Hadache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014 7
Análise da confiabilidade da carga e da avaliação
da dor utilizando os monofilamentos SORRI® em
pacientes com migrânea
Reliability analysis of load and pain assessment using the SORRI®
monofilaments in patients with migraine
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
O objetivo foi avaliar a alodínia e verificar a confiabilidade
da resposta dolorosa e da carga real aplicada pelo mono-
filamento SORRI® em pacientes com migrânea e identificar a
relação entre essas variáveis. Foram avaliadas 40 mulheres,
20 grupo migrânea (GM) e 20 grupo controle (GC) com
idade entre 18 a 55 anos, em duas avaliações de sensibilidade
com um intervalo de 15 minutos em cinco regiões: frontal e
músculo masseter bilateralmente e antebraço direito. Também
foi aplicada a técnica de Brush e no GM o Questionário
ASC-12 Brasil para avaliação da alodínia. Para verificar a
carga os monofilamentos foram acoplados à célula de carga
do Von Frey eletrônico IITC Inc. Life Science Almemo® 2450.
No GC 10% relataram dor à pressão com os monofilamentos,
e no GM 70%; dessas 35% relataram dor durante a técnica
de Brush e 7% foram classificadas com alodínia leve, 35%
alodínia moderada e 57% alodínia severa. A confiabilidade
da avaliação dor foi calculada pelo índice de correlação de
Kappa e foi observada uma variabilidade da concordância
de pobre a moderada (0,167 - 0,692) no GM e não houve
variabilidade no GC. A confiabilidade da carga aplicada foi
calculada pelo Coeficiente de Correlação de Intraclasse (ICC)
Jaqueline Nisa de Cássia Grunewald
1
, Maria Claudia Gonçalves
2
, Lidiane Lima Florencio
2
,
Gabriela Ferreira Carvalho
2
, Marisa de Cássia Registro Fonseca
3
, Fabíola Dach
4
, Débora Bevilaqua Grossi
5
1
Aluna de graduação do curso de Fisioterapia da Universidade de São Paulo,
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
2
Fisioterapeuta estudante de doutorado Programa de Pós-Graduação em Reabilitação e Desempenho funcional da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)
3
Profa associada do curso de fisioterapia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP)
4
Médica neurologista do ambulatório de cefaléia do Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto-USP
5
Profa associada do curso de fisioterapia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP)
Grunewald JNC, Gonçalves MC, Florencio LL, Carvalho GF, Fonseca MCR, Dach F, Grossi DB. Análise da
confiabilidade da carga e da avaliação da dor utilizando os monofilamentos SORRI® em pacientes com migrânea.
Headache Medicine. 2014;5(1):7-13
e demonstrou que todos os monofilamentos apresentaram
uma variação entre pobre a excelente. Foi observada uma
variação da carga, em relação à pré-definida de 150% no
monofilamento verde, de 0 a 50% para o azul e de 0,5% a
25% para os lilás, vermelho e laranja. A confiabilidade da
carga e do relato de dor dos monofilamentos da SORRI®
são muito variáveis e por isso não devem ser utilizados como
único instrumento na avaliação da sensibilidade a dor de
pacientes com migrânea.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chaveschaves
chaveschaves
chaves
::
::
: Migrânea; Alodínia; Monofilamentos
Semmen-Weinstein
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The objective was to evaluate allodynia and verify the reliability
of the pain response and the actual load applied by
monofilament SORRI® in patients with migraine and to identify
the relationship between these variables. We evaluated 40
women , 20 migraine group (GM) and 20 control group (CG)
aged 18-55 years in two assessments of sensitivity with an
interval of 15 minutes in five regions: Front and masseter
muscles bilaterally and right forearm. We also applied the
8 Headache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014
GRUNEWALD JNC, GONÇALVES MC, FLORENCIO LL, CARVALHO GF, FONSECA MCR, DACH F, GROSSI DB
technique of brush and only the GM Questionnaire-12 ASC
Brazil. To check the actual load monofilaments were coupled
to the load cell of the Electronic von frey IITC Life Science Inc..
In GC 10% reported pain with the application monofilament
and GM 70%, 7% of these were classified as mild allodynia,
35% moderate and 57% severe allodynia and 35% also
reported pain in the brush technique. The reliability of pain
assessment was calculated by correlation index Kappa and a
variation was observed concordance of poor to moderate
(0.167 to 0.692) in GM and there was no change in GC.
The reliability of the actual load applied was calculated by
Intraclass Correlation Coefficient (ICC) and demonstrated that
all monofilament showed a variation between poor to excellent.
We observed a change in load in relation to the pre-set
150% monofilament green, 0 to 50% for the blue and from
0.5 % to 25 % for purple and red and orange. The reliability
of freight and reporting pain of monofilament of SORRI®
are variable and therefore should not be used as the only
tool in the evaluation of the sensitivity of the face of patients
with migraine.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Chronic pain; PRACTICE tool; Expansion of
listening
INTRODUÇÃO
A migrânea é uma das cefaleias primárias mais
comuns e incapacitantes, caracterizada por uma dor
pulsátil ou em pressão que piora com o esforço físico,
podendo ser acompanhada por náusea e/ou vômito,
fotofobia e fonofobia entre outros sintomas. Alguns
podem se manifestar antes da crise de dor, na fase
chamada pródromo e estão intimamente relacionados
com disfunção no sistema nervoso central e sistema
vascular craniano.
(1,2)
De acordo com a Associação Internacional do Estudo
da dor (IASP), a alodínia é uma mudança na interpreta-
ção de um estímulo normalmente não doloroso que passa
a ser reconhecido como dor.
(3)
A alodínia ocorre por uma
sensibilização no sistema nervoso central e por uma
sensibilização periférica nas fibras de transmissão nervosa
(fibras C, Aβ, Aα). Essa sensibilização periférica se inicia
pela presença de mediadores inflamatórios que causam
lesão nas fibras de dor e nas fibras adjacentes.
(3-5)
Está estabelecida a relação entre a migrânea e a
alodínia cutânea, sendo que esta pode ser considerada
como fator agravante e um marcador da cronificação
desse tipo de cefaleia.
(4-6)
A presença de alterações
de sensibilidade tátil ou dolorosa em pacientes migra-
nosas pode ser avaliada por exames físicos e questio-
nários.
(3,5,7-9)
A avaliação da sensibilidade através da aplicação
de monofilamentos foi inicialmente desenvolvida por Von
Frey sendo então aprimorada por Simmes e Weinstein.
Esses monofilamentos consistem em um filamento de
Nylon com o comprimento nominal fixo em 38 mm e o
diâmetro variado, fixado a uma base rígida de
plástico.
(10-12)
Os monofilamentos Semmes-Weinstein são capazes
de ativar as fibras responsáveis pela transmissão do
estímulo doloroso (Aβ, C, A) quando estas estão sensi-
bilizadas, sendo que os monofilamentos finos de menor
carga irão estimular principalmente Aβ-aferentes sensi-
bilizadas e os grossos irão estimular principalmente fibras
A sensibilizadas.
(13)
A empresa SORRI® (Sociedade de Reabilitação e
Reintegração do Incapacitado), empresa nacional,
desenvolveu um Kit que é formado por seis desses
monofilamentos baseando-se na sua teoria de origem.
Com o objetivo de eliminar complicações na com-
preensão dos resultados do teste optou-se por usar um
simples valor de força, arredondado em gramas para
expressar a pressão aplicada por cada monofilamento
representada também pela cor 0,05 g (verde); 0,2 g
(azul); 2 g (lilás); 4 g (vermelho); 10 g (laranja) e 300 g
(rosa).
(14)
Trata-se de dispositivos acessíveis, nacionais e de
fácil utilização na prática clínica para avaliação da sen-
sibilidade cutânea frequentemente utilizados em pacientes
com diabetes e hanseníase.
(14)
No entanto, não está esta-
belecida na literatura a carga aplicada pelos monofila-
mentos da SORRI® e sua variação, ou a sua utilidade
na avaliação do limiar doloroso em pacientes migra-
nosas.
O objetivo desse estudo foi verificar a alodínia e a
confiabilidade dos monofilamentos Semmes-Weinstein da
SORRI® para a avaliação dor e da carga aplicada em
pacientes com migrânea, bem como a relação entre essas
variáveis.
MÉTODO
Foram avaliadas 40 mulheres divididas em dois
grupos, esperando-se um poder amostral de 80%
baseado em estudo piloto prévio, calculado utilizando
as médias e desvios-padrão da variação da carga
aplicada pelos monofilamentos encontrada nos grupos,
adotando um nível de significância de 0,05 e variando
o poder do teste.
(15-17)
No grupo Migrânea (GM) foram
incluídas 20 voluntárias com média de idade 41(15)
Hadache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014 9
GRUNEWALD JNC, GONÇALVES MC, FLORENCIO LL, CARVALHO GF, FONSECA MCR, DACH F, GROSSI DB
anos, com média de frequência de crises de 10(10) por
mês, selecionadas durante a consulta no ambulatório de
cefaleia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
No grupo controle (GC) foram inclusas 20 voluntárias
com média de idade 38(18) anos, selecionadas entre os
membros da comunidade, alunas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto USP e funcionárias do Hospital
das Clínicas de Ribeirão Preto.
Os critérios de exclusão para ambos os grupos foram
doenças que interferissem na sensibilidade, como hanse-
níase, diabetes, neuralgia do trigêmeo, problemas cogni-
tivos, dores crônicas e outros tipos de cefaleia. O estudo
foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribei-
rão Preto (processo HCRP nº 12732/2011) e todas
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Foram realizadas duas avaliação de dor com os
monofilamentos SORRI® com um intervalo de 15
minutos entre elas. A fim de verificar a carga aplicada
durante as avaliações, os monofilamentos SORRI®
foram acoplados à célula de carga do Von Frey
eletrônico IITC Inc. Life Science Almemo®2450. O
sistema do Von Frey eletrônico permite testar o limar
doloroso visualizando seus valores em um sistema fácil
de utilizar, preciso e compacto. O sistema calcula a
carga aplicada em gramas com base na pressão
aplicada e exibe suas leituras. Uma célula de carga
interna está ligada à ponta do monofilamento, que é o
elemento central do sistema, e que ligada ao sistema
Figura 1 - Monofilamento da SORRI® (1) acoplado ao Von Frey eletrônico (2) com Visor digital (3).
eletrônico permite a demonstração digital do valor do
resultado do teste 18 (Figura1).
As voluntárias foram posicionadas na posição
sentada, com os joelhos fletidos e pés apoiados no chão,
antebraços supinados e mãos descansando sobre os
membros inferiores. Inicialmente as voluntárias foram
esclarecidas de como seria a avaliação e nas voluntárias
do GM foi aplicada a versão Brasileira do Questionário
ASC-12 Brasil.
(7,19)
A coleta de dados prosseguia pela
avaliação com os monofilamentos SORRI® e da aplica-
ção da técnica de Brush em cinco regiões; essa técnica é
considerada na literatura como o padrão ouro para se
detectar alodínia dinâmica e consiste na aplicação de
dez repetições de um pincel macio e de tamanho
pequeno questionando a paciente se esse estímulo foi
capaz de causar dor.
(3,20)
Os monofilamentos foram posicionados perpen-
dicularmente à pele aplicando-se uma força até que o
monofilamento curvasse, e esse estímulo foi mantido
durante dois segundos seguindo as recomendações do
fabricante.
(10,11,14)
A aplicação dos monofilamnetos foi realizada em
cinco pontos aleatoriamente em todas as avaliações.
(9,21)
PP
PP
P
onto 1 e 2onto 1 e 2
onto 1 e 2onto 1 e 2
onto 1 e 2: Região Frontal bilateralmente, 2 cm
acima da parte medial da sobrancelha, região inervada
pelo ramo oftálmico do nervo trigêmeo.
PP
PP
P
onto 3 e 4onto 3 e 4
onto 3 e 4onto 3 e 4
onto 3 e 4: Ventre do músculo masseter bila-
teralmente, 2 cm acima do ângulo da mandíbula, região
inervada pelo ramo mandibular do nervo trigêmeo.
PP
PP
P
onto 5onto 5
onto 5onto 5
onto 5: Região anterior e proximal de antebraço
direito.
10 Headache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014
GRUNEWALD JNC, GONÇALVES MC, FLORENCIO LL, CARVALHO GF, FONSECA MCR, DACH F, GROSSI DB
A sequência de aplicação dos monofilamentos foi
realizada três vezes em cada uma das duas avaliações;
em todas as aplicações a carga real mostrada no visor
digital foi anotada. Ao relatar dor, a voluntária era ques-
tionada quanto à intensidade da dor de forma verbal,
classificando-a por uma escala entre 0 a 10, sendo 0
sem dor e 10 a dor mais forte que já sentiu.
(22)
O teste sempre se iniciou com o monofilamento
de 0,05 g. Na ausência de resposta, a dor prosseguia
com os demais monofilamento e assim progressi-
vamente até encontrar o limiar de dor da paciente para
aquele ponto ou até o final do exame com o mono-
filamento de 300 g.
(9,14)
Durante a realização das coletas
foi observada uma incoerência ao se aplicar o mono-
filamento rosa (300 g), o que levou à opção de não se
utilizar esse monofilamento.
O limiar doloroso foi considerado o monofilamento
de menor calibre capaz de produzir dor,
(8,9)
e com relação
à região de aplicação foi analisado aquele que apresentava
uma maior frequência do limiar de dor. Para a análise
estatística da confiabilidade do relato de dor e da carga
dos monofilamentos foi selecionada a segunda repetição,
por considerarmos mais confiável já que a voluntária já
havia passado pelo estímulo na primeira repetição e os
monofilamentos já estavam aquecidos.
(14)
Para análise estatística da confiabilidade da avalia-
ção dor foi aplicado o Índice de Kappa, considerando
valores < 0 (sem concordância), 0-0,19 (concordância
pobre), 0,20-0,39 (concordância razoável), 0,40-0,59
(concordância moderada), 0,60-0,79 (concordância
substancial) e 0,8-1,0 (concordância excelente).
(23)
Para
análise da confiabilidade da carga aplicada pelos
monofilamentos em cada ponto foi aplicado o teste de
correlação de intraclasses (ICC)
(24,25)
segundo a escala
ICC < 0,4 pobre, 0,4 ICC < 0,75 moderada e ICC 0,75
excelente
(25)
e a análise da variação da carga aplicada
com relação à carga pré-definida dos monofilamentos
foi feita através da diferença entre a mediana da carga
aplicada e a carga pré-definida.
RESULTADOS
Das 20 voluntárias do GM 14 (70 %) relataram dor
ao estímulo do monofilamento com uma intensidade
média de dor 3(2) na EVA, sendo que 7% apresentaram
como limiar de dor a cor laranja (10 g), 14% a cor azul
(0,2 g), 21% a cor verde (0,05 g) e a cor vermelha (4 g)
e 35% a cor lilás (2 g). No GC houve relato por apenas
10% das voluntárias com média de intensidade de dor
de 2(0), sendo 50% como limiar de dor a cor vermelha e
50% a cor laranja (Tabela 1).
Das voluntárias que relataram dor ao estímulo dos
monofilamentos 35% também relataram dor na técnica
de brush e 100% foram classificadas pelo ASC-12 Brasil
com alidínia, sendo 1 (7%) com alodínia leve, 5 (35%)
alodínia moderada, 8 (58%) alodínia severa. Além disso,
64% relataram dor de cabeça no momento da avaliação.
Com relação à região de menor limiar doloroso 58 %
das voluntárias apresentaram o antebraço direito, 22 %
na região frontal esquerdo e 22% na região do músculo
masseter direito.
No GM para a concordância do relato de dor teste e
reteste ocorreu uma concordância pobre (k =0, 167) para
frontal direito, concordância razoável (k =0, 375; k= 0,
210; k=0, 286) para músculos masseteres direito e
esquerdo e antebraço direito, e concordância substancial
(k =0,692) para frontal esquerdo. No grupo controle não
ocorreu variação entre as resposta de teste e reteste.
A variação da carga aplicada pelos monofilamentos
com relação à carga pré-definida pelo fabricante foi
analisada através das diferenças das cargas (Tabela 2).
O monofilamento verde variou 150% da carga pré-
definida pelo fabricante de 0,05 g. O monofilamento
azul não apresentou variação da carga pré-definida pelo
fabricante de 0,2 g nos pontos frontais e antebraço direito,
já nos pontos masseter direito e esquerdo apresentou uma
variação de até 50% da carga. O monofilamento lilás
variou de sua carga pré-definida de 2 g de 10 a 20%.
O monofilamento vermelho apresentou uma variação
de sua carga pré-definida de 4 g de 15 a 25% e o
monofilamento laranja variou sua carga pré-definida de
10 g de 0,5 a 10 % (Tabela 2).
Na análise da confiabilidade da carga aplicada o
monofilamento verde, azul, laranja e vermelho apre-
sentaram confiabilidade de moderada a excelente. Já o
monofilamento lilás apresentou confiabilidade pobre
(Tabela 3).
Hadache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014 11
A avaliação da dor com os monofilamentos da
empresa SORRI® apresentou uma concordância razo-
ável entre teste e reteste e uma relação de 100% com
a detecção de alodínia pelo questionário ASC-12
Brasil. A confiabilidade da carga dos monofilamentos
nas regiões avaliadas apresentou uma variabilidade
entre pobre a excelente e foi observada uma varia-
bilidade da carga pré-definida pelo fabricante.
DISCUSSÃO
No GM, 70% apresentaram dor à aplicação dos
monofilamentos abaixo de 10 g em regiões antebraço
direito, frontal esquerdo e músculo masseter direito, com
uma concordância entre teste e reteste predominantemente
razoável. Nas voluntárias que apresentaram relato de
dor, foi observada um maior presença de classificação
de alodínia moderada e intensa no questionário ASC-
12 Brasil,
(7)
relato de dor na técnica de brush e dor de
cabeça no momento da avaliação.
Foi observada uma variação da carga definida pelo
fabricante dos monofilamentos em relação à carga apli-
cada, sendo o monofilamento laranja o que apresentou
menor variação de 0,5 a 10% da carga de 10 g. Com
relação à confiabilidade teste e reteste da carga, os
monofilamentos apresentaram uma variação de confia-
bilidade pobre para o monofilamento lilás e excelente
para o monofilamento vermelho.
A variação da carga apresentada neste estudo pode
ser explicada por fatores extrínsecos e intrínsecos ao
equipamento como geometria, diâmetro e tipo de
material.
(12,26,27)
Nossos dados corroboram com outros
estudos realizados em monofilamentos de outros fabri-
cantes que utilizaram balanças para verificar a carga e
que também observaram variação em relação à carga
pré-definida.
(26-28,29)
Dessa forma, todos esses fatores
parecem ter contribuído para a variação da carga. Uma
possível solução para essa questão seria definição de
variação da carga como ocorre com outros fabricantes
dos monofilamentos Simmen-Weinstein que pré-definem
uma variabilidade esperada como, por exemplo, de
5%;
(28)
a empresa SORRI® não define qual a variação
da carga prevista para os seus monofilamentos e os
dados deste trabalho mostraram que a variabilidade da
carga dos monofilamentos é em média 10% a 20% da
carga pré-definida.
Os monofilamentos SORRI® demonstraram uma
diferença em produzir a percepção de dor em voluntárias
com migrânea em relação a pacientes controles. Essa
diferença entre os grupos pode estar relacionada à
diferença da definição e percepção da dor em pacientes
que apresentam dores crônicas como a migrânea, e
ANÁLISE DA CONFIABILIDADE DA CARGA E DA AVALIAÇÃO DA DOR UTILIZANDO OS MONOFILAMENTOS SORRI®
EM PACIENTES COM MIGRÂNEA
12 Headache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014
GRUNEWALD JNC, GONÇALVES MC, FLORENCIO LL, CARVALHO GF, FONSECA MCR, DACH F, GROSSI DB
também às alterações decorrentes da fisiopatologia da
migrânea que leva essas pacientes a apresentarem um
menor limiar doloroso em regiões cefálicas e extra-cefá-
licas.
(5,8,9)
Em nosso estudo encontramos limiar de dor nas
voluntárias migranosas de 0,05 g a 10 g e em algumas
não houve relato de dor assim como em grande parte
do grupo controle. Estudo realizado com monofilamentos
Von frey em 15 pacientes migranosas encontrou um limiar
de dor de 10 a 50 g para os migranosos, uma diferença
de até 180 g com o grupo controle variando entre as
regiões, observando a região frontal a de menor limiar.
Também encontrou a associação de limiar doloroso
relatado com os monofilamentos com a detecção de
alodínia por autorrelato como no presente estudo.
(8)
Burstein et al.
(9)
com o kit de 20 monofilamentos Von
Frey encontrou em uma paciente migranosa, um limiar
doloroso após quatro horas de crise de 2 g em região
frontal.
(9)
Keizer et al.
(13)
utilizaram os monofilamentos Von
Frey e observaram que, em 20 das 22 voluntárias, foi
possível determinar o limiar de dor, sendo encontrado
como limiar o monofilamento em torno de 4 g, enquanto
que no grupo controle não houve relato de dor.
(13)
Pacientes com migrânea apresentam uma maior
percepção de dor diante do estímulo dos monofilamentos
quando comparado com o estímulo do brush (estático
versus x dinâmico) assim como os dados do presente
trabalho. A literatura sugere que ambas as alterações de
sensibilidade estática e dinâmica podem coexistir no
mesmo paciente, porém o estímulo por pressão estática
é mais sensível para detectar alterações de sensibi-
lidade.
(8,20)
A confiabilidade da avaliação da dor com os
monofilamentos Ssimmen-Wweinstein foi de pobre a
moderada, assim como observada
(30,31)
em avaliações
de sensibilidade na região da mão e em pacientes
saudáveis em dermátomos da escala ASIA, demonstrando
que essa diferença da percepção do monofilamento pode
estar relacionada à geometria que varia com a área de
contato.
(10,31)
CONCLUSÃO
O kit de monofilamentos da SORRI® ao ser aplicado
na região da face apresentou grande variabilidade da
carga e resposta a dor no teste e reteste em pacientes
com e sem migrânea, além de variação em comparação
a carga informada pelo fabricante. Portanto, os fila-
mentos da SORRI® devem ser utilizados de forma
cautelosa para a avaliação da dor principalmente com
relação à interpretação de seus resultados e devem ser
complementados com a utilização de outros métodos
complementares para avaliação de alterações do limiar
doloroso nesses pacientes.
Órgão financiador: Órgão financiador:
Órgão financiador: Órgão financiador:
Órgão financiador: Fundação de amparo a ensino e pequisa
do estado de São Paulo, (FAPESP)
Processo 2012/02867-9
Aprovação do comitê de ética: Aprovação do comitê de ética:
Aprovação do comitê de ética: Aprovação do comitê de ética:
Aprovação do comitê de ética: Processo HCRP nº 12732/
2011
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Hadache Medicine, v.5, n.1, p.7-13, Jan./Feb./Mar. 2014 13
Correspondência
Jaqueline Nisa de Cássia GrunewaldJaqueline Nisa de Cássia Grunewald
Jaqueline Nisa de Cássia GrunewaldJaqueline Nisa de Cássia Grunewald
Jaqueline Nisa de Cássia Grunewald
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Avenida Bandeirantes 3900
14049-900 – Ribeirão Preto, SP, Brasil.
(016) 36020737/(016) 988383083
ackgrunew@outlook.com.br
jackgrunw@gmail.com/mcg@yahoo.com.br
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Recebido: 02/02/2014
Aceito: 20/02/2014
ANÁLISE DA CONFIABILIDADE DA CARGA E DA AVALIAÇÃO DA DOR UTILIZANDO OS MONOFILAMENTOS SORRI®
EM PACIENTES COM MIGRÂNEA
14 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
Relação entre cefaleia primária e restrição de
amplitude de movimento cervical: um estudo piloto
Relation between primary headache and restriction of cervical range of
motion: a pilot study
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
IntroduçãoIntrodução
IntroduçãoIntrodução
Introdução: As cefaleias constituem a sintomatologia neuro-
lógica mais comum em todo o mundo; a presença desta
alteração pode promover diversas consequências na biome-
cânica dos músculos cervicais, que podem limitar a mobilidade
cervical e causar prejuízos aos pacientes que sofrem com
cefaleia.
ObjetivoObjetivo
ObjetivoObjetivo
Objetivo: Avaliar a relação entre a presença de
cefaleia primária e a restrição na amplitude de movimento
cervical.
MétodosMétodos
MétodosMétodos
Métodos: Foi realizado um estudo piloto com 33
indivíduos (27 mulheres) com idade entre 20 e 38 anos (26
± 5 anos). Para avaliar a mobilidade cervical ativa foi utilizado
o goniômetro universal. O grau de disfunção cervical foi
avaliado pelo questionário de Índice de Disfunção relacionado
ao Pescoço. Para classificar a cefaleia primária foram utilizados
os critérios estabelecidos pela International Classification of
Headache Disorders (ICHD-III beta version, 2013).
ResultadosResultados
ResultadosResultados
Resultados: Não houve diferenças estatísticas entre os grupos
em relação ao gênero e última crise de cefaleia. A mobilidade
cervical apresentou diferenças entre os grupos com cefaleia e
saudáveis, mas essas não foram estatisticamente significantes.
Também houve diferenças entre os grupos cefaleia e saudáveis
em relação à classificação do Índice de Disfunção relacionado
ao Pescoço, sem diferença significante (p<0,05).
ConclusãoConclusão
ConclusãoConclusão
Conclusão:
O estudo não demonstrou diferença entre a mobilidade
cervical em pacientes com cefaleia primária, quando com-
parados a indivíduos saudáveis.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave
::
::
: Cefaleia; Mobilidade; Cervical.
Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros, Angélica da Silva Tonório, Thaís Ferreira Lopes Diniz Maia,
Camila Carolinne Silva de Almeida, Daniella Araújo de Oliveira
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco
Barros MMMB, Tonório AS, Maia TFLD, Almeida CCS, Oliveira DA. Relação entre cefaleia primária e restrição de
amplitude de movimento cervical: um estudo piloto. Headache Medicine. 2014;5(1):14-20
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
IntroductionIntroduction
IntroductionIntroduction
Introduction: Headache is the most common neurological
symptom across the world. The presence of this alteration
promotes different effects on the biomechanics of cervical
muscles, which may limit cervical mobility and also bring
damage to patients suffering with headache.
ObjectiveObjective
ObjectiveObjective
Objective:
Evaluate the relation between the presence of primary headache
and cervical range of motion restriction.
MethodsMethods
MethodsMethods
Methods: Pilot study
conducted by using a sample of 33 subjects aged between 20
and 38 years (26 ± 5 years). To evaluate active cervical
mobility, universal goniometer was used. The degree of cervical
dysfunction was assessed by Neck Disability Index
questionnaire. To sort the primary headache were used criteria
established by the International Classification of Headache
Disorders (ICHD-III beta version, 2013).
ResultsResults
ResultsResults
Results: There was
no statistical difference between the groups in relation to gender
and last headache crisis. The cervical mobility differs between
groups with headache and healthy, but this was not statistically
significant. There were also differences between the headache
and the healthy group regarding to the Neck Disability Index
(NDI).
ConclusionConclusion
ConclusionConclusion
Conclusion: The study does not demonstrate a
difference between the cervical mobility in patients with primary
headache compared to healthy subjects.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Headache; Mobility; Neck.
INTRODUÇÃO
A cefaleia é a desordem neurológica mais prevalente
na população em geral. Dados epidemiológicos
estimam que 50% da população mundial apresentou
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 15
cefaleia no último ano e 90% já relataram ter experi-
mentado episódios de cefaleia alguma vez na vida.
(1,2)
Entre os tipos de cefaleias primárias, a cefaleia tipo
tensional (CTT) é a mais frequente na população, com
uma prevalência de aproximadamente 52%, em seguida
vem a migrânea, com uma prevalência de 18%.
(3,4)
Em
relação aos aspectos clínicos, são encontradas em ambos
os sexos e atingem todas as faixas etárias, com início
mais frequente após os 20 anos de idade, sendo encon-
trado maior número de casos entre os 20 e 50 anos.
(5-11)
A fisiopatologia da CTT ainda é pouco conhecida,
alguns estudos sugerem que pode originar-se a partir de
mecanismos periféricos (alterações nos tecidos mio-
fasciais) e mecanismos centrais do sistema nervoso.
(11-15)
Durante muito tempo, a migrânea foi considerada uma
cefaleia de origem vascular. Hoje, acredita-se que as
anormalidades vasculares são secundárias a uma disfun-
ção do sistema nervoso central; também é relacionada
a um forte componente genético.
(16,17)
Diversos estudos demonstram que indivíduos com
cefaleias primárias podem apresentar um aumento da
sensibilidade à palpação dos tecidos miofasciais
pericranianos, alterando a ativação do músculo dolorido
e a coordenação entre os músculos agonistas e anta-
gonistas cervicais. A coativação das musculaturas agonista
e antagonista ocorre como estratégia de proteção,
limitando a velocidade, força e amplitude de movimento
articular.
(3,13,15)
A função muscular da região cervical
também pode ser afetada pela presença de trigger points
localizados nos músculos da cabeça, pescoço e ombros
(mais encontrados em suboccipitais, trapézio superior e
esternocleidomastoídeo).
(11,14)
Outro fator considerável de
alteração da cervical frequentemente encontrado é a
anteriorização da cabeça, que associada à dor na região
cervical é caracterizada por um encurtamento dos
músculos extensores cervicais posteriores e fraqueza dos
músculos flexores cervicais anteriores.
(16-18)
A anterio-
rização da cabeça também pode causar compressão
mecânica da coluna cervical superior, produzindo
diminuição na mobilidade dos tecidos moles e articu-
lações deste segmento.
(19)
Todas as alterações citadas
contribuem para a modificação da biomecânica da
região do pescoço, resultando em dor e prejuízos à
mobilidade cervical.
(17,20)
Apesar de ser uma doença extremamente frequente
em todas as faixas etárias na população global e diversos
estudos comprovarem sua relação direta com alterações
cervicais, as consequências da presença de cefaleia para a
mobilidade cervical ainda não foram bem definidas. Logo,
o presente estudo tem como objetivo avaliar a amplitude
de movimento cervical em indivíduos com cefaleias
primárias e analisar as possíveis alterações ocorridas.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo piloto observacional e des-
critivo, com uma amostra espontânea por conveniência
composta por 33 indivíduos (27 mulheres), com idade
entre 20 e 38 anos de idade (26 ± 5 anos). Os voluntários
foram abordados e convidados a participar da pesquisa,
afirmando sua participação por meio da assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; aqueles que
se encontravam dentro da faixa etária de 20 a 40 anos
eram incluídos no estudo. Eram excluídos os que pos-
suíam alguma patologia neurológica conhecida, que
apresentassem alguma alteração degenerativa ou trau-
mas na região cervical. O estudo foi realizado no Labo-
ratório de Eletrotermofototerapia do Departamento de
Fisioterapia. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do CCS-UFPE com CAAE -
01661812.9.0000.5208.
Os voluntários responderam a um questionário
elaborado pelas pesquisadoras para obtenção dos
dados sociodemográficos: gênero, Índice de Massa
Corpórea (IMC) e prática de atividade física. O IMC foi
dividido em dois grupos: saudáveis (aqueles que se
encontravam com IMC<25) e sobrepeso (IMC>25),
utilizando os critérios da Organização Mundial de
Saúde.
(21)
Quanto à prática de atividade física, foram
considerados como praticantes aqueles que realizavam
alguma atividade física com uma frequência de, no
mínimo, três vezes por semana; e os sedentários os que
não realizavam nenhuma atividade física (OMS, 2005).
Para caracterizar a cefaleia utilizou-se um questionário
adaptado do Procefaleia,
(22)
baseado nos critérios
estabelecidos pela Sociedade Internacional de Cefaleia
(ICHD-II, 2004).
(4)
Foram considerados indivíduos sem
cefaleia aqueles não apresentaram nenhum episódio de
cefaleia no último mês (
oito voluntários), e foram conside-
rados como grupo cefaleia, os voluntários que preenchiam
aos critérios da Sociedade Internacional de Cefaleia (ICHD-
II, 2004) para as cefaleias primárias (25 voluntários).
O questionário sobre Índice de Disfunção relacio-
nado ao Pescoço (NDI - Neck Disability Index) foi desen-
volvido em 1989 por Howard Vernon com o objetivo de
avaliar a incapacidade em indivíduos com dor na região
cervical e, posteriormente, adaptado e validado para a
população brasileira.
(23)
Ele é constituído por dez seções,
RELAÇÃO ENTRE CEFALEIA PRIMÁRIA E RESTRIÇÃO DE AMPLITUDE DE MOVIMENTO CERVICAL: UM ESTUDO PILOTO
16 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
BARROS MMMB, TONÓRIO AS, MAIA TFLD, ALMEIDA CCS, OLIVEIRA DA
subdivididas em seis itens (variam de 0-5) com escores
que variam entre 5 e 50, que é a pontuação total. A
partir da pontuação obtida, classifica-se em: sem disfun-
ção (0-4 pontos), disfunção leve (5-14 pontos), disfunção
moderada (15-24 pontos), disfunção grave (25-34
pontos) ou disfunção completa (>35 pontos).
(24,25)
Para avaliar o movimento cervical foi feita a gonio-
metria ativa utilizando o goniômetro universal (Carci,
Indústria e Comércio de Aparelhos Cirúrgicos e Ortopé-
dicos Ltda, Brasil) com escala de medida de dois em
dois graus para realizar as medições (Figura 1).
Todas as medidas foram obtidas pelo mesmo
examinador e utilizando o mesmo protocolo. O voluntário
era orientado a se sentar confortavelmente, mantendo a
coluna apoiada no encosto da cadeira e os pés apoiados
no chão. Inicialmente se marcava pontos de referência
no processo espinhoso de C7, no centro do lóbulo da
orelha e no centro do nariz e alinhava-se a coluna cervical.
Todos os movimentos cervicais ativos (flexão, extensão,
inclinação lateral direita, inclinação lateral esquerda,
rotação direita, rotação esquerda) foram avaliados
usando como referência os pontos descritos previamente
em outro estudo.
(26)
Na flexão, o braço fixo do goniômetro
era posicionado em nível do acrômio, paralelo ao solo
e no mesmo plano transverso do processo espinhoso de
C7 e, o braço móvel era dirigido ao ponto marcado no
lóbulo da orelha, amplitude de movimento (ADM)
esperada de 0 a 65°; para extensão utilizou-se os mesmos
pontos de referência da flexão, com ADM esperada entre
0 a 50°. A inclinação lateral foi obtida com o eixo do
goniômetro posicionado sobre o processo espinhoso de
C7, braço fixo paralelo ao solo e braço móvel dire-
cionado na linha média da coluna cervical e protu-
berância occipital externa, ADM esperada de 0 a 40°.
Na rotação, o eixo do goniômetro localiza-se no centro
da cabeça e, os braços fixo e móvel encontram-se na
sutura sagital, ADM esperada de 0-55° (Figura 2).
Figura 1. Goniômetro Universal Carci
Figura 2. Goniometria ativa dos movimentos cervicais; A - Rotação à direita, B - Rotação à esquerda, C - Flexão, D - Extensão, E - Inclinação
lateral esquerda, F - Inclinação lateral direita.
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 17
Foram obtidas três medidas de cada movimento e
utilizada média aritmética entre as mesmas para análise.
Os dados estatísticos são mostrados como média ±
desvio padrão. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado
para verificar o tipo de distribuição das variáveis a serem
estudadas. Como as variáveis não apresentarem uma
distribuição normal foi utilizado o teste não-paramétrico
Mann-Whitney. Na análise das variáveis categóricas foi
aplicado o qui-quadrado (χ
2
), conforme a frequência
esperada nas células. O nível de significância considerado
como diferente estatisticamente foi p<0,05. Os dados foram
tabulados no programa Microsoft Excel, versão 2007 e
posteriormente processados usando o programa SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0.
RESULTADOS
A amostra foi constituída de 33 voluntários, sendo
27 mulheres (81,8%) e seis homens (18,2%), com idades
variando de 20 a 38 anos (26 ± 5 anos). O IMC da
amostra demonstrou que 85% (28 indivíduos) encontrava-
se com IMC normal (<25), e 15% (5 indivíduos)
encontravam-se com sobrepeso (>25). Não houve
diferença entre indivíduos com cefaleia e a média de
IMC (22,69 Kg/m
2
com cefaleia e 22,7 Kg/m
2
sem
cefaleia; p=0,985; Teste de Mann Whitney). Compa-
rando-se os níveis de atividade física, 63% (21 voluntários)
da amostra total foram considerados sedentários. Dos
indivíduos com cefaleia, 16/25 (75,8%) eram sedentários.
Em relação à última crise, 25 (75,8%) voluntários
apresentaram cefaleia no último mês e foram classifi-
cados como grupo cefaleia e os 8 (24,2%) restantes que
não apresentaram cefaleia no último mês foram consi-
derados como o grupo sem cefaleia (Tabela 1). Não
houve diferença significativa entre os grupos quando foi
feita a relação entre gênero e última crise (21/27 mulheres
no último mês e 4/6 homens com p=0,566).
A Tabela 2 mostra a relação entre a presença de
cefaleia e o movimento cervical. O grupo com cefaleia
apresentou menores amplitudes de movimento cervical
quando comparado com os indivíduos sem cefaleia, porém
não houve diferença estatística entre os grupos; p<0,05.
Relacionando os grupos cefaleia e sem cefaleia com
a disfunção cervical (Tabela 3), mostrou-se que indivíduos
com cefaleia possuem os seguintes graus de disfunção
cervical: 24% sem disfunção, 28% disfunção leve, 36%
com disfunção moderada e 12% disfunção grave. O
grupo sem cefaleia apresentou: 50% sem disfunção,
37,5% disfunção leve, 12,5% com disfunção moderada
e nenhum caso de disfunção grave. A mobilidade cervical
entre os indivíduos com menor disfunção cervical e os
com disfunções mais graves não mostrou diferença
estatística; p<0,05 (Tabela 4).
RELAÇÃO ENTRE CEFALEIA PRIMÁRIA E RESTRIÇÃO DE AMPLITUDE DE MOVIMENTO CERVICAL: UM ESTUDO PILOTO
18 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
BARROS MMMB, TONÓRIO AS, MAIA TFLD, ALMEIDA CCS, OLIVEIRA DA
DISCUSSÃO
Apesar dos mecanismos fisiopatológicos que
desencadeiam as cefaleias primárias ainda não
estarem totalmente definidos, alguns estudos apontam
uma possível relação da cefaleia com alterações na
função da musculatura da região cervical e
ombros.
(3,12,13,16)
Alterações na ativação muscular em pacientes com
cefaleias primárias foram avaliadas em estudos que
propõem que o controle motor está afetado em indivíduos
acometidos, alterando a biomecânica da cabeça e da
região cervical. Em consequência às modificações
biomecânicas, podem ser observadas alterações posturais
(anteriorização da cabeça), diminuição na produção da
força máxima dos músculos da região cervical e da
cabeça e mecanismos compensatórios na ativação desses
músculos; favorecendo as restrições na mobilidade
cervical.
(14,16)
A disfunção cervical é constituída por diversos
fatores, como: presença de dor, limitação do movimento
e alterações posturais que vão resultar em compro-
metimento funcional deste segmento corporal.
No presente estudo, indivíduos com cefaleia apre-
sentaram índices de disfunção cervical mais altos (76%)
do que os sem cefaleia (50%), avaliados pelo NDI. Estu-
dos anteriores mostram que existe uma relação entre a
presença de cefaleias primárias e a disfunção cervical,
porém estes não fizeram uso do NDI para esta com-
paração.
(3,10)
A disfunção cervical nesses estudos geral-
mente é identificada através de eletromiografia (análise
da ativação muscular), mensuração da amplitude de
movimento cervical, análise postural (anteriorização da
cabeça, presença de encurtamentos musculares), pre-
sença de trigger points à palpação.
(11,14,15,17)
São escas-
sos os estudos que comparam as variáveis cefaleia e
disfunção cervical através do NDI, ou que compare os
níveis de disfunção do NDI com a presença da cefaleia,
apesar ser comprovada a presença da disfunção cervical
em portadores de cefaleias primárias.
(18,20)
Em relação à mobilidade cervical ativa, foram
encontradas diferenças entre os grupos nos movimentos
de flexão/extensão, inclinação lateral direita/esquerda
e rotação direita/esquerda; com o grupo cefaleia apre-
sentando mobilidade diminuída em relação ao grupo
sem cefaleia, mas o resultado não foi significativo
(p< 0,05). Dados semelhantes foram encontrados em
um estudo realizado em 1997, onde a mobilidade
cervical foi relacionada com a presença de cefaleia. Este
estudo continha uma população de 141 indivíduos que
se dividia em: 51 controles, 28 pacientes com migrânea,
34 com cefaleia tipo-tensional (CTT) e 28 com cefaleia
cervicogênica; estes foram submetidos à avaliação da
ADM cervical e não houve diferença significativa entre a
mobilidade dos indivíduos com migrânea e CTT e o grupo
controle.
(27)
Outros estudos, em desacordo com os resul-
tados obtidos nesta pesquisa, encontraram diferenças
estatisticamente significantes em todos os movimentos
cervicais (flexão, extensão, inclinação direita/esquerda,
rotação direita/esquerda) entre os grupos de cefaleia e
sem cefaleia.
(10,14)
Resultados diferentes dos achados em estudos ante-
riores podem ser justificados pelas diferenças meto-
dológicas entre os estudos. Em relação à amostra,
estudos anteriores utilizaram amostras cujas médias de
idade variavam de 42±18 anos
(10)
a 51±15 anos,
(14)
sendo a idade mínima de 20 e a máxima de 70 anos.
Em nosso estudo, a média de idade foi de 26±5 anos,
variando de 20 a 38 anos. O tamanho da amostra
também foi menor (n=33) e não equivalente entre os
grupos (25 cefaleia e oito sem cefaleia), além de não
haver subdivisões entre os subtipos de cefaleias
primárias. Tal fato dificulta a comparação entre os
estudos.
Outro fator que pode interferir nos resultados é a
da cronicidade da cefaleia, em uma amostra mais
jovem, a prevalência da cefaleia crônica é menor e,
consequentemente, as alterações biomecânicas também
estão diminuídas, visto que a cronicidade da cefaleia
relaciona-se diretamente proporcional ao aumento da
idade.
(10,14)
Na amostra estudada, apenas seis volun-
tários (24%) apresentaram uma frequência de crises
maior do que cinco vezes por mês e, todas as crises
possuíam duração menor do que 24 horas, não
caracterizando nenhum indivíduo como cefaleia crônica.
Segundo os critérios da Sociedade Internacional de
Cefaleia (ICHD-III beta version, 2013), é considerada
cefaleia crônica quando as crises ocorrem durante 15
dias ou mais em um período de um mês, com média
maior ou igual a 180 dias por ano.
(4)
O instrumento utilizado, goniômetro universal,
apesar de ser de baixo custo, fácil manuseio e mais
difundido na prática clínica, não é o mais empregado
atualmente em pesquisas. Estudos semelhantes utilizaram
o goniômetro cervical, que reproduz medidas mais
exatas,
(10,12,14,16)
por possuir uma confiabilidade intra-
observador entre 0,7-0,9 e a confiabilidade interobser-
vador entre 0,8-0,87.
(28)
Porém, estudo realizado para
comparar os métodos de mensuração da mobilidade
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 19
cervical ativa mostrou que o goniômetro universal
alinhado nos pontos de referência seguidos no presente
estudo, é o método que mais se assemelha aos resultados
obtidos pelo goniômetro cervical (CROM).
(29)
Apesar deste estudo não ter demonstrado nenhuma
significância estatística entre os grupos, houve uma
diferença de amplitude de movimento cervical ativo em
todos os movimentos (flexão/extensão, inclinação lateral
direita/esquerda e rotação direita/esquerda), e uma clara
diferença na classificação da disfunção cervical pelo NDI
entre os indivíduos com cefaleia e os sem cefaleia. Tal
fato nos leva a identificar a importância da avaliação
cervical por um fisioterapeuta nos indivíduos com cefaleia
primária para identificação da provável disfunção cervical
e posterior abordagem terapêutica dos indivíduos
acometidos, direcionando o tratamento desses para suas
implicações clínicas, melhorando assim a qualidade de
vida e auxiliando na diminuição da frequência de crises
nos mesmos.
Sugere-se que então que novos estudos sejam
realizados com amostras maiores e metodologia mais
rigorosa, pois já é definido que a presença da cefaleia
primária gera alterações na região cervical.
Diante do exposto, conclui-se que neste estudo não
foram encontradas diferenças na mobilidade cervical
entre indivíduos com cefaleia e sem cefaleia.
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RELAÇÃO ENTRE CEFALEIA PRIMÁRIA E RESTRIÇÃO DE AMPLITUDE DE MOVIMENTO CERVICAL: UM ESTUDO PILOTO
20 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
Correspondência
Daniella Araújo de Oliveira
Departamento de Fisioterapia
Av.Jorn. Anibal Fernandes, s/n
Cidade Universitária,
50740-560– Recife, Pernambuco, Brasil,
(55-81) 2126-8937; Fax: (55-81)21268491
sabino_daniella@ig.com.br
Recebido: 20/12/2013
Aceito: 20/02/2014
Conflito de interesses: A pesquisa não foi financiada. Os autores
declaram que não há conflitos de interesse.
25. Vernon HT. The Neck Disability Index: State of the art, 1991-
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BARROS MMMB, TONÓRIO AS, MAIA TFLD, ALMEIDA CCS, OLIVEIRA DA
Headache Medicine, v.5, n.1, p.21-24, Jan./Feb./Mar. 2014 21
Cefaleia associada a compressão do terceiro nervo
craniano por um aneurisma da artéria
comunicante posterior
Headache associated with compression of the third cranial nerve by an
aneurysm of the posterior communicating artery
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Continuous unilateral pain in the orbital area may be a sign of
an intracranial structural lesion. We report a case of a 64-year-
old woman with continuous headache of moderate intensity at
the region of the left eye bulb. There was a complete paralysis
of the left third oculomotor nerve. The patient was admitted
with headache, vomiting, palpebral ptosis, divergent strabismus
of the left eye, diplopia when looking to the left, upwards and
downwards and paralytic mydriasis on the left. The Angiography
revealed a saccular aneurysm dilation in the internal carotid
artery with origin at the origin of the left posterior communicating
artery. A microsurgery was performed on the aneurysm of the
left internal carotid artery and the aneurysm was occluded by
clipping. On four months follow up the patient is asymptomatic,
with a complete recovery of the third nerve palsy. There is still
much controversy about microsurgical and endovascular therapy
in cerebral aneurysms, this case represents the good outcome
in a patient with paralysis of the oculomotor nerve after
microsurgery occlusion of a posterior communicating aneurysm.
In conclusion, all patients with a continuo pain in the orbital
area need to be evaluated by angiography in order to display a
intracranial aneurysm.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Anaurysm, third cranial nerve, headache, pain,
treatment
Marcelo M. Valença
1,2
, Joacil Carlos da Silva
1,2
, Marcos Barbosa
1,2
, Martina F. Valença
3
, Laryssa Azevedo Almeida
1
,
Maria Carolina M. Oliveira
1
, Cássia L. S. França
1
, Raíza R. B. Oliveira
1
, Míriam C. Soares
1
, Eduardo C. Nunes
1
,
Rafael G. Costa
1
, Helysândia S. S. Farias
1
, Isabela S. Saraiva
1
, Arthur C. Holanda
1
, Válter R. Souza Junior
1
,
Mário L. M. Silva Júnior
1
, Maria Carolina Cavalcanti Lima
1
, Marília Apolinário Batista
1
, Paloma P. Travassos
1
,
Ulyscélio S. M. Ferreira
1
, Maria de Fátima V. Aragão
1
, Luciana P. A. Andrade Valença
1,2
1
Grupo de Pesquisa Avanços em Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
2
Serviço de Neurocirurgia, Hospital Esperança, Recife, Brasil
3
University of Basel, Basel, Switzerland
Valença MM, Silva JC, Barbosa M, Valença MF, Almeida LA, Oliveira MC, França CL, Oliveira RR,
Soares MC, Nunes EC, Costa RG, Farias HS, Saraiva IS, Holanda AC, Souza Junior VR, Silva Júnior ML,
Lima MC, Batista MA, Travassos PP, Ferreira US, Aragão MF, Valença LP. Cefaleia associada a compressão do
terceiro nervo craniano por um aneurisma da artéria comunicante posterior. Headache Medicine. 2014;5(1):21-24
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Dor unilateral contínua na área orbital pode ser um sinal de
uma lesão estrutural intracraniana. Relatamos o caso de uma
mulher de 64 anos de idade, com dor de cabeça contínua,
de intensidade moderada na região do olho esquerdo. Havia
uma completa paralisia do nervo oculomotor esquerdo. A
paciente foi internada com dor de cabeça, vômitos, ptose
palpebral, estrabismo divergente do olho esquerdo, diplopia
ao olhar para a esquerda, para cima e para baixo e midríase
paralítica do lado esquerdo. A angiografia revelou um
aneurisma sacular na artéria carótida interna com origem na
saída da artéria comunicante posterior esquerda. A
microcirurgia foi realizada e o aneurisma foi ocluído com um
clipe. Em quatro meses do acompanhamento a paciente está
assintomática, com uma recuperação completa do déficit do
terceiro nervo craniano. Ainda há muita controvérsia sobre
como devemos tratar um aneurisma cerebral, se por
abordagem microcirúrgica ou por via endovascular. Neste
artigo apresentamos o caso de uma paciente com uma boa
recuperação da paralisia do nervo oculomotor, após a oclusão
microcirurgia de um aneurisma da comunicante posterior.
Em conclusão, todos os pacientes com dor contínua na região
da órbita têm de ser avaliados por angiografia, a fim de se
excluir ou confirmar a presença de um aneurisma cerebral
como causa da dor.
22 Headache Medicine, v.5, n.1, p.21-24, Jan./Feb./Mar. 2014
VALENÇA MM, SILVA JC, BARBOSA M, VALENÇA MF, ALMEIDA LA, OLIVEIRA MC, ET AL.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chaveschaves
chaveschaves
chaves
::
::
: Aneurisma, terceiro nervo craniano,
cefaleia, dor, tratamento
INTRODUÇÃO
Dor na região da órbita de caráter contínuo,
principalmente quando tem início recente (e.g. poucos
dias), é um sinal de alerta (red flag) indicando a possi-
bilidade de haver uma lesão estrutural intracraniana como
causa desse sintoma. Uma das possibilidades é a pre-
sença de aneurismas cerebrais comprimindo estruturas
que podem provocar dor no indivíduo. Quando a dor é
acompanhada por paralisia do terceiro nervo craniano,
ou seja, porque o paciente apresenta ptose palpebral
progressiva, visão dupla e estrabismo divergente, deve-
mos aventar a possibilidade da presença de um aneu-
risma da artéria carótida interna, com origem na saída
da artéria comunicante posterior, com localização no
mesmo lado da dor e da ptose palpebral.
(1)
Isso é
particularmente importante quando há anisocoria com
midríase no lado onde a dor é referida. A midríase é por
conta da compressão, pelo aneurisma, sobre as fibras
parassimpáticas que correm na periferia do nervo
oculomotor.
(1)
O propósito deste artigo é relatar um caso de uma
paciente com dor ocular associada com paralisia
completa do terceiro nervo craniano que após o
procedimento cirúrgico, com oclusão do aneurisma com
uso de clipe, houve recuperação do déficit oculomotor.
RELATO DO CASO
Mulher com 64 anos de idade, com história de dor
no globo ocular esquerdo há uma semana, de moder-
ada intensidade, contínua, porém com flutuação na
intensidade durante o dia. Procurou uma emergência
médica que não valorizou o sintoma. Sintomáticos foram
prescritos e a paciente foi encaminha para sua residência.
No sétimo dia surgiu ptose palpebral esquerda e, uma
hora após quando se dirigia para ser atendida em uma
emergência médica, apresentou, ainda no seu carro, uma
cefaleia "em trovoada", ou seja, súbita e intensa acom-
panhada por vômito. A paciente era hipertensa e negava
passado de tabagismo ou história familiar de aneurisma
cerebral.
Ao exame a paciente estava orientada, lúcida,
cooperava com o exame, comunicava-se normalmente
pela palavra falada, nuca livre, força normal nos quatro
membros. Na avaliação neurológica foi encontrada como
anormalidade apenas uma paralisia completa do terceiro
nervo craniano esquerdo. Havia ptose palpebral completa
(Figura 1), estrabismo divergente do olho esquerdo,
diplopia no olhar conjugado para esquerda, para cima e
para baixo quando a pálpebra esquerda era manual-
mente levantada. Observou-se também midríase paralítica
esquerda.
Figura 1. Recuperação da ptose palpebral esquerda após clipagem
microcirúrgica de um aneurisma da artéria carótida interna-
comunicante posterior esquerda ao longo de 4 meses.
Uma tomografia computadorizada foi considerada
normal, sem qualquer sinal de hemorragia subarac-
noidea. No mesmo dia foi submetida a uma angiografia
cerebral, quando uma dilatação aneurismática sacular
foi identificada na artéria carótida interna, com origem
na saída da artéria comunicante posterior esquerda, com
características de ruptura, com colo curto e o saco
aneurismático orientado para baixo e para esquerda,
medindo em seus maiores eixos 5,65 mm x 3,85 mm e
com o colo medindo 2,50 mm (Figura 2). Havia ausência
de vasoespasmo. Um outro aneurisma foi identificado
na origem da artéria cerebelar póstero-inferior (PICA) na
artéria vertebral direita (Figuras 3 e 4).
Headache Medicine, v.5, n.1, p.21-24, Jan./Feb./Mar. 2014 23
Como variações anatômicas foram encontradas: (1)
fenestração da artéria basilar no seu segmento proximal
(Figura 4) e (2) artéria cerebral anterior do tipo ázigo
(Figura 2).
Havia duas possibilidades para oclusão do aneurisma
da artéria carótida interna-comunicante posterior esquerdo
– por via endovascular ou através de uma abordagem
microcirúgica com uso de clipes.
(2-4)
Optou-se pelo
procedimento microcirúrgico pela maior possibilidade de
recuperação da paralisia do terceiro nervo craniano,
segundo evidências publicadas recentemente.
(3-4)
No dia seguinte à sua admissão a paciente foi
submetida a um procedimento microcirúrgico com clipa-
gem do aneurisma da artéria carótida interna esquerda,
por via pterional esquerda com remoção da clinóide
anterior esquerda e uso de um clipe em baioneta de titânio.
No pós-operatório imediato a dor cedeu e três dias
após o procedimento cirúrgico notou-se já uma
recuperação parcial da ptose palpebral (Figura 1).
Quatro meses após a oclusão do aneurisma e conse-
quente descompressão do terceiro nervo craniano houve
regressão completa da ptose palpebral (Figura 1).
Três semanas após o procedimento cirúrgico um
novo estudo angiográfico foi realizado, mostrando
oclusão completa do aneurisma da artéria carótida
interna esquerda. A posição do clipe em relação à
carótida é mostrada na Figura 5.
Figura 2. Angiografia cerebral mostrando um aneurisma sacular (seta
maior) da artéria carótida interna (ACI), na origem da artéria
comunicante posterior esquerda (seta menor). ACM, artéria cerebral
média; ACA, artéria cerebral anterior padrão ázigo.
Figura 3. Ângio-TC mostrando um aneurisma não roto (seta) na saída
da artéria cerebelar póstero-inferior (PICA) em relação à artéria
vertebral direita.
Figura 4. Estudo angiográfico
mostrando fenestração da artéria
basilar (seta branca) e a presenca
de um aneurisma na artéria
vertebral direita, na origem da
PICA (seta preta).
Figura 5. Ângio-TC realizada no pós-operatória da paciente mostrando
o bom posicionamento do clipe (seta preta), bem próximo da base do
crânio, com oclusão completa do aneurisma.
Quatro meses depois do primeiro procedimento a
paciente teve seu aneurisma da PICA ocluído por via
endovascular.
A paciente encontra-se assintomática, orientada e
sem déficit neurológico focal.
CEFALEIA ASSOCIADA COM COMPRESSÃO DO TERCEIRO NERVO CRANIANO POR UM ANEURISMA DA ARTÉRIA COMUNICANTE POSTERIOR
24 Headache Medicine, v.5, n.1, p.21-24, Jan./Feb./Mar. 2014
COMENTÁRIOS
Ainda há muita controvérsia sobre a melhor forma
de ocluir um aneurisma intracraniano, se por via endo-
vascular ou através de um acesso microcirúrgico.
(2-4)
Contudo, parece que um consenso está sendo estabe-
lecido no sentido de que quando há compressão de
nervos intracranianos o melhor seria uma abordagem
microcirúrgica, possibilitando um descompressão direta
da estrutura neural.
(3-4)
No caso particular do terceiro nervo craniano a
clipagem direta do aneurisma parece ser a melhor opção,
como foi o caso aqui relatado. O cirurgião não deve,
entretanto, separar o saco aneurismático no nervo
oculomotor, porque isso pode danificar ainda mais essa
estrutural neural. Se achar que haveria algo a mais a
fazer, isso seria separar o restante do saco aneurismático
(deixando ele aderido ao nervo) do colo que encontra-
se clipado, usando-se uma microtesoura.
Güresir e colegas
(3)
encontraram 10 em 344 (2,9%)
aneurismas intracranianos que causavam paralisia do
terceiro nervo craniano. Esses autores estudaram 201
aneurismas da artéria comunicante posterior (132 pacientes
foram submetidos a clipagem microcirúrgica, 54 pacientes
foram tratados por via endovascular, e 15 pacientes não
foram tratados). Na análise multivariada, clipagem
cirúrgica foi significativamente associada com resolução
parcial de qualquer grau da paralisia (OR12,2, 95% CI
3-49) e de resolução completa (OR, 7,1, 95% CI 1,8-28)
em comparação com pacientes com tratamento endo-
vascular. Indicando a superioridade do procedimento
microcirúrgico em relação ao endovascular para esse
tipo particular de aneurisma cerebral.
Estudo recente
(5)
mostra que o tamanho do aneurisma
pode não influenciar o aparecimento da ptose palpebral,
mas a proximidade da carótida das estruturas da base
do crânio, incluindo o terceiro nervo, parece ser mais
importante como valor associativo. No nosso caso, a
clinoide anterior teve de ser removida para possibilitar a
clipagem adequada do aneurisma, mostrando uma
localização baixa do aneurisma, bem próximo da base
do crânio, com compressão do nervo por um aneurisma
relativamente pequeno (menor do que 6 mm).
Outros aspectos clínicos e relacionados com a
fisiopatogenia da compressão do oculomotor por um
aneurisma são revisados em publicação anterior.
(6)
Concluíndo, todos os pacientes com dor ocular fixa,
que perdura por vários dias, devem ser avaliados por
neuroimagem, incluindo ângio-ressonância magnética ou
angiotomografia computadorizada, mesmo aqueles sem
o acometimento da pupila, cuja possibilidade maior seria
acometimento do terceiro nervo craniano por uma
mononeuropatia diabética ou isquêmica, na qual as
fibras parassimpáticas do oculomotor estão poupadas.
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Correspondência
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. V
alençaalença
alençaalença
alença
Neurology and Neurosurgery Unit, Department of
Neuropsychiatry, Federal University of Pernambuco, Cidade
Universitária, 50670-420 Recife, Pernambuco, Brazil; Fax: +55
81 21268539; E-mail: mmvalenca@yahoo.com.br
Received Dec 5, 2013
Accepted Jan 25, 2014
VALENÇA MM, SILVA JC, BARBOSA M, VALENÇA MF, ALMEIDA LA, OLIVEIRA MC, ET AL.
Headache Medicine, v.5, n.1, p. 25-27, Jan./Feb./Mar. 2014 25
Left internal carotid artery agenesis in a patient
with headache
Agenesia da artéria carótida interna em um paciente com cefaleia
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORTCASE REPORT
CASE REPORT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Sometimes in clinical neurology, we diagnose a very rare case.
We report on a patient who presented with crisis of headache
and vomiting (clinically diagnose as migraine). Computed
tomography (CT) scan of the head did not reveal any structural
lesion. Magnetic resonance angiography showed absence of
left internal carotid artery associated with absence of the left
middle cerebral artery (MCA).
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Carotid artery; Agenesis; Middle cerebral artery;
Magnetic resonance angiography; Headache
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Às vezes em neurologia clínica, nós diagnosticamos um caso
muito raro. Nós relatamos o caso de um paciente que
apresentava crises de dor de cabeça e vômitos (diagnóstico
clínico de enxaqueca). Tomografia computadorizada da
cabeça não revelou qualquer alteração estrutural. Angiografia
por ressonância magnética mostrou ausência de artéria
carótida interna esquerda associada à ausência de artéria
cerebral média esquerda.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chaves: chaves:
chaves: chaves:
chaves: Artéria carótida; agenesia; artéria
cerebral média, Angiografia por ressonância magnética;
cefaleia
Leão IAT, Rezende CH, Gomes JBL, Almeida RF
Headache Ambulatory, Military Hospital in Belo Horizonte, Military Police of Minas Gerais, Brazil
Leão IAT, Rezende CH, Gomes JBL, Almeida RF. Left Internal Carotid Artery Agenesis in a patient with headache.
Headache Medicine. 2014;5(1):25-27
In 1954, Tode et al.
(3)
described the first case of this
condition and, in 1954, Verbiest et al.
(4)
demonstrated the
absence of the ICA by angiography for the first time.
The most common source of collateral circulation in
the case of the ICA agenesis is via the circle of Willis.
(5)
In
these cases, the basilar artery or the contralateral ICA
supplies the middle cerebral artery (MCA) and anterior
cerebral artery (ACA) on the side of the absent ICA.
(5)
The cause of the carotid agenesis is not known, but
may be secondary to an insult to the developing embryo.
(5)
The left internal carotid artery is reported to be
affected by dysgenesis three times more often than the
right one.
(6)
We herein report a case of left ICA agenesis presenting
with a history of chronic headaches for the preceding 14
years.
CASE REPORT
A 33-year-old woman, presented to our Headache
Ambulatory with a history of chronic headache since
1999. She described pulsatile, right headache,of
moderate to strong intensity, worsened by physical
activities, associated to nausea, vomiting, photophobia,
phonophobia and osmophobia, 1 to 2 crises (episodes)
per month. She had family history of migraine and took
oral contraceptives.
She came to the emergency room many times because
of crisis of acute headache, refractory (resistant) to usual
pain killers. In the late months the pain became daily,
INTRODUCTION
Agenesis of internal carotid artery (ICA) is a rare
congenital anomalywith an incidence of 0.01%.
(1,2)
Most
of the patients are asymptomatic and is usually discovered
incidentally by computed tomography (CT) or magnetic
resonance imaging (MRI).
26 Headache Medicine, v.5, n.1, p. 25-27, Jan./Feb./Mar. 2014
LEÃO IAT, REZENDE CH, GOMES JBL, ALMEIDA RF
Figure 1. Magnetic resonance imaging.
Figure 2. Angio-MR.
soften, bilateral and pressing. She related abuse of pain
killers.
A psychiatric treatment was indicated because she
had anxiety and insomnia. Also, she was going through
dental control due to myofascial pain. She is using
stabilizing splint and does physiotherapy for temporo-
mandibular joint dysfunction.
Her pain was refractory to various pain-killers and
non-steroidal anti-inflammatory drugs, such as naproxen;
cefalium®; naratriptan; sumatriptan; ibuprofen and
ergotamine.
She used many preventive medicines against
migraine, with partial results, e.g. fluoxetina; bupropion;
venlafaxine; alprazolam; clonazepan; atenolol and
cyclobenzaprine.
In the beginning, she made CT scan (computerized
tomography), which was normal.
Angio RM (magnetic resonance angiograph) of the
brain and of the carotid and vertebral arteries in
3.September.2013 showed left ICA agenesis (Figures 1
and 2).
Nowadays she is taking mirtazapine (30mg/day),
sumatriptain and ketorolac with good response.
DISCUSSION
Embryologic considerationsEmbryologic considerations
Embryologic considerationsEmbryologic considerations
Embryologic considerations
Alterations of the embryologic development of the
cerebral arterial circulation may lead to agenesis or
hypoplasia of the carotid arteries.
According to Streeter,
(7)
] Padget
(8)
and McLone and
Naidich,
(9)
two branches of the primitive ICA develop early
in the embryogenesis, originating from the third aortic arch.
In its primitive form, the internal carotid reaches the cephalic
region up to the level of the Rathke`s pouch where two
primary divisions occur. One cranial branch extends
anteriorly to supply the developing forebrain via the
anterior choroidal, middle cerebral, anterior cerebral and
primitive olfactory arteries.
A second posterior branch gives rise to the posterior
choroidal, diencephalic and mesencephalic arteries. As
these branches advance caudally, anastomoses are made
Headache Medicine, v.5, n.1, p. 25-27, Jan./Feb./Mar. 2014 27
Correspondência
Inês Alice TInês Alice T
Inês Alice TInês Alice T
Inês Alice T
eixeira Leixeira L
eixeira Leixeira L
eixeira L
eãoeão
eãoeão
eão
Rua da Bahia, 2311/901 – Lourdes
30160 012 – Belo Horizonte, MG Brazil
email: inestleao@hotmail.com
with the developing longitudinal neural arteries supplied
by the trigeminal artery connections to the primitive ICA.
Agenesis or aplasia of ICA results from abnormal
regression of the first and third aortic arch
(10,11)
.
Lie
(5)
referred to agenesis as a complete absence of
the entire ICA and carotid canal.
Clinical and radiological considerationClinical and radiological consideration
Clinical and radiological considerationClinical and radiological consideration
Clinical and radiological consideration
ICA agenesis is a rare congenital anomaly, with an
estimated incidence of 0.01%, with more frequent
symptom encountered in adults rather than in children or
adolescent patients.
(1,2)
Relatively a small number of
symptomatic cases of absence of the ICA have been
reported in children, suggesting that initially the collateral
pathways are sufficient to support cerebral perfusion
(5)
.
This condition is known to occur more frequently in left
sided ICA`s. The ratio between right and left ICA is 1:3
(12)
.
Patients with agenesis of the ICA are often
asymptomatic because of the collateral pathways.
However, patients may present with headaches, seizures
or neurological deficits secondary to cerebral ischemia,
or intracranial hemorrhage
(13)
. Our patient had recurrent
headache increases clinically diagnosed as migraine.
Diagnosis of ICA agenesis entails documenting the
absence of the ICA by conventional angiography, MRA
or MSCT angiography, and the absence of the carotid
canal by CT. Collateral flow is most commonly supplied
through the circle of Willis, but may be also provided by
embryonic vessels or the external carotid artery. MRA
appears to be an effective and sensitive method for
detecting absence of the ICA. ICA agenesis is usually
encountered during the diagnosis process.
Our patient has no complaints at present and is being
followed up with periodic physical and neurological
examination. We believe that these findings in our patient
are instructive and will help to further our understanding
of the embryologic development of the carotid arteries.
CONCLUSIONS
ICA agenesis is a rare vascular anomaly and is a
typically discovered incidentally as patient are often
asymptomatic. In our case, this patient has presented in
our ambulatory with complaint of crisis of refractory
headache, diagnosed as migraine.
This rare anomaly must be distinguished from ICA
stenosis or occlusion.The collateral circulation should also
be documented by conventional angiography, particularly
prior to carotid endarterectomy, transphenoidal
hypophyseal surgery or inducing hypotension. Collateral
flow is most commonly supplied through the circle of Willis,
but may be also provided by embryonic vessels or the
external carotid artery.
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LEFT INTERNAL CAROTID ARTERY AGENESIS IN A PATIENT WITH HEADACHE