more frequent in the migraine group (85.0%)
than (69.0%) in non-migraine. 49.0% of those who had
migraine were absent from physical activities and 29.0% missed
social gatherings. In contrast, in the group without migraine
50.0% missed physical activities and 15.0% weren't at social
gatherings. In the evaluation of school performance through
additional or special tests, the study showed that 26.0% of
migraine did the tests in the first period while this rate was
12.0% in those without migraine.
Conclusions: Conclusions:
Conclusions: Conclusions:
Conclusions: The frequency
of migraine is approximately 13.0%. We conclude that there
is a strong relationship between migraine and academic
performance; it's evident that students with migraine seem prone
to low yield, shown by the number of additional tests and
school absence and loss of social activities.
Keywords: Keywords:
Keywords: Keywords:
Keywords: Headache; Learning; Absenteism
18 Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011
INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos, a migrânea tem sido um pro-
blema para os pacientes, um enigma aos médicos e um
objeto de interesse entre escritores e pesquisadores do
assunto. Referências na literatura sobre migrânea podem
ser encontradas em relatos de 3000 a.C., no entanto
sua descrição clássica como entidade clínica é atribuída
a Areteu da Capadócia.
(1)
Em 2004, com o objetivo de uniformizar os sinto-
mas e evitar variações no diagnóstico dessas cefaleias
pelos diversos pesquisadores, melhorando assim a
acurácia diagnóstica e a orientação terapêutica, a So-
ciedade Internacional de Cefaleia (SIC), publicou a 2
a
edição da Classificação Internacional das Cefaleias.
(2)
A migrânea é uma síndrome que pode apresentar sin-
tomas premonitórios visuais, sensoriais e/ou motores,
seguidos por cefaleia geralmente unilateral e latejante,
acompanhada de intolerância à luz e aos sons, com
náuseas ou vômitos. A dor piora com a atividade físi-
ca, como, por exemplo, subir escadas. A migrânea sem
aura consiste em dor com as mesmas características,
porém sem a presença de sintomas sensoriais premo-
nitórios.
(1,3)
Não existe exame complementar capaz de auxiliar
no diagnóstico clinicamente elaborado, e o mais impor-
tante é uma detalhada anamnese.
(3)
A fisiopatologia da migrânea ainda não foi comple-
tamente elucidada. Postula-se que as principais estrutu-
ras implicadas envolvam o sistema nervoso central (córtex
e tronco cerebral), o sistema trigeminovascular e os va-
sos correspondentes e, além destes, vários agentes
vasoativos locais e alguns neurotransmissores.
(4)
Um estudo realizado por Zwart com adolescentes
na Noruega mostrou que sua frequência não é tão sig-
nificativa quando se leva em consideração a idade e
sim quando se compara sexo feminino e masculino.
(5)
Segundo outra pesquisa realizada em uma universida-
de americana, de 647 entrevistados, aproximadamen-
te 8% das pessoas relataram apresentar cefaleia diari-
amente, 28,7% semanalmente e 28,7% mensalmente.
(6)
A queixa de dor de cabeça tem aumentado em im-
portância, pois sua prevalência elevada determina
consequências significativas para o bem-estar do indiví-
duo e para a produtividade de empresas, comunidades
e nações.
(4)
Cerca de 35,5% dos que sofrem de migrânea
apresentam, regularmente, crises fortes o suficiente para
os obrigar a procurar o leito e a interromper suas ativi-
dades. Entre os jovens americanos, 7% das meninas e
DINIZ BS, ALVES FO, DIAS JR, VASCONCELOS LT, ESTEVES VT, REZENDE DF, JURNO ME
5% dos meninos adolescentes (12-17 anos) apresentam
migrânea, sofrendo esses de mais estresse e sendo me-
nos saudáveis comparados aos não migranosos.
(7,8)
Outros autores observaram em seus estudos que a maior
aflição para os portadores de migrânea seria o compro-
metimento da eficiência no trabalho, seguidos de absen-
teísmo em eventos sociais, relacionamento familiar afe-
tado, alteração da habilidade para atividades futuras,
prejuízo da própria imagem e da relação entre amigos.
Pacientes com sintomas de migrânea relataram maior
interferência em todas essas categorias do que pessoas
com outros tipos de cefaleia.
(9)
Sintomas psiquiátricos também podem estar pre-
sentes como comorbidades da migrânea, tais como de-
pressão, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de racio-
cínio, anorexia ou aumento do apetite.
(10-12)
Com o intuito de avaliar o desempenho acadê-
mico de estudantes universitários, um estudo anterior
comprovou queda de produtividade dos alunos por-
tadores de migrânea quando comparados aos porta-
dores de cefaleia do tipo tensional.
(13)
A presença de
náusea e pelo menos uma ida ao serviço de urgência
prediz qualidade de vida inferior e grande número de
faltas em atividades diárias dos adolescentes.
(7,14)
A
migrânea gera também impacto econômico, uma vez
que aumenta o absenteísmo, diminuindo a capacida-
de laborativa, com consequente redução da produti-
vidade, sendo que a perda econômica nos Estados
Unidos da América chega a 17 bilhões de dólares
por ano.
(6,15)
Além do mais, os migranosos apresen-
tam maiores custos médicos principalmente devido a
uma maior frequência de visitas a departamentos de
saúde e emergência. Estima-se com isso que o custo
anual direto da migrânea neste país seja em torno de
1 bilhão de dólares.
(7,15,16)
A migrânea interfere como impacto negativo diário
global de funcionamento do indivíduo e na qualidade
de vida constantemente relacionada à frequência, inten-
sidade, desordem de humor e ansiedade nas pesso-
as.
(9,13,14,16)
Tendo-se em conta a alta prevalência da migrânea,
suas repercussões e a inexistência de estudos antes rea-
lizados na Faculdade de Medicina de Barbacena, tor-
na-se relevante a pesquisa dessa patologia nos univer-
sitários. Com isso, os objetivos do presente estudo fo-
ram estimar a frequência da migrânea e analisar sua
influência no rendimento escolar dos estudantes do 2º
ao 9º período da Faculdade de Medicina de
Barbacena.
Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011 19
MIGRÂNEA E RENDIMENTO ESCOLAR ENTRE ALUNOS DE MEDICINA
MÉTODOS
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Éti-
ca em Pesquisa da Universidade Presidente Antonio
Carlos (UNIPAC) de acordo com o protocolo 690/2010.
Trata-se de um estudo de corte transversal sobre a
migrânea e sua influência no rendimento escolar, dire-
cionado a todos os alunos que cursam do 2º ao 9º pe-
ríodo da Faculdade de Medicina de Barbacena – Fun-
dação José Bonifácio Lafayette de Andrada, MG.
Os sujeitos da pesquisa foram abordados pelos
pesquisadores no primeiro semestre de 2010, respon-
dendo a um questionário construído especialmente
para a ocasião, tendo como base o software Hipatia
(Sirius - soluções tecnológicas, Rio de Janeiro), sendo
preenchido pelo aluno pesquisado, sendo que, previa-
mente, estes receberam explicações detalhadas sobre
o estudo.
Oito turmas foram avaliadas, totalizando 400 indi-
víduos; os alunos que não se encontravam na sala de
aula no momento da aplicação dos questionários, fo-
ram localizados pelos pesquisadores e convidados a
participar da pesquisa. Não foram incluídos aqueles que
se recusaram a responder o questionário. A amostra fi-
nal foi formada por 336 questionários considerados vá-
lidos à pesquisa, número considerado representativo da
população de alunos da população estudada.
As diferentes localizações da dor foram classifica-
das como holocraniana e hemicraniana. Depressão e
ansiedade foram consideradas como critério único, pois
não foram objetos de estudo desta pesquisa. A aura foi
classificada como pontos brilhantes, manchas ou linhas
na visão. Os sintomas premonitórios considerados fo-
ram fadiga, tontura, bocejos, formigamentos, dormên-
cias, alteração do humor e de consciência. Quanto à
história familiar foram considerados os parentes de pri-
meiro grau (pai, mãe, irmãos, filhos) e parentes de segun-
do grau (avós, tios, sobrinhos e primos).
Os critérios utilizados para o diagnóstico de migrâ-
nea respeitaram a proposição da Classificação Inter-
nacional das Cefaleias: presença de cefaleia por um
período maior ou igual a três meses, com duração da
crise dolorosa maior que quatro horas; a dor sendo do
tipo pulsátil, de intensidade média ou forte; localiza-
ção hemicraniana; presença de náuseas e/ou vômitos
durante as crises; fotofobia, fonofobia e/ou osmofobia
associados ao quadro doloroso. Não houve diferenci-
ação dos indivíduos portadores de migrânea com aura e
sem aura.
(2)
A análise dos resultados foi efetuada em micro-
computador com recursos de processamento estatístico
do software Stata versão 9.2 (Statacorp LP - Texas - USA),
após transcrição das informações para meio magnético
por digitação. Foram construídas distribuições de frequên-
cias e calculadas as médias (medianas), desvios padrões
e percentuais indicados para cada variável. As compa-
rações foram efetuadas em tabelas de contingência tipo
RxC ou em tabelas de ANOVA. O teste qui-quadrado e
a comparação das médias pelo teste Student ou Fisher
foram aplicados na aferição do significado estatístico
das grandezas comparadas nessas tabelas. O grau de
significância estatística adotado na análise é o de 5%.
RESULTADOS
Entre os 336 participantes deste estudo, 208 (61,9%)
eram do sexo feminino e 128 (38,1%) do sexo masculi-
no. No total, 319 (94,9%) alunos declararam ter apre-
sentado dor de cabeça pelo menos uma vez na vida e
17 (5,1%) dos alunos nunca vivenciaram o quadro. O
levantamento de portadores e não portadores de
migrânea, conforme pontuação das respostas dadas ao
questionário, revelou que o número de migranosos foi
de 43 (12,8%) e o de não migranosos de 293 (87,2%).
Não foi objetivo de estudo desta pesquisa avaliar o di-
agnóstico dos outros tipos de cefaleia presentes nesta
amostra. A Tabela 1 descreve as características da amos-
tra de acordo com o gênero e o diagnóstico da migrânea.
Consideramos para o diagnóstico da migrânea os
critérios sugeridos pela SIC: a presença de cefaleia por
um período maior ou igual a três meses, com duração
maior que quatro horas, do tipo pulsátil, de intensidade
média ou forte, hemicrânia, presença de náuseas e/ou
vômitos, fotofobia e fonofobia.
Na tentativa de determinar possíveis relações entre
a migrânea e características pessoais e escolares dos
participantes, foram comparados migranosos e não
migranosos segundo as distribuições das variáveis, no
20 Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011
panhamento ambulatorial dos pacientes, assim como
realizado por outros autores.
(17,18)
Foram avaliados 336 estudantes, sendo que mais
da metade dos participantes eram mulheres, o que
corresponde à realidade da proporção de mulheres em
escolas de nível superior do país, relatado por outra pes-
quisa.
(19)
Os resultados mostraram que 94,9% dos estudan-
tes, independentemente do sexo e idade, declararam ter
sido acometidos por cefaleia pelo menos uma vez na
vida e que quase 13,0% destes estudantes podem ser
considerados portadores da migrânea. De forma seme-
lhante, nos Estados Unidos da América, a prevalência
de dor de cabeça na população é de aproximadamen-
te 90%, sendo que a migrânea afeta aproximadamente
15,0% da população.
(9)
A tentativa de verificar a relação entre a migrânea e
o gênero dos participantes mostrou que a proporção de
mulheres entre os migranosos é de quase 87,0% contra
cerca de 60,0% entre os não migranosos, ou seja, a pro-
porção de mulheres é 1,3 vezes maior. A diferença entre
eles nesse quesito foi significativo do ponto de vista esta-
tístico (p= 0,032), o que sugere uma associação entre o
sexo feminino e migrânea.
(9)
Um estudo realizado na Uni-
versidade de Kentucky
(14)
mostrou que 10,0% dos migra-
que diz respeito à necessidade de ir ao pronto-socorro
por causa da dor de cabeça, presumindo sua intensida-
de; à frequência da dor e ao consumo de analgésicos
(Tabela 2).
A Tabela 3 apresenta as frequências com que os
alunos abstiveram-se de suas atividades diárias, a
frequência de ausência em qual tipo de atividade e a
frequência com que houve necessidade de realizar pro-
vas suplementares e especiais para o primeiro período.
Foram consideradas para análise apenas as provas
suplementares do primeiro período, pois nos outros
períodos, devido ao menor número de alunos estra-
tificados em cada um deles, não houve significância
estatística.
DISCUSSÃO
O critério diagnóstico de migrânea utilizado neste
trabalho teve como referência a segunda edição da clas-
sificação do Comitê de Classificação de Cefaleias da
Sociedade Internacional de Cefaleias, cujo objetivo é
padronizar os diagnósticos para a pesquisa epidemio-
lógica e a discussão de casos clínicos.
(2)
Esta pesquisa
estabeleceu o diagnóstico de migrânea através de um
questionário e não através de exame clínico e acom-
DINIZ BS, ALVES FO, DIAS JR, VASCONCELOS LT, ESTEVES VT, REZENDE DF, JURNO ME
Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011 21
nosos são representados por mulheres e 5,0% por ho-
mens, assim como em outro trabalho semelhante, a
prevalência de migrânea nos Estados Unidos foi de 18%
para o sexo feminino e 6% para o masculino.
(20,21)
Nota-
se que os dados observados neste estudo estão em con-
cordância com os autores citados.
A análise quanto ao modo de desenvolvimento da
cefaleia mostrou que a principal característica da dor
nos migranosos foi começar leve e aumentar (72,0%) e
em um menor número, começar forte e diminuir (9,0%).
A dor na maioria dos não migranosos (cerca de 50,0%)
começava e se mantinha de igual intensidade desde o
início. Essas observações indicam que a dor que come-
ça leve e aumenta com o tempo é mais característica
dos migranosos, tornando-se mais intensa na sua
evolução,
(2,22)
enquanto que a dor que inicia e termina
com a mesma intensidade é característica dos não
migranosos (p=0,001).
Observou-se também diferença entre os dois gru-
pos na frequência de falta às atividades diárias, sendo
que cerca de 55,0% dos não migranosos nunca falta-
vam às atividades diárias e apenas 4,0% frequente-
mente o fazia. Os que frequentemente faltavam às ati-
vidades diárias, entre os migranosos, correspondem a
aproximadamente a 23,0% dos constituintes desse gru-
po. Observou-se que o número de migranosos que fre-
quentemente se abstiveram das atividades diárias foi
seis vezes maior do que o de não migranosos, ou seja,
a migrânea é uma importante causa de ausência nas
atividades diárias (p < 0,001). A migrânea afeta a
qualidade de vida e está ligada ao absenteísmo e pre-
juízo de funções com consequente perda da produtivi-
dade no trabalho.
(4,9,16,20)
Faltas às atividades escolares foram mais frequen-
tes no grupo de migranosos (85,0%) que no grupo de
não migranosos (69,0%). Notou-se também que 49,0%
dos migranosos deixaram de fazer atividades físicas e
29,0% de ir a encontros sociais; em contrapartida, no
grupo de não migranosos, 50,0% deixaram de fazer ati-
vidades físicas e 15,0% de ir a encontros sociais. A
frequência de abstenção nos encontros sociais foi a úni-
ca que apresentou diferença estatística (p=0,047). Em
um estudo realizado por Bigal, aproximadamente 58,0%
dos pacientes com migrânea apresentam prejuízo nas
relações sociais entre as crises e faltam mais a atividades
escolares quando comparados a estudantes com cefaleia
do tipo tensional,
(16)
e outro estudo realizado no Cana-
dá mostrou que durante a dor é mais comum o cancela-
mento de atividades sociais e familiares do que ativida-
des laborativas e escolares.
(23)
Sobre o comparecimento ao serviço de urgência
devido à cefaleia, houve uma grande discrepância entre
os dois grupos; no grupo dos não migranosos, mais de
90,0% dos alunos negam ter comparecido a um serviço
de urgência devido à dor e apenas 8,0% referem ter
procurado este serviço, enquanto que 33,0% dos migra-
nosos já estiveram presentes no pronto-socorro devido à
dor. A diferença entre os dois grupos foi significativa
(p<0,001). Os pacientes com migrânea apresentaram
uma frequência de comparecimento ao serviço de ur-
MIGRÂNEA E RENDIMENTO ESCOLAR ENTRE ALUNOS DE MEDICINA
22 Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011
gência cerca de cinco vezes maior em relação aos não
migranosos, mostrando haver relação direta entre
migrânea e o comparecimento a um serviço de urgên-
cia. Assim como demonstrado em outras pesquisas, houve
um expressivo número de visitas aos setores de urgência,
como tem sido relatado na literatura.
(9,14)
Em um estudo
realizado em uma unidade de emergência de Ribeirão
Preto foi demonstrado que, no ano de 1996, foram inter-
nados 1.254 pacientes com queixa de cefaleia aguda.
(24)
Entre os internados, 95% ficaram menos de 12 horas no
hospital; desses, 77,0% apresentavam cefaleia primá-
ria, sendo que, em 72,0% dos casos, o diagnóstico final
foi migrânea. A incidência foi de 13 vezes mais pacien-
tes migranosos internados dos que não migranosos. O
resultado do estudo citado mostrou-se semelhante a este,
uma vez que houve um maior número de migranosos
que já compareceram a um serviço de urgência, porém
a incidência demonstrada foi mais que o dobro da refe-
rida neste estudo.
Em relação à frequência de cefaleia, os episódios
menos frequentes, na semana ou no mês, foram mais
comuns entre os não migranosos. A frequência das crises
ocorreu de modo mais constante entre os migranosos.
Geralmente a frequência de cefaleias, de quatro dias ou
mais por semana foi cinco vezes maior nos migranosos
do que nos não migranosos. A diferença entre os dois
grupos foi também significativa (p=0,006). Outro estu-
do semelhante detectou que a maioria (40,0%) apresen-
tava de duas a quatro crises/mês,
(25)
e contrapôs-se a
este estudo, onde a minoria (17,0%) dos migranosos
apresentava crises menos de uma vez ao mês. No estu-
do de Ribeirão Preto foi evidenciado que 55,0% dos alu-
nos com migrânea apresentavam cefaleia com a
frequência de um a cinco dias por mês,
(22)
também con-
trapondo-se a este estudo, em que a minoria (5,0%)
vivenciou o quadro menos que uma vez ao mês.
Esta pesquisa mostrou que tanto os indivíduos que
apresentavam como os que não apresentavam migrânea
tomavam um tipo de medicamento para a cefaleia; no
entanto, apenas os migranosos referiram tomar mais de
três tipos de remédios e correspondem a 2,4%. A inci-
dência de consumo de dois ou mais remédios entre os
portadores de migrânea foi cerca de cinco vezes maior
entre os não migranosos, com significância estatística
(p<0,001). Os portadores de migrânea apresentaram
então um maior consumo de diferentes tipos de remédi-
os, sugerindo que suas dores são mais intensas e que
precisam de uma quantidade maior de medicamentos
para alcançar o efeito desejado.
Outros estudos relacionaram o maior custo econô-
mico com a prescrição e uso abusivo de medicamentos
para o tratamento da migrânea.
(9)
No estudo de Ribei-
rão Preto demonstrou-se que na cefaleia do tipo tensional,
26,0% dos pacientes sentiram-se melhor sem receber
qualquer medicação analgésica ou recebendo apenas
uma; nos migranosos isso ocorreu em apenas 10,0% dos
casos.
(24)
Entre os alunos migranosos observou-se maior fre-
quência de sintomas premonitórios do que nos não
migranosos, com uma incidência de 1,4 vezes maior,
mais episódios de fotofobia e fonofobia e aura. Todos
os três ítens apresentaram diferença estatisticamente sig-
nificativa. A antecipação da crise é caracterizada pelo
aumento da magnitude da dor e tem sido associada a
uma maior deterioração na qualidade de vida e fun-
ções.
(7)
Sintomas associados à migrânea, como
fotofobia, fonofobia, náuseas e aura interferem nas ativi-
dades diárias e contribuem para o declínio do desem-
penho escolar de pacientes migranosos.
(9,22)
Na avaliação do rendimento escolar através de pro-
vas suplementares ou especiais, nosso estudo mostrou
que 26,0% dos migranosos as fizeram no primeiro perío-
do, em comparação com 12,0% dos não migranosos,
tendo havido diferença estatística (p=0,012). O resul-
tado foi relevante, apesar da comparação das médias
do número de matérias não ter apresentado a mesma
diferença. O fato de um maior número de alunos porta-
dores de migrânea ter realizado provas suplementares
ou especiais no primeiro período sugere que esta enti-
dade de fato pode determinar deficiências no estudante
que o levam a repetir disciplinas. Já nos períodos subse-
quentes não foi possível determinar relação entre a rea-
lização de provas suplementares ou especiais com a
migrânea, tanto na comparação de médias quanto na
de frequências (p>0,05). Ao se levar em conta, entre-
tanto, que a quantidade de estudantes que relataram ter
feito provas suplementares ou especiais diminui com o
avançar do curso, é lícito admitir-se que a incapacidade
de demonstrar tal relação a partir do segundo período
esteja relacionada com o tamanho da amostra, que a
partir de então tornou-se insuficiente para demonstrar a
relação anotada. Estudos mostraram que a migrânea
está relacionada ao déficit de atenção e concentração,
com consequente redução da efetividade nas funções
escolares e laborativas, gerando impacto social e pes-
soal.
(6,9,14)
Autores brasileiros observam que 54,0% dos
estudantes com migrânea relataram ser a dor incapa-
citante com consequente interferência nas atividades es-
DINIZ BS, ALVES FO, DIAS JR, VASCONCELOS LT, ESTEVES VT, REZENDE DF, JURNO ME
Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011 23
colares,
(28)
confirmando um profundo impacto da cefaleia
no desempenho dos universitários independentemente da
intensidade da dor, sendo mais evidente nos migranosos
e não menos importante nos estudantes com cefaleia do
tipo tensional.
(22)
Quanto à frequência do absenteísmo nas ativida-
des diárias, observou-se que 55,0% dos migranosos
perdiam dois dias de atividade por mês e 88,0% perdi-
am de cinco a seis dias por mês,
(29)
comprovando-se
que estudantes com migrânea perdem de dois a oito
dias de escola por ano a mais que aqueles do grupo
controle.
(30)
Em relação aos sintomas que os indivíduos apre-
sentam durante as crises, foi evidenciado em outro estu-
do que mais de 70,0% dos acadêmicos com migrânea
apresentaram irritabilidade quando comparados aos
acadêmicos com cefaleia do tipo tensional (50,0%) e ao
grupo controle (25,0%).
(22)
Quanto à ansiedade, a dife-
rença não foi significativa entre os três grupos, assim como
a encontrada no presente estudo. Nos migranosos a
queixa de depressão por todo o tempo foi de 3,0%, na
maior parte do tempo 14,0% quando comparada a 0,0%
do grupo controle, em concordância com outros estudos
que também mostraram que sintomas depressivos são
mais comuns nos migranosos.
(31)
CONCLUSÃO
Com base nos resultados encontrados, pode-se con-
cluir que a prevalência da migrânea foi de aproxi-
madamente 13,0% e parece estar relacionada com as
seguintes variáveis significativas do trabalho: presença
de dor de cabeça, frequente falta às atividades diárias,
aumento progressivo da intensidade da dor, compa-
recimento ao serviço de urgência em casos de dor,
frequência das dores e baixo rendimento escolar.
A aparente associação entre migrânea e rendimen-
to escolar no presente estudo mostrou uma forte relação,
tomando-se como base a realização de provas suple-
mentares no primeiro período como indicador desse fato.
Ficou evidente que os alunos migranosos parecem ser
mais propensos ao baixo rendimento, ao absenteísmo
escolar e a prejuízos das atividades sociais.
Acreditamos que os resultados apresentados po-
dem ser úteis, não só para mostrar a prevalência da
migrânea em uma amostra de alunos de uma faculda-
de de medicina, como também para ser aplicados a
alunos de outros cursos, com a mesma faixa etária desta
amostra.
MIGRÂNEA E RENDIMENTO ESCOLAR ENTRE ALUNOS DE MEDICINA
REFERÊNCIAS
1. Lipton RB, Silberstein SD, Stewart WF. An Update on the
Epidemiology of Migraine. Headache 1994;34:319-28.
2. First M, et al. The international classification of headache
disorders 2nd edition. International Headache Society;
2004.
3. Benseñor IM. Semiologia Clínica. São Paulo: Sarvier; 2002. p.
532-40.
4. Vicent MB. Fisiopatologia da enxaqueca. Arq Neuropsiquiatr
1998;56(4):841-51.
5. Zwart JA, Dyb G, Holmen TL, Stovner LJ, Sand T. The prevalence
of migraine and tension-type headaches among adolescents in
Norway. The nord-trøndelag health study (Head-HUNT-Youth),
a large population-based epidemiological study. Cephalalgia.
2004;24(5):373-9.
6. Edmeads J, Mackell JA. The economic impact of migraine: an
analysis of direct and indirect costs. Headache. 2002;42
(6):501-9.
7. Holroyd KA, Drew JB, Cottrell CK, Romanek KM, Heh V. Impaired
functioning and quality of life in severe migraine: the role of
catastrophizing and associated symptoms. Cephalalgia.
2007;27(10):1156-65.
8. Tkachuk GA, Cottrell CK, Gibson JS, O'Donnell FJ, Holroyd
KA. Factors associated with migraine-related quality of life and
disability in adolescents: a preliminary investigation. Headache.
2003;43(9):950-5.
9. Solomon GD, Skobieranda FG, Gragg LA. Quality of life
and well-being of headache patients: measurement by the
medical outcomes study instrument. Headache. 1993;
33(7):351-8.
10. Baskin SM, Lipchik GL, Smitherman TA. Mood and anxiety
disorders in chronic headache. Headache. 2006;46 Suppl
3:S76-87.
11. Radat F, Swendsen J. Psychiatric comorbidity in migraine: a review.
Cephalalgia 2005;25(3):165-78. Comment in: Cephalalgia.
2005;25(11):1099-100.
12. Cahill CM, Murphy KC. Migraine: another headache for
psychiatrists? Br J Psychiatry. 2004;185:191-3.
13. Cavallini A, Micieli G, Bussone G, Rossi F, Nappi G. Headache
and quality of life. Headache. 1995;35(1):29-35. Erratum in:
Headache 1995;35(6):314.
14. Kryst S, Scherl E. A population-based survey of the social and
personal impact of headache. Headache 1994;34(6):344-50.
15. Souza JA, Jerowy CC. Migrânea: tratamento preventivo reduz
frequência e intensidade das crises. Prática hospitalar 2005;40.
Disponível em: www.praticahospitalar.com.br. Acesso em: 07
jun. 2004.
16. Bigal ME, Fernandes LC, Moraes FA, Bordini CA, Speciali JG.
Prevalência e impacto da migrânea em funcionários do Hospi-
tal das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -
USP. Arq Neuro-Psiquiatr. 2000;58(2B): 431-6.
17. Bigal ME, Bigal JM, Betti M, Bordini CC, Speciale JG. Evaluation
of the impact of migraine and episodic tension-type headache
on the quality of life and performance of a university student
population. Headache 2001;41(7):710-19.
24 Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011
18. Headache Classification Comite of the International Headache
Society. Classification and diagnostic criteria for headache
disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988;8
Suppl l71-96 .
19. Souza N. Mulher: ultrapassando barreiras para a conquista da
carreira profissional. Disponível em: artigos.netsaber.com.br/
.../artigo_sobre_mulher:_ultrapassando_barreiras_para_a_
conquista_da_carreira_profissional. Acesso em: 12 ago.
2010.
20. Stewart WF, Lipton RB, Celentano DD, Reed ML. Prevalence of
migraine headache in the United States. Relation to age, income,
race, and other sociodemographic factors. JAMA 1992; 267
(1):64-9.
21. Silberstein SD, Lipton RB. Headache epidemiology: emphasis
on migraine. Neurol Clin 1996;14(2):421-34.
22. Bigal ME, Bigal JM, Betti M, Bordini CA, Speciali JG. Evaluation
of the impact of migraine and episodic tension-type headache
on the quality of life and performance of a University Student
Population. Headache 2001;41(7):710-9.
23. Pryse-Phillips W, Findlay H, Tugwell P, Edmeads J, Murray TJ,
Nelson RF. A Canadian population survey on the clinical,
epidemiologic and societal impact of migraine and tension-type
headache. Can J Neurol Sci 1992;19(3):333-9.
24. Bigal ME, Bordini CA, Speciali JG. Tratamento da cefaleia em
uma unidade de emergência da cidade de Ribeirão Preto. Arq.
Neuro-Psiquiatr. 1999.57(3B):813-9.
25. Henry P, Duru G, Chazot G, Dartigues JF. La migraine en France.
Paris: John Libbey Montrouge; 1993. p. 1-21.
26. Saper JR. Headache disorders: current concepts in treatment
strategies. Littleton: Wright-PSG; 1983.
27. Srikiatkhachorn A, Phanthurachinda K. Prevalence and clinical
features of chronic daily headache in a headache clinic. Headache
1997;37(5):277-80.
28. Sanvito WL, Monzillo PH, Peres MF, Martinelli MO, Fera MP,
Gouveia DA, et al. The epidemiology of migraine in medical
students. Headache 1996;36(5):316-9.
29. Osterhaus JT, Gutterman DL, Plachetka JR. Labor costs associated
with migraine headaches. Headache 1990;30:302-3.
30. Abu-Arefeh I, Russell G. Prevalence of headache and migraine
in schoolchildren. BMJ 1994;309(6957):765-9..
31. Galego JC, Cipullo JP, Cordeiro JA, Tognola WA. Depression
and migraine. Arq Neuro-Psiquiatr 2004;62(3):774-7.
Correspondência
DrDr
DrDr
Dr
. Mauro Eduardo Jurno. Mauro Eduardo Jurno
. Mauro Eduardo Jurno. Mauro Eduardo Jurno
. Mauro Eduardo Jurno
Rua Fernando Laguardia, 45 - Santa Tereza II
36201-118 - Barbacena, MG, Brasil
jurno@uol.com.br
DINIZ BS, ALVES FO, DIAS JR, VASCONCELOS LT, ESTEVES VT, REZENDE DF, JURNO ME
Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011 25
Enxaqueca e sua aura na gênese das visões
místicas e da criação artística: o caso de
Hildegard von Bingen
Migraine and aura in the genesis of mystical visions and artistic creation:
the case of Hildegard von Bingen
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Este ensaio analisa as interpretações críticas e clínicas de
algumas alterações perceptivas presentes na aura das
enxaquecas tais como se apresentam no âmbito das
representações artísticas, segundo as especulações de alguns
estudiosos – com destaque para as conclusões do neurologista
Oliver Sacks. Com o intuito de promover um maior inter-
câmbio entre as ciências e as humanidades, propõe-se uma
discussão sobre os limites entre a arte da cura e a cura pela
arte, elencando as opiniões de diversos médicos e escritores
sobre o assunto e focalizando a importância, para este debate,
da obra sui generis da freira alemã, artista e mística, autora
de dois dos primeiros compêndios de medicina da história
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLE
Ermelinda Maria Araújo Ferreira
Formação acadêmica nas áreas de Medicina e Letras, doutora em Letras pela PUC-Rio e
Universidade de Lisboa, professora do Programa de Pós-Graduação em Letras da
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil
Ferreira EM
Enxaqueca e sua aura na gênese das visões místicas e da criação artística:
o caso de Hildegard von Bingen. Headache Medicine. 2011;2(1):25-32
da humanidade e portadora de migrânea: Hildegard von
Bingen.
DescritoresDescritores
DescritoresDescritores
Descritores: Medicina; Literatura; Terapias sensoriais através
das artes; Cefaleia histamínica; Medicina na Literatura
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
This essay analyses the critical and clinical interpretations of
certain perception disturbances present in the aura of
migraines, as represented in artistic works, according to the
speculations of some researchers, but mainly focusing on the
conclusions of the neurologist, Oliver Sacks. With the aim of
promoting an interchange between the fields of science and
humanities, the essay discusses both the limits of the art of
curing and curing through art, citing the opinions of several
doctors and writers concerning this matter. For this debate,
particular focus is centered on the importance of the sui generis
work of the German nun, artist and mystic, author of two of
the first medical compendiums of the history of mankind and
migraine sufferer: Hildegard von Bingen.
Keywords: Keywords:
Keywords: Keywords:
Keywords: Medicine; Literature; Sensory Art Therapies; Cluster
headache; Medicine in Literature
Há momentos, e é uma questão de apenas cinco ou seis segundos,
em que a pessoa sente a presença da harmonia eterna ...
uma coisa terrível é a apavorante clareza com que ela se manifesta
e o êxtase que arrebata a pessoa.
Se este estado durasse mais do que cinco segundos, a alma
não o poderia suportar e teria de desaparecer.
Durante esses cinco segundos, vivo toda uma existência humana,
e por isso eu daria minha vida inteira sem julgar estar pagando
preço demasiado alto.
Fiódor Dostoiévski
(sobre sua experiência com as auras epilépticas extáticas às quais
atribuía enorme importância)
26 Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011
INTRODUÇÃO
Em 23 de abril de 1849, o escritor russo Fiódor
Dostoiévski foi detido e preso por participar de um grupo
intelectual liberal chamado Círculo Petrashevski, sob
acusação de conspirar contra o czar Nicolau I da Rússia.
Depois das revoluções de 1848, na Europa, Nicolau
mostrou-se relutante a qualquer organização clandestina
que poderia pôr em risco sua autocracia. O Círculo
Petrashevsky era dedicado principalmente à discussão
das condições de vida na Rússia e centrava-se nas obras
proibidas da imensa biblioteca de Petrashevsky.
Dostoiévski, na verdade, não ia às reuniões do Círculo
há mais de três meses quando foi preso e participava
realmente de uma organização radical liderada por
Nikolai Spechniev, que se tornaria o protótipo para
Nikolai Stavróguin, protagonista de seu romance Os
demônios. Essa organização, porém, não foi descoberta
pelas autoridades, e sua existência só veio a público
em 1922.
Dostoiévski passou oito meses na Fortaleza de Pedro
e Paulo até que, em 22 de dezembro, a sentença de
morte por fuzilamento foi anunciada. Em 23 de dezem-
bro, os membros do Círculo foram levados ao lugar da
execução, e três homens, inclusive o próprio Petrashevski,
foram amarrados aos postes em frente ao pelotão.
Dostoiévski era um dos próximos, mas antes do fuzila-
mento chegou uma ordem do czar para que a pena
fosse comutada para prisão com trabalhos forçados e
exílio. Posteriormente, os membros souberam que a
ordem havia sido assinada há dias, mas que o czar exigira
a falsa execução como uma punição a mais. Dostoiévski
recebeu os grilhões e partiu para o exílio na noite de
Natal. Esses fatos foram narrados pelo escritor em uma
carta a seu irmão Mikhail Dostoiévski, na qual ele faz
várias referências à obra Os últimos dias de um
condenado à morte, de Victor Hugo.
Foi na prisão que Dostoiévski sofreu seu primeiro
ataque de epilepsia, doença que o acompanharia pelo
resto da vida, e que ele transpôs para vários de seus
personagens, como o Príncipe Míchkin (O idiota), Kiríllov
(Os demônios) e Smerdiákov (Os irmãos Karamázov).
Embora alguns biógrafos insistam que a primeira crise
de Dostoiévski aconteceu antes da prisão, as cartas que
ele enviou ao irmão deixam bastante claro que ele só
começou a apresentar a doença no cárcere. Os estudos
médicos nunca chegaram a um acordo sobre a epilepsia
de Dostoiévski. Freud afirmou que era uma doença
histérica, e não epilepsia, mas o austríaco obviamente
ignorava alguns aspectos da biografia de Dostoiévski,
como a morte de seu filho mais novo após um ataque, o
que parece indicar uma doença genética. A maioria dos
médicos, hoje em dia, acredita que ele sofria de uma
epilepsia de lobo temporal.
(1)
Em A epilepsia retratada ao longo da história, Elza
Márcia Targas Yacubian
(2)
comenta o quanto o caso de
Dostoiévski mobilizou os epileptologistas ao longo do
tempo: "Segundo Gastaut (1978), vários fatores apontam
para uma epilepsia generalizada idiopática: ocorrência de
automatismos descrita unicamente no período pós-crítico;
ausência de menção da aura extática em suas anotações
(este fenômeno teria sido criado pelo escritor); predis-
posição genética para epilepsia (seu filho, Alexis, faleceu
aos três anos de idade em estado de mal epiléptico);
ausência de sinais neurológicos ou psiquiátricos sugestivos
de doença orgânica; algumas crises, especialmente as que
ocorriam pela manhã, eram precedidas pelo que Dos-
toiévski chamava de "inícios", ou seja, mioclonias maciças;
todas as suas crises eram generalizadas convulsivas."
Segundo a autora, Gastaut (1984) acentua que faltam
a Dostoiévski as características intercríticas de perso-
nalidade de indivíduos com epilepsia temporal, como
as que se verificam nos casos de outros artistas, como o
escritor Gustave Flaubert e o pintor Van Gogh: "Seu com-
portamento era normal, não havia traços de gliscroidia e
impulsividade, e sua vida sexual foi normal com suas duas
esposas e suas duas amantes (considerava inclusive o
excesso de sua função sexual como possível causa de
suas crises). Gastaut propôs então um conceito unicista
da epilepsia do escritor, que deve ter sofrido uma lesão
temporal discreta, incapaz de produzir a fenomenologia
intercrítica característica da epilepsia temporal, mas a
predisposição genética tornou produtiva a lesão temporal
silente, de forma a induzir generalização secundária muito
rápida em cada crise."
Apesar da seriedade dos estudos científicos – que
não conseguem, no entanto, chegar efetivamente a uma
conclusão – chama a atenção a profusão de informações
diversas e detalhadas sobre a doença elencadas por
Dostoiévski em seus romances, cartas e diários, e o quanto
a condição mórbida que passa a vivenciar em certo
momento de sua vida torna-se um manancial para suas
reflexões filosóficas e uma fonte de inspiração para a
sua produção literária. A este respeito, o escritor e médico
sanitarista Moacyr Scliar comenta, em seu artigo "Literatura
e medicina: o território partilhado", sobre a pobreza dos
dados obtidos no texto da anamnese médica na sua
forma convencional quando comparado à inestimável
FERREIRA EM
Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011 27
ENXAQUECA E SUA AURA NA GÊNESE DAS VISÕES MÍSTICAS E DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA: O CASO DE HILDEGARD VON BINGEN
riqueza de informações contidas em narrativas literárias
que descrevem a doença.
São muitos os exemplos, como A montanha mágica,
de Thomas Mann, que tem como cenário um sanatório
de tuberculosos; A morte de Ivan Ilích, de Leon Tolstói,
que fala do penoso confronto de um paciente terminal
com a dor e a morte, e a problemática relação médico-
paciente que se estabelece nesta situação; A enfermaria
n. 6, de Anton Tchékhov e Um médico rural, de Franz
Kafka, que discutem a necessidade – para o estabe-
lecimento de uma real empatia com o doente, impres-
cindível ao bom exercício da clínica – do profissional de
saúde se colocar na perspectiva do sujeito acometido
pela doença; O alienista, de Machado de Assis, que sati-
riza a psiquiatria autoritária do século XIX; diversos contos
dos médicos escritores portugueses Miguel Torga e
Fernando Namora, que traduzem uma visão da medicina
expurgada do pensamento metafórico e resistente a ele,
evitando a vitimização do doente sem abdicar da
compaixão, da solidariedade e dos deveres de cons-
ciência diante da dor alheia; entre tantos outros. Scliar
propõe uma reflexão sobre as diferenças das abordagens
descritivas da doença por médicos e por escritores, num
ensaio cujo objetivo é defender a ideia da inclusão de
textos literários no treinamento de médicos e profissionais
de saúde para ajudar a superar o preocupante hiato de
comunicação que vem se instaurando no ato da anam-
nese, facilitando o entendimento da doença em sua
dimensão mais ampla e contribuindo para um melhor
relacionamento profissional-paciente.
Pioneira no ramo da chamada "medicina narrativa"
– disciplina inserida no recente departamento das "huma-
nidades médicas" existente em alguns cursos de medicina
–, a médica e crítica literária Rita Charon,
(3)
autora de
Narrative medicine honoring the stories of illness, investe
ativamente na defesa da aplicabilidade dos estudos de
narratologia aos currículos médicos, propondo não só o
treinamento do profissional de saúde em redação e
interpretação do texto da anamnese com base em
conhecimentos técnicos linguísticos e literários, como uma
maior e mais atenta utilização das narrativas produzidas
pelos próprios pacientes no processo de investigação do
histórico e da evolução das doenças com finalidade
diagnóstica.
Em seu livro O olhar médico, Scliar fala ainda da
importância da literatura (poesia e ficção) não só como
instrumento diagnóstico, mas também como estratégia
terapêutica. Menciona, por exemplo, a existência nos
Estados Unidos de uma Associação Nacional para a
Terapia pela Poesia, que edita um jornal, realiza cursos
e forma especialistas em "biblioterapia", profissionais
que trabalham pela minoração do sofrimento através
dos efeitos benéficos da leitura de obras literárias para
os doentes. Ainda segundo Scliar, também é sabido
que a literatura constitui um fator de estabilidade
emocional para os próprios escritores. Diversas pes-
quisas mostram que existe uma convincente associação
entre o temperamento artístico e certos distúrbios mentais
ou emocionais. Uma das obras que mais seriamente
investem nesta área de investigação interdisciplinar
intitula-se Creativity and disease - how illness affects
literature, art and music, do médico Philip Sandblom.
Em seu prefácio sobre as relações entre doença e
criatividade, ele defende a existência de uma influência
decisiva das doenças que vitimizam certos artistas na
constituição de suas obras, negando que os estudos
biográficos sobre os criadores devam ser descon-
siderados em defesa de estudos estritamente estéticos
sobre a natureza de suas criações: "It is evident that just
as physical and mental disorders can affect works of art,
so the opposite may occur - enjoying, even creating art
may influence the state of the soul and body".
(4)
Em prefácio à novela autobiográfica de José Cardo-
so Pires, De profundis - valsa lenta, escrita após a surpre-
endente recuperação deste escritor de um acidente vascu-
lar cerebral, o neurologista português João Lobo Antunes
lembra uma citação de Tchékhov, também médico e
doente, que dizia ser "a medicina a mulher legítima, e a
literatura a sua amante; quando de uma delas se cansava
passava a noite com a outra. Reconhecia, no entanto,
que, se apenas pudesse contar com a imaginação para
construir a sua obra literária, pouco teria para escrever". A
experiência, sobretudo a vivência de uma condição física
ou psicologicamente incapacitante, sofrida ou estig-
matizada, pode ser um fator decisivo tanto para a
deflagração de um temperamento artístico reativo, como
para a determinação de certas características do próprio
objeto, que refletem aspectos, peculiaridades ou impe-
rativos constitucionais do sujeito criador.
(5)
Pedro Nava,
(6)
notório médico e memorialista, tam-
bém afirma, em seu ensaio A medicina de Os lusíadas,
que tanto a literatura como as artes plásticas são fontes
informativas importantes para o estudo da história da
Medicina: “Telas, murais, afrescos, painéis, vasos
iluminados, cinzeladuras, baixo-relevos, frisos e estátuas
contam-se às centenas, saídos das mãos de grandes
mestres escultores e pintores, tendo por objeto cenas que
interessam à patologia, ao exercício profissional, à cirurgia,
28 Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011
ao ensino da Arte, à farmácia e à higiene. O espasmo
glossofacial, antes de individualizado clinicamente, foi
representado por um escultor numa carranca da Igreja de
Notre-Dame de Dijon. Cicatrizes das orelhas e dos lábios
são mostradas no retrato de van Wassanaer e na tela de
Fonquet - L'homme au verre de vin. Há um velho, do
Ghirlandaio, com um formalíssimo acne hipertrófico nasal.
O retrato do esmoler van-der-Poele é um tipo perfeito de
escleroso hipertenso a que não falta, sequer, o sinal
patognomônico das flexuosidades da artéria temporal
superficial. Os cegos de Breughel são um estudo
admirável da postura dos amauróticos. A lepra tem uma
vasta iconografia. Detalhes de entrevista médica com-
portando a interpretação da natureza do exame praticado,
mostrando a técnica de exploração, o ambiente de uma
sala de consultas, o interior de hospitais, a distribuição
dos leitos nas enfermarias, sua iluminação e aeração, a
posição dos doentes nas camas, as vestes dos médicos –
tudo tem sido representado com o pincel, o escopo e o
cinzel.
(6)
O médico Armando J. C. Bezerra
(7)
corrobora a
suposição deste estreito vínculo entre a medicina e as
artes em Admirável mundo médico – a arte na história da
medicina, livro fartamente ilustrado no qual elenca uma
diversidade de aproximações possíveis entre as deduções
sobre certas condições mórbidas expressas nos com-
pêndios científicos e o modo como foram retratadas ao
longo da história da arte, mencionando os exemplos cita-
dos por Nava, e muitos outros.
Para o médico inglês Oliver Sacks,
(8)
atualmente
professor de neurologia clínica do Albert Einstein College
of Medicine em Nova York – cuja obra pode ser consi-
derada um caso ímpar de cruzamento entre rigor científico
e talento literário –, o paradoxo da doença está antes
de tudo em seu potencial "criativo", na maneira como
ela pode revelar formas de vida e adaptações nunca
antes imaginadas, numa espécie de reação positiva à
devastação que provoca. No caso dos distúrbios neuro-
lógicos, o fenômeno torna-se ainda mais notável devido
à eventual excentricidade e à radicalidade dessas adap-
tações. Sacks não reduz seus "casos" a objetos de estudo
submetidos à ótica fria e objetiva da ciência. Trata-os,
antes, com um olhar profundamente humano, como
"personagens". Sua prosa transita entre a realidade e a
ficção, não por serem estes relatos algo mais do que
absolutamente reais, mas porque Sacks se preocupa
sobretudo com a dimensão humana, quase romanesca,
dos indivíduos de que trata. Enquanto médico, ele não
tenta colocar-se fora do homem para examiná-lo, mas
em seu interior. Para ele, a pergunta crucial não diz
respeito à doença que tal pessoa tem, mas à pessoa
que tem tal doença. Quando compreende isso, o médico
cria condições de fazer um uso mais adequado das
terapêuticas que a ciência põe à sua disposição.
Os livros de Sacks costumam expor as diversas teorias
que cercam os distúrbios neurológicos por ele comentados
numa linguagem perfeitamente acessível ao leigo e sem
nenhuma simplificação de conteúdo. Esta "informalidade"
se verifica desde os títulos de sua produção, reveladores
em si mesmos de sua postura pouco convencional
enquanto ensaísta científico: Tempo de despertar (1973),
Com uma perna só (1984), O homem que confundiu
sua mulher com um chapéu (1985), Vendo vozes - uma
viagem ao mundo dos surdos (1989), Um antropólogo
em Marte (1995), A ilha dos daltônicos (1997), Tio
Tungstênio - memórias de uma infância química (2001),
Figura 1. “A lição de anatomia do Dr. Tulp”, de Rembrandt (1632)
Figura 2. “O médico”, de Samuel Luke Fildes (1891)
FERREIRA EM
Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011 29
Alucinações musicais (2007). Mesmo em sua primeira
publicação, o compêndio Enxaqueca (Migraine), de
1970, talvez o seu livro mais academicamente concebido,
Sacks já definia a dor de cabeça de maneira ampla,
como uma janela aberta para fenômenos químicos com
implicações mais profundas do que as determinadas pelo
seu entendimento apenas como uma doença. Segundo
ele, "a partir da aura da enxaqueca, pode-se mapear,
por experiência, exploração e reflexão, todo um mundo
- a cosmografia de um indivíduo".
(8)
São significativas da postura assumida pelo médico
Sacks, na sua prática profissional, as duas epígrafes deste
livro. A primeira, de Robert Burton, diz: "Sócrates, segundo
Platão, não prescrevia remédio para a dor de cabeça de
Cármide sem primeiro acalmar a sua mente tumultuada;
corpo e alma devem ser curados juntos, assim como a
cabeça e os olhos". A segunda, de George Groddeck,
afirma que "Todo aquele que enxergar na doença uma
expressão vital do organismo não mais a verá como um
inimigo. No momento em que percebo que a doença é
uma criação do paciente, ela se torna para mim um
elemento da mesma espécie que sua maneira de andar,
sua expressão facial, os movimentos de suas mãos, os
desenhos que ele fez, a casa que construiu, o negócio
que montou ou os meandros de seu pensamento: um
símbolo significativo dos poderes que o governam e os
quais eu tento influenciar quando julgo acertado".
(8)
No texto dedicado à "aura da enxaqueca", definido
pelo autor como "o maior e mais estranho capítulo de
seu livro", Sacks afirma que o fenômeno aurático deveria
ser o centro de toda investigação que se proponha a
tratar da enxaqueca. Isto, contudo, não é o que ocorre.
Segundo ele, ninguém dá à aura a importância que ela
merece, e quanto mais atual é o livro, menos espaço se
dedica ao tema: "As próprias palavras que empregamos
– enxaqueca clássica em oposição à comum (sendo a
clássica uma enxaqueca com uma aura) – implicam que a
aura é incomum – e misteriosa". Sacks considera falsa
esta interpretação, pois a aura, para ele, está longe de
ser incomum. No entanto, enfatiza que existe uma neces-
sidade vital de boas descrições deste fenômeno, consi-
derado por ele da máxima importância, podendo revelar
muitas coisas não só sobre a enxaqueca em si, mas sobre
os mecanismos mais elementares e fundamentais do
cérebro-mente.
(8)
A dificuldade de se obterem boas descrições deve-
se, segundo ele, à profunda estranheza de muitos desses
fenômenos, que não raro ultrapassam o poder expressivo
da linguagem referencial, além de uma sensação de algo
sobrenatural e amedrontador, que faz a mente recuar só
de pensar no assunto. Nem as descrições sintomáticas
elencadas pelo discurso médico nem os relatos confusos
e imprecisos da maioria dos pacientes parecem dar conta
de estabelecer uma descrição satisfatória do fenômeno.
A literatura e a arte, no entanto, estariam repletas de
exemplos eloquentes e relevantes para um estudo mais
aprofundado do tema. Ao comentar as "alterações da
função integrativa superior", por exemplo, Sacks menciona
alguns sintomas presentes durante uma aura de enxa-
queca, como: a "visão lillitupiana (micropsia), uma apa-
rente diminuição e visão brobdignagiana (macropsia), um
aparente aumento no tamanho dos objetos, embora esses
termos possam também ser usados para denotar a
aparente aproximação ou afastamento do mundo visual –
sendo estas descrições alternativas de alucinações ou
tamanho desordenado –, constância de distância. Se tais
alterações ocorrerem gradualmente em vez de abrupta-
mente, o paciente terá a visão em zoom – o tamanho dos
objetos aumenta ou diminui, como quando eles são
observados através das diversas distâncias focais de uma
lente com zoom. As descrições mais famosas dessas
mudanças de percepção são, obviamente, as deixadas
por Lewis Carroll, que era acometido por impressionantes
enxaquecas clássicas desse tipo" (Figura 3).
(8)
Sacks menciona ainda a "visão em mosaico e
cinematográfica", que designa o fracionamento da ima-
gem visual em facetas irregulares, cristalinas, poligonais,
encaixadas entre si como em um mosaico: "O tamanho
Figura 3. Alice, ilustração
de John Tenniel. O autor
de “Alice no País das
Maravilhas”, Charles
Dodgson (conhecido pelo
pseudônimo de Lewis
Carroll), sofria de
enxaqueca. Há quem
acredite que as
transformações físicas da
personagem Alice são
baseadas nas crises de
enxaqueca de Dodgson,
pois muitos pacientes
descrevem sensações de
distorção de tamanho –
tecnicamente chamadas
micropsia e macropsia
ENXAQUECA E SUA AURA NA GÊNESE DAS VISÕES MÍSTICAS E DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA: O CASO DE HILDEGARD VON BINGEN
30 Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011
das facetas pode variar muito. Quando elas são extre-
mamente diminutas, o mundo visual adquire uma apa-
rência de iridescência cristalina ou ‘granulação’ que lembra
uma pintura pontilhista. Se as facetas se tornarem maiores,
a imagem visual assume a aparência de um mosaico
clássico, ou até mesmo uma aparência ‘cubista’. Se elas
competirem em tamanho com a imagem visual total, esta
não pode mais ser reconhecida, ocorrendo uma peculiar
forma de agnosia visual (Figura 4)".
(8)
Considerando a similaridade destes efeitos com
aqueles produzidos pela pintura vanguardista europeia
do início do século XX, seria possível especular sobre a
possibilidade de os artistas responsáveis por uma nova
ordem na representação do mundo serem portadores
de enxaqueca? Estariam os fenômenos perceptivos
desencadeados pela "aura", de alguma maneira, impli-
cados na deflagração do movimento artístico modernista
na Europa, no período posterior à primeira guerra mun-
dial? E em que circunstâncias, por exemplo, a própria
atmosfera do pós-guerra teria influenciado um suposto
aumento na incidência de enxaquecas e/ou de crises
epilépticas nas populações mais afetadas pelo estresse
pós-traumático resultante dos conflitos de toda ordem
ocorridos naqueles países, naquele momento histórico?
A existência de um hiato entre as ‘duas culturas’, a
científica e a humanista, porém, como aponta Moacyr
Scliar,
(9-11)
dificulta até a formulação de hipóteses como
estas, quem dirá a investigação profunda a respeito:
"Numa conferência na Universidade de Cambridge, em
1959, Charles Peirce Snow lançou um conceito que, não
sendo de todo original, teria, contudo, vasta repercussão.
Trata-se do ‘conceito das duas culturas’, que pode ser
assim sumarizado: entre a cultura científica e a cultura
literária existe um ‘abismo de mútua incompreensão’: os
cientistas não se interessam por literatura, os literatos não
entendem princípios científicos básicos como a segunda
lei da termodinâmica (Snow, 1982:5). O conferencista
tinha credenciais para fazer tal observação; físico por
formação, ensinava em Cambridge, mas era também
novelista e ensaísta de certa reputação. Nas quatro décadas
que se passaram, a crescente especialização só fez
aumentar o hiato descrito por Snow – e as preocupações
em superá-lo".
(9)
Apesar disso, a importância da aura da enxaqueca
vem sendo frequentemente cogitada nos estudos sobre
a gênese de obras de arte não só na modernidade,
mas em épocas bastante remotas. O caso mais surpre-
endente mencionado na literatura talvez seja o da freira
alemã Hildegard von Bingen, nascida em plena Idade
Média.
(12-15)
Segundo os pesquisadores, Hildegard foi uma
criança excepcional, apesar de ter uma constituição física
frágil e de ter suportado graves doenças. Desde cedo,
passou a ter visões que lhe possibilitavam, entre outras
coisas, demonstrar um alto grau de clarividência acompa-
nhada de premonições, pelo menos segundo a inter-
pretação dada ao fenômeno na época. Hildegard afirma
que, em pequena, costumava "ver o que não estava
Figura 4. Os estágios da visão em mosaico conforme experimentados
durante aura de enxaqueca
Além de extremamente eloquentes, os desenhos
feitos pelos pacientes sobre estas experiências evocam
indubitavelmente as características da pintura de certos
movimentos das vanguardas artísticas, como o futurismo,
o expressionismo, o impressionismo e o cubismo. Veja-
se o exemplo dos desenhos do artista esquizofrênico Louis
Wain, citado por Sacks,
(8)
que demonstram certas altera-
ções da percepção que podem ocorrer durante a aura
da enxaqueca. Na Figura 5A, o gato foi retratado sobre
um fundo formado por um aglomerado de figuras seme-
lhantes a estrelas brilhantes. Na Figura 5B, ondas
concêntricas bruxuleantes expandem-se a partir do ponto
de fixação. Na Figura 5C, toda a imagem é transfor-
mada em um padrão de mosaico.
(8)
Para o neurologista,
esses fenômenos são de grande importância, pois nos
mostram como o cérebro-mente constrói as noções de
"espaço" e "tempo", exemplificando o que acontece
quando essas noções são despedaçadas ou desfeitas, o
que justifica a sensação de horror experimentada pelo
doente e, consequentemente, o seu medo em relatar o
fato.
Figura 5. Trabalhos de Louis Wain
FERREIRA EM
Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011 31
evidente para mais ninguém". Ela mesma faz remontar,
portanto, sua característica ‘visionária’ à infância, muito
embora só tenha iniciado os relatos escritos sobre o
assunto na idade madura. Alguns estudiosos atribuem
suas visões especificamente à ocorrência da enxaqueca
(migrânea), baseando-se na menção, nestes relatos, de
sintomas que são popularmente associados à doença:
distúrbios visuais do tipo cegueira parcial, visão de pontos
luminosos semelhantes a estrelas ou vagalumes, que
brilham e piscam, assumindo eventualmente formas em
ziguezague, e que podem ser estacionários ou mover-se
ao longo do campo visual, afetando um ou ambos os
olhos. Esses sintomas surgiriam cerca de meia hora antes
de um acesso de intensas dores de cabeça, não raro
acompanhadas de náuseas e
vômitos, fotofobia e vertigem.
Haveria inclusive relatos sobre
sensações de formigamento ou
debilidade nos braços e até perda
transitória da visão num ponto
determinado, como um ‘ponto
cego’.
Surpreendente é o modo como
Hildegard traduziu a experiência
desses fenômenos físicos através da
pintura e da escrita, realizando
verdadeiras obras de arte reunidas
num estranho compêndio intitulado
Scivias (abreviatura de Scito vias
Domini – “Conhecer o caminho”) –
seu primeiro livro, no qual registrou
com grande riqueza de detalhes 26 dessas visões. Foi
através desta obra que Hildegard conheceu a
notoriedade e foi aceita como autoridade nos mais
variados assuntos, tanto religiosos quanto relativos ao
comportamento humano e à natureza. Mais do que uma
simples descrição plástica do material visionário, o Scivias
compreende também explicações detalhadas, que são
dadas com o objetivo de esclarecer o sentido das
imagens. Ao longo do livro, Hildegard representa, em
toda sua exuberância e com inconfundível talento artístico,
uma determinada visão, desvendando em seguida seu
significado, afirmando que não o faz por seu próprio
entendimento, mas sim reproduzindo palavras divinas.
Há uma constante passagem da representação
iconográfica à interpretação discursiva nesta obra,
baseada no campo semântico específico da
hermenêutica cristã, através de cujo repertório simbólico
ela encontra sentidos prévios e preconcebidos para expli-
car e interpretar os fenômenos fisiológicos experimen-
tados, que de outra maneira seriam intraduzíveis.
A enxaqueca vem de longe no tempo, asseguram
os especialistas. O manuscrito de Scivias, do século XII,
retrata visões da teóloga Hildegard von Bingen, conside-
radas as primeiras representações iconográficas do
prenúncio da aura. Segundo Oliver Sacks,
(8)
na Figura
6A, o fundo é formado por estrelas bruxuleantes sobre
linhas concêntricas que tremulam. Na Figura 6B, uma
chuva de estrelas brilhantes (fosfenos) passa e se extingue
– uma sucessão de escotomas positivos e negativos. Na
Figura 6C, Hildegarda representa uma figura de forti-
ficação típica de enxaqueca irradiando a partir de um
ponto central.
ENXAQUECA E SUA AURA NA GÊNESE DAS VISÕES MÍSTICAS E DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA: O CASO DE HILDEGARD VON BINGEN
Visionária, escritora, pintora e compositora, Hildegard
von Bingen notabilizou-se ainda como terapeuta,
representando um dos primeiros nomes ligados ao
exercício da medicina na história. Talvez motivada pelos
próprios padecimentos, a genial Hildegard tenha bus-
cado alívio para suas dores e distúrbios físicos e
psíquicos na minuciosa investigação do poder curativo
das ervas, tornando-se uma precursora da terapia
fitoterápica. Seus estudos sobre medicina são descritos
nos livros Physica (1151) e Causae et Curae (1158), ao
longo dos quais Hildegard debruça-se com um olhar
inquiridor sobre a natureza, pesquisando o uso
terapêutico de plantas, aprofundando a tradição
beneditina de manter farmácias e de dar assistência
aos enfermos nos mosteiros. A obra de Hildegard sobre
plantas medicinais escrita em 1158 é, até hoje,
referência da medicina natural. O interesse da abadessa
pela cura das enfermidades reflete sua própria visão
Figura 6. A – "Visão" de Hildegard (século XII), verdadeiro exemplar de iluminura medieval
cristã e documento representativo das alterações perceptivas da aura da enxaqueca, segundo
alguns autores. Fonte: Sacks, Oliver. Enxaqueca. (São Paulo: Companhia das Letras, 2005).
B e C – outras representações iconográficas
32 Headache Medicine, v.2, n.1, p.25-32, jan./feb./mar. 2011
do homem no mundo, simultaneamente mística e
telúrica, e possivelmente constitui um índice de seu
interesse pessoal pela doença, uma vez que sentia no
próprio corpo os efeitos perturbadores de um mal que
aprendeu a dominar e que subverteu a favor de uma
vida produtiva para si e para o próximo.
Em A literatura e a vida, Gilles Deleuze
(16)
afirma que
não se escreve com as próprias dores. A doença não é
uma passagem de vida, mas um estado em que se cai
quando o processo é interrompido. Para ele, a doença
não é processo, mas parada do processo. Por isso o
escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico,
médico de si mesmo e do mundo: "O mundo é o
conjunto dos sintomas cuja doença se confunde com o
homem. A literatura aparece, então, como um
empreendimento de saúde: não que o escritor tenha
forçosamente uma saúde de ferro, mas ele goza de uma
frágil saúde irresistível, que provém do fato de ter visto e
ouvido coisas demasiado grandes para ele, fortes demais,
irrespiráveis, cuja passagem o esgota, dando-lhe contudo
devires que uma gorda saúde dominante tornaria
impossíveis".
(16)
A vida e a obra de Hildegard von Bingen ilustram
perfeitamente esta observação, e nos fazem pensar num
futuro onde as ciências exatas, humanas e da saúde
estejam mais interligadas do que isoladas. Através da
comunhão real de conhecimentos hoje ainda tão com-
partimentalizados, talvez seja possível atingir um enten-
dimento mais amplo da existência, capaz de dar conta
de todas as implicações contidas neste surpreendente
comentário do escritor Le Clézio: "Um dia saberão que
não havia arte, mas apenas medicina".
REFERÊNCIAS
1. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Fi%C3%B3
dor_Dostoi%C3%A9vski
2. Yacubian EMT. A epilepsia retratada ao longo da história.
Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/
epilepsia/ep19.htm
3. Charon R. Narrative medicine. Honoring the stories of illness.
New York: Oxford University Press; 2006.
4. Sandblom P. Creativity and disease. How illness affects literature,
art and music. New York and London: Marion Boyars; 1996.
5. Antunes J L. Carta a um amigo-novo. In: Pires JC. De profundis,
valsa lenta. Lisboa: Dom Quixote; 1997.
6. Nava P. A medicina de Os lusíadas e outros textos. São Paulo:
Ateliê Editorial; 2004.
7. Bezerra AJC. Admirável mundo médico. A arte na história da
medicina. Brasília: Conselho Regional de Medicina do Distrito
Federal; 2003.
8. Sacks O. Enxaqueca. São Paulo: Companhia das Letras; 2005.
9. Scliar M. Literatura e medicina: o território partilhado. In: Cad
Saúde Pública. 2000;16(1):245-8.
10. Scliar M. O olhar médico. Crônicas de medicina e saúde. São
Paulo: Ágora; 2005.
11. Scliar M. A paixão transformada. História da medicina na
literatura. São Paulo: Cia. das Letras; 1996.
12. Echternach T, Cirlot V. CV. Vida y visiones de Hildegard von
Bingen. Siruela, Coleção Biblioteca Medieval; 13, 2001.
13. Le Goff J, Schmitt JC. Dicionário temático do Ocidente medieval.
São Paulo: EDUSC; 2006.
14. Von Bingen H. Flor brilhante. Lisboa: Assírio e Alvim; 2004.
15. Von Bingen H. Hildegard von Bingen's mystical visions. New
York: Bear and Company; 1995.
16. Deleuze G. A literatura e a vida. In: Crítica e clínica. São Paulo:
Editora 34; 2006. p 143-153.
Correspondência
Dra. Ermelinda Maria Araújo FerreiraDra. Ermelinda Maria Araújo Ferreira
Dra. Ermelinda Maria Araújo FerreiraDra. Ermelinda Maria Araújo Ferreira
Dra. Ermelinda Maria Araújo Ferreira
Centro de Artes e Comunicação, Departamento de Letras,
Universidade Federal de Pernambuco
Av. Prof. Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária
50670-901 – Recife, PE, Brasil
ermelindaferreir@uol.com.br
FERREIRA EM
Headache Medicine, v.2, n.1, p.33-35, jan./feb./mar. 2011 33
Allodynia in cluster headache: a review
Alodinia na cefaleia em salvas: uma revisãoAlodinia na cefaleia em salvas: uma revisão
Alodinia na cefaleia em salvas: uma revisãoAlodinia na cefaleia em salvas: uma revisão
Alodinia na cefaleia em salvas: uma revisão
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Allodynia is defined as the experience of pain due to non-
painful stimuli, and occurs in several clinical contexts,
including primary headaches. Cluster headache is a primary
cephalalgia which is more common in males, characterized
by excruciating pain, and autonomic trigeminal dysfunction.
The prevalence of allodynia in cluster headache patients is a
relevant matter with few studies devoted to. Thus, the need for
more information demanded a review of most important studies
to value the amount of data and its relevance. To bring light
to this yet blurry matter, it was made a review using the terms
"allodynia" and "cluster headache" through the CAPES
periodics, accessing the most relevant studies regarding to
this association.
Keywords:Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: Allodynia; Cluster headache
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Alodinia é definida como a experiência de dor por estímulos
não dolorosos, e ocorre em vários contextos clínicos, incluin-
do aquele das cefaleias primárias. A cefaleia em salvas é uma
cefalalgia primária que é mais comum em homens, caracteri-
zada por dor excruciante e disfunção autonômica. A prevalência
da alodinia em pacientes com cefaleia em salvas é um assunto
relevante ao qual há poucos estudos devotados. Assim, a ne-
cessidade de mais informação demandou a revisão dos mais
relevantes estudos, para estabelecer o valor da quantidade de
dados e sua relevância. Para trazer luz a este ainda nebuloso
assunto, foi feita uma revisão usando os termos "alodinia" e
"cefaleia em salvas" através dos periódicos CAPES, abordando
os estudos mais relevantes relativos a esta associação.
Descritores: Descritores:
Descritores: Descritores:
Descritores: Alodinia; cefaleia em salvas
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLEREVIEW ARTICLE
REVIEW ARTICLE
Elder Machado Leite
1
; Hugo André de Lima Martins
2
; Marcelo Moraes Valença
3
1
Mestrando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da
Universidade Federal de Pernambuco – Recife, PE, Brazil
2
Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da
Universidade Federal de Pernambuco – Recife, PE, Brazil
3
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco – Recife, PE, Brazil
Leite EM, Martins HA, Valença MM
Allodynia in cluster headache: a review. Headache Medicine. 2011;2(1):33-35
INTRODUCTION
Cluster headache (CH) is defined as the primary
cephalalgia which lasts 15 to 180 minutes, sited around
the orbit (periorbital, temporal and in frontal areas), usually
afflicting the same side of the head cluster after cluster,
obsessively, with autonomic trigeminal dysfunction (tearing,
conjunctival injection, rhinorhea, localized sweating, eyelid
edema, and ptosis). These symptoms and signs occur
commonly up to eight times a day. In episodic forms of
CH the patients may experience periods of weeks, months
or even years without symptoms. The clusters recur
periodically, usually on the same season, or yet at the
same time of day. These characteristics are gathered by
the classification proposed by the International Headache
Society.
(1)
Allodynia is the phenomenon which the subject feels
pain due to non-painful stimulus.
(2)
Thus, it is possible that
the descending pain modulating paths are involved, as
the hypothalamus, trigeminal paths and autonomic
structures. According to several authors, the prevalence
of allodynia in CH patients is still a theme for debate. A
particular study shows a relevant prevalence, up to 49%,
and others consider this association a rare entity.
(3)
METHODOLOGY
To bring light to this yet blurry matter, a review was
made using the terms "allodynia" and "cluster headache"
34 Headache Medicine, v.2, n.1, p.33-35, jan./feb./marc. 2011
LEITE EM, MARTINS HA, VALENÇA MM
through the CAPES periodics, accessing the most relevant
studies regarding to this association. The scrutiny used in
this review developed a methodological assessment as
follows:1– to observe the number of patients involved in
each of the studies; 2 – to analyze the method of allodynia
detection ; 3 – to describe the skin areas put to test; 4 – to
analyze the gender distribution of patients for each study;
5 – to describe the type of cluster headache (episodic or
chronic) in each study; 6 – to describe the mean duration
of disease; 7 – to analyze the prevalence results.
REVIEW
This primary headache also might be divided in two
major subtypes: episodic CH and chronic CH. The criteria
for this separation are well established, and when the
attacks occur for more than one year without remission,
or with remissions that last less than 14 days, then it fulfills
the features for the chronic form. Otherwise, when the
remissions last 14 days or more, and the attacks last seven
days to one year, it is defined as the episodic form.
(1)
In addition to these major subtypes, there is another
subdivision applied to the chronic cluster headache, which
defines the ones having a temporal pattern typical of
chronic forms since the onset as chronic CH unremitting
form. And the others that evolve from an initial episodic
pattern into the chronic features are named secondary
chronic forms. There is also the CH which has a chronic
pattern by the onset, and then evolves into an episodic
one, namely secondary episodic pattern, even though it
is the rarest form, it seems relevant to mention.
(4)
Concerning to the clinical characteristics of this primary
headache, it is imperative to mention that unlikely most
headaches, CH are far more common in males. There
are studies form 1979 and 1982 describing a ratio of 5
to 1, and even 9 to 1 men to female.
(5,6)
In more recent
works the authors describe a decline in this male to female
preponderance, with ratios of 2.4:1 and 3.2:1 male to
female in chronic CH in episodic forms and chronic CH
in unremitting forms, respectively.
(7)
Regarding to treatment, it is also necessary to
fractionate into abortive and prophylactic treatment. In
acute situations the abortive methods encompass the
oxygen inhalation at 100%, the use of subcutaneous
sumatriptan, dihydroergotamine in injectable and
intranasal forms, intranasal lydocaine, and as a resource
for oral treatment it has been mentioned the zolmitriptan.
The prophylaxis commonly involves verapamil as the main
alternative, and other drugs as lithium carbonate,
methysergide, valproic acid, topiramate, melatonin,
capsaicin, indometacin, prednisone, gabapentin and
some antipsychothic drugs, namely olanzapin and
clorpromazin. Other studies, small and open-labled ones,
mention methylphenidatem tizanidine, histamine,
somatostatin and pizotifen.
(4)
It is worth to point out, related to therapeutics, a case
of a 32 years old pregnant woman, who suffered from
CH, and whose response to oxygen treatment was none,
who had a relief with intranasal lydocaine. As lydocaine
has minimal risk for the pregnant woman and fetus, due
to its low toxicity, it may be useful as a primary step in
acute treatment for CH pregnant patients.
(8)
And there is
also a case report describing remission of refractory chronic
CH after warfarin administration.
(9)
RELATIONS AMONG ALLODYNIA AND
CLUSTER HEADACHE
Regarding to the number of patients involved in each
of the main studies, accessing the association between
allodynia and CH, it is remarkable that there is no study
with a great number of patients. It is understandable when
one considers the low prevalence of cluster headache in
general population, affecting 0.01% to 0.9% of general
population, and representing 8% to 10% of headache
patients.
(10,11)
The number of patients with CH tested for
allodynia in all studies analyzed vary from as few as two
(12)
to as much as 41.
(3)
Considering the method of allodynia detection, one
study used a pin prick testing in two patients.
(12)
Another
study by Ashkenazi et al. used a test for brush allodynia
(BA) in ten male patients, which was performed using a
4 x 4 - inch gauze pad, applied repetitively at a rate of
two per second, to six skin areas bilaterally in trigeminal
and cervical distributions [frontal (V1), maxillary (V2),
mandibular (V3), posterior neck (C2,C3), shoulder (C5),
and inner forearm(C8)].
(13)
Ladda et al. used a
quantitative sensory test performed in 16 CH patients
and ten healthy ones. This method aimed to determine
the subjects perception and pain thresholds for thermal
(use of thermode) and mechanical (vibrations, pressure
pain thresholds, pin prick, von Frey hairs) stimuli.
(14)
Marmura et al. also used the same test for BA described
above.
(3)
The skin areas put to test by Ladda et al. were the
right and left cheeks and the back of right and left
hands.
(14)
Marmura et al., nevertheless, tested the forehead
(V1), posterior neck (C2/C3) and inner forearm (C8) on
Headache Medicine, v.2, n.1, p.33-35, jan./feb./mar. 2011 35
ALLODYNIA IN CLUSTER HEADACHE: A REVIEW
both sides.
(3)
Ashkenazi et al. approached six skin areas
bilaterally in trigeminal and cervical distributions [frontal
(V1), maxillary (V2), mandibular (V3), porterior neck
(C2,C3), shoulder (C5), and inner forearm (C8)].
(13)
In
one study, a series of cases, Riederer et al. did not mention
the skin areas put to test.
(12)
When an analysis approaches the gender distribution
through the studies, the males are the majority. Marmura
et al. encompass 22 males and 19 females in the study.
(3)
Ashkenazi et al. interestingly includes 10 males and no
females.
(13)
In the study by Riederer et al. males and
females comprise equal parts, but this particular study
presents only one man and one woman, making any
assumptions regarding gender unreliable.
(12)
Taking into account the types of CH, whether episodic
or chronic, the literature includes a short series of cases
with two episodic cluster headache (ECH) patients.
(14)
Another study made by Ashkenazi et al. included seven
ECH and three chronic cluster headache (CCH) patients.
(13)
And Marmura et al. describes 22 CCH and 19 ECH
patients.(3) The study made by Ladda et al. comprises 8
CCH and 8 ECH patients.
(14)
Moving towards the mean duration of disease,
Marmura et al. described a 14.1 years duration (12.3
for CCH group and 15.7 for ECH group), Ashkenazi et
al. reports a duration from 18 months to 38 years.
(3,13)
Riederer et al. in his series contemplates one patient with
a 13 year history of ECH and another patient with a 20
years history also of ECH.
(12)
As a final regard, the prevalence of allodynia in CH
patients according to Marmura et al. was 49%; and 40%
(28.6% for ECH patients, and 66.7% for CCH patients)
according to Ashkenazi et al.
(3,13)
Although reporting
allodynia during the attacks, both patients included by
Riederer et al. tested negative for allodynia.
(12)
Ladda et
al. found no allodynia in three patients examined during
the attacks, but a significant difference in pain thresholds.
(14)
CONCLUSION
Cluster Headache patients do not represent an
insignificant part of all headache patients, and thus this
clinical entity cannot go on being considered as a worthless
rare headache. The few authors devoted to this relevant
matter are mentioned repeatedly, making it evident the
need for more research and interest. The prevalence of
allodynia in CH is a theme which was neglected until recent
times, and the small number of studies demands more
attention, and finally more prevalence studies.
REFERENCES
1. Headache Classification Committee of the International
Headache Society. Classification and diagnostic criteria for
headache disorders, cranial neuralgias an facial pain.
Cephalalgia 1988; 8 (Suppl. 7):1-96.
2. Campbell WW. O sistema sensorial. In: Campbell WW. DeJong
O Exame Neurológico Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2007. p. 357-62.
3. Marmura MJ, Abbas M, Ashkenazi A. Dynamic mechanical (brush)
allodynia in cluster headache: a prevalence study in a tertiary
headache clinic. J Headache Pain. 2009;10(4):255-8.
4. Dodick DW, Rozen TD, Goadsby PJ, Silberstein SD. Cluster
Headache. Cephalalgia. 20(9):787-803.
5. Kudrow L. Cluster headache: diagnostic management. Headache
1979; 19(3):142-50.
6. Kunkel RS. Classification of cluster headache. Clinical features
of episodic cluster headache. In: Cluster Headache. A
comprehensive Course. New Orleans: American Association
for the Study of Headache; 1982; 8p.
7. Torelli P, ColognoD, Cademartiri C, Manzoni GC. Primary and
secundary chronic cluster headache: two separate entities?
Cephalalgia. 2000; 20(9):826-9.
8. Giraud P, Chauvet S. Cluster headache during pregnancy: case
report and literature review. Headache 2008; 49(1):136-9.
9. Souza JA, Filho PFM, Jevoux CC, Martins GF, Pitombo AB.
Remission of refractory chronic cluster headache after warfarin
administrations: case report. Arq Neuropsiquiatr. 2004;
62(4):1090-1
10. Volcy M, Tepper SJ. Cluster-like headache secondary to
idiopathic intracranial hypertension. Cephalalgia. 2006;
26(7):883-6.
11. Galvão ACR, Fortini I. Outras cefaléias primárias e cefaléias
secundárias. In: Teixeira MJ. DOR Manual para o Clínico São
Paulo: Atheneu; 2006. p. 343-356.
12. Riederer F, Slelkler HM, Sándor PS, Wöber C. Cutaneous
allodynia during cluster headache attacks. Cephalalgia. 2009;
29(7):796-8.
13. Ashkenazi A, Young WB. Dynamic mechanical Allodýnia in cluster
headache. Headache. 2004;44(10):1010-2.
14. Ladda J, Straube A, Förderreuther S, Krause P, Eggert T.
Quantitative sensory testing in cluster headache: increased
sensory thresholds. Cephalalgia. 2006;26(9):1043-50.
Comment in Cephalalgia. 2006;26(9):1041-2.
Correspondence
DrDr
DrDr
Dr
. Elder Machado L. Elder Machado L
. Elder Machado L. Elder Machado L
. Elder Machado L
eiteeite
eiteeite
eite
Rua Alcina da Mota Valença, nº 685 – Heliópolis
55296190 – Garanhuns, PE, Brasil
36 Headache Medicine, v. 2, n.1, p. 36, jan/feb/mar. 2011
INFORMATION FOR AUTHORS
Headache Medicine is the official scientific journal of the Brazilian
Headache Society (SBCe) and of the Latin American Headache
Association (ASOLAC). It is published quarterly for the purpose of
recording and disseminating scientific production and contributions
from the scientific community in the field of Headache. Submitted
papers considered by the editors to be suitable for publication in the
journal will be evaluated by at least two reviewers and then accepted
or rejected according to the peer review system
General RemarksGeneral Remarks
General RemarksGeneral Remarks
General Remarks
Manuscripts written in English are preferred, but those written
in Portuguese and Spanish are also accepted. The full title
must be written both in English and in Portuguese and the
running title is limited to a maximum of 50 characters. It is
obligatory to list the institution in which the work was carried
out as well as the authors' full names without abbreviations
and their present position and institution. Additionally,
information about any possible conflict of interest must be
disclosed. The full address of the corresponding author must
include telephone and fax numbers and e-mail. The manuscript
should be send as a Word file (double spacing, Arial or Times
New Roman, font 12) and must include abstracts in English
and in Portuguese, both of up to 250 words and three to five
descriptors (keywords and descritores).
ReferencesReferences
ReferencesReferences
References
Headache Medicine adopts the International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE) Uniform Requirements for
Manuscripts (URM), available at http://www.icmje.org/
manuscript_1prepare.html. The references must be numbered
as they appear on the text.
Illustrations and PicturesIllustrations and Pictures
Illustrations and PicturesIllustrations and Pictures
Illustrations and Pictures
CMYK pattern should be used for illustrations and pictures
and the minimum resolution is 300 dpi. Only TIFF, JPG or
CDR formats will be accepted. Figures should not be included
within the text, but sent as individual files.
TT
TT
T
ables: ables:
ables: ables:
ables: Tables
should be consecutively numbered using Arabic numerals and
cited in the text in numerical order. The tables should be as
DOC files, instead of image files.
Authors:Authors:
Authors:Authors:
Authors: ll designated
authors should qualify for authorship by sufficiently participating
in the work in order to accept responsible for its contents.
Authorship includes substantial contributions in: (a) conception
and design, analysis and interpretation of data; (b) drafting or
critical review of the intellectual content; (c) approval of the
final version. Further information on the criteria of authorship
credits can be obtained at www.icmje.org/ethical_1author.html.
Participation in the acquisition of funds, compilation of data
and general supervision of the research team does not justify
authorship. The number of authors should follow the guidelines
of the NML/NIH/Index Medicus which, depending on the type
of contribution, may be increased at the discretion of the editors.
Original ArticleOriginal Article
Original ArticleOriginal Article
Original Article
Maximum of 4000 words, including references. Title in English
and in Portuguese and running title up to 50 characters. Abstract
in English and Portuguese (up to 250 words each). Tables,
illustrations and photographs: up to 7. References: up to 30.
The text should be divided in sections: Introduction, Methods,
Results and Discussion.
View and Review ArticleView and Review Article
View and Review ArticleView and Review Article
View and Review Article
Maximum of 5000 words, including references. Abstract in
English and Portuguese (up to 250 words each). Tables,
Illustrations and Photographs: up to 7. References: up to 100.
Title in English and Portuguese and running title up to 50
characters. A Review Article should include a synthesis and
critical analysis of a relevant area and not only a chronological
description of publications. It should be written by a researcher
who has significant contributions in the specific area of
Headache Medicine.
Clinical CorrespondenceClinical Correspondence
Clinical CorrespondenceClinical Correspondence
Clinical Correspondence
Maximum of 1800 words (including references). Number of
authors: up to five. Abstract in English and Portuguese:
maximum of 250 words each. Tables, Illustrations and
Photographs: up to 2. References: up to 20. Title in English
and in Portuguese. Apart from the general remarks, it must
have at least one of the following characteristics: (a) be of
special interest to the scientific community; (b) be a rare case
which is particularly useful to demonstrate disease mechanisms
or diagnostic issues; (c) presents a new diagnostic method or
treatment modality. The text should be divided in Introduction,
Case Report and Discussion and must describe only well-
defined, non ambiguous, relevant findings.
Letter to the EditorLetter to the Editor
Letter to the EditorLetter to the Editor
Letter to the Editor
Maximum of 1000 words (including references). Number of
authors: up to four. References: up to seven. Title in English
and in Portuguese and running title up to 50 characters. The
format is free and apart from the General Remarks, it may
include a maximum of two illustrations (photographs, tables,
figures).
Thesis AbstractThesis Abstract
Thesis AbstractThesis Abstract
Thesis Abstract
Title in English and in Portuguese. Maximum of 500 words
(including keywords). One author and one mentor.
The Image SectionThe Image Section
The Image SectionThe Image Section
The Image Section
Maximum of 300 words (no Abstract). Title in English and
Portuguese. One or two images and up to three authors.
Maximum of three references.
Corresponding AddressCorresponding Address
Corresponding AddressCorresponding Address
Corresponding Address
Marcelo M. Valença (mmvalenca@yahoo.com.br)
Fernando Kowacs (fkowacs@yahoo.com)
Editors-in-chief
Trasso Comunicação Ltda.
Av. N. Sra. de Copacabana, 1059, sala 1201 - Copacabana
22060-001- Rio de Janeiro-RJ - Brazil