Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013 85
Experiência de ampliação de escuta com utilização
da ferramenta PRACTICE para atendimento
voluntário de paciente com dor orofacial crônica
Expansion of listening experience with use of the PRACTICE tool for
voluntary assistance of patients with chronic orofacial pain
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Justificativa e Objetivos:Justificativa e Objetivos:
Justificativa e Objetivos:Justificativa e Objetivos:
Justificativa e Objetivos: A dor crônica afeta aproxima-
damente 30% da população mundial e exige do médico
considerável perspicácia para efetivar um diagnóstico que
permita estabelecer relações entre as expressões dolorosas
e o que esteja por trás delas. Este trabalho objetiva descrever
a experiência prática de um grupo de estudantes de
medicina, no exercício da ampliação da escuta de pacientes
com dor crônica.
Método: Método:
Método: Método:
Método: Relato de experiência de
estudantes de medicina que foram inseridos numa equipe
multidisciplinar e atenderam, como voluntários, durante mais
de dois anos, pacientes com dor crônica, utilizando como
roteiro das entrevistas a ferramenta PRACTICE.
Resultados:Resultados:
Resultados:Resultados:
Resultados:
A ferramenta PRACTICE se mostrou útil para direcionar a
anamnese, que demandou maior tempo quando comparada
a uma anamnese sem sua utilização. Os estudantes se
consideraram mais preparados para abordar paciente com
dor crônica em sua futura prática profissional.
Conclusão:Conclusão:
Conclusão:Conclusão:
Conclusão:
A ampliação da escuta deve ser valorizada no atendimento
do paciente com dor crônica e deve ser estimulada ainda
no período de formação médica. A ferramenta PRACTICE
pode auxiliar a ampliação da escuta de paciente com dor
crônica.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave
::
::
: Dor crônica; Ferramenta PRACTICE;
Ampliação da escuta
Helen Conceição Moreira Camargos
1
, Karina Viana Brandão
1
, Luiz Paulo Nunes Ferreira Tomaz
1
,
Ariovaldo Alberto da Silva Júnior
2
, Paulo Henrique Faleiro dos Santos
3
1
Discente do 5º ano do curso de Medicina na Universidade José do Rosário Vellano
2
Docente, Doutor em Neurologia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
3
Psicólogo, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Camargos HC, Brandão KV, Tomaz LP, Silva Júnior AA, Santos PH. Experiência de ampliação de escuta com
utilização da ferramenta PRACTICE para atendimento voluntário de paciente com dor orofacial crônica.
Headache Medicine. 2013;4(4):85-90
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Background and Objectives:Background and Objectives:
Background and Objectives:Background and Objectives:
Background and Objectives: Chronic pain affects
approximately 30% of the world population and requires
considerable insight to the doctor to confirm a diagnosis which
would establish relations between expressions painful and what
is behind them. This paper aims to describe the experience of
a group of medical students, in enlargement exercise of listening
to patients with chronic pain.
Method: Method:
Method: Method:
Method: Experience report of
medical students who were entered in a multidisciplinary team
and met as volunteers for more than two years, patients with
chronic pain, using series of interviews as the tool PRACTICE.
RR
RR
R
esults:esults:
esults:esults:
esults: PRACTICE proved useful tool to guide the interview,
which required more time when compared to an interview
without their use. Students felt more prepared to address patient
with chronic pain in their future professional practice.
Conclusion:Conclusion:
Conclusion:Conclusion:
Conclusion: The expansion of listening should be considered
for treatment of patients with chronic pain and should be
encouraged even in the period of medical training. PRACTICE
The tool can assist the expansion of listening to patients with
chronic pain.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Chronic pain; PRACTICE tool; Expansion of
listening
86 Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Para a Associação Internacional de Estudo da Dor
(IASP),
(1)
a dor se constitui como uma experiência emo-
cional e sensitiva desagradável, associada com uma
lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos
de tal lesão.
A dor, enquanto sintoma ou até mesmo um sinal,
pode ter diversas causas, o que exige do médico consi-
derável perspicácia para efetivar um bom diagnóstico,
ou seja, um diagnóstico que permita estabelecer relações
entre as expressões dolorosas e o que esteja por trás
delas.
(2)
Estima-se que a dor crônica acometa aproxima-
damente 30% da população mundial, no entanto, sua
epidemiologia ainda é pouco descrita no Brasil.
(3)
Desta
forma, estudiosos do assunto já a consideram um
problema de saúde pública e ensejam maior dedicação
ao seu estudo.
(4)
Observa-se que alguns pacientes com dor crônica,
mesmo adequadamente tratados, com terapia farma-
cológica, não apresentam melhora ou mesmo a apre-
sentam de forma bastante modesta e que estes, em sua
maioria, apresentam sinais e sintomas que lhes conferem
uma demanda de caráter psicossocial. Diante desta
constatação, um grupo de estudantes de medicina, da
Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas-Belo
Horizonte), sob a orientação do professor neurologista
Dr. Ariovaldo da Silva Júnior, decidiram lançar mão da
pesquisa científica no intuito de compreender o mister
que envolve tal fato, até então pouco abordado na
literatura médica, embora já relatado em outras áreas
da saúde.
Sabe-se que o subjetivo, o impalpável, só pode ser
compreendido se soubermos ouvir não apenas no sentido
estrito da palavra, mas ouvir dando significados ao que
se ouve e ao que se vê, pois, é dito que "o corpo fala",
talvez até mais do que é expresso verbalmente.
"Se o corpo não falasse a palavra não teria sentido.
Seria como a fala de um robô, absolutamente
sem expressão."
Gaiarsa
(5)
Para Neubern
(2)
o corpo é assemelhado, pelo mé-
dico, a um laboratório, onde as influências indesejáveis
e subjetivas, capazes de contaminar a validade do saber
médico, são afastadas ou pretensamente controladas.
Corroborando com o autor Stengers,
(6)
que afirmou que
a fala, a emoção, a história e o símbolo ligados à dor
são convertidos (pelo médico) em sinais secundários ou
apenas ignorados em sua complexidade.
Prova da dificuldade da classe médica em saber
ouvir o paciente são os dados de um estudo recente,
publicado no The Journal of the American Medical
Association,
(7)
constatando que 72% dos médicos ameri-
canos interrompem a fala do paciente depois de apenas
23 segundos, em média.
Cientes da responsabilidade dos profissionais da
saúde em abordar adequadamente o paciente portador
de dor crônica, este trabalho propõe-se a descrever a
experiência de um grupo de estudantes de medicina,
inseridos num contexto multidisciplinar, exercitando a
ampliação da escuta direcionada pela ferramenta
PRACTICE.
MÉTODO
Estruturação e dinâmica do Projeto AmbDofEstruturação e dinâmica do Projeto AmbDof
Estruturação e dinâmica do Projeto AmbDofEstruturação e dinâmica do Projeto AmbDof
Estruturação e dinâmica do Projeto AmbDof
De março de 2010 a julho de 2012, uma equipe
multidisciplinar constituída por neurologista, dentistas,
psicólogo, assistente social e acadêmicos de medicina
atenderam, voluntariamente, em ambulatórios, pacientes
com algum tipo de dor crônica, em sua maioria porta-
dores de dor orofacial, formando assim um ambulatório
de estudo da dor (AmbDof). Os atendimentos foram
realizados por meio de encontros mensais no Centro de
Especialização e Treinamento da Odontologia (Cetro-
Unidade Belo Horizonte, Belo Horizonte/MG).
Inicialmente foi realizada entrevista semiestruturada
que investigava semiologicamente o quadro doloroso
do paciente, bem como a presença de hábitos para-
funcionais, como apertamento mandibular, bruxismo,
entre outros. Posteriormente, dentistas realizaram a
palpação muscular pericraniana e cervical destes paci-
entes, procurando pontos álgicos (trigger points). Prosse-
guia-se com avaliação neurológica, por meio da qual
eram adequados os diagnósticos segundo os critérios
da ICDH-2004. Após esta avaliação multiprofissional, a
equipe selecionava casos nos quais percebiam maior
dificuldade de abordagem ou mesmo sinais de demanda
psicossocial, encaminhando-os para uma avaliação mais
ampla, realizada por acadêmicos de medicina, que
efetivaram a escuta destes pacientes fazendo uso da
ferramenta PRACTICE (descrita a seguir), sob a supervisão
de psicólogo e/ou uma assistente social com formação
em psicoterapia.
CAMARGOS HC, BRANDÃO KV, TOMAZ LP, SILVA JÚNIOR AA, SANTOS PH
Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013 87
EXPERIÊNCIA DE AMPLIAÇÃO DE ESCUTA COM UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA PRACTICE PARA
ATENDIMENTO VOLUNTÁRIO DE PACIENTE COM DOR OROFACIAL CRÔNICA
Comunicação: Comunicação:
Comunicação: Comunicação:
Comunicação: Como acontecem as diversas
formas de comunicação entre as pessoas.
TT
TT
T
empo no ciclo de vida:empo no ciclo de vida:
empo no ciclo de vida:empo no ciclo de vida:
empo no ciclo de vida: Correlaciona o proble-
ma com as dificuldades e as tarefas esperadas dentro
das diversas fases do ciclo de vida.
Doenças na família (passadas e presenteDoenças na família (passadas e presente
Doenças na família (passadas e presenteDoenças na família (passadas e presente
Doenças na família (passadas e presente
ss
ss
s
):):
):):
):
Resgata a morbidade familiar e o modo de enfrentamento
nas situações pregressas. Trabalha com a longitudinalidade
do cuidado e a importância do suporte familiar.
Enfrentando o estresseEnfrentando o estresse
Enfrentando o estresseEnfrentando o estresse
Enfrentando o estresse: Como a pessoa/família
lida com o estresse. A equipe parte das experiências ante-
riores e analisa a atual. Identifica fontes de recursos
internos, explora alternativas de enfrentamento se reque-
ridas e interfere se a crise estiver fora de controle.
Ecologia (ou meio ambiente)Ecologia (ou meio ambiente)
Ecologia (ou meio ambiente)Ecologia (ou meio ambiente)
Ecologia (ou meio ambiente): Identifica o tipo
de sustentação familiar e como podem ser usados os
recursos disponíveis. Representada por meio do instru-
mento "ecomapa", um diagrama das relações entre a
família e a comunidade e ajuda a avaliar os apoios e
suportes disponíveis e sua utilização pela família.
Deste modo, o PRACTICE objetivou direcionar a
ampliação da escuta dos pacientes, o que foi facilitado
pelos profissionais da área psicossocial que
oportunamente interviam na entrevista, a fim de pontuar
situações nas quais percebiam necessidade de maior
esclarecimento e aprofundamento.
Critérios utilizados para finalizar aCritérios utilizados para finalizar a
Critérios utilizados para finalizar aCritérios utilizados para finalizar a
Critérios utilizados para finalizar a
experiênciaexperiência
experiênciaexperiência
experiência
Após cada dia de atendimento, os alunos, conjun-
tamente com o psicólogo e com a assistente social, faziam
discussões crítico-reflexivas acerca dos casos atendidos,
pontuando as visões de cada um sobre o caso, bem como
as dificuldades encontradas na exploração da(s) queixa(s).
Muitas vezes, os alunos foram também submetidos à escuta
ampliada, no contexto de trazer à tona suas questões
pessoais que se manifestavam direta ou indiretamente em
sua condução das anamneses e/ou em suas reações frente
aos conteúdos apresentados pelos pacientes.
Com o decorrer do tempo, visto que a experiência
adquirida pelos alunos já os deixavam confortáveis o
suficiente para abordar o paciente de maneira mais
integral, os profissionais envolvidos e os estudantes, em
comum acordo, decidiram finalizar o período de
experiência clínica e compartilhá-la com a comunidade
científica. Ao refletir sobre a riqueza do aprendizado
adquirido, pensou-se na melhor maneira de transmiti-lo,
a fim de incentivar ações semelhantes.
A ferramenta PRACTICEA ferramenta PRACTICE
A ferramenta PRACTICEA ferramenta PRACTICE
A ferramenta PRACTICE
O PRACTICE8 é um instrumento que funciona como
um roteiro para obtenção de informações, focado na
resolução de problemas. Cada letra significa uma área
de investigação. Todos os acadêmicos envolvidos no
Projeto AmbDof foram previamente familiarizados com
a ferramenta e treinados para sua utilização como
instrumento direcionador da anamnese.
O PRACTICE, portanto, nada mais é senão um
mnemônico cujas letras, derivadas do inglês, significam:
Para Gusso et al.
(8)
o PRACTICE geralmente é usado
em conferências familiares, porém, no contexto deste
estudo, a ferramenta foi utilizada como direcionador na
entrevista de pacientes, que, em sua maioria, partici-
pavam da consulta desacompanhados. Desta forma
abordou-se em cada atendimento:
Problema:Problema:
Problema:Problema:
Problema: Como o paciente percebe, define e
enfrenta o problema atual (por exemplo, sua dor).
PP
PP
P
apéis e estrutura:apéis e estrutura:
apéis e estrutura:apéis e estrutura:
apéis e estrutura: Aprofunda aspectos do
desempenho dos papéis de cada um dos familiares e
como eles evoluem a partir dos seus posicionamentos.
Afeto:Afeto:
Afeto:Afeto:
Afeto: Como se estabelecem as trocas de afeto entre
os membros e como esta troca reflete e interfere no
problema apresentado.
88 Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013
Delineamento do tipo de estudo paraDelineamento do tipo de estudo para
Delineamento do tipo de estudo paraDelineamento do tipo de estudo para
Delineamento do tipo de estudo para
divulgação dos resultadosdivulgação dos resultados
divulgação dos resultadosdivulgação dos resultados
divulgação dos resultados
A natureza deste objeto impôs a adoção dos preceitos
metodológicos do estudo qualitativo que, de acordo com
Pope & Mays,
(9)
está relacionado aos significados que as
pessoas atribuem às experiências do mundo social e como
o compreendem. Tenta interpretar os fenômenos sociais
em termos dos sentidos que as pessoas lhes dão.
Diferente da pesquisa quantitativa, os métodos
qualitativos consideram a comunicação do pesquisador
em campo como parte explícita da produção de
conhecimento, em vez de simplesmente encará-la com
uma variável a interferir no processo. A subjetividade do
pesquisador, bem como dos sujeitos do estudo, tornam-
se parte do processo de pesquisa (Flick).
(10)
Além disso,
as pesquisas qualitativas fazem emergir aspectos subje-
tivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo
conscientes, de maneira espontânea. Estes aspectos nos
levaram a usar como instrumento de coleta de dados a
entrevista semiestruturada focalizada, uma vez que ela
permite obter dados, opiniões sobre tema bem definido
e explicitamente delimitado.
(11)
No total foram quatro
estudantes que permaneceram até o final do Projeto e
concordaram em relatar suas experiências, procedendo
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Escla-
recido (TCLE), de acordo com as determinações da
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(Brasil, 1996), a qual discorre sobre o respeito devido à
dignidade humana. Neste trabalho, fez-se cumprir ainda
o direito do anonimato, omitindo-se os nomes dos entre-
vistados e foram
descritos apenas seus relatos.
Os dados das entrevistas foram organizados de acordo
com os pressupostos de pesquisa qualitativa apontados por
Minayo
(12)
: leituras e releituras de cada entrevista a fim
familiarizar com o conteúdo expresso e, assim, estabelecer
uma compreensão dos dados coletados, confirmando ou
não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões
formuladas e ampliar o conhecimento sobre o assunto
pesquisado. Procedeu-se então o pinçamento das unidades
de registro, relendo-as quantas vezes se fizeram necessárias
no intuito de apreender o sentido latente e expresso nelas
para uni-las por convergência e formar as unidades
temáticas de análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A entrevista com os acadêmicos, que participaram
do projeto AmDof, constou das seguintes questões:
1) Descreva como foi a sua experiência de atendi-
mento aos pacientes no ambulatório do CETRO. O que
mais lhe chamou atenção nesse processo?
2) O que é ampliação de escuta para você?
3) Sua experiência no atendimento ao paciente com
dor crônica, utilizando o PRACTICE, foi diferente em
algum aspecto quando comparado à sua anamnese em
outros ambulatórios nos quais não a utilizou? Se sim, em
que diferiu?
4) Você acredita que esta prática da ampliação da
escuta auxiliará em sua futura prática profissional? Se
sim, como?
A análise compreensiva permitiu localizar na fala
dos entrevistados as unidades de registro que Minayo
(12)
diz referir-se aos elementos obtidos através de decom-
posição do conjunto da mensagem.
As unidades de registro foram obtidas por meio do
pinçamento central das respostas de cada pergunta e
foram agrupadas de acordo com a similaridade de seus
conteúdos, que receberam um título abrangente para
caracterizar a ideia geral das respostas.
Os estudantes demonstraram, por meio de suas
falas, que a experiência de atendimento aos pacientes
no ambulatório de dor foi positiva, o que lhes permitiu
ampliar a escuta, compreender o paciente em sua
totalidade e os ajudaram a criar uma visão crítica sobre
a anamnese tradicional:
1) Aprender a ouvir o outro:
"Foi uma experiência ímpar, na qual pude dedicar meu
tempo para ouvir, mas ouvir de verdade."
"Chamou-me atenção o quanto que as pessoas
precisam falar, expressar seus sentimentos, e como que
somos carentes do ouvir em nossa sociedade."
2) Compreender o paciente em sua totalidade:
"Me permitiu ver o paciente como um ser humano
único, fragilizado por sua dor, inserido em um contexto
biopsicossocial, e com uma história de vida impregnada
de valores culturais, espirituais e sociais.”
"Acho que o que mais me chamou atenção foi como
cada um de nós enfrenta ou simplesmente vive e convive
com a dor de maneiras diferentes."
3) Questionar a anamnese tradicional
"O que mais me chamou atenção foi a falta de
sensibilidade e a estruturação desnecessária que durante
a formação médica adquirimos."
Sabe-se que a medicina foi fundamentada no
estudo dos componentes biológicos do corpo para
CAMARGOS HC, BRANDÃO KV, TOMAZ LP, SILVA JÚNIOR AA, SANTOS PH
Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013 89
construir suas teorias, elaborar seus diagnósticos e
determinar seus tratamentos.
(13)
Assim, o século XIX foi
marcado por um processo de rápido desenvolvimento
do saber, no qual houve uma supervalorização do
método científico. Isso, na medicina, implicou em incon-
testáveis avanços, mas trouxe consigo certo esquecimento
de seu lado humanístico que agora se faz ressurgir. Para
Cassel,
(14)
a tarefa da medicina no século XXI será a
descoberta da pessoa, descobrindo as origens da doença
e do sofrimento e com este conhecimento desenvolver
métodos para o alívio da dor, e, ao mesmo tempo,
revelar o poder da própria pessoa.
Ao serem questionados quanto ao conceito de
ampliação de escuta, os estudantes a definiram como:
saber ouvir em profundidade e considerar os aspectos
biopsicossociais do paciente.
1) Ouvir em profundidade
"É ir além do que o paciente nos conta. É ouvir e
saber explorar em profundidade o que é contado."
"Enxergar através das entrelinhas do discurso verbal
e não verbal do paciente."
2) Considerar aspectos biopsicossociais do paciente
"É ter uma visão holística, não apenas ouvir a
queixa física do paciente e sim conhecê-lo melhor e
ver que por trás de um sintoma há uma realidade
psíquica e espiritual individualizada, que interage com
seu meio ambiente, sociedade e cultura da sociedade
na qual está inserido."
"É conseguir atender o paciente na sua integralidade,
observando as peculiaridades individuais de cada um."
De modo geral, os estudantes consideraram a
ferramenta PRACTICE como útil e facilitadora do processo
de ampliação da escuta, embora aumente o tempo da
consulta:
"Com o PRACTICE ao alcance dos olhos durante a
anamnese eu me sentia mais segura e não esquecia de
abordar os aspectos biopsicossociais do paciente, o que
nem sempre fazemos numa consulta comum."
"Observei que o tempo de atendimento em uma
consulta, utilizando o PRACTICE, é maior, porém o
paciente se sente acolhido e acredita mais no tratamento."
"A ferramenta PRACTICE em minha opinião possi-
bilita conectar informações que poderiam passar des-
percebidas, contribuindo para o diagnóstico e trata-
mento. Utilizá-lo é de suma importância para garantir
qualidade de vida e em última análise ter a sensibilidade
de intervir no fator complicador e perpetuador da
referida dor."
"Aprofundamos nos aspectos psicossociais em
detrimento dos aspectos puramente biológicos, tentando
ao fim correlacioná-los."
Os acadêmicos que participaram do projeto consi-
deraram que a experiência da ampliação da escuta será
um fator diferencial em suas formações e que certamente
os auxiliará na futura prática profissional e apontaram
como aspectos positivos: maior segurança na abordagem
do paciente, redução do número de consultas, diferen-
ciação no mercado de trabalho e facilitação do diag-
nóstico etiológico da dor. Exemplos:
1) Maior segurança na abordagem do paciente:
"Sinto-me bem mais segura em abordar o paciente e
sempre reservo um tempinho da anamnese para explorar
estas questões de como o paciente lida com seu problema,
tento encontrar coincidências entre suas queixas e sua
história de vida, seus problemas pessoais...(...) o vínculo
que formamos é muito maior."
2) Redução do número de consultas
"Ao desprender um tempo maior na consulta, permite
compreender o contexto em que o paciente está inserido,
podendo desta forma realizar a melhor conduta, evitando
assim que o paciente retorne várias vezes ao atendimento."
3) Diferencial no mercado de trabalho
"A familiarização com a ampliação de escuta será
com certeza um diferencial importante para o atendimento
clínico profissional. (...) tendo em mente, que a medicina
também é uma arte, saber conectar, a sensibilidade da
escuta atenta ao paciente (...); fica claro que ter participado
do projeto contribuiu de sobremaneira para formação de
uma opinião sólida sobre a necessidade de médicos que
tenham este perfil, já que atualmente são escassos."
4) Facilitação do diagnóstico etiológico da dor
"Se aprendermos a deixar o paciente falar, ele nos
dará toda a informação necessária, seja por meio do
discurso ou por linguagem corporal. Uma vez feito isso,
saberemos o que perguntar e identificaremos de forma
mais fácil o "gatilho" da dor do paciente e não apenas
tratar a consequência da mesma, mas sim a causa."
A integralidade é um dos princípios doutrinários do
Sistema Único de Saúde (SUS), instituído pela Constituição
desde 1988. E embora, desde então, o Brasil tenha se
esforçado por fazê-lo cumprir, ainda há muito que se
fazer para que a pessoa doente não seja vista sob a
ótica reducionista das subespecialidades. Para se alcançar
uma visão completa do sujeito adoecido e assim,
EXPERIÊNCIA DE AMPLIAÇÃO DE ESCUTA COM UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA PRACTICE PARA
ATENDIMENTO VOLUNTÁRIO DE PACIENTE COM DOR OROFACIAL CRÔNICA
90 Headache Medicine, v.4, n.4, p.85-90, Oct./Nov./Dec. 2013
compreender a causa dessa(s) doença(s) o médico
necessita de habilidades de comunicação para fazer uma
leitura global do contexto daquela doença, considerando
o que o paciente expressa, verbalmente ou não.
Sobre isso, Helman (1994) apud Caprara & Franco
(15)
trazem que, em se tratando dos padrões de comunicação
verbal e não verbal, assim como a variedade de padrões
comunicacionais, são muitos os problemas que surgem
na relação médico-paciente destacando-se: a dificuldade
de compreensão, por parte do médico, das palavras
utilizadas pelo paciente para expressar a dor, o sofrimento;
a falta ou a dificuldade de transmitir informações
adequadas ao paciente; a dificuldade do paciente na
adesão ao tratamento. Desta forma, o PRACTICE se mostra
como um facilitador do processo de aprofundamento da
escuta, mas não exclui a necessidade de um treinamento
do profissional para a captação da linguagem corporal
do paciente, o que permitirá uma melhor compreensão
do problema apresentado.
CONCLUSÃO
Percebe-se surgir um novo cenário da medicina, no
qual o paciente é reconhecido como principal instrumento
de cura, exercendo papel fundamental no sucesso do
seu próprio tratamento. Desta forma, vê-se a construção
de uma nova relação médico-paciente, no qual o médico
se colocará cada vez mais como facilitador ou orientador
do processo de autocura, ombreando com o paciente a
responsabilidade de buscar sempre a origem e o trata-
mento para sua doença. Assim sendo, saber ouvir e
interpretar sua linguagem verbal e corporal, bem como
compreender o contexto social, cultural e ambiental no
qual se insere o sujeito adoecido, se faz de suma
importância para se exercer a medicina do século XXI.
A integralidade do cuidado parece ser viabilizada
pelo atendimento conjunto multiprofissional. A ferramenta
PRACTICE somada à orientação de profissionais da área
psicossocial se mostrou como facilitadora do processo
de ampliação da escuta.
Diante de tais fatos, conclui-se que a escuta
ampliada deve ser valorizada no atendimento do paciente
com dor crônica e certamente também naqueles com
outras afecções à saúde. Sua estimulação, ainda no
período de formação médica, se mostra um diferencial
importante, que contribui para maior segurança e
humanização no atendimento, interferindo positivamente
na relação médico-paciente e facilitando assim o cuidado
integral ao sujeito adoecido.
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Helen Conceição Moreira CamargoHelen Conceição Moreira Camargo
Helen Conceição Moreira CamargoHelen Conceição Moreira Camargo
Helen Conceição Moreira Camargo
Núcleo de Pesquisa UNIFENAS
Rua Líbano, 66 – Bairro Itapoã
31710-030 – Belo Horizonte, MG
Tel.:(31)3497-4300 - email: helencamargos@oi.com.br
CAMARGOS HC, BRANDÃO KV, TOMAZ LP, SILVA JÚNIOR AA, SANTOS PH
Received: December 2, 2013
Accepted: December 20, 2013
Headache Medicine, v.4, n.4, p.91-95, Oct./Nov./Dec. 2013 91
Aspectos socioeconômicos da cefaleia em idosos
Socio-economic aspects of headache in the elderly
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
IntroduçãoIntrodução
IntroduçãoIntrodução
Introdução: Dentre os comprometimentos da saúde de
idosos, a cefaleia se apresenta como a principal queixa
motivadora da busca por socorro médico, cuja qualidade
depende das condições sociais.
ObjetivoObjetivo
ObjetivoObjetivo
Objetivo: Delinear o cenário
socioeconômico da cefaleia em idosos, por meio de uma
revisão crítica.
Método Método
Método Método
Método: Procedeu-se à revisão crítica de
artigos publicados entre 2000 e 2013, independente de
idioma, disponíveis com texto integral nas bases de dados
PubMed, Scopus, EBSCO Information Service, Scientific
Electronic Library on line (Scielo) e Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde (LiLacs), tendo por tema
aspectos socioeconômicos de pacientes com cefaleia, inves-
tigados em estudos de base populacional ou multicêntricos.
ResultadosResultados
ResultadosResultados
Resultados: Foram localizados 59 artigos, dos quais 40
foram excluídos por título e resumo e 12 por não detalharem
a análise socioeconômica de pacientes com cefaleia. Sete
artigos compuseram a revisão, com os quais se identificou
que a menor condição econômica inviabiliza o acesso dos
idosos a serviços de saúde especializados no diagnóstico e
no tratamento de cefaleia, seja por busca espontânea seja
por encaminhamento.
Considerações finaisConsiderações finais
Considerações finaisConsiderações finais
Considerações finais: Os fatores
dificultadores do acesso ao diagnóstico e ao
tt
tt
tratamento
adequado da cefaleia por idosos são seu baixo nível
socioeconômico e a falta de treinamento específico dos
profissionais de saúde. A inclusão da cefaleia em idosos nos
cursos de formação médica, inicial e continuada, é necessária
e particularmente importante tendo em vista o envelhecimento
da população.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave
::
::
: Epidemiologia; Envelhecimento; Cefaleia;
Fatores socioeconômicos
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Introduction:Introduction:
Introduction:Introduction:
Introduction: Among the health impairments of the elderly,
headache is the main complaint for seeking medical help,
and its quality depends on social conditions.
Objective:Objective:
Objective:Objective:
Objective: To
delineate the socioeconomic scenario of headache in elderly,
through a critical review.
Method:Method:
Method:Method:
Method: We carried out a critical
review of articles published between 2000 and 2013,
independently of idiom, with full text available on PubMed,
Scopus, EBSCO Information Services, Scientific Electronic
Library Online (SciELO) and Latin American Literature and
Caribbean Health Sciences (LILACS) databases. These articles
should have socioeconomic aspects of patients with headache
as theme, investigated in population-based or multicenter
studies.
RR
RR
R
esults:esults:
esults:esults:
esults: We localized 59 articles, among which 40
were excluded by title and abstract and 12 because they did
not detail socioeconomic analysis of patients with headache.
Seven articles were included in the review. With them it is
identified that the lower economic status impede access of
elderly to specialized health services in the diagnosis and
treatment of headache, either by spontaneous search or
through referral.
Final considerationsFinal considerations
Final considerationsFinal considerations
Final considerations: The hindering factors
for the access of elderly to diagnosis and appropriate treatment
of headache were their low socioeconomic status and the lack
of specific training of health professionals. The inclusion of
headache of elderly in initial and continuing medical education
is necessary and particularly important due to population
aging.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Epidemiology; Aging; Headache; Socioeconomic
factors
Valéria Moura Moreira Leite
1
, Katia Magdala Lima Barreto
1
, Marcelo Moraes Valença
2
1
Departamento de Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
2
Departamento de Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
Leite VM, Barreto KM, Valença MM. Aspectos socioeconômicos da cefaleia em idosos.
Headache Medicine. 2013;4(4):91-5
92 Headache Medicine, v.4, n.4, p.91-95, Oct./Nov./Dec. 2013
INTRODUÇÃO
Em decorrência da redução da taxa de fecundidade
e da melhoria das condições de vida observa-se
envelhecimento populacional. Esse fenômeno caracteriza-
se pela transição demográfica, mas também pela
transição epidemiológica, as quais têm exigido modifi-
cações sociais e nos serviços de saúde para atenção à
população idosa.
(1)
Ambas as transições requerem a preocupação de
criar as melhores condições para um envelhecimento
ativo, quebrando o paradigma de idosos enquanto
pessoas dependentes.
Para tanto, é imprescindível assegurar aos idosos a
manutenção da capacidade funcional em todos os
aspectos – mental, físico, social e econômico – ou seja,
o pleno gozo de sua cidadania.
(2,3)
O envelhecimento ativo, saudável, depende da
interação multidimensional de vários fatores, dentre
os quais a saúde. Dentre os comprometimentos da
saúde de idosos, a cefaleia se apresenta como a
principal queixa motivadora da busca por socorro
médico, seja primária, seja secundária, já que a
idade atua como fator de risco independente para
sua instalação.
(4,5)
Estudos nacionais e internacionais têm sido desen-
volvidos priorizando diagnóstico, tratamento e prevenção
de crises de cefaleia, mas são escassas as pesquisas que
abordam os aspectos sociais e econômicos da doença,
ou seja, que admitem o paciente como foco de atenção.
Também são numerosos os estudos sobre capacidade
funcional de idosos, mas poucos têm base populacional
e um número ainda menor associa capacidade funcional
e cefaleia nessa população.
Duas pesquisas de base populacional foram
desenvolvidas na região rural da Itália e se constituem
em estudos de referência. Camarda e Monastero,
(6)
em
2003, em população de 1.031 idosos, identificaram
prevalência de 22% de cefaleia. Prencipe et al.,
(7)
em
2001, investigaram a prevalência de cefaleia no último
ano em 1.147 idosos, por meio de entrevista porta-a-
porta e exame neurológico. Relataram prevalência de
72,6% e detalharam que 44,5% deles apresentavam
cefaleia associada à incapacidade para as atividades
de vida diária (AVD), embora não as tenham
detalhado.
Além dessa escassez de informações, outro
aspecto relevante da cefaleia em idosos diz respeito à
dificuldade de diagnóstico preciso dessa enfermidade,
LEITE VM, BARRETO KM, VALENÇA MM
bem como à associação direta do poder econômico
do idoso com seu atendimento por especialista em
cefaleia.
Identifica-se a necessidade de investigar o conhe-
cimento sobre o contexto em que se insere o idoso com
cefaleia, contemplando o impacto da doença sobre
seu envelhecimento e a realidade do suporte a que tem
acesso. O objetivo deste artigo foi delinear o cenário
socioeconômico da cefaleia em idosos por meio de
uma revisão crítica.
MÉTODO
Procedeu-se à revisão crítica buscando nas bases
de dados PubMed, Scopus, EBSCO Information
Service, Scientific Electronic Library on line (Scielo) e
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LiLacs), os descritores "aging", "eld*",
"cephalalgia", "headache", "socioeconomic*" e
"economic status", para localização de artigos
publicados entre 2000 e 2013, independente de
idioma, disponíveis com texto integral, que tivessem
como tema aspectos socioeconômicos de pacientes
com cefaleia, investigados em estudos de base
populacional ou multicêntricos.
Dois juízes fizeram a seleção dos artigos inicialmente
pelo título e pelo resumo, para, em uma segunda etapa,
por meio da leitura do texto completo, selecionar os
artigos que integraram a revisão.
RESULTADOS
Foram localizados 59 artigos, submetidos à análise
crítica por título e resumo, do que resultou a exclusão de
40 artigos. Dentre os 19 artigos submetidos à crítica pela
leitura do texto completo, 12 foram excluídos por não
detalharem a análise socioeconômica de pacientes com
cefaleia, do que resultou sete artigos comporem esta
revisão, conforme se observa no fluxograma (Figura 1)
e no Quadro 1.
Dos sete artigos, três apontaram a influência do status
socioeconômico sobre a cefaleia.
(8-10)
Detalhando essa influência, identificou-se a
contextualização de que a menor condição econômica
inviabiliza o acesso a serviços de saúde especializados
no diagnóstico e no tratamento da cefaleia,
(10,11)
aspecto considerado relevante para maior eficácia e
menor impacto social e econômico dessa mor-
bidade.
(7,11-13)
Headache Medicine, v.4, n.4, p.91-95, Oct./Nov./Dec. 2013 93
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA CEFALEIA EM IDOSOS
Figura 1. Fluxograma de definição dos artigos que integraram a revisão crítica
94 Headache Medicine, v.4, n.4, p.91-95, Oct./Nov./Dec. 2013
DISCUSSÃO
O conteúdo dos artigos permitiu construir um
raciocínio lógico quanto à importância da associação
entre aspectos socioeconômicos e cefaleia em idosos,
tema raramente abordado.
A maioria dos estudos sobre cefaleia tem como foco
de atenção a doença, suas características epidemio-
lógicas e a adequação das condutas diagnósticas e
terapêuticas, voltando-se pouco para o paciente e para
as condições de acesso ao cuidado médico.
Dessa forma, buscou-se, inicialmente, identificar
estudos que dessem conta das desvantagens socio-
econômicas que a cefaleia pode causar, tema que se
identificou controverso. Estudo realizado em hospital
indiano, com o objetivo de identificar fatores socio-
demográficos que comprometem a qualidade de vida
de pacientes com cefaleia entre 18 e 60 anos de idade,
constatou que houve prejuízo do domínio social.
(13)
Quando se considera tal prejuízo em idosos com cefaleia,
depreende-se outro aspecto não valorizado pelos
autores, uma vez que a restrição social prejudica também
a vida funcional, hoje considerada um paradigma de
saúde para o idoso.
Não se pode mais considerar saudável exclusi-
vamente o idoso sem doença, posto que o envelhe-
cimento se associa à predisposição do comprometimento
de múltiplas funções, favorecendo o isolamento social
do idoso, dentre outros aspectos.
(2)
Daí decorre a
pertinência de valorizar a associação de cefaleia com
redução da qualidade de vida pelo comprometimento
do domínio social. Significa dizer que o idoso com cefaleia
estará exposto a outros prejuízos funcionais.
Adicionalmente, se tem demonstrado que a cefaleia
tem impacto também em aspectos socioeconômicos.
Estudo realizado com 22.718 adultos e idosos com
cefaleia, na Noruega, comprovou que o baixo status
socioeconômico tem associação significativa com a
frequência da cefaleia mais que com o tipo, fato que,
na opinião dos autores, pode estar relacionado com a
acurácia diagnóstica.
(9)
A ponderação dos autores da relação entre baixo
status socioeconômico e acurácia diagnóstica da cefaleia
é de fundamental importância para idosos, já que sua
condição econômica dificulta o acesso a serviços
especializados, do que decorrem frequentes consultas
ambulatoriais como também atendimentos em serviços
de emergência, aumentando os custos sociais e econô-
micos derivados da cefaleia.
(9,10)
Admitindo o modelo causal social, o baixo nível
socioeconômico pode desencadear outros prejuízos, tais
como aumento do estresse e alimentação inadequada,
(9)
bem como redução de atividades instrumentais de vida
diária, particularmente o lazer, que é de fundamental
importância para o bem-estar dos idosos, ou seja, para
um envelhecimento ativo. Admitindo o aumento mundial
da população idosa, esses achados demandam atenção
especial. Não se trata apenas de considerar a cefaleia
como doença a ser investigada em idosos, mas valorizar
suas consequências em aspectos não diretamente
relacionados à suas características clínicas. Para os idosos
com cefaleia, especialmente no Brasil, parece pertinente
afirmar que a associação da doença com o status
socioeconômico está a merecer maior atenção.
Reforçando a relação entre status socioeconômico,
qualidade de vida e cefaleia, pesquisa de base
populacional incluindo 31.865 pacientes dinamarqueses,
entre 20 e 71 anos de idade, demonstrou que o baixo
nível educacional contribui para baixo nível socioeco-
nômico, comprometendo também a qualidade de vida.
Os autores detalham essa relação ponderando que
menor escolarização dificulta melhores oportunidades de
emprego, do que decorre redução do nível socioeco-
nômico, portanto redução de resposta aos estímulos
sociais e ambientais e de opções de estilo de vida.
(8)
Observa-se que esse estudo apoia a afirmação de
que a cefaleia compromete a qualidade do envelhe-
cimento, período de vida que se associa à redução da
renda pessoal pelo afastamento das atividades profis-
sionais formais, o que contribui para a restrição social
do ambiente de trabalho, mas também da comunidade
e da família. Na medida em que a renda pessoal é
reduzida, diminuem também a autonomia e a inde-
pendência para escolhas sociais.
(10)
A redução das escolhas não se restringe, entretanto,
aos aspectos sociais, como ressaltado, mas reduz também
o acesso a serviços de saúde especializados, o qual tem
sido enfatizado na literatura sobre cefaleia, como a
pesquisa realizada em uma população de 1.188
indivíduos com 63 a 75 anos de idade, que concluiu
que a conduta diagnóstica e terapêutica mais eficaz para
cefaleia é feita por especialistas, quando comparada
àquela realizada por não especialistas.
(12)
Adicional-
mente, pesquisa incluindo 833 idosos a partir dos 65
anos de idade demonstrou que as consultas com espe-
cialista são ainda mais importantes nos idosos com
cefaleias discretas, dadas as dificuldades diagnósticas
pela particularidade dos sintomas.
(7)
LEITE VM, BARRETO KM, VALENÇA MM
Headache Medicine, v.4, n.4, p.91-95, Oct./Nov./Dec. 2013 95
Diante dessas evidências, o baixo status socio-
econômico adquire maior importância, porque a impos-
sibilidade de atendimento especializado em cefaleia
somada à dificuldade diagnóstica potencializam todos
os prejuízos de vida funcional dos idosos, impossi-
bilitando ainda mais o envelhecimento ativo.
O contexto de status socioeconômico e consulta a
especialista pode ter, na adesão a planos privados de
saúde, uma solução ou um fator facilitador. No Brasil,
dada a vigência do Sistema Único de Saúde, essa opção
é quase que a única para tais consultas. Esse aspecto foi
objeto de estudo de base populacional realizado nos
Estados Unidos. Dentre 6.814 consultas de pacientes com
cefaleia a serviços ambulatoriais, emergenciais e hos-
pitalares, os atendimentos realizados por especialista em
cefaleia resultaram em diagnósticos mais precisos, trata-
mento adequado às crises e instituição de terapêutica
preventiva, do que derivaram menores custos sociais e
econômicos para o sistema de saúde.
(11)
Os custos sociais estão representados pela neces-
sidade de constante busca por atendimento, em virtude
da ineficácia do tratamento instituído, bem como pelos
custos indiretos infringidos pela dor, pelos prejuízos sociais
que a doença acarreta e pelo desgaste emocional do
insucesso na busca de cuidados médicos. Quanto aos
custos econômicos, há que se considerar o número de
consultas realizadas de forma inadequada e os gastos
com medicação, internamento e atendimento médico.
Em sistemas de saúde com escassez de recursos finan-
ceiros, de disponibilidade de leitos hospitalares e de
vagas para consultas ambulatoriais, a associação entre
cefaleia e status socioeconômico, tendo a adesão a
planos privados de saúde, é preocupante e pode não
ser a solução para a maioria dos idosos.
CONCLUSÃO
Nesse contexto, depreende-se das evidências apre-
sentadas a necessidade de prover treinamento às equipes
médicas sobre diagnóstico e tratamento de cefaleia
desenvolvido por especialistas; aumento desses profis-
sionais nos serviços de saúde e inclusão da cefaleia em
idosos nos cursos de formação médica, como tema de
especial importância devido ao envelhecimento da
população. Essas providências são indubitavelmente as
únicas viáveis para o Sistema Único de Saúde, quando
comparadas à possibilidade de adesão a planos
privados de saúde pelos idosos.
A implantação de tais condutas deverá, entretanto,
Correspondência
VV
VV
V
aléria Moura Moreira Laléria Moura Moreira L
aléria Moura Moreira Laléria Moura Moreira L
aléria Moura Moreira L
eiteeite
eiteeite
eite
Avenida Moraes do Rego s/n - Cidade Universitária
50670-901 - Recife, PE, Brasil
Telefone: (81) 2126-8931
Endereço eletrônico: vmmleite@hotmail.com
estar associada a pesquisas sobre o impacto da cefaleia
na vida funcional de idosos, para melhor adequação
das condutas terapêuticas, contribuindo para uma
assistência que efetive o envelhecimento ativo.
REFERÊNCIAS
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de saúde. Brasilia: 2005.
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a large sample of elderly people. J. Neurol. Neurosurg. Psychiatry.
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quality of life of primary chronic daily headache patients. Indian
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ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA CEFALEIA EM IDOSOS
96 Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013
Impacto da cefaleia primária na qualidade de vida
de policiais militares e sua relação com transtorno
mental comum
Impact of primary headache on quality of life in military policemen and
its relation to common mental disorder
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Objetivo:Objetivo:
Objetivo:Objetivo:
Objetivo: Determinar o impacto gerado pela cefaleia primária
na qualidade de vida dos policiais militares do Recife e sua
relação com a presença de transtornos mentais comuns.
Métodos:Métodos:
Métodos:Métodos:
Métodos: Trata-se de um estudo transversal, com 211
policiais militares de rua, homens, atualmente da ativa, com
idade entre 20 e 50 anos (33,0±7,7 anos). A presença de
cefaleia foi avaliada por meio de um questionário baseado
no ICHD-II, considerando a presença de cefaleia nos últimos
três meses. Para avaliar o impacto causado pela cefaleia foi
utilizado o questionário Headache Impact Test-6. Para o
rastreamento de transtorno mental comum foi utilizado o
questionário Self Reporting Questionnaire-20. A intensidade
da dor foi mensurada através da escala numérica da dor.
Resultados:Resultados:
Resultados:Resultados:
Resultados: 142/211 policiais (67,3%) apresentaram cefaleia
nos últimos três meses. Destes 57/142 (40,1%) apresentavam
impacto muito grave de acordo com o HIT-6. A presença de
transtornos mentais comuns foi observada em 82/142 (57,7%).
Houve correlação significativa entre a intensidade da dor
referida pelos indivíduos e o escore obtido no HIT-6
(r
2
=0,2466; p<0,0001), como também entre a intensidade
da dor e o escore encontrado no SRQ-20 (r
2
=0,0887;
p<0,0003).
Conclusão:Conclusão:
Conclusão:Conclusão:
Conclusão: A presença da cefaleia, nos últimos
três meses, em policiais militares do Recife, causou impacto
negativo na qualidade de vida, com maiores índices de
indicativo de morbidade psiquiátrica não psicótica nestes
indivíduos.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave: Cefaleia; Qualidade de vida; Ocupações;
Polícia; Estresse psicológico
Lorena Costa Leite¹, Nahãmi Cruz de Lucena², Marcelo Moraes Valença
3
, Daniella Araújo de Oliveira¹
1
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil
2
Departamento de Fisioterapia, Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - Imip, Recife, PE, Brasil
3
Departamento de
Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil
Leite LC, Lucena NC, Valença MM, Oliveira DA. Impacto da cefaleia primária na qualidade de vida de policiais
militares e sua relação com transtorno mental comum. Headache Medicine. 2013;4(4):96-101
-
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Objective:Objective:
Objective:Objective:
Objective: To determine the impact caused by primary
headache on quality of life in military policemen of Recife and
its relation to the presence of common mental disorders.
Methods:Methods:
Methods:Methods:
Methods: This is a transversal study with 211 active policemen,
aged between 20 and 50 years (33.0 ± 7.7 years). The
presence of headache was evaluated by using a questionnaire
based on ICHD-II, in the last three months. To evaluate the
impact of the headache it was used the Headache Impact
Test-6. The indicative of probable case of common mental
disorder was done by the Self Reporting Questionnaire-20.
Pain intensity was measured using a numeric pain rating scale.
Results:Results:
Results:Results:
Results: 142/211 officers (67.3%) had headache in the last
three months. 57/142 (40.1%) were placed in the most severe
category in HIT-6. Common mental disorders were observed
in 82/142 (57.7%). There was a significant correlation between
the intensity of pain reported by the subjects and the score
obtained in HIT-6 (r
2
=0.2466; p<0.0001), as well as between
the intensity of pain and the score found in the SRQ-20
(r
2
=0.0887; p<0.0003). The ten officers who reported to have
never had an episode of headache in their lifetime had neither
symptoms of mental distress nor were dissatisfied with their
work activity.
Conclusion:Conclusion:
Conclusion:Conclusion:
Conclusion: The presence of headache in the
military policemen of Recife, in the last three months, caused
a negative impact on their quality of life, as well as, a higher
indicative of non-psychotic psychiatric morbidity in these
individuals.
KK
KK
K
eywords:eywords:
eywords:eywords:
eywords: Headache; Quality of life; Occupation; Police;
Psychological stress
Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013 97
INTRODUÇÃO
A cefaleia é um sintoma bastante frequente, sendo
considerada um importante problema de saúde pública
no Brasil e no mundo devido ao impacto individual e
social que causa.
(1-4)
Qualquer evento que possa alterar a rotina diária
do indivíduo de forma positiva ou negativa, através de
fonte geradora de estresse, provocará respostas variadas
na qualidade de vida. As respostas adaptativas ao
estresse são mediadas por características individuais em
consequência de uma ação externa, situação ou acon-
tecimento que impõe à pessoa exigências físicas ou psico-
lógicas especiais.
(5)
Neste contexto, sabe-se que a cefaleia é capaz de
gerar impacto direto e indireto na vida dos indivíduos,
(6,7)
e o estilo de vida sob tensão, causado por fatores
psicológicos, socioculturais, ambientais e físicos, contribui
para o déficit nas atividades diárias e resulta em
diminuição da qualidade de vida.
(8,9)
Certas atividades laborais podem trazer sérias
consequências na qualidade de vida de seus traba-
lhadores devido ao ambiente de trabalho no qual estão
expostos, fazendo com que se tornem mais susceptíveis
a desencadear ou tolerar a cefaleia.
(10,11)
O papel do policial militar é de fundamental impor-
tância para garantir o bem estar social da população.
(11)
No entanto, para que isso aconteça, os policiais de rua
são constantemente expostos ao perigo e à violência no
seu dia-a-dia. Tal fato faz com que estejam entre os
profissionais que exercem atividades de alto risco, como
também os que mais sofrem de estresse.
(11,12)
Diante do exposto, o estudo tem como objetivo
avaliar o impacto da cefaleia primária na qualidade de
vida em policiais militares do Recife e sua relação com a
presença de transtornos mentais comuns.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo observacional, do tipo trans-
versal. A pesquisa foi realizada entre abril e setembro de
2012. Foram entrevistados 218 policiais militares de rua,
homens, atualmente da ativa, da cidade do Recife, Per-
nambuco, Brasil. A idade dos 211 policiais variou entre
20 e 50 anos (33,0 ± 7,7 anos). Os policiais foram
aleatoriamente selecionados nos seus respectivos Bata-
lhões: 11º (Batalhão 17 de Agosto), 12º (Batalhão Arraial
Novo do Bom Jesus), 13º (Batalhão Coronel João Nunes),
16º (Batalhão Frei Caneca) e 19º (Batalhão André Vidal
de Negreiros). Foram excluídos sete questionários devido
ao preenchimento incompleto.
Todos os participantes responderam um formulário
contendo informações sociodemográficas e ocupacionais,
como também questões sobre estresse laboral e presença
de cefaleia com suas características. Para avaliar o
impacto causado pela cefaleia foi utilizado o questionário
Headache Impact Test-6 (HIT-6).
(13)
A presença de
sofrimento mental foi avaliada pelo questionário Self
Reporting Questionnaire-20 (SRQ-20).
(14)
O Headache Impact Test-6 (HIT-6) foi desenvolvido
por especialistas internacionais em cefaleia, cujo objetivo
é medir o impacto da cefaleia na capacidade do indi-
víduo no trabalho, nos estudos, em casa e em situações
sociais. O questionário é composto por seis questões que
avaliam a gravidade da dor, perda de trabalho,
atividades sociais, alterações cognitivas e de humor. O
impacto da cefaleia é classificado de acordo com o
escore em: "pequeno ou nenhum impacto" – naqueles
indivíduos que obtiverem um escore de 36 a 49 pontos;
"algum impacto" – nos que pontuarem de 50 a 55 pontos;
"impacto acentuado" – nos indivíduos com escore entre
56 e 59; "impacto muito grave" – naqueles que alcan-
çarem mais de 60 pontos.
(13)
O Self Reporting Questionnaire-20 (SRQ-20),
desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde, é
utilizado para mensuração do indicativo de transtornos
mentais comuns, que se caracterizam por sintomas não
psicóticos, como insônia, fadiga, irritabilidade, esque-
cimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas.
Utilizado em estudos brasileiros, especialmente em grupos
de trabalhadores, o questionário possui vinte questões e
aqueles que obtiverem pontuação maior ou igual a cinco
terão indicativo de provável caso de morbidade psi-
quiátrica não psicótica. O instrumento avalia se há algum
transtorno, sem, contudo, oferecer um diagnóstico do tipo
de transtorno existente.
(14)
A mensuração da intensidade da dor foi realizada
através da escala numérica da dor e seu escore foi
classificado em dor leve (1-3), dor moderada (2-7) e
dor grave (8-10).
Para efeito de análise estatística, nos questionários
HIT-6 e SRQ-20 foram utilizados os dados dos policiais
militares com cefaleia nos últimos três meses.
Os dados obtidos na pesquisa são mostrados como
média ± desvio padrão. Utilizamos o teste D'Agostino-
Pearson para verificar o tipo de distribuição das variáveis
a serem estudadas. Para as variáveis que não apre-
sentaram uma distribuição normal utilizamos o teste não
IMPACTO DA CEFALEIA PRIMÁRIA NA QUALIDADE DE VIDA DE POLICIAIS MILITARES E SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNO MENTAL COMUM
98 Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013
LEITE LC, LUCENA NC, VALENÇA MM, OLIVEIRA DA
paramétrico de Mann-Whitney. Na análise das variáveis
categóricas aplicamos o teste exato de Fisher. O nível de
significância considerado como diferente estatisticamente
foi p <0,05. Correlação entre variáveis dependentes foi
analisada pela regressão linear. Para o processamento
e análise dos dados foi o utilizado o programa SPSS
versão 13.0 para Windows.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Hospital Agamenon Magalhães (HAM),
no mês de novembro de 2011, cuja numeração é 232;
CAAE 0206.0.236.000-11.
RESULTADOS
No estudo, 211/218 (96,8%) policiais militares
preencheram corretamente os questionários. Não houve
diferença na média de idade entre os batalhões estu-
dados, p=0,116. Em relação à presença de cefaleia,
201/211 (95,3%) referiram ter apresentado algum
episódio ao longo da vida, 186/211 (88,2%) no último
ano, 142/211 (67,3%) nos últimos três meses e 91/211
(43,1%) apresentaram cefaleia na última semana. E
ainda, 10/211 (4,7%) policiais relataram que nunca
tiveram cefaleia.
A Tabela 1 mostra as características sociodemo-
gráficas e ocupacionais dos 211 participantes. O fator
remunerativo [186/211 (88,2%)], seguido do trânsito
intenso [181/211 (85,2%)] e da temperatura elevada
[178/211 (84,4%)] foram os fatores estressantes mais
frequentemente relatados pelos participantes.
Quantificando a dor de acordo com a escala
numérica da dor, houve diferença significativa entre os
policiais que se queixaram de cefaleia nos últimos três
meses (5,3±1,9) em relação aos sem cefaleia no mesmo
período (3,9±1,6); p<0,001. Quando avaliada a
intensidade da dor por categoria, observou-se que
indivíduos com cefaleia nos últimos três meses apresentam
escores mais graves quando comparados aos sem
cefaleia neste mesmo período, (p<0,05) (Tabela 2).
Houve correlação positiva entre o escore do HIT-6 e
a escala de intensidade da dor (r
2
=0,2466; p<0,0001).
Também ocorreu correlação positiva entre a intensidade
da dor e o escore obtido no SRQ-20 (r
2
=0,0887;
p<0,0003) (Figura 1).
Os policiais com queixa de cefaleia nos últimos três
meses apresentaram maior impacto na qualidade de vida
quando comparados aos sem cefaleia neste mesmo
período, [(56±8,2) com cefaleia e (47,0±6,9) sem
cefaleia]; p<0,05. Na Tabela 3, 57/142 (40,1%) dos
Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013 99
policiais com cefaleia nos últimos três meses apresentaram
escores elevados, sendo enquadrados na categoria mais
grave no HIT-6. No questionário SRQ-20, 93/201
(46,3%) policiais apresentam sofrimento mental, dos
quais 82/93 (88,2%) queixaram-se de cefaleia nos
últimos três meses, p<0,0001 (Tabela 4).
Na amostra total, 10/211 (4,7%) afirmaram nunca
ter sofrido de algum episódio de cefaleia ao longo da
vida. Os dez policiais apresentaram escores abaixo de
cinco pontos no questionário SRQ-20, mostrando que
eles não apresentam sintomas de transtornos mentais
comuns. Quanto à satisfação com o trabalho, foi
observado que 1/10 (10%) estava muito satisfeito, 8/10
(80%) estavam satisfeitos e apenas 1/10 (10%) estava
pouco satisfeito.
DISCUSSÃO
Os efeitos prejudiciais da cefaleia na capacidade
funcional e qualidade de vida estão bem estabelecidos
na literatura e a avaliação da incapacidade causada
pela cefaleia pode facilitar a tomada de decisões de
tratamento adequado,
(15-17)
que pode ser iniciado de
forma aguda ou preventiva.
(18)
Neste estudo destacou-se a investigação do impacto
da cefaleia na qualidade de vida de policiais militares
do Recife, atuantes nas ruas e constantemente vivenciando
situações de estresse físico e psicológico durante sua
atividade laboral.
Figura 1. Correlação entre a intensidade da dor (0-10) e o escore
obtido no questionário HIT-6 (Headache Impact Test-6, r
2
=0,2974;
p<0,0001; painel superior) e entre a intensidade da dor (0-10) e o
escore obtido no questionário SRQ-20 (Self Reporting Questionnaire-20,
r
2
=0,0887; p=0,0003; painel inferior) nos 142 indivíduos com cefaleia
nos últimos três meses.
IMPACTO DA CEFALEIA PRIMÁRIA NA QUALIDADE DE VIDA DE POLICIAIS MILITARES E SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNO MENTAL COMUM
100 Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013
LEITE LC, LUCENA NC, VALENÇA MM, OLIVEIRA DA
O impacto na qualidade de vida gera custos diretos
e indiretos. Os custos diretos englobam gastos em
assistência médica, ambulatorial e medicamentosa.
(19)
Estes
dados corroboram os achados no presente estudo, pois
observou-se que a maioria dos policiais com cefaleia nos
últimos três meses [76/142 (53,5%)] fazia uso de remédio
para cefaleia e neste mesmo grupo 82/142 (57,7%) houve
maior presença de transtorno mental comum. Atualmente
sabe-se que o uso excessivo de medicações para cefaleia,
associado às alterações comportamentais e psicológicas
(ansiedade, depressão e distúrbios do sono, bem como
anormalidades nos testes de avaliação psicológica), está
associado à cronificação da cefaleia.
(20)
Os custos indiretos estão relacionados à diminuição
na produtividade do trabalho,
(19,21)
que no estudo pode
ser visto através da pouca satisfação ou insatisfação dos
policiais com o trabalho, onde 12/23 policiais que
estavam pouco satisfeitos (52,2%) atribuíram maior escore
grave(i. e. 8-10) na escala numérica da dor.
A intensidade da dor observada no grupo com
cefaleia nos últimos três meses obteve um de escore de
5,3 (±1,9), o qual pode ter ocorrido devido ao fato dos
homens apresentarem menos queixa de dor que as
mulheres. Há relato na literatura que mostra a diferença
desse escore entre gêneros. Nesse mesmo estudo, a
prevalência de condições dolorosas, especialmente a
cefaleia, foi maior e com dor mais grave nas mulheres,
que pode estar relacionada às flutuações cíclicas de
estrogênio e progesterona.
(22)
O grupo de policiais com cefaleia nos últimos três
meses obteve um resultado de maior impacto na qua-
lidade de vida dos indivíduos que apresentaram maior
escore na intensidade da dor de cabeça, coincidindo
com estudos prévios que mostram influência direta da
intensidade da dor na qualidade de vida profissional,
por gerar incapacidade nos indivíduos que a apre-
sentam.
(23,24)
É importante considerar a organização do trabalho
a que os funcionários estão submetidos, pois quando
certas situações são apresentadas como natural, existe a
desconsideração da organização do trabalho como fator
relevante na presença de sofrimento.
(25)
Existe na literatura uma demonstração de que uma
resposta psicológica à cefaleia está associada à
diminuição na qualidade de vida, independentemente
das características da dor de cabeça e de outras variáveis
demográficas e psicológicas.
(26)
Respostas do estresse são medidas por características
individuais que podem ser de natureza cognitiva,
comportamental, afetiva ou fisiológica, englobando
estados de apatia, insatisfação, fadiga e ansiedade,
podendo ainda gerar distúrbios psicossomáticos de maior
gravidade,
(5)
evidenciando que tanto a cefaleia quanto
os transtornos mentais podem coexistir no mesmo
indivíduo.
(27)
Indo de acordo com o que foi dito, no pre-
sente estudo observou-se que nos policiais com presença
de transtornos mentais comuns houve uma maior pon-
tuação na intensidade da cefaleia.
Os policiais que nunca apresentaram cefaleia na
vida também não sofriam de transtornos mentais comuns,
nem estavam insatisfeitos com o trabalho. Esse fato
poderia sugerir que esses indivíduos se adaptam com
mais facilidade a situações de estresse, como visto em
estudo anterior, o qual relata que a presença de agentes
estressores impõe exigências físicas ou psicológicas
especiais às pessoas que são capazes de executar
respostas adaptativas ao estresse.
(5,28)
De acordo com o que foi visto no presente estudo,
a presença de fatores estressantes nas atividades laborais
estão relacionadas com o prejuízo na qualidade de vida
dos policiais militares com cefaleia. Dessa forma, vale
ressaltar a importância de um acompanhamento
multidisciplinar para o tratamento, como também
trabalhos de prevenção da cefaleia para uma melhora
na promoção e proteção da qualidade de vida desses
profissionais.
CONCLUSÃO
A presença da cefaleia, nos últimos três meses, em
policiais militares do Recife, causou impacto negativo
na qualidade de vida, com maiores índices indicativo
de morbidade psiquiátrica não psicótica nestes
indivíduos.
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Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013 101
Correspondência
Daniella Araújo de OliveiraDaniella Araújo de Oliveira
Daniella Araújo de OliveiraDaniella Araújo de Oliveira
Daniella Araújo de Oliveira
Av. Jorn. Anibal Fernandes, s/n, Cidade Universitária, Recife, PE,
Brasil, 50740-560.
Fone:(55-81) 21268937, Fax: (55-81) 21268491
email:sabino_daniella@ig.com.br
Received: Dec 12, 2013
Accepted: Dec 16, 2013
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Conflito de interesse: sem conflito de interesse
Fonte financiadora do projeto: Recursos próprios
IMPACTO DA CEFALEIA PRIMÁRIA NA QUALIDADE DE VIDA DE POLICIAIS MILITARES E SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNO MENTAL COMUM
102 Headache Medicine, v.4, n.4, p.102-104, Oct./Nov./Dec. 2013
Headache and celiac disease or gluten sensitivity –
a review
Cefaleia e doença celíaca ou sensibilidade ao glúten – uma revisão
VIEW AND REVIEWVIEW AND REVIEW
VIEW AND REVIEWVIEW AND REVIEW
VIEW AND REVIEW
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The aim of this study is to do a review of the relationship of
celiac disease (CD) or gluten sensitivity (GS) with headache.The
authors conclude that there is a connection between
headaches and gluten intolerance.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Headache; Gluten; Migraine
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
O objetivo do estudo foi fazer uma revisão sobre a relação
da doença celíaca (DC) ou sensibilidade ao glúten (GS) com
as cefaleias em geral. Os autores concluem que existe
associação entre cefaleia e intolerância ao glúten.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave: Cefaleia; Glúten; Migrânea
disease. It is associated with the genes of the main
histocompatibility complex (MHC) and, in particular, to
the HLA-DQ2 or HLA-DQ8 allelic variants. The intestinal
lesion is mediated by humoral and cellular components
of the immune response. The existing treatment is a diet
free of prolaminas, especially gluten.
The diagnosis is established by the demonstration of
the histological characteristics of the duodenum changes.
(1)
In gluten sensitivity (GS), there are gastrointestinal and
extraintestinal symptoms, and the tests usually do not meet
histological alterations of the mucous membrane of the
small intestine and autoimmune antibodies [tissue
transglutaminase (tTG) and endomysial (EMA)]; However,
an increased level of anti-gliadinal antibodies (AGA) is
frequently observed. In GS, allergy to gluten is also absent.
The exact criteria for the diagnosis of this nosology is not
identified, but most researchers believe that the prevalence
of gluten intolerance is much higher than of celiac disease.
A gluten free diet leads to the disappearance of clinical
symptoms.
Population studies indicate that between 0.5% and
1% of the population of Western Europe and North
America, respectively, suffer from CD. This corresponds
to about three to six million people, and the largest part
of them remain undiagnosed.
(2)
Most complaints related to CD or GS have no
familiarity in the case of headaches. None of the authors
say migraine headache, they just say headache. In other
words the headache, probably by homeostatic-metabolic
changes of the disease, might be migraine-like.
Eliana Meire Melhado, Ana Carolina Botelho Cardoso, Stella Regina Mastrangi Ignácio Ribeiro,
Mariana de Lima Frachia, Thaís Figueiredo de Castro
1
Integrated Medical School of Catanduva – FIPA – Catanduva, SP, Brazil
Melhado EM, Cardoso AC, Ribeiro SR, Frachia ML, Castro TF. Headache and celiac disease or
gluten sensitivity – a review. Headache Medicine. 2013;4(4):102-4
INTRODUÇÃO
Celiac disease (CD) is an absence of intestinal
peptidase that digest gluten protein, whose intolerance
results in a total or subtotal atrophy of the proximal small
intestine causing malabsorption of nutrients. Gluten,
derived from the Latin gluten is the main ingredient for a
wide variety of pastas and breads, it is an amorphous
protein composed by mixing long protein chains of gliadin
and glutenin.
Interaction between genetic, immunological and
environmental factors account for the heterogeneity of the
-
Headache Medicine, v.4, n.4, p.102-104, Oct./Nov./Dec. 2013 103
The aim of this study is to do a review of the
relationship of celiac disease (CD) or gluten sensitivity (GS)
with headache.
METHODS
The method used was searching scientific literature.
We researched articles and bibliographic reference on
the internet. Bireme, MedLine, Scielo, Lilacs and PubMed
are websites that we used. The articles were requested
in their entirety through the College Library.
Bibliographic sources were cited by the Vancouver
guidelines.
RESULTS
In a German study of 72 patients (that were recruited
through advertisements in the Journal of the German
Celiac Society), 28% of them with CD reported
migraines. In most cases there was no decrease in the
frequency and intensity of migraine crises after the
introduction of gluten free diet.
(1)
In an Italian study taken between 2003 and 2006,
there was a retrospective portion, which included patients
with diagnosed CD in Bari and Catania. All patients
(and their caregivers) received a questionnaire asking
how their headaches were before their diagnosis. Among
them, 88 (24.8%) with CD complained of headaches
before the diagnosis of CD versus 16 (8%) from the
control group. After introducing a gluten free diet, 77.3%
showed an improvement in headaches (27.3%
disappeared), and 23.9% did not improve. In almost
50% of children who did not improve, diet adherence
was poor.
In the prospective study, there were 67 children with
diagnosed headaches between 2002 and 2005. They
were followed by the Department of Pediatrics of Catania
and agreed to perform a screening for CD between 2006-
2007. Only 4 of 79 children (5%) were positive TgA and
EmA, and the biopsies confirmed diagnosis of CD (injury
March IIIB). None complained of gastric symptoms
suggestive of CD, it was impossible to identify headaches
with some food or a meal. Therefore, the prevalence of
CD was high in these patients with headache, 5% versus
0.6% of the population in the same geographical area,
featuring comorbidity.
(3)
An Israeli study conducted between 1977 and 2001
included 111 patients with DC (with biopsy) and 211
controls. The patients were an average age of 20. In both
groups the majority of patients were women (58% of the
patients versus 59% in the control group). 52.5% of
patients with mal absorption syndrome featured classic
CD. 51.4% of patients had neurologic manifestations
versus19% of the control group, the most common
neurological disorder being headache at 18%. There
was a predominance of female headaches (2.1: 1 F:M),
and 64.5% of patients with headaches started CD later
or were asymptomatic; therefore, 35.5% had classic CD
during childhood. And as for the headaches, 45% meet
criteria for migraine; 19.4% for tension-type headache;
and 35.5% had headaches that could not be specified.
In 16 patients (80%) the headaches disappeared or
improved with gluten free diet.
(4)
PP
PP
P
athogenesis of headache in DC and GSathogenesis of headache in DC and GS
athogenesis of headache in DC and GSathogenesis of headache in DC and GS
athogenesis of headache in DC and GS
Association between headache and CD may be due
to a long state of malnutrition, leading to vitamin deficiency
and to lower levels of serotonin, a well-known cause of
headache. There is a hypothesis in which an autoimmune
process and immunoinflammatory disorder would induce
a vascular tonus disordered (CD and migraine) this was
supported by the study of positron emission tomography
(PET) Scans, demonstrating the presence of abnormalities
of cortical regional blood flow, improved after 6 months
of gluten free diet in adult patients with CD and migraine
with aura.
(5)
Where headaches related to CD/GS wouldWhere headaches related to CD/GS would
Where headaches related to CD/GS wouldWhere headaches related to CD/GS would
Where headaches related to CD/GS would
enter in classificationenter in classification
enter in classificationenter in classification
enter in classification
These headaches would best be classified under item
10. Headaches attributed to homeostasis disorders, and
sub-item 10.7 Headaches attributed to other homeostasis
disorders.
(6,7)
CONCLUSIONS
` There is a connection between headaches and
gluten intolerance;
` Headache related to CD/GS would be headache
attributed to homeostasis disorder;
` CD and GS appear to be triggering factor of
migraines and do not have a spurious association; and
` The highest percentage of headache in celiacs
relative to the control group in most studies indicates that
these entities are comorbidities.
HEADACHE AND CELIAC DISEASE OR GLUTEN SENSITIVITY – A REVIEW
104 Headache Medicine, v.4, n.4, p.102-104, Oct./Nov./Dec. 2013
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629-808.
Correspondência
Eliana Meire MelhadoEliana Meire Melhado
Eliana Meire MelhadoEliana Meire Melhado
Eliana Meire Melhado
neuroeliana@hotmail.com
Received: September 17, 2013
Accepted: December 2, 2013
MELHADO EM, CARDOSO AC, RIBEIRO SR, FRACHIA ML, CASTRO TF
Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013 105
Cefaleia antecedendo paralisia de Bell: Podemos
prevenir a paralisia diagnosticando e tratando
precocemente?
Headache anticipating Bell's palsy: can we prevent the facial palsy by
diagnosing and treating early?
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORT
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A paralisia de Bell é uma paralisia facial periférica com alta
incidência, que apresenta alguns fatores associados, como a
gravidez, diabetes mellitus e hipertensão arterial, além da
infecção por alguns subtipos do vírus do herpes, o herpes
simples e o herpes zoster sine herpete. Uma característica
comum aos pacientes com a paralisia de Bell é a ocorrência
da cefaleia dias antes da instalação da paralisia, do mesmo
lado e em localização periauricular. Questiona-se, portanto,
se é possível a identificação de um padrão característico da
dor associada à paralisia e, assim, evitar a progressão da
doença ou atenuação do possível desenvolvimento do déficit
motor por se iniciar um adequado e imediato tratamento com
supressão do processo inflamatório responsável pelo acome-
timento do nervo facial. Relatamos o caso de um homem de
50 anos de idade, com paralisia facial do lado direito, com
dor na região retroauricular ipsilateral "em queimor", sem
apresentar piora durante esforço, sem náusea, vômito, foto
ou fonofobia. Aos 15 anos de idade, relatou ter apresentado
paralisia facial também do lado direito, com forte dor
retroauricular, semelhante à recidiva atual. Estamos propondo
critérios diagnósticos para a cefaleia retroauricular associada
à paralisia facial periférica idiopática.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Paralisia de Bell; Cefaleia; Critérios
diagnósticos; Dor; Diagnóstico
Marcelo Moraes Valença,
1,4
Luciana Patrízia A. Andrade-Valença,
1,4
Laryssa Azevedo,
1
Mário Luciano de Mélo Silva Júnior,
1
Hugo André de Lima Martins,
1
Amanda Araújo da Silva,
1
Louana C. Silva,
1
Daniella Araújo de Oliveira
2
, Mariana de Carvalho Leal Gouveia,
3
Sílvio Caldas Neto
3
1
Unidade Funcional de Neurologia e Neurocirurgia, Departamento de Neuropsiquiatria,
2
Departamento de Fisioterapia,
3
Serviço de Otorrinolaringologia, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, PE, Brasil,
4
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia, Hospital Esperança, Recife, PE, Brasil
Valença MM, Andrade-Valença LP, Azevedo L, Silva Júnior ML, Martins HA, Silva AA, Silva LC, Oliveira DA,
Gouveia MC, Caldas Neto S. Cefaleia antecedendo paralisia de Bell: Podemos prevenir a
paralisia diagnosticando e tratando precocemente? Headache Medicine. 2013;4(4):105-11
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Bell's palsy is a peripheral facial palsy with high incidence,
which has some associated factors such as pregnancy, diabetes
mellitus and hypertension, in addition to infection by some
subtypes of the herpes virus, i.e. herpes simplex and herpes
zoster sine herpete. A common feature of patients with Bell's
palsy is the occurrence of ipsilateral headache of periauricular
location, days before the onset of the paralysis. It is
questionable, therefore, whether it is possible to identify a
characteristic pattern of this pain in order to prevent disease
progression or mitigate the possible development of motor
deficit by initiating appropriate and immediate treatment to
suppress the inflammatory process of the facial nerve. We
report the case of a 50-year-old man with facial palsy on the
right side, with pain in the ipsilateral retroauricular. At the age
of 15 he reported a previous episode of facial palsy, also on
the right side, with severe retroauricular pain, similar to the
current recurrence. We propose diagnostic criteria for the
retroauricular headache associated with idiopathic peripheral
facial palsy.
Keywords: Keywords:
Keywords: Keywords:
Keywords: Facial palsy; Diagnostic criteria; Diagnosis;
Headache
106 Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013
VALENÇA MM, ANDRADE-VALENÇA LP, AZEVEDO L, SILVA JÚNIOR ML, MARTINS HA, SILVA AA, ET AL.
INTRODUÇÃO
Muitos pacientes com paralisia facial periférica de
Bell apresentam cefaleia dias antes da instalação da
paralisia.
(1)
Essa cefaleia ocorre no mesmo lado da
paralisia e é de localização periauricular.
A paralisia de Bell é a mais comum neuropatia
craniana,
(2)
com incidência alta (10-30 indivíduos/
100,000/ano). Gravidez, diabetes mellitus e hipertensão
arterial são descritos como fatores associados.
(3-7)
Muitas
vezes infere-se que infecção pelo herpes simples
(8)
pode
ser o motivo da paralisia e o herpes zoster, na sua forma
zoster sine herpete,
(9)
pode causar paralisia do sétimo
nervo craniano (em 6,9% dos casos)
(1)
clinicamente
semelhante à forma idiopática (de causa indeterminada)
da paralisia facial periférica que chamamos de paralisia
de Bell.
(1,10)
Nesse sentido, quando encontramos as lesões
cutâneas, caracterizadas por pequenas vesículas, no
conduto auditivo externo, pavilhão auricular e palato
associadas com paralisia facial periférica, o diagnóstico
da síndrome de Ramsay-Hunt
(11,12)
causada pelo herpes
zoster se torna fácil.
A instalação da paralisia é repentina e não se pode
prever o início do quadro paralítico por não haver pró-
domo, com exceção da dor que, em muitos indivíduos,
antecede em vários dias o déficit motor.
Diante desse fato, questionamos se podemos
identificar algumas características da dor associada com
a paralisia facial periférica, de forma que um diagnóstico
precoce e o pronto tratamento com corticoide e antiviral
evitaria a progressão da doença, impedindo ou atenu-
ando o possível desenvolvimento do déficit motor por
acometimento do nervo facial.
Neste artigo descrevemos o caso de um paciente
que apresentou recidiva de uma paralisia facial periférica
que foi antecedida por dor intensa na região periauricular
ipsilateral.
RELATO DO CASO
Homem com 50 anos de idade procurou a emer-
gência do Hospital Esperança, Recife, referindo paralisia
do lado direito da face. Cinco dias antes da instalação
da paralisia surgiu dor na região retroauricular direita
"em queimor" (Figura 1), não pulsátil, contínua, cuja
intensidade variava entre 4 e 9/10, não piorava no
esforço, sem náusea ou vômito, foto ou fonofobia. A
dor persistiu até sete dias após o aparecimento da
paralisia, mesmo durante o uso do corticoide. Relatou
cefaleia do tipo tensional em raras ocasiões. Ao exame
observou-se paralisia facial periférica total do lado
direito (escala de House-Brackmann grau VI), com
preservação do lacrimejamento. Mencionava
hiperacusia. Foi medicado com prednisona e aciclovir
por 10 dias e recomendada uma proteção do olho
direito. Passado de hipertensão arterial leve em uso
contínuo de captopril.
O paciente informou que aos 15 anos de idade
apresentou paralisia facial periférica também do lado
direito, antecedida por dor forte retroauricular
semelhante à que ocorreu na recidiva atual. Uma tia
sua também apresentou dois episódios de paralisia
facial periférica.
Dois meses após o início da paralisia houve recu-
peração praticamente completa do déficit motor,
porém o paciente ainda percebe hiperacusia, ainda
que mais leve. No nono dia após a paralisia facial o
paciente foi submetido a um exame por ressonância
magnética do encéfalo sem contraste que foi
considerado normal (Figura 2).
Figura 1. Local da dor (retroauricular) mencionado pelo paciente.
Desenho de Laryssa Azevedo
Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013 107
CEFALEIA ANTECEDENDO PARALISIA DE BELL: PODEMOS PREVENIR A PARALISIA DIAGNOSTICANDO E TRATANDO PRECOCEMENTE?
referiam dor retroauricular a dor precedeu a paralisia
1-12 dias. Em apenas dois pacientes a dor surgiu após
a paralisia facial. Baseado em provas sorológicas (anti-
corpos IgG e IgM para vírus vericella-zoster, quatro
(6,9%) dos 58 pacientes foram considerados como
apresentando herpes zoster sine herpete. A dor foi muito
mais frequente nos pacientes com zoster sine herpete
(4/4, 100%) em relação à paralisia idiopática (22/54,
40,6%) (odds ratio 13,0, IC 95% 0,67-253,8). Esses
autores
(1)
também observaram que, quando o intervalo
entre a dor retroauricular e a paralisia foi maior ou igual
a quatro dias, o prognóstico da recuperação da paralisia
foi melhor. Eles acreditam que a dor retroauricular deve
ser causada por uma neuralgia herpética, inflamação
do nervo, incluindo gânglio geniculado e/ou edema
do nervo facial com pressão no canal ósseo do facial.
Considerando a fisiopatogenia acima comentada,
poderíamos afirmar que a paralisia facial de Bell seria
uma síndrome compartimental, i.e. uma elevação da
pressão dentro de um espaço anatômico limitado que
causaria diminuição significativa da perfusão sanguínea
de estruturas que trafegam por ele, como no exemplo o
nervo facial.
Perguntamos também se haveria maior susceti-
bilidade individual quando o espaço no canal ósseo for
pequeno em relação ao sétimo nervo (e.g. estenose do
canal de Falópio ou do conduto auditivo interno)
(12)
com
risco maior de dano neural no caso de edema, com-
pressão e hipóxia do nervo facial. Se isso for verdade,
alguns pacientes podem apenas apresentar dor retro-
auricular sem o acometimento paralítico do sétimo nervo
craniano quando este espaço for bem maior do que o
volume do nervo.
Berg e colaboradores
(2)
estimam que 33% a 70%
dos pacientes com paralisa de Bell referiam na fase
aguda dor ipsilateral envolvendo as regiões
periauricular, da face ou do pescoço. Em seus 826
pacientes com paralisia de Bell, 412 (50%)
apresentaram dor ipsilateral dentro das 72 horas do
início da paralisia, e 128/717 (18%) ainda
apresentavam dor ipsilateral após um mês de seguimento
ambulatorial.
(2)
Além disso, 0,8% (6/717) e 0,9% (6/
637) dos pacientes apresentaram a dor tardiamente,
um mês e dois meses, respectivamente, após a
instalação do déficit. Isso sugere que a dor pode
aparecer semanas após o aparecimento da paralisia.
Todavia o tratamento com prednisolona ou valacyclovir
não influenciou a incidência ou intensidade da dor.
Em outro estudo
(14)
também não foi observado efeito
Figura 2. Corte coronal de um exame por ressonância magnética do
crânio mostrando os condutos auditivos internos
DISCUSSÃO
Neste artigo, relatando um caso clínico, estamos
lançando a ideia de que seria possível se chegar a um
diagnóstico da cefaleia que antecederia a paralisia facial
periférica idiopática estudando suas características, e,
desta forma, por ser peculiar entre outros tipos de
cefaleias teríamos tempo de iniciar uma estratégia
terapêutica de proteção do nervo facial, prevenindo um
possível dano funcional do nervo facial que ocorreria
horas ou dias após.
Em estudo preliminar estudamos retrospectivamente
o prontuário de 31 pacientes com paralisia facial
periférica idiopática que foram atendidos no Serviço
de Eletroneuromigrafia da Unidade Funcional de
Neurologia e Neurocirurgia do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Pernambuco.
(13)
Desses
pacientes, 22 (71%) referiam cefaleia antes do
surgimento da paralisia e sete (23%) afirmaram que a
cefaleia surgiu no dia da instalação do déficit motor
facial. Nesse grupo, o intervalo entre a dor e o início
da paralisia foi de 2,7 ± 2,0 dias (0-7 dias). Dor leve
foi referida por 14 pacientes; moderada, por um, e
forte, por sete.
Chida e colegas
(1)
estudaram 58 pacientes com
paralisia de Bell e 26 (44,8%) tinham queixa de dor
retroauricular ipsilateral. Em 21 pacientes dos 26 que
108 Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013
VALENÇA MM, ANDRADE-VALENÇA LP, AZEVEDO L, SILVA JÚNIOR ML, MARTINS HA, SILVA AA, ET AL.
Figura 3. Corte coronal de um exame por ressonância magnética de uma mulher que apresentou paralisia facial periférica associada com dor
retroauricular com recuperação espontânea. Seta mostra presença de neoplasia no osso temporal esquerdo
benéfico do tratamento com prednisona sobre a dor.
Porém, em estudo
(15)
não randomizado houve sugestão
de benefício do uso do corticoide sobre a dor, pelo
fato dos pacientes relatarem retorno da dor com a
retirada da prednisona. Pacientes com dor que ocorre
entre o 11° a 17° dia após a paralisia parecem ter um
prognóstico pior em relação à recuperação do déficit
motor.
Em estudo por ressonância magnética do segmento
no nervo facial que trafega através do conduto auditivo
interno distal, gânglio geniculado, tímpano e mastoide,
Jun e colegas
(16)
observaram em um grupo de 44 paci-
entes com paralisia de Bell, que no lado da paralisia
havia um maior grau de captação do contraste pelo
gânglio geniculado quando comparado com o lado
contralateral, sugerindo que o gânglio geniculado é o
segmento do nervo facial mais acometido no processo
fisiopatogênico da paralisia de Bell. Esse maior realce
do nervo que ocorre após a infusão do gadolínio é
entendido como inflamação e edema, pela quebra de
barreira. Na interpretação do resultado de um exame
por ressonância magnética é importante destacar que,
em indivíduos normais, pode haver captação do contraste
pelo nervo facial,
(17)
daí a importância de se comparar
com a área contralateral. No entanto, o grau de captação
do contraste pelo nervo facial não apresentou correlação
com o prognóstico final (duração média do seguimento
ambulatorial dos pacientes foi de 13,5 meses).
(16)
Esses
autores concluem, portanto, que a realização de uma
ressonância magnética do osso temporal não se faz
necessária. Todavia, nós acreditamos que uma inves-
tigação por ressonância magnética com uso do gadolínio
seja necessária porque não é raro se encontrar casos de
paralisia facial periférica de instalação aguda com
recuperação completa espontânea e, anos após, na
recidiva, se chegar ao diagnóstico de um processo
neoplásico como causa. Na Figura 3 mostramos o caso
de uma mulher que, aos 25 anos de idade, apresentou
paralisia facial periférica esquerda acompanhada por
dor retroauricular (iniciada no momento da paralisia cuja
duração foi de um dia), havendo recuperação completa
da paralisia após três meses. Três anos após houve
recidiva da paralisia no mesmo lado, desta vez sem dor
e sem recuperação. Na investigação diagnosticou-se um
volumoso tumor glômico.
Dor retroauricular foi considerada como fator predi-
tivo de mau prognóstico.
(18)
Outros indicadores de que
pode haver uma recuperação parcial do déficit motor
são: idade avançada, pressão arterial sistólica alta,
alteração no lacrimejamento, queimor no olho, gosto
alterado, grau elevado no House-Brackmann, atraso no
início da terapia com corticoide ou o não uso do
corticoide.
(5,18)
A dor retroauricular pode recorrer tempo depois da
paralisia de Bell, como nos dois casos descritos por
Jacome
(19)
de mulheres que referiam o ressurgimento de
dor durante a menstruação.
Fisiopatogenia da dorFisiopatogenia da dor
Fisiopatogenia da dorFisiopatogenia da dor
Fisiopatogenia da dor
Partido do pressumposto que os nervi nervorum
inervam as bainhas do nervo facial.
Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013 109
Han
(20)
explica o fato da dor na paralisia de Bell se
localizar na região periauricular por ser uma dor referida
pelo acometimento das bainhas do nervo facial, mani-
festando-se ao longo do segundo arco branquial com
uma distribuição metamérica primária.
O nervo intermédio de Wrisberg contém fibras sen-
sitivas, sensoriais e parassimpáticas (fibras envolvidas na
gustação dos dois terços anteriores da língua e fibras
secretomotoras das glândulas lacrimal e salivar) e no
gânglio geniculado ele se junta à parte motora do nervo
facial. As fibras sensitivas trazem informação da orelha
externa, mucosa da nasofaringe (palato) e nariz. No
gânglio geniculado estão localizados os corpos neuronais
das fibras sensitivas do nervo facial, responsáveis pelo
meato auditivo externo e grande parte do pavilhão
auricular.
Semiologia e nível de lesão do nervo facialSemiologia e nível de lesão do nervo facial
Semiologia e nível de lesão do nervo facialSemiologia e nível de lesão do nervo facial
Semiologia e nível de lesão do nervo facial
Do ponto de vista clínico e prático podemos localizar
a região do nervo facial onde houve acometimento. A
lesão do nervo facial quer no tronco cerebral ou ao longo
do seu trajeto periférico pode resultar na paralisia dos
movimentos faciais do mesmo lado, e muitas vezes
perturbações da sensibilidade gustativa e das funções
secretoras. Assim, uma lesão do nervo na saída do forame
estilomastoideo provocaria paralisia de todos os
movimentos faciais daquele lado (e.g. não se franze a
testa, nem se fecha o olho, ou mesmo se mostra os dentes
adequadamente). Dessa forma somente haveria déficit
motor.
(7)
Quando a lesão ocorre mais alta, mas distal ao
gânglio geniculado, o déficit motor persiste, porém
associado a uma alteração da secreção das glândulas
salivares sublinguais e submandibulares. Há também
hiperacusia e, às vezes, uma perturbação da gustação
dos dois terços anteriores da hemilíngua ipsilateral.
Explica-se a secreção salivar anormal pela interrupção
das fibras parassimpáticas pré-ganglionares proveni-
entes do núcleo salivar superior. A hiperacusia é
motivada pela paralisia do músculo estapédio, que
tem a função de amortecer oscilações dos ossículos
do ouvido médio.
(7)
Assim sendo, o indivíduo se queixa
do timbre desconfortável de sons que antes não
incomodavam, como o toque do telefone. Interessante
notar que tal fenômeno somente ocorre se o sétimo
nervo craniano for lesado na sua periferia, não apa-
recendo quando a lesão se estabelece no tronco cere-
bral. Nem sempre a gustação está alterada, pois algu-
mas fibras podem tomar um trajeto aberrante e acom-
panhar o nervo grande petroso.
(7)
Esse local de acome-
timento do nervo facial deve ter ocorrido no caso apre-
sentado agora, pois nosso paciente referia hiperacusia
e negava distúrbios da gustação e da secreção
lacrimal.
Se a lesão do nervo facial se posiciona na porção
proximal ao gânglio geniculado, o paciente apresen-
taria todos os sinais descritos acima e invariavelmente
teria perda completa da gustação dos dois terços ante-
riores da língua. O lacrimejamento (epífora) também
estaria alterado no lado da lesão (destruição das fibras
parassimpáticas do gânglio esfenopalatino ou pterio-
palatino).
Como informação importante anatomofuncional,
vale citar que o nervo facial que trafega pelo canal facial
emite um ramo (o nervo petroso superficial maior) para
o gânglio esfenopalatino logo após o gânglio geni-
culado. Mais distalmente um novo ramo parte do nervo
facial, que se junta ao nervo corda do tímpano, que
segue em direção ao músculo estapédio (músculo do
estribo).
RecorrênciaRecorrência
RecorrênciaRecorrência
Recorrência
Pode haver recorrência da paralisia facial periférica
idiopática em 7% a 15% dos casos, denominando-se
tais casos como forma recorrente, recidivante, "em
bascule" ou alternante.
(3,21,22)
Alguns autores chamam de
recidivante quando ocorre no mesmo lado da face, e
alternante quando ocorre no lado oposto da face, nas
paralisias faciais consecutivas recorrentes.
(21)
Em estudo nosso anterior
(21)
envolvendo 190 paci-
entes, houve 209 episódios de paralisia facial periférica,
sendo 16 recorrências (8,4%) e, em um dos indivíduos
estudados, a paralisia se instalou bilateralmente, havendo
recidiva no lado direito 3 anos após o primeiro episódio.
O intervalo de tempo entre o primeiro evento e o segundo
foi de 45 ± 50 meses (mediana de 18 meses, mínimo 3
meses, máximo 13 anos). Em 57% dos pacientes a
recidiva ocorreu até 2 anos após a primeira paralisia.
Em dois pacientes houve uma terceira recidiva 5 meses e
6 anos, respectivamente, após a segunda recidiva. Das
18 recorrências 72% ocorreram no mesmo lado.
(21)
A grande maioria das recorrências é da forma idio-
pática, porém devemos lembrar que recorrências podem
acontecer na síndrome de Melkersson Rosenthal, no
neurinoma do nervo facial e na otite média, como bem
escrevem Li e colaboradores.
(23)
CEFALEIA ANTECEDENDO PARALISIA DE BELL: PODEMOS PREVENIR A PARALISIA DIAGNOSTICANDO E TRATANDO PRECOCEMENTE?
110 Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013
Li e colaboradores
(23)
afirmam que na recidiva da
paralisia facial periférica há uma tendência de haver
mais sequelas vinculadas a uma recuperação parcial
do déficit neurológico.
(24)
Por causa do risco de sequela
e pela relativa alta chance de haver outra recorrência,
alguns autores recomendam a realização de proce-
dimento cirúrgico descompressivo sobre o nervo facial
para aqueles indivíduos que apresentaram pelo menos
dois episódios da paralisia facial periférica.
(23,25,26)
Evidência mostra que o risco de haver recorrência
aumenta de 15% no segundo episódio para 50% no
quarto evento.
(23,27)
Apesar do procedimento continuar
a ser realizado até os dias atuais,
(23)
ainda há con-
trovérsia sobre como realizar a descompressão e acre-
ditamos não haver consenso sobre a indicação de tal
procedimento cirúrgico.
Critérios para cefaleia retroauricularCritérios para cefaleia retroauricular
Critérios para cefaleia retroauricularCritérios para cefaleia retroauricular
Critérios para cefaleia retroauricular
associada à paralisia facial periféricaassociada à paralisia facial periférica
associada à paralisia facial periféricaassociada à paralisia facial periférica
associada à paralisia facial periférica
Com base na informação encontrada na
literatura
(1,2)
entendemos que a dor é estritamente
unilateral, contínua por varias horas ou dias, de
intensidade variável no mesmo indivíduo (flutua de
intensidade ao longo do dia), referida como queimante,
surda, não pulsátil, localizada preferentemente na
região retroauricular. O exame físico da cabeça,
incluindo avaliação otológica do paciente, não revela
anormalidade. Não há febre.
Diante do exposto acima, tentaremos criar critérios
diagnósticos para a cefaleia retroauricular associada à
paralisia facial periférica de Bell:
A. Dor retroauricular ou periauricular, que pode se
estender para regiões do pescoço e face homolaterais;
B. Dor contínua, porém com variação na intensi-
dade, por mais de oito horas;
C. Sem evidência de processo inflamatório visível
periauricular;
D. Nunca sentiu esse tipo de dor antes ou dor com
características semelhantes à percebida na ocasião da
paralisia facial prévia, se assim for o caso;
E. Não preenche nenhum dos critérios para outro
tipo de cefaleia listada no ICDH-3 Beta.
Desta forma, quando um paciente preencher esses
critérios diagnósticos gostaríamos de sugerir o uso de
corticoide "preventivo" no sentido de atenuar o processo
inflamatório e progressão para uma paralisia facial
periférica, principalmente naqueles pacientes com história
de paralisia facial periférica anterior.
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VALENÇA MM, ANDRADE-VALENÇA LP, AZEVEDO L, SILVA JÚNIOR ML, MARTINS HA, SILVA AA, ET AL.
Headache Medicine, v.4, n.4, p.105-111, Oct./Nov./Dec. 2013 111
Correspondência
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. V
alença, MDalença, MD
alença, MDalença, MD
alença, MD
, PhD, PhD
, PhD, PhD
, PhD
mmvalenca@yahoo.com.br
Received: December 5, 2013
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CEFALEIA ANTECEDENDO PARALISIA DE BELL: PODEMOS PREVENIR A PARALISIA DIAGNOSTICANDO E TRATANDO PRECOCEMENTE?