Headache Medicine, v.6, n.1, p.1, Jan./Feb./Mar. 2015 1
CONTENTS
EDITORIAL
Fibromigraine: Is this a distinct disease rather than a fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?
Fibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinação fortuita de migrânea e fibromialgia? .............................. 4
Marcelo Moraes Valença, Laryssa Azevedo Almeida
VIEW AND REVIEW
Alterações no líquido cefalorraquidiano em pacientes com fibromialgia
Changes in cerebrospinal fluid in patients with fibromyalgia .................................................................................. 6
Louana Cassiano da S. Lima, Marcelo Moraes Valença
Topiramato e função cognitiva: revisão
Topiramate and cognitive function: review ........................................................................................................... 12
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos, Hugo André de Lima Martins, Valdenilson Ribeiro Ribas,
Louana Cassiano Silva Lima, Camila Cordeiro dos Santos, Daniella de Araújo Oliveira, Marcelo Moraes Valença
Cefaleia e a qualidade de vida em adolescentes
Headaches and the quality of life in adolescents.................................................................................................. 19
Bruno Rafael Vieira Souza Silva, Alison Oliveira da Silva, Paula Rejane Beserra Diniz,
Marcelo Moraes Valença, Ladyodeyse da Cunha Silva, Carolina da Franca Bandeira Ferreira Santos,
Luciano Machado Ferreira Tenório de Oliveira
NEUROART/NEUROARTE
Caricatura e cefaleia
Caricature and headache ................................................................................................................................. 24
Daniella Araújo de Oliveira, Louana Cassiano da Silva, Dayzene Freitas da Silva,
Gabriela Almeida da Silva, Mariana Luiza da Silva Queiroz, Marcos Antônio de Oliveira Filho,
Rafael Costa, Marcelo Moraes Valença
INFORMATIONS FOR AUTHORS .................................................................................................................... 28
Capa/Cover – One in two - Two in one, prepared by Marcelo M. Valença
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
Volume 6 Number 1 January/February/March 2015
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
2 Headache Medicine, v.6, n.1, p. 2-3, Jan./Feb./Mar. 2015
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
Jornalista responsável: Ana Carneiro Cerqueira – Reg. 23751 DRT/RJ
A revista Headache Medicine é uma publicação de propriedade da Sociedade Brasileira de Cefaleia, indexada no Latindex e no Index Scholar, publicada pela
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Editor-in-ChiefEditor-in-Chief
Editor-in-ChiefEditor-in-Chief
Editor-in-Chief
Marcelo Moraes Valença
Vice-Editor-in-ChiefVice-Editor-in-Chief
Vice-Editor-in-ChiefVice-Editor-in-Chief
Vice-Editor-in-Chief
Fabiola Dach Eckeli
PP
PP
P
ast Editorsast Editors
ast Editorsast Editors
ast Editors
-in--in-
-in--in-
-in-
ChiefChief
ChiefChief
Chief
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José Geraldo Speciali (1996-2002)
Carlos Alberto Bordini (1996-1997)
Abouch Valenty Krymchantowsky (2002-2004)
Pedro André Kowacs and Paulo H. Monzillo (2004-2007)
Fernando Kowacs (2008-2013)
Editors EmeritiEditors Emeriti
Editors EmeritiEditors Emeriti
Editors Emeriti
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Wilson Luiz Sanvito, São Paulo, SP
International Associate EditorsInternational Associate Editors
International Associate EditorsInternational Associate Editors
International Associate Editors
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Gregorio Zlotnik, Canadá
Isabel Luzeiro, Portugal
José Pereira Monteiro, Portugal
Kelvin Mok, Canadá
Marcelo Bigal, USA
Nelson Barrientos Uribe, Chile
Abouch Valenty Krymchantowski, Rio de Janeiro, RJ
Alan Chester F. Jesus, Aracaju, SE
Ana Luisa Antonniazzi, Ribeirão Preto, SP
Ariovaldo A. Silva Junior, Belo Horizonte, MG
Carla da Cunha Jevoux, Rio de Janeiro, RJ
Carlos Alberto Bordini, Batatais, SP
Celia P. Roesler, São Paulo, SP
Claudia Tavares, Belo Horizonte, MG
Cláudio M. Brito, Barra Mansa, RJ
Daniella de Araújo Oliveira, Recife, PE
Deusvenir de Sousa Carvalho, São Paulo, SP
Djacir D. P. Macedo, Natal, RN
Élcio Juliato Piovesan, Curitiba, PR
Elder Machado Sarmento, Barra Mansa, RJ
Eliana Meire Melhado, Catanduva, SP
Fabíola Dach, Ribeirão Preto, SP
Fabíola Lys Medeiros, Recife, PE
Fernando Kowacs, Porto Alegre, RS
Hugo André de Lima Martins, Recife, PE
Jano Alves de Sousa, Rio de Janeiro, RJ
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Joaquim Costa Neto, Recife, PE
José Geraldo Speciali, Ribeirão Preto, SP
Luis Paulo Queiróz, Florianópolis, SC
Marcelo C. Ciciarelli, Ribeirão Preto, SP
Marcelo Rodrigues Masruha, Vitória, ES
Marcos A. Arruda, Ribeirão Preto, SP
Mario Fernando Prieto Peres, São Paulo, SP
Maurice Vincent, Rio de Janeiro, RJ
Mauro Eduardo Jurno, Barbacena, MG
Pedro A. S. Rocha Filho, Recife, PE
Pedro Ferreira Moreira Filho, Rio de Janeiro, RJ
Pedro André Kowacs, Curitiba, PR
Raimundo Silva-Néto, Teresina, PI
Renan Domingues, Vitória, ES
Renata Silva Melo Fernandes, Recife, PE
Headache Medicine
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
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Editorial Board
Headache Medicine, v.6, n.1, p. 2-3, Jan./Feb./Mar. 2015 3
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esoureiroesoureiro
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ComitêsComitês
ComitêsComitês
Comitês
Comitê de Dor OrofacialComitê de Dor Orofacial
Comitê de Dor OrofacialComitê de Dor Orofacial
Comitê de Dor Orofacial
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Comitê de Cefaleia na InfânciaComitê de Cefaleia na Infância
Comitê de Cefaleia na InfânciaComitê de Cefaleia na Infância
Comitê de Cefaleia na Infância
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Comitê de LeigosComitê de Leigos
Comitê de LeigosComitê de Leigos
Comitê de Leigos
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Ana Antoniazzi, Célia P. Roesler, Claudia Tavares
Jerusa Alecrim Andrade, Patrícia Peixoto
Delegado junto à IHSDelegado junto à IHS
Delegado junto à IHSDelegado junto à IHS
Delegado junto à IHS
Thais Rodrigues Villa
RR
RR
R
esponsáveis pelo Pesponsáveis pelo P
esponsáveis pelo Pesponsáveis pelo P
esponsáveis pelo P
ortal SBCeortal SBCe
ortal SBCeortal SBCe
ortal SBCe
Paulo Sergio Faro Santos
Pedro André Kowacs
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Representante junto à SBEDRepresentante junto à SBED
Representante junto à SBED
José Geraldo Speciali
Representante junto à ABNRepresentante junto à ABN
Representante junto à ABNRepresentante junto à ABN
Representante junto à ABN
Célia P. Roesler, Fernando Kowacs, Mauro Eduardo Jurno
Responsável pelas Midias SociaisResponsável pelas Midias Sociais
Responsável pelas Midias SociaisResponsável pelas Midias Sociais
Responsável pelas Midias Sociais
Thais Rodrigues Villa
4 Headache Medicine, v.6, n.1, p.4-5, Jan./Feb./Mar. 2015
n this issue Lima and Valença
(1)
review the changes in the neurotransmitters and
neuromodulators in the cerebrospinal fluid (CSF) of patients with fibromyalgia. Indeed, a
number of neurotransmitters or peptides have presented an increase or decrease in their
CSF concentration, indicating that fibromyalgia is a disorder of the central nervous system.
(2)
A very similar pattern has been observed in migraineurs, thus suggesting once again that
the physiopathology of both migraine and fibromyalgia may be identical.
In clinical practice a combination of migraine and fibromyalgia is of frequent
occurrence. There is a spectrum of severity ranging from episodic migraine to fibromigraine.
In the latter a high level of central sensitization takes place, producing a low threshold of
pain and allodynia. Between the extremes of the spectrum chronic migraine and migrainous
corpalgia
(3)
are particularly worthy of mention.
We have previously reported
(2)
the idea of fibromigraine as a discrete nosological
entity. Patients with fibromigraine present a higher frequency of insomnia, depression and
anxiety compared with migraine only subjects.
(4,5)
Even today patients with fibromigraine seek different doctors to treat the (i) headache
and (ii) the body pain linked to the fibromyalgia separately. This may be a result of their
regarding the disorder as two separate diseases rather than a single one. Thus, the physician
needs to better understand fibromigraine and treat it as a single disorder.
FF
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F
ibromigraine: Is this a distinct disease rather than aibromigraine: Is this a distinct disease rather than a
ibromigraine: Is this a distinct disease rather than aibromigraine: Is this a distinct disease rather than a
ibromigraine: Is this a distinct disease rather than a
fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?
fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?
fortuitous combination of migraine and fibromyalgia?
I
Marcelo Moraes Valença, Laryssa Azevedo Almeida
Neurosurgery and Neurology Unit, Department of Neuropsychiatry
Federal University of Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brazil
EDITORIAL
Saint Denis of Paris is a Christian martyr, regarded as patron of Paris and of France, who is also invoked to
cure headaches. Similar to Saint Denis other cephalophore ("head-carrier") saints are commonly depicted
carrying his or her own head after decapitation. The postmortem ambulation of headless saint holding
their disembodied heads may help to understand the concept of one disease (fibromigraine) being
separated in two other disorders: migraine (head pain) and fibromyalgia (body pain).
Headache Medicine, v.6, n.1, p.4-5, Jan./Feb./Mar. 2015 5
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ibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinaçãoibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinação
ibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinaçãoibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinação
ibromigrânea: é uma doença distinta ou uma combinação
fortuita de migrânea e fibromialgia?fortuita de migrânea e fibromialgia?
fortuita de migrânea e fibromialgia?fortuita de migrânea e fibromialgia?
fortuita de migrânea e fibromialgia?
Marcelo Moraes Valença, Laryssa Azevedo Almeida
Unidade Funcional de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco
Cidade Universitária, Recife, Pernambuco, Brasil
EDITORIAL
esta edição, Lima e Valença
(1)
revisam as possíveis alterações encontradas nos
neurotransmissores e neuromoduladores no líquido cerebrospinal (LCR) de pacientes
com fibromialgia. De fato, um número de neurotransmissores ou peptídeos tem
apresentado um aumento ou diminuição em sua concentração no LCR, indicando que
a fibromialgia é uma desordem do sistema nervosa central.
(2)
Um padrão muito similar
tem sido observado em pacientes com migrânea. Sugerindo assim, mais uma vez, que
a fisiopatologia de ambas, migrânea e fibromialgia, pode ser idêntica.
Na prática clínica a combinação de migrânea e fibromialgia é de ocorrência
frequente. Há um espectro de gravidade variando de migrânea episódica para
fibromigrânea. Nesta última, um alto grau de sensibilização central acontece, produzindo
um baixo limiar para dor e alodinia. Entre os extremos do espectro, migrânea crônica e
corpalgia migranosa
(3)
são particularmente dignas de menção.
Nós publicamos previamente
(2)
a ideia de fibromigrânea como uma entidade
nosológica individual. Pacientes com fibromigrânea apresentam uma alta frequência
de insônia, depressão e ansiedade quando comparados àqueles que apresentam
unicamente migrânea.
(4,5)
Ainda hoje pacientes com fibromigrânea buscam diferentes médicos para tratar
separadamente a (i) cefaleia e (ii) a dor corporal associada à fibromialgia. Isso pode
ser um resultado ainda da percepção da doença como duas condições distintas, em vez
de apenas uma. Assim, o médico precisa entender melhor a fibromigrânea e tratá-la
como uma desordem única.
ReferênciasReferências
ReferênciasReferências
Referências
1. Lima LCS, Valença MM. Changes in cerebrospinal fluid in patients with fibromyalgia. Headache Med.
2015;6(1):6-11.
2. Valença MM, Medeiros FL, Martins HA, Massaud RM, Peres MF. Neuroendocrine dysfunction in
fibromyalgia and migraine. Curr Pain Headache Rep. 2009;13(5):358-64.
3. Cuadrado ML, Young WB, Fernández-de-las-Peñas C, Arias JA, Pareja JA. Migrainous corpalgia: body
pain and allodynia associated with migraine attacks. Cephalalgia. 2008;28(1):87-91.
4. Silva LC, Oliveira DA, Martins HAL, Vieira LPB, Valença MM. História de dor corporal crônica e
número de tender points no diagnóstico da fibromialgia em mulheres migranosas: correlação com
HIT-6, fadiga, distúrbios do sono, humor e alodinia cefálica. Headache Med. 2010; 1:71
5. Silva LC. Presença de fadiga, hiperalgesia corporal, distúrbios do humor e do sono em pacientes
com migrânea, fibromialgia ou fibromigrânea. 48 folhas. Orientador: Marcelo Moraes Valença -
Tese (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Neuropsiquiatria e Ciências do
Comportamento, 2012. (http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/
12710/
N
6 Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015
Alterações no líquido cefalorraquidiano em pacientes
com fibromialgia
Changes in cerebrospinal fluid in patients with fibromyalgia
VIEW AND REVIEW
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Fibromialgia é uma doença crônica de etiologia desconhecida
e tem a dor como principal característica. Níveis dos
neurotransmissores e neuropeptídios encontrados no líquido
cefalorraquidiano de indivíduos com fibromialgia podem
informar a atividade dos neurônios do sistema nervoso central.
O objetivo deste estudo foi observar, na literatura existente,
as principais alterações de neurotransmissores e neuro-
peptídeos que ocorrem no líquido cefalorraquidiano de indiví-
duos com fibromialgia. Realizou-se uma busca bibliográfica
nas bases de dados SCIELO, LILACS e PubMed, sem restrição
de ano e nos idiomas português, inglês e espanhol por meio
das palavras chave "fibromyalgia" e "cerebrospinal fluid". Foram
encontrados 120 artigos e, após análise, 14 foram incluídos
na pesquisa. Observou-se que muitas das substâncias
estudadas apresentam relação com a fibromialgia, o que
corrobora com algumas pesquisas que definem a fibromialgia
como uma doença do sistema nervoso central.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Fibromialgia; Líquido cefalorraquidiano
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Fibromyalgia is a chronic disorder with unknown etiology and
pain is the main characteristic. Cerebrospinal fluid levels of
neurotransmitters and neuropeptides can give information
about the neuronal activity of central nervous system in patients
with fibromyalgia. The objective of this research is to review
the main alterations of neurotransmitters and neuropeptides
in cerebrospinal fluid in patients with fibromyalgia. ScieLo,
Lilacs and PubMed databases were searched, without year
limitation, in Portuguese, English and Spanish idioms, using
the keywords "fibromyalgia" and "cerebrospinal fluid". 120
Louana Cassiano da S. Lima
1
, Marcelo Moraes Valença
2
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, Brasil. Bolsista da Facepe
2
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
Lima LC, Valença MM. Alterações no líquido cefalorraquidiano em pacientes com fibromialgia.
Headache Medicine. 2015;6(1)6-11
studies were found and, after analysis, 14 were included in
this research. Some substances were relates to fibromyalgia,
which is in agreement with some researches that define
fibromyalgia as a central nervous system disorder.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Fibromyalgia; Cerebrospinal fluid
INTRODUÇÃO
A fibromialgia é uma doença crônica que está pre-
sente em parcela significante da população, afetando
mais o gênero feminino, com cerca de 4-9 mulheres para
cada homem.
(1,2)
Sua etiologia ainda é desconhecida,
porém parece haver influência de fatores genéticos e
ambientais.
(3)
A principal característica da fibromialgia é
o baixo limiar para dor,
(4)
que geralmente está associada
à rigidez matinal, distúrbios do sono, depressão, ansie-
dade, síndrome das pernas inquietas, síndrome do
intestino irritável, bem como problemas de memória e
concentração.
(1,3,5)
A presença de cefaleia em pacientes
com fibromialgia é muito alta, sugerindo haver mecanis-
mos fisiopatogênicos entre essas doenças, particularmente
na migrânea crônica.
Estudos mostram que pacientes com fibromialgia
apresentam alterações no sistema nervoso central (SNC).
Alguns sugerem que exista um aumento da atividade, ou
uma hipersensibilidade de vias nociceptivas, associada ou
não à hipofunção dos mecanismos endógenos de
Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015 7
analgesia.
(6)
Outros estudos apontam como causa con-
centrações alteradas de neurotransmissores,
(7,8)
neuro-
peptídeos,
(9,10)
distúrbio no eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal
(11)
e alterações morfológicas na substância
cinzenta cerebral.
(12)
Tais achados sugerem que a fibro-
mialgia deve ser interpretada como uma doença do
sistema nervoso central.
Há fortes indícios que pacientes com fibromialgia
apresentem um desequilíbrio entre mecanismos excita-
tórios e inibitórios do controle da dor, decorrente do
comprometimento do sistema modulatório da dor no
SNC. Esse desequilíbrio leva a uma percepção inade-
quada tanto de estímulos ambientais como de estímulos
internos.
(13)
Para que nosso sistema nervoso funcione de
maneira adequada, é necessário que as concentrações
de neurotransmissores e neuropeptídios estejam dentro
de níveis considerados normais. Em condições que
envolvem dor crônica, muitos deles encontram-se com
níveis alterados, de modo a perturbar o correto funcio-
namento de nossas funções. Diversas substâncias que
são liberadas na fenda sináptica já foram analisadas,
seja por meio de análises sanguíneas, seja por meio de
análises do líquido cefalorraquidiano (LCR).
O presente estudo tem por objetivo revisar as prin-
cipais alterações de neurotransmissores e neuro-
peptídeos que ocorrem no LCR de indivíduos com
fibromialgia.
MÉTODO
Realizou-se uma busca bibliográfica nas bases de
dados ScieLo, Lilacs e PubMed, sem restrição de ano de
publicação, utilizando-se as palavras chave "fibromyalgia"
e "cerebrospinal fluid". Foram contemplados na pesquisa
artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol.
Para serem incluídos no presente estudo, os artigos
deveriam avaliar indivíduos que preencheram os critérios
diagnósticos da fibromialgia, de acordo com o Colégio
Americano de Reumatologia de 1990
(14)
e os critérios de
2010,
(15)
a fim de mensurar os níveis de neurotransmissores
e neuropeptídeos no LCR.
Os artigos foram selecionados após a leitura do título
e dos resumos. Foram excluídos os artigos duplicados, as
revisões de literatura, aqueles que não apresentavam grupo
controle, aqueles que utilizavam modelos animais e os
que analisavam outros tipos de substâncias que não
neurotransmissores e neuropeptídeos.
RESULTADOS
Foi encontrado um total de 120 artigos nas bases
de dados mencionadas, dos quais 60 deles eram
duplicados e outros 11 não se encontravam de acordo
com os idiomas escolhidos para busca. Dos 49 artigos
restantes, após leitura criteriosa dos títulos e resumos, foram
selecionados 14 para análise (Figura 1).
Figura 1. Busca e seleção dos estudos para a revisão
ALTERAÇÕES NO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA
8 Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015
LIMA LC, VALENÇA MM
Todos os estudos selecionados foram anteriores a
2010, de forma que os indivíduos com fibromialgia foram
avaliados segundo os critérios de classificação do Colégio
Americano de Reumatologia de 1990 (Tabela 1).
Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015 9
Agrupando-se todos os estudos foi possível observar
que foram analisados 22 neurotransmissores ou
neuromoduladores. O grupo fibromialgia foi composto
por 158 indivíduos, dos quais 80% eram mulheres com
idade superior a 18 anos. Os grupos controles foram
compostos por indivíduos saudáveis.
DISCUSSÃO
Nesta revisão, foi possível observar que muitos
neurotransmissores e neuropeptídios estão relacionados
com quadros de dor crônica, como a fibromialgia e
também foi encontrado que, de forma semelhante à
literatura, há uma predileção da doença pelo gênero
feminino.
O quadro clínico de dor encontrado na fibromialgia
sugere que possa existir um aumento de atividade ou
hipersensibilidade nas vias nociceptivas ou ainda alterações
que levam a atividade inadequada dos mecanismos de
analgesia.
(6)
No sistema endógeno de analgesia há
participação pelos sistemas neuronais, envolvendo
endorfinas, encefalinas e dinorfinas.
(24)
Estudo de Vaeroy
e colaboradores (1988)
(4)
iniciou as pesquisas com
peptídeos opioides em indivíduos com fibromialgia, onde
foi possível observar que as concentrações de β-endorfinas
no LCR de indivíduos com fibromialgia eram equivalentes
às concentrações encontradas em indivíduos saudáveis, o
que os levou a concluir que, além da β-endorfina, outros
peptídeos opioides, como a encefalina e a dinorfina,
também poderiam estar envolvidas nos mecanismos de
analgesia da fibromialgia. Outro estudo
(6)
desse mesmo
grupo investigou como se comportavam as concentrações
da Met-encefalina-Arg
6
-Phe
7
(MEAP) e da dinorfina A no
LCR de mulheres com fibromialgia. Ambas as substâncias
estavam elevadas sugerindo que existe uma hipersecreção
de opióides, que dessensibilizariam os receptores,
levando a uma diminuição da capacidade de
modulação da dor. No estudo de Baraniuk e colegas,
(10)
encontrou-se concentração de MEAP três vezes maior em
indivíduos com fibromialgia quando comparados com
indivíduos normais. Opostamente, o estudo de Liu e
colegas
(25)
mostrou baixos níveis de MEAP em indivíduos
com fibromialgia. Talvez essa diferença tenha acontecido
pela diferença de método na análise da substância
estudada.
A redução da capacidade de modulação da dor,
decorrente do aumento dos níveis de dinorfina e
encefalina, leva a inibição pré-sináptica nos neurônios
que secretam substância P no corno dorsal da medula,
acarretando em um aumento da liberação de
substância P.
(24)
A substância P é um peptídeo com 11 aminoácidos,
que atua como neurotransmissor e neuromodulador, e
tem a função de conduzir estímulos álgicos para o
SNC.
(17,26)
As funções fisiológicas da substância P sofrem
influencia da serotonina.
(27)
Estudo de Vaeroy e colabo-
radores,
(16)
com mulheres com fibromialgia, mostrou que
os níveis de substância P eram maiores nestas, quando
comparadas a um grupo controle saudável. Os achados
de Russell e colegas
(17)
confirmaram os achados ante-
riores. Não existe uma explicação para os níveis aumen-
tados de substância P em pacientes com fibromialgia,
mas considerando sua estreita relação com a nocicepção,
pode-se dizer que qualquer defeito em sua produção,
atividade funcional ou degradação podem levar a
percepção anormal da dor.
(17)
Dessa forma, supõe-se
que a substância P seja um dos responsáveis pela
hiperalgesia na fibromialgia.
(4)
A síntese da substância P nas fibras C aferentes
primárias é regulada pelo NGF.
(19)
Estudos experimentais
em modelos animais vêm demonstrando o papel nas
neurotrofinas nos mecanismos fisiopatológicos da hiperal-
gesia
(28)
e da dor crônica.
(29)
Estudo de Giovengo e
colegas
(18)
mostrou que os níveis de NGF em pacientes
com fibromialgia eram altos, o que levou a se pensar no
NGF como um dos responsáveis pela sintomatologia
dolorosa da fibromialgia. Resultados semelhantes foram
encontrados por Sarchielli e colaboradores,
(22)
que, além
de avaliarem o NGF, avaliaram também o BDNF e gluta-
mato, e encontraram níveis elevados de ambos no LCR
de pacientes com fibromialgia. Em outro estudo realizado
por Sarchielli e colegas,
(21)
foram analisadas as substâncias
GDNF e somatostatina e as mesmas encontravam-se em
níveis menores no LCR de indivíduos com fibromialgia.
Os fatores neurotróficos parecem influenciar em
alterações anatômicas, neuroquímicas e funcionais de
neurônios sensoriais e trigeminais na fibromialgia, de
modo que se tem atribuído ao NGF o papel da sensi-
bilização periférica dos nociceptores e ao BDNF a modu-
lação central da dor.
(22)
Em humanos adultos, o NGF
também tem demonstrado sua função na hiperalgesia.
(30)
O aumento dos níveis de NGF e BDNF leva a uma poten-
ciação da transmissão glutamatérgica,
(31)
e esse meca-
nismo contribuiria para a sensibilização central sustentada
em estados de dor crônica.
(32)
Outro fator neurotrófico
envolvido na dor é o GDNF, que exerce influência sob a
expressão da somatostatina, um neuropeptideo com
função antinociceptiva.
(33)
ALTERAÇÕES NO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA
10 Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015
LIMA LC, VALENÇA MM
Os aminoácidos excitatórios exercem um papel
fundamental na transmissão da dor, sendo o glutamato
é o principal deles. Estudos de Peres e colegas
(8)
mostraram
que os níveis de glutamato em pacientes com fibromialgia
eram elevados. Os mesmos achados foram encontrados
por Sarchielli e colegas.
(22)
Por outro lado, estudo de
Larson e colegas
(19)
não encontrou alterações nos níveis
dos aminoácidos avaliados nos pacientes com fibro-
mialgia. Talvez a pequena amostra tenha interferido nos
resultados. Os tender points, encontrados na fibromialgia,
podem ser considerados alodinia de pressão, prova-
velmente decorrente da sensibilização central, que pode
ser resultado de uma atividade exacerbada do gluta-
mato.
(8)
Os estudos de Russell e colaboradores
(7)
e de
Legangneux e colegas
(20)
mostraram que indivíduos com
fibromialgia apresentam níveis baixos de serotonina,
porém sem diferença significativa em relação ao grupo
controle noradrenalina e dopamina no LCR. O estudo
de Legangneux e colaboradores
(20)
ainda demonstrou
que os níveis de serotonina plaquetária estão elevados,
sugerindo que uma deficiência funcional da serotonina
pode estar envolvida no mecanismo fisiopatológico da
fibromialgia. A ocorrência de deficiência na noradrenalina
e na dopamina, simultaneamente à serotonina, sugere
que a deficiência da serotonina é apenas parte de um
processo ainda maior.
(7)
A redução nos níveis centrais de
aminas biogênicas pode aumentar a sensibilidade a estí-
mulos dolorosos, uma característica importante da fibro-
mialgia. A serotonina é um mediador da percepção da
dor, de alterações psiquiátricas, da função intestinal e
também do sono profundo, podendo gerar manifes-
tações típicas da fibromialgia.
(20)
Estudos que relacionam a hipocretina à fibromialgia
ainda são escassos. Apenas um artigo foi encontrado e
nesse, os níveis da substância no LCR não foram diferentes
dos níveis encontrados no grupo controle. A hipocretina
é um neuropeptídeo que provoca alterações no sono,
uma característica marcante na fibromialgia. A
administração central da hipocretina também apresenta
efeito analgésico.
(23)
Em estudos experimentais com
animais, a privação aguda do sono aumentou os níveis
de hipocretina no LCR.
(34,35)
Na fibromialgia, observamos
que muitos pacientes apresenta sonolência diurna, mas
esse fator não apresentou associação com alterações nos
níveis de hipocretina.
(23)
Assim como a hipocretina, a homocisteína também
é pouco estudada. O único artigo encontrado sobre o
tema mostrou que indivíduos com fibromialgia apre-
sentavam níveis de hosmocisteina no LCR maiores que o
grupo controle. O estudo concluiu que esses níveis
elevados não são específicos da fibromialgia, sendo uma
característica comum a várias doenças neuropsiquiátricas.
Resumidamente, foi possível observar os seguintes
comportamentos das substâncias com funções neuro-
transmissoras ou neuromoduladoras no LCR:
1) Níveis aumentados: substância P, dinorfina A,
MEAP, Homocisteína, NGF, glutamato e BDNF;
2) Níveis diminuídos: noradrenalina, dopamina,
serotonina, GDNF e somatostatina;
3) Níveis inalterados: hipocretina, β-endorfina e,
aminoácidos excitatórios.
CONCLUSÃO
A presente revisão mostrou o comportamento de
algumas substâncias encontradas no SNC ou a ele
ligadas em pacientes com fibromialgia. Apesar de ser
uma doença de etiologia incerta, foi possível observar
que muitas das substâncias estudadas apresentam relação
com a fibromialgia, o que corrobora com algumas
pesquisas que definem a fibromialgia como uma doença
do SNC, seja por apresentar alterações no sistema
neuroendócrino e sistema nervoso autônomo, ou por
apresentar alterações nas concentrações de neuro-
transmissores e neuropeptídios no LCR.
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Headache Medicine, v.6, n.1, p.6-11, Jan./Fev./ Mar. 2015 11
Correspondência
Louana Cassiano da S. LimaLouana Cassiano da S. Lima
Louana Cassiano da S. LimaLouana Cassiano da S. Lima
Louana Cassiano da S. Lima
Rua 9 de Janeiro, 92A, Centro
55660-000 – Bezerros, PE
louana_cs@hotmail.com
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Recebido: 3 julho 2014
Aceito: 2 novembro 2014
ALTERAÇÕES NO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA
12 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Topiramato e função cognitiva: revisão
Topiramate and cognitive function: review
VIEW AND REVIEW
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A despeito da eficácia terapêutica, em suas várias indicações,
os efeitos colaterais cognitivos são achados comuns com o
uso do topiramato. Estudos descritivos indicam queixas
cognitivas inespecíficas, lentificação psicomotora e dificul-
dades de linguagem, como principais queixas entre os
pacientes que precisaram suspender uso da medicação,
mesmo quando este apresenta eficácia no controle sintomático
do paciente. Mesmo em pacientes que não apresentam
queixas de natureza cognitiva com o uso de topiramato, foram
encontradas alterações no desempenho em testes psico-
métricos. Os efeitos cognitivos negativos induzidos pelo
topiramato são frequentemente temporários e cessam após
descontinuação da medicação. Parece haver determinadas
condições associadas a um maior risco para desenvolvimento
de efeitos colaterais, como o esquema de titulação aplicado,
a dose usada, tempo de manutenção em politerapia e
susceptibilidade individual. O modo pelo qual o topiramato
leva às alterações cognitivas ainda é pouco compreendida.
Estudos de neurofisiologia e neuroimagem funcional procuram
elucidar a questão. A magnitude das alterações cognitivas
pode ser suficiente para interferir no desempenho escolar, no
trabalho e relações sociais e estão entre as principais causas
de descontinuação da medicação durante o tratamento.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Cognição; Epilepsia; Migrânea; Obesidade;
Psiquiatria; Topiramato
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Despite the therapeutic efficacy, in its various indications,
cognitive side effects are common findings with topiramate.
Descriptive studies indicate nonspecific complaints cognitive,
psychomotor slowness and language difficulties, as main
complaints among patients who had to discontinue use of the
medication, even when it shows efficacy in symptomatic control
of the patient. Even in patients who do not have cognitive
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos, Hugo André de Lima Martins, Valdenilson Ribeiro Ribas,
Louana Cassiano Silva Lima, Camila Cordeiro dos Santos, Daniella de Araújo Oliveira, Marcelo Moraes Valença
Unidade Funcional de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco,
Cidade Universitária, Recife, Pernambuco, Brasil
Mendonça Santos KA, Martins HA, Ribas VR, Lima LC, Santos CC, Oliveira DA, Valença MM.
Topiramato e função cognitiva: revisão. Headache Medicine. 2015;6(1):12-8
complaints topiramate-related, changes were found in the
performance of psychometric tests. The negative cognitive
effects induced by topiramate are often temporary and cease
after its discontinuation. There appears to be certain conditions
associated with an increased risk for the development of side
effects such as titration scheme, the dose used, maintenance
time polytherapy and individual susceptibility. The mechanism
in which topiramate leads to cognitive impairments is still poorly
understood. Neurophysiology and functional neuroimaging
studies seeking to elucidate the question. The magnitude of
the cognitive changes may be enough to interfere with school
performance, work and social relationships and are among
the leading causes of discontinuation of medication during
treatment.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Cognition; Epilepsy; Migraine; Obesity; Psychiatric;
Topiramate
INTRODUÇÃO
O topiramato vem sendo utilizado no tratamento das
cefaleias, particularmente em pacientes com crises
frequentes e incapacitantes de migrânea. Como todo
fármaco com efeito biológico, efeitos adversos podem
acontecer com o uso do topiramato, por esse motivo a
dose terapêutica deve ser escalonada com doses
crescentes no sentido de diminuir maiores efeitos colaterais
da droga.
Uma das grandes vantagens do topiramato é não
causar ganho de peso, efeito esse frequentemente
encontrado em outros fármacos usados no tratamento
preventivo da migrânea. Pelo contrário, o uso do
Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015 13
topiramato provoca uma perda de peso significativa ao
longo das semanas do tratamento.
Contudo, o topiramato provoca uma queda na
capacidade cognitiva do indivíduo submetido ao
tratamento crônico com esse fármaco, o que em muitas
situações a pessoa sabendo de tal efeito adverso prefere
não tomar a medicação. Isso ocorre com relativa
frequência quando o cliente é vestibulando, estudantes
do curso de Medicina, médicos e advogados quando se
preparam para provas ou concursos públicos.
Nesta revisão os autores desejam comentar a
farmacodinâmica, possíveis mecanismos de ação e
efeitos colaterais cognitivos do topiramato.
Farmacodinâmica do topiramatoFarmacodinâmica do topiramato
Farmacodinâmica do topiramatoFarmacodinâmica do topiramato
Farmacodinâmica do topiramato
O topiramato foi desenvolvido no final da década
de 1970, com objetivo de criar um medicamento para
tratamento do diabetes.
(1)
À molécula da D-frutose, açúcar
de ocorrência natural, foram acrescidos dois radicais
cetona, conferindo formato tridimensional particular de
"canoa torcida", além de um radical sulfeto.
(1)
Contudo,
precocemente, verificou-se sua atividade anticonvulsi-
vante, primeira aplicação clínica, mediante teste de
convulsão induzida por eletrochoque máximo, apresen-
tando uma boa eficácia.
(1)
As características moleculares do topiramato o tornam
uma molécula versátil, conferindo diversas propriedades
farmacodinâmicas, como: a) inibição de receptores de
glutamato, subtipos kainato e AMPA;
(2,3)
b) efeitos inibitó-
rios em alguns tipos de canais de Na
+
voltagem-
dependentes,
(4)
c) inibição de canais de Ca
2+
,
(5)
e d)
modulação de alguns subtipos de receptores GABA-A.
(6)
Alguns autores
(2)
têm sugerido, ainda, a existência de um
mecanismo comum para essas ações, relacionado com
bloqueio da fosforilação da adenosina-5-trifosfato (ATP)
em alguns canais, receptores ou proteínas auxiliares da
transdução celular.
O topiramato apresenta ação inibitória sobre o
influxo iônico promovido pelos receptores glutama-
térgicos. Angehagen et al. demonstraram que as correntes
transitórias de Ca
2+
dos receptores AMPA são mitigadas
pelo topiramato.
(3)
As correntes de Na
+
voltagem-dependentes são
responsáveis pelo potencial de ação rápido e as des-
polarizações subliminares em condições fisiológicas.
(4)
O
topiramato apresenta propriedade de diminuição do
influxo das correntes persistentes de Na
+
voltagem-
dependentes e mantém níveis de voltagem mais negativos
no estado inativado.
(4)
Os canais de Ca
2+
voltagem-
dependente também têm sua função modulada pelo
topiramato.
(5)
O influxo de Cl
-
mediado pelo GABA é amplifica-
do pelo topiramato, como demonstrado por estudo
com radioligandos.
(6)
A interação da molécula com
receptores GABA-A ainda não está bem elucidada, mas
sabe-se que o topiramato não altera a ligação de outras
substâncias ao receptor, como barbituratos e benzo-
diazepínicos.
(6)
Simeone et al identificaram uma prefe-
rência de ação modulatória com subunidades
específicas do receptor GABA, o que poderia explicar
certa variação de efetividade do medicamento.
(7)
Entretanto, dentre estes mecanismos, desconhecem-se
aqueles que contribuem para ação antimigranosa
propriamente dita.
Possíveis mecanismos de ação na migrâneaPossíveis mecanismos de ação na migrânea
Possíveis mecanismos de ação na migrâneaPossíveis mecanismos de ação na migrânea
Possíveis mecanismos de ação na migrânea
Estudos demonstram o papel relevante exercido
pelo glutamato nos mecanismos algogênicos na migrâ-
nea.
(8)
A ação do topiramato sobre os receptores de
glutamato, tipos AMPA e kainato e, em menos intensi-
dade, sua ação inibitória sobre os canais de Ca
2+
voltagem-dependentes parecem ser o mecanismo mais
consistente para explicar sua ação antimigranosa.
(1)
A
faixa terapêutica estreita (50-100 mg ao dia), para
controle dos sintomas migranosos, sugeriria que somente
poucos dos mecanismos conhecidos do topiramato
teriam ação significativa.
(1)
O aumento da neurotransmissão mediada pelo
glutamato contribui para a sensibilização central,
fenômeno relacionado ao desenvolvimento da cefalalgia
crônica.
(9)
Estudando o efeito do topiramato sobre os
receptores glutamatérgicos tipo kainato, em culturas de
neurônios da via trigêmino-talâmica, foi demonstrada
redução da atividade de disparo desta via, predo-
minantemente no complexo trigêmino-cervical e núcleo
talâmico ventro-póstero-medial,
(10)
demonstrando
atividade farmacológica específica em via neuronal di-
retamente relacionada com a fisiopatologia da
migrânea.
Shields et al. demonstraram, em estudos em gatos,
o papel dos canais de Ca
2+
na geração dos potenciais
de ação dos neurônios nociceptivos do sistema trigemino-
vascular,
(11)
inferindo um possível mecanismo de ação
do topiramato na migrânea. Coadunando-se com a
descrição de que alterações no gene da subunidade alfa-
1A do canal de Ca
2+
tipo P/Q estão relacionadas à
TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
14 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
MENDONÇA SANTOS KA, MARTINS HA, RIBAS VR, LIMA LC, SANTOS CC, OLIVEIRA DA, VALENÇA MM
migrânea hemiplégica familiar.
(12)
Os canais de Ca
2+
mediam a vasodilatação neurogênica e a dilatação
induzida pelo CGRP.
(13)
Um dos fenômenos relacionados à migrânea,
principalmente com a aura migranosa, é a depressão
alastrante. Essa é caracterizada por rápida e completa
despolarização de grupos de neurônios contíguos,
mediante grande redistribuição iônica dos compar-
timentos intra e extracelular.
(9)
A ativação da corrente
de Na
+
persistente é necessária para o desenvolvimen-
to da depressão alastrante, e o bloqueio de alguns
canais de Ca
2+
pode inibi-la,
(14)
tendo o topiramato
propriedades farmacodinâmicas inibitórias descritas
nesses sítios.
Efeitos terapêuticos estabelecidos naEfeitos terapêuticos estabelecidos na
Efeitos terapêuticos estabelecidos naEfeitos terapêuticos estabelecidos na
Efeitos terapêuticos estabelecidos na
profilaxia da migrâneaprofilaxia da migrânea
profilaxia da migrâneaprofilaxia da migrânea
profilaxia da migrânea
A dor, incluindo cefalalgias, pode ser interpreta-
da como um sinal de alerta para o sistema nervoso.
(15)
Alterações de plasticidade neuronal podem se
estabelecer levando a modificações funcionais cere-
brais perpetuadoras da percepção dolorosa. A
abordagem profilática faz-se necessária para inibir os
mecanismos relacionados ao desenvolvimento de
dores crônicas.
A eficácia terapêutica das drogas antiepilépticas,
em especial o topiramato, na profilaxia da migrânea,
tem sido demonstrada através de vários estudos.
(16,17)
Silvestrini et al., em estudo prospectivo placebo-contro-
lado, encontraram redução de frequência de crises em
pacientes com migrânea transformada por abuso de
analgésicos.
(16)
Diener et al.,
(18)
em um estudo prospectivo placebo-
controlado com pacientes com cefaleia crônica por
abuso de analgésicos, encontraram superioridade do
topiramato em relação ao placebo, com melhora da
frequência e na escala MIDAS. Estudo americano, multi-
cêntrico e placebo-controlado, comparou efeito
profilático do topiramato com amitriptilina, cuja
indicação clínica para profilaxia já está estabelecida.
Como resultado, não se observou diferença da eficácia
terapêutica entre os grupos, estando, inclusive, o
topiramato relacionado com melhora de alguns
indicadores de qualidade de vida, como perda e
satisfação com próprio peso.
(17)
Estudo descritivo e prospectivo,
(19)
comparativo com
divalproato de sódio, mostrou boa resposta terapêutica
com boa tolerabilidade para ambas as medicações no
controle de crises migranosas em pacientes com migrânea
episódica requerente de profilaxia.
Efeitos colaterais cognitivosEfeitos colaterais cognitivos
Efeitos colaterais cognitivosEfeitos colaterais cognitivos
Efeitos colaterais cognitivos
A despeito da eficácia terapêutica, em suas várias
indicações, os efeitos colaterais cognitivos são achados
comuns com o uso do topiramato. Park et al., em revisão
sobre o tema, indicaram que sonolência, lentificação
mental, déficit de memória e problemas de linguagem
são queixas comuns gerados pelo topiramato.
(20)
Mesmo
em pacientes que não apresentam queixas de natureza
cognitiva com o uso de topiramato foram encontradas
alterações no desempenho em testes psicométricos.
(21,22)
Thompson et al.,
(23)
em estudo com pacientes epilépticos,
encontraram pior desempenho em fluência verbal e
aprendizado verbal, entre aqueles que usaram
topiramato. As avaliações que requeriam processamento
verbal mostraram-se especialmente sensíveis à
medicação.
(23)
Estudo prospectivo, para avaliação dos
efeitos da medicação pós-comercialização, descreveu
queixas cognitivas inespecíficas (32,5%), lentificação
psicomotora (29,9%) e dificuldades de fala (6,5%) como
principais relatos entre os pacientes que precisaram sus-
pender uso da medicação.
(24)
Em estudo comparativo com pacientes em profilaxia
para migrânea, com e sem topiramato, foram encon-
trados 27% de pacientes apresentando queixas de
alterações na linguagem, confirmadas por testes
neuropsicológicos, além de observadas alterações nas
áreas da atenção, habilidades visuo-espaciais, velo-
cidade psicomotora, memória de curto prazo e flexibili-
dade cognitiva.
(25)
A resposta para teste de fluência
semântica para as letras F, C e A tiveram menores escores
para os pacientes em uso de topiramato. Os testes de
fluência fonêmica mostraram também resultado menores
em pacientes em uso de topiramato, mas de modo não
significativo.
(25)
Outro estudo
(26)
descreveu um maior com-
prometimento da fluência fonêmica do que a fluência
semântica em pacientes migranosos, que foi atribuído à
maior demanda das funções executivas verbais na pri-
meira.
Na avaliação de pacientes saudáveis, também há
comprometimento cognitivo após administração de
topiramato. Estudo
(27)
comparativo entre gabapentina,
lamotrigina e topiramato, com voluntários saudáveis,
descreveu maior decaimento das medições psicométricas,
especificamente na atenção e fluência verbal, no grupo
do topiramato, usando esquema de titulação rápida,
Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015 15
iniciando com 200 mg ao dia e gradualmente alcançando
400 mg em cerca de três semanas. Meador,
(28)
usando
esquemas de titulação de 50 mg semanais, descreveu al-
terações cognitivas brandas, especificamente nos domíni-
os de atenção, vigilância e nomeação, parecendo ser
melhor tolerado quando doses são tituladas lentamente e
sob menor dose possível.
(29)
Marino et al., estudando indivíduos saudáveis após
tomada de dose única de 100 mg de topiramato,
verificaram aumento do tempo de reação em testes de
fluência verbal, sugerindo disfunção do córtex frontal.
(30)
Pandina et al.,
(31)
estudando uso de topiramato em
adolescentes saudáveis, observaram significante declínio
na fluência semântica no grupo em uso de 50 mg/dia,
enquanto o grupo com 100 mg/dia teve redução
significativa no tempo de reação psicomotor, latência
de reconhecimento e latência de processamento visual.
Contudo, o aumento de latência psicomotora não pôde
ser atribuído a comprometimento no aprendizado,
memória ou nas funções executivas.
(31)
Romigi et al., com voluntários saudáveis sob
esquema de uso de 100 mg ao dia, demonstraram
declínio da fluência verbal após 60 dias de tratamen-
to.
(32)
O declínio na fluência fonêmica foi similar aos
encontrados em estudos com pacientes epilépticos.
(32)
Estudo usando dosagem máxima de 50 mg duas vezes
ao dia, em 35 pacientes avaliados no curso de três
meses, o declínio na habilidade de concentração foi a
única alteração cognitiva encontrada em testes
objetivos.
(33)
O topiramato é bem tolerado pela maioria dos
pacientes, contudo determinadas condições estão
associadas a um maior risco para desenvolvimento de
efeitos colaterais, como o esquema de titulação aplicado,
a dose usada, tempo de manutenção em politerapia e
susceptibilidade individual.
(20)
As alterações cognitivas
desenvolvidas parecem instalar-se gradualmente com
implemento do uso da medicação, apresentando
melhora quando da sua retirada.
(22)
Os efeitos cognitivos
negativos induzidos pelo topiramato são frequentemente
temporários e cessam após descontinuação da
medicação.
(29)
O modo pelo qual o topiramato leva às alterações
cognitivas ainda é pouco compreendido. Embora
incipientes, estudos de neurofisiologia e neuroimagem
funcional estão sendo realizados para elucidar a
questão.
Estudos com ressonância magnética funcional
avaliam ativação de regiões neurais, através das
modificações de sinal cerebral, após estímulos ou tarefas
específicas. Mais propriamente, estudos de farma-
corressonância cognitiva comparam o sinal cerebral
durante um teste cognitivo em condição de placebo e
medicação. Como limitações ao método citamos a
baixa intensidade de sinal do efeito direito da
medicação (contornado pela comparação dos
resultados de testes ou estímulos entre grupos com e
sem droga) e efeitos da medicação sobre estruturas
neurais e vasculares ao mesmo tempo.
(34)
Apesar destas
dificuldades, os achados das pesquisas recentes dão
informações valiosas sobre os efeitos de medicações
na cognição e comportamento,
(34)
incluindo o
topiramato.
Smith et al.
(35)
demonstraram lentificação das
respostas e aumento dos erros, durante testes de memória
de trabalho, entre pacientes em uso de topiramato, mas
não com lamotrigina, assim como o aumento da potência
do EEG nas frequências abaixo de 6 Hz, bem como
redução da amplitude da onda lenta no potencial
evocado, achados compatíveis com prejuízo de memória
de trabalho. Jung et al.
(36)
compararam resultados do
Potencial Evocado Cognitivo e de Tomografia
eletromagnética cerebral de baixa resolução (sLORETA),
em um grupo de epilépticos, sem tratamento medica-
mentoso prévio, antes e após início do topiramato.
Observaram aumento da onda P200 relacionada ao
uso de topiramato, bem como diminuição da ativação
nas regiões pré-frontal, têmporo-límbica e parieto-
occipital.
(36)
O componente P200 do potencial evocado está
relacionado à seleção de informações relevantes ou
desprezáveis após estímulo. O aumento de sua amplitu-
de em pacientes usando topiramato poderia ser devido
às dificuldades de categorização e classificação por esses
pacientes. Em estudo com pacientes migranosos,
(33)
a
onda P300 não se alterou significativamente entre os
pacientes em uso de topiramato, embora tenha-se
observado redução dos escores da seção de atenção
da Escala de Memória de Wechsler.
De Ciantis et al.,
(37)
comparando resultados de
ressonância magnética funcional de pacientes migra-
nosos com indivíduos saudáveis, observaram alterações
da atividade cerebral ocorridas durante as tarefas
fonêmicas naqueles com distúrbio de linguagem, por
redução na ativação das áreas pré-frontais e, nos
sujeitos sem queixas, aumento da ativação geral,
sugerindo aos pesquisadores algum tipo de mecanis-
mo compensatório.
TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
16 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Jansen et al.,
(38)
em estudos de RM funcional com
pacientes epilépticos, encontraram uma significativa
menor ativação das regiões relacionadas à linguagem
no córtex pré-frontal, associada também a escores
significativamente menores naqueles pacientes em uso
de topiramato. Em estudo brasileiro, Yasuda et al.
(39)
observaram que os pacientes recebendo topiramato,
mesmo em única dose, apresentaram diminuição da
desativação das áreas relacionadas à default mode
network (DMN), durante fRMI para fluência verbal, como
também redução dos escores nos testes de fluência verbal.
Esta desativação correlaciona-se com as variações da
dose do topiramato.
(39)
Mesmo as alterações cognitivas sendo considera-
das de intensidade leve a moderada, alguns pacientes
podem ter atividades centrais de suas rotinas
prejudicadas com o desenvolvimento de sintomas
cognitivos, como a leitura em crianças e a capacidade
para dirigir em adultos.
(40)
A magnitude dessas
alterações pode ser suficiente para interferir no desem-
penho escolar, no trabalho e relações sociais.
(23)
As
alterações cognitivas estão entre as principais causas
de descontinuação da medicação durante o tratamento,
em levantamento multicêntrico que acompanha os efeitos
de longo prazo do topiramato, após início da sua
comercialização.
(24)
O uso em pacientes migranosos requer, geralmen-
te, dosagens menores, até 100 mg ao dia. No entanto,
mesmo sob baixas doses, em uso diário, os pacientes
podem apresentar déficits cognitivos apreciáveis. Lee et
al.
(41)
compararam pacientes em uso de 50 mg, 75 mg e
100 mg de topiramato ao dia, encontrando, mesmo em
baixas doses, pacientes apresentando efeitos deletérios
sobre memória de trabalho e fluência verbal. Eles
demonstraram alterações nas avaliações psicométricas,
mesmo em grupos de pacientes usando baixas doses,
após um ano de tratamento, principalmente nos domínios
da linguagem e atenção/concentração, sugerindo não
haver habituação para os efeitos do topiramato sobre a
fluência verbal e memória de trabalho.
(41)
Parece haver correlação dos efeitos cognitivos com
a dose usada de topiramato. Estudo paralelo observou
a presença de escores mais baixos em testes psicométricos
a partir de 192 mg ao dia, com maior frequência em
doses de cerca de 384 mg ao dia, mas não em doses
entre 64 e 96 mg ao dia, em relação ao placebo,
(42)
ou
quando comparado à oxcarbazepina,
(43)
sugerindo certa
segurança para evolução de efeitos cognitivos nesta faixa
terapêutica.
CONCLUSÃO
O topiramato tem sido utilizado com eficácia no
tratamento de diversas doenças como epilepsia,
migrânea, obesidade e algumas desordens psiquiá-
tricas.
(29)
Apesar de ser considerado como medicamento
seguro, apresenta efeitos adversos sobre a cognição,
(20-
33)
que podem levar à descontinuação do tratamento
(24)
e interferência sobre suas atividades cotidianas do
paciente,
(23)
com impacto negativo sobre sua qualidade
de vida. O topiramato é melhor tolerado quando as doses
são ajustadas de forma lenta e doses mais baixas possíveis
são utilizadas.
(29)
Os efeitos cognitivos negativos induzidos
por topiramato, muitas vezes são temporários e cessam
após a interrupção de medicação.
(29)
Os estudos de ressonância magnética funcional têm
trazido informações relevantes acerca da compreensão
das alterações funcionais desencadeadas pelo topi-
ramato.
(33-34,37-39)
Como perspectiva futura, conside-
rando possível caráter genético da migrânea, mo-
dulado por outros fatores de origem endógena,
exógena, ou ambos, avanços em neurogenética po-
dem possibilitar a determinação de testes diagnós-
ticos específicos
(44)
para consequente identificação de
pacientes mais vulneráveis aos efeitos cognitivos do
topiramato.
A utilização do topiramato na profilaxia migra-
nosa pode expor o paciente ao desenvolvimento de
limitações de ordem cognitiva, que geralmente não
fazem parte da constelação sintomática do doente,
e se agregam como óbice ao seu contexto clínico,
mesmo diante de melhora da sintomatologia álgica.
Na profilaxia migranosa, a compreensão de como
se desenvolvem os efeitos cognitivos, a identifica-
ção de pacientes vulneráveis a suas manifestações,
ou ambos, podem contribuir para elaboração de
estratégias terapêuticas que permitam a utilização
segura do topiramato, como exclusão da opção de
uso do topiramato para determinados indivíduos
predispostos.
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TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
18 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Correspondência
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
karllusleite@yahoo.com.br
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tensional e migrânea: elaboração de um escore diagnóstico
baseado nas suas características clínicas. [Tese de doutorado]
Recife (PE): Pós-graduação em neuropsiquiatria e ciências do
comportamento da Universidade Federal de Pernambuco; 2011.
Recebido: 4 janeiro de 2015
Aceito: 8 fevereiro de 2015
MENDONÇA SANTOS KA, MARTINS HA, RIBAS VR, LIMA LC, SANTOS CC, OLIVEIRA DA, VALENÇA MM
Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015 19
Cefaleia e a qualidade de vida em adolescentes
Headaches and the quality of life in adolescents
VIEW AND REVIEW
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A cefaleia é um problema muito frequente na população
em geral e, em particular, nas crianças e adolescentes,
podendo influenciar negativamente na qualidade de vida
destes jovens. Nesse sentido, esse estudo objetivou analisar,
através de uma revisão sistemática, a epidemiologia da
cefaleia e sua associação com a qualidade de vida dos
adolescentes. Inicialmente, foi realizada uma busca nas
bases de dados PubMed, Lilacs e Scielo utilizando os
descritores "epidemiology", "headache", "quality of life",
"adolescents". Os dados foram analisados por dois
pesquisadores de maneira independente. Foram
selecionados, após a aplicação dos critérios de inclusão,
dez artigos. Observou-se que a cefaleia pode causar um
impacto substancial para a saúde física e mental dos
adolescentes, principalmente no sexo feminino. Constatou-
se uma escassez de pesquisas longitudinais e estudos envol-
vendo crianças com cefaleia. Além disso, a cefaleia
relacionou-se com distúrbios emocionais, depressão, ansie-
dade e dificuldades de interação relacionada à família e à
escola, podendo ocasionar um afastamento das atividades
diárias e consequentemente diminuir a qualidade de vida
daqueles que sofrem de cefaleia.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Epidemiologia; Cefaleia; Qualidade de
vida; Adolescente
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Headache is a common problem in the general population
and, in particular, in children and adolescents and may
negatively influence the quality of life of young. Thus, this
Bruno Rafael Vieira Souza Silva
1
, Alison Oliveira da Silva
2
, Paula Rejane Beserra Diniz
3,4
,
Marcelo Moraes Valença
3
, Ladyodeyse da Cunha Silva
1
, Carolina da Franca Bandeira Ferreira Santos
1
,
Luciano Machado Ferreira Tenório de Oliveira
3,4,5
1
Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Hebiatria, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil
2
Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Educação Física, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil
3
Departamento de Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
4
Núcleo de Telessaúde da UFPE, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
5
Associação Caruaruense de Ensino Superior – ASCES
Silva BR, Silva AO, Diniz PR, Valença MM, Silva LC, Santos CF, Oliveira LM.
Cefaleia e a qualidade de vida em adolescentes. Headache Medicine. 2015;6(1):19-23
study aimed to analyze, through a systematic review, the
epidemiology of headache and association with the quality
of life of adolescents. Initially, a search was conducted in the
databases PubMed, Lilacs and Scielo using the keywords
"epidemiology", "headache", "quality of life", "adolescents".
Data were analyzed by two researchers independently. Were
selected, after applying the inclusion criteria, 10 articles.
Was observed that headache can cause a substantial impact
on physical and mental health of adolescents, mainly among
females. There is a shortage of longitudinal research and
studies involving children with headache. In addition, the
headache was related to emotional disturbances, depression,
anxiety and difficulties of interaction related to family and
school, which may cause a departure from the everyday
activities and consequently decrease the quality of life of
those suffering from headache.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Epidemiology; Headache; Quality of life;
Adolescent
INTRODUÇÃO
Cefaleia é um fenômeno álgico que possui diversas
etiologias e está entre as queixas mais comuns na
adolescência.
(1)
Sua correta caracterização na população
pediátrica é uma tarefa árdua, sobretudo pelos aspectos
maturacionais, neurobiológicos e psicológicos envolvidos,
que afetam profundamente sua expressão nesta faixa
etária.
(2)
20 Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015
SILVA BR, SILVA AO, DINIZ PR, VALENÇA MM, SILVA LC, SANTOS CF, OLIVEIRA LM
As formas mais conhecidas de cefaleia crônica na
população pediátrica são a migrânea e as cefaleias do
tipo tensional.
(3)
Sua prevalência varia de acordo com o
desenho do estudo, havendo em geral predomínio da
migrânea.
(4)
De acordo com os dados da Organização
Mundial da Saúde,
(5)
(OMS) a cefaleia representa um
dos motivos mais frequentes de consultas médicas,
constando-se a migrânea entre as vinte doenças mais
incapacitantes.
Achados epidemiológico em adultos demonstram
que a cefaleia, especialmente enxaqueca, pode influ-
enciar negativamente na qualidade de vida do
indivíduo.
(6)
Em contraste, poucos estudos têm investigado
o geral impacto desta dor de cabeça na qualidade de
vida em adolescentes.
(7)
Em estudo envolvendo nove mil
crianças e adolescentes suecos, observou-se que aos 6
anos de idade, 39% delas referiram ao menos um
episódio importante de cefaleia e, aos 15 anos, ao menos
70% também relataram o sintoma.
(8)
Prevalências próxi-
mas das encontradas em estudos recentes.
(9-12)
Nesse sentido, esse estudo tem como objetivo
analisar, através de uma revisão sistemática, a epide-
miologia da cefaleia e sua associação com a qualidade
de vida dos adolescentes. Tais resultados podem
direcionar futuras intervenções que visem diminuir a
incidência de cefaleia no público jovem.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática conduzida entre
os meses de abril e maio de 2014 com objetivo de
conduzir uma síntese de artigos que analisaram a
epidemiologia da cefaleia e seus impactos na qualidade
de vida dos adolescentes. A pesquisa foi realizada nas
bases de dados eletrônicas Lilacs (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo
(Scientific Electronic Library Online) e Medline/Pubmed
(National Library of Medicine National Institutes of Health).
Inicialmente foi realizado a seleção dos descritores
mediante a uma consulta ao DeCS (Descritores em Ciên-
cias da Saúde) e ao MeSH (Medical Subject Headings),
sendo considerado os seguintes descritores na língua
portuguesa e inglesa, respectivamente: “epidemiologia”,
“cefaleia”, “qualidade de vida” e “adolescente”
(“epidemiology”, “headache, “quality of life”,
“adolescents”) além do operador lógico “and” para
combinação dos termos. Todos os processos de busca,
seleção e avaliação de artigos foram realizados por
pares, onde as publicações que preencheram os critérios
de inclusão foram analisadas integralmente e inde-
pendentemente por dois pesquisadores e, em seguida,
foram comparados a fim de verificar a concordância
entre os pares.
Para a inclusão do artigo, foram abordados os
seguintes aspectos: artigos publicados nos idiomas inglês,
português ou espanhol; conduzidos com adolescentes,
referenciando em seu resumo a idade da amostra. O
período de publicação dos estudos foi de 2009 a 2014.
Foram excluídos os artigos de revisão, teses, dissertações
e monografias, estudos repetidos e aqueles artigos que
não avaliaram a cefaleia na qualidade de vida do
adolescente.
O procedimento de localização e seleção dos artigos
ocorreu em três estágios. No primeiro estágio, os artigos
foram selecionados a partir da leitura dos seus títulos, no
segundo após a leitura dos resumos e no terceiro estágio
o texto completo foi acessado e avaliado. Os artigos
que atendiam aos critérios de inclusão foram lidos na
íntegra pelos dois avaliadores, observando ainda, se os
artigos continham dimensionamento adequado da
amostra.
RESULTADOS
Após a aplicação dos critérios de inclusão, foram
detectados dez artigos publicados entre 2009 e 2014. A
Figura 1 apresenta o percurso metodológico seguido para
seleção dos estudos incluídos pesquisa.
Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos incluídos na revisão.
Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015 21
CEFALEIA E A QUALIDADE DE VIDA EM ADOLESCENTES
Na Tabela 1 encontram-se dados dos estudos
selecionados, tais como autor, ano de publicação, local
do estudo, amostra, faixa etária, instrumentos utilizados,
delineamento e principais resultados encontrados. Dos
10 estudos incluídos, apenas dois estudos avaliaram a
cefaleia em crianças e adolescente abordando a idade
de 7-14 anos
(9)
dando ênfase a adolescência inicial e
6-18 anos
(10)
apresentando dados da infância e adoles-
cência. O tamanho da amostra dos estudos variou de
47
(13)
a 1.536
(10)
indivíduos. Todos artigos utilizaram
questionário e apenas um usou além do questionário
um diário para avaliar a cefaleia.
(14)
As prevalências
de crises de cefaleia encontradas variaram de 19,5%
(15)
a 84%,
(18)
isso apontando os sintomas mensais. Quando
avaliados no período semanal a taxa prevalente foi
em média de 18%.
(16)
Todos os artigos incluíram
adolescentes do sexo masculino e feminino, mas 40%
apresentaram as prevalências de cefaleia estratificada
por gênero.
(9;16;18;19)
Desses, apenas um estudo
(13)
não
apresentou diferença significativa da cefaleia entre
rapazes e moças e os demais estudos apontaram uma
prevalência maior para o sexo feminino. Em relação
ao delineamento do estudo, apenas uma pesquisa
utilizou um desenho longitudinal.
(14)
DISCUSSÃO
Através desta revisão foi possível identificar que: i)
poucos estudos incluíram crianças em sua amostra; ii) a
grande maioria dos estudos fez uso do questionário para
avaliar a cefaleia; iii) há uma redução da qualidade de
vida relacionada com a cefaleia; iv) são observadas
maiores prevalências de cefaleia entre as moças; v)
quando avaliadas as crises de cefaleias mensais, a
prevalência de dor de cabeça pode chegar a 84% entre
os jovens.
Dores de cabeça são muito frequentes na infância e
adolescência, especialmente enxaquecas e cefaleia do
tipo tensional, cuja prevalência é de, respectivamente,
8-10% e 15-20%.
(11)
As estimativas da prevalência de dor
22 Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015
de cabeça em crianças e adolescentes variam muito,
dependendo dos métodos e critérios de diagnóstico
aplicados.
(9)
Entretanto, poucos estudos
(9,10)
incluíram
crianças em sua amostra, sendo essa uma lacuna a ser
destacada tendo em vista que em crianças e
adolescentes, a cefaleia causa um impacto substancial
para a saúde física e mental, bem como para o
desempenho escolar e qualidade de vida. Além disso,
a cefaleia está associada com um número de
comorbidades como a asma, alergias, distúrbios
emocionais, problemas de comportamento, depressão
e ansiedade.
(18)
A maioria dos estudos fez o uso de questionários
para detectar a prevalência de cefaleia, incluindo itens
sobre dores de cabeça, aspectos da saúde e carac-
terísticas pessoais.
(19)
Apenas um estudo
(9)
teve o ques-
tionário avaliado por um neurologista após sua aplica-
ção, critérios definidos pelo International Headache
Society (IHS, 2004). A utilização do diário foi observada
em apenas um estudo,
(14)
que incluía itens que avaliam
frequência, duração e intensidade da dor de cabeça,
intensidade mensurada através de uma escala de
classificação numérica de dor 0-10.
Alguns achados relataram uma redução da quali-
dade de vida relacionada com a dor de cabeça.
(11,15)
Os dados de uma pesquisa realizada por Massey et
al.
(16)
mostraram que adolescentes com queixas de dores
de cabeça semanal e mensal tiveram uma menor qua-
lidade de vida, quando comparados àqueles que não
tinham dor de cabeça, avaliando pontos como: auto-
aceitação, frustação escolar, autoculpa e sintomas
depressivos. Milde-Busch et al.
(7)
concluiram que a dor
de cabeça está associada com menores escores de
qualidade de vida geral, de bem-estar físico e emo-
cional, bem como dificuldades de interação rela-
cionada à família e à escola, no qual esses pontos são
dimensões que contribuem à baixa qualidade de vida
geral em adolescentes.
De uma maneira geral observou-se maiores índices
de cefaleia nos adolescentes do sexo feminino. Neste
sentido, Castro et al.,
(9)
avaliando estudantes com idade
entre 10 a 14 anos, encontraram prevalências maiores
de cefaleia nas moças (32,2% vs. 23,3%). Observa-se,
durante a puberdade, um aumento da prevalência da
cefaleia entre as moças, o que sugere um papel dos
hormônios sexuais femininos na expressão da dor de
cabeça.
(10)
A associação entre as cefaleias e os níveis
de hormônios sexuais femininos pode ser observada
em decorrência das modificações dos níveis de estradiol
serem determinantes para alguns distúrbios neuro-
lógicos, tal como a migrânea, já que ocorrem alterações
de sintomas durante as diferentes fases do ciclo ova-
riano.
(21)
Além das alterações hormonais, essa maior
prevalência entre as moças pode estar relacionada aos
aspectos emocionais.
(15)
Quando avaliadas as crises de cefaleias mensais,
a prevalência de dor de cabeça pode chegar a 84%
entre os jovens.
(11)
O impacto negativo sobre a qua-
lidade de vida de indivíduos com crises de enxaqueca
e dor de cabeça é relatado também no estudo de
Ofovwe et al.,
(18)
onde a maioria dos alunos é incapaz
de se envolver em atividades de lazer ao ar livre e
observa-se um aumento do absentismo à escola. A
incapacidade funcional em crianças e adolescentes com
cefaleias recorrentes também tem sido mostrado como
um fator de risco para psiquiatria com condições tais
como depressão, comorbidades, sintomas psiquiátricos
e podem ter implicações para o tratamento multi-
disciplinar da cefaleia.
(14)
Ressalta-se, através da presente revisão, que existe
a necessidade de realização de pesquisas envolvendo
crianças e com um desenho longitudinal, minimizando
assim os possíveis erros de causalidade reversa e
avaliando a causa efeito dos distintos fatores rela-
cionados à cefaleia. Além disso, foi observado que
poucos estudos têm o diagnóstico de cefaleia ratificado
por um neurologista, ponto que aumentaria a fide-
dignidade de tal diagnóstico. Sendo assim, destaca-
se a importância de mais estudos que aprofundem a
temática, uma vez que a cefaleia na adolescência é
um quesito alarmante para o desenvolvimento de
alguns problemas de saúde, assim como para a
diminuição da qualidade de vida, principalmente em
adolescentes.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a cefaleia atinge fortemente os
adolescentes, podendo causar um impacto substancial
para a saúde física e mental, principalmente no sexo
feminino. Foi observada uma escassez de pesquisas
longitudinais e estudos envolvendo crianças com
cefaleia. Além disso, a cefaleia relacionou-se com
distúrbios emocionais, problemas de comportamento,
depressão, ansiedade e dificuldades de interação
relacionada à família e à escola, podendo ocasionar
a incapacidade de se envolver em atividades de lazer e
um aumento do absentismo à escola.
SILVA BR, SILVA AO, DINIZ PR, VALENÇA MM, SILVA LC, SANTOS CF, OLIVEIRA LM
Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015 23
CEFALEIA E A QUALIDADE DE VIDA EM ADOLESCENTES
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Correspondência
Bruno RafaelBruno Rafael
Bruno RafaelBruno Rafael
Bruno Rafael
Rua Manoel Claudino, 206 – Santa Rosa
55028-030 – Caruaru, PE, Brasil
Tel: 55 81 9824 2819
brunorafael45@hotmail.com
Recebido: 29 de novembro 2014
Aceito: 19 de dezembro 2014
24 Headache Medicine, v.6, n.1, p.24-26, Jan./Feb./Mar. 2015
Caricatura e cefaleia
Caricature and headache
NEUROART/NEUROARTE
Daniella Araújo de Oliveira
1
, Louana Cassiano da Silva
2
, Dayzene Freitas da Silva
1
,
Gabriela Almeida da Silva
1
, Mariana Luiza da Silva Queiroz
1
, Marcos Antônio de Oliveira Filho
2
,
Rafael Costa
2
, Marcelo Moraes Valença
2
Departamentos de Fisioterapia
1
e Neuropsiquiatria
2
, Universidade Federal de Pernambuco,
Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil
Oliveira DA, Silva LC, Silva DF, Silva GA, Queiroz ML, Oliveira Filho MA, et al. Caricatura e cefaleia.
Headache Medicine. 2015;6(1):24-6
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Os autores comentam sobre o uso de caricatura para
representar uma pessoa sofrendo de cefaleia e publicam uma
caricatura realizada por um artista de praça da cidade de
Goiânia, Goiás, representando uma mulher jovem com
enxaqueca.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave: chave:
chave: chave:
chave: Migrânea; Arte; Cefaleia; Caricatura
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The authors comment on the use of caricature to represent a
migraine sufferer and show a caricature of a woman with
migraine drawn by an artist from Goiânia, Goias State, Brazil.
Keywords: Keywords:
Keywords: Keywords:
Keywords: Migraine; Art; Headache; Caricature
INTRODUÇÃO
Caricatura é uma forma de arte onde se preconiza
o exagero dos traços de um desenho com finalidade de
acentuar aspectos importantes da gravura. "Caricare" em
italiano significa "carregar", "acentuar", no sentido de
exagerar, aumentar algo em proporção, ou seja, é o
desenho de uma personagem ou situação sociopolítica,
acentuado suas características, circunstâncias, gestos,
hábitos e vícios, de forma geralmente humorística.
(1)
O
termo foi utilizado pela primeira vez em 1646 para
designar desenhos satíricos de Agostino Carracci que
retratava personagens exóticos de Bolonha.
(1,2)
Relatos especulam que a caricatura já era utilizada
por povos antigos como os egípcios, gregos e romanos.
(2)
Tais evidências têm sido encontradas em pinturas de vasos
gregos, afrescos romanos em Pompéia e Herculano e
em um papiro, no museu de Turim, que retrata o faraó
Ramsés II com orelhas de burro. A primeira caricatura
reconhecida como arte independente, hoje no museu de
Estocolmo, data de 1600 e foi feita por Annibale Carracci,
retratando um casal de cantores italianos.
(2)
(Figura 1).
Figura 1. Desenho de Annibale Carracci retratando um casal de
cantores italianos em 1600.
Headache Medicine, v.6, n.1, p.24-26, Jan./Feb./Mar. 2015 25
De simples divertimento à importante atividade
artística a caricatura influenciou e foi cultivada por
grandes artistas como Bosch, Quentin Metsys, Leonardo
da Vinci, Arcimboldo, Jacques Callot, Goya, Ensor e
George Grosz.
(2)
No Brasil, apesar de Antônio Francisco Lisboa,
famoso escultor e arquiteto mineiro do século XVIII, mais
conhecido como Aleijadinho, ser citado como o primeiro
a utilizar a caricatura em uma escultura de São Jorge
com o dragão, retratando os traços do coronel José
Romão, pessoa com a qual tinha inimizade; o reco-
nhecido iniciador da caricatura no Brasil foi Manuel de
Araújo Porto Alegre que publicou, anonimamente, no
Jornal do Commercio em 14 de dezembro 1837, uma
sátira ao jornalista Justiniano José da Rocha, seu inimigo.
(2)
Em várias partes do mundo, as caricaturas são
utilizadas para expressar críticas sociais e sátiras políticas
com objetivo de levar ao público seus aspectos mais
cômicos, polêmicos ou agressivos.
(3)
Destacam-se nesse
aspecto o pintor Francisco de Goya, na Espanha, em
"Os Caprichos de Goya", que é uma série de 80 gravuras
que representa uma sátira da sociedade espanhola de
final do século XVIII, sobretudo da nobreza e do clero
(4)
(Figura 2); e no Brasil o pernambucano, nascido em
Recife, Péricles de Andrade Maranhão com o perso-
nagem "O amigo da Onça"
(2)
(Figura 3).
Figura 2. Oitos imagens da série de 80 gravuras de "Os Caprichos de Goya" - caricaturas do pintor espanhol Francisco de Goya. Nestas gravuras
o artista combinava o ridículo, a extravagância e a fantasia, criticando os vícios e erros da sociedade espanhola da época.
Além do conteúdo sociopolítico, a caricatura dá
ênfase a expressões e sentimentos exacerbados, usando
formas modificadas do corpo humano, principalmente
do rosto, bem como de animais, sempre com intuito de
impressionar ou influenciar o grande público.
(5)
Em 2013, durante o XXVII Congresso Brasileiro de
Cefaleia, realizado em Goiás, foi solicitado a um carica-
turista encontrado em uma das praças de Goiânia, que
desenhasse uma pessoa com crise de cefaleia (Figura
4). A caricatura mostra essa impressão da dor, embora
o artista houvesse afirmado que nunca havia sentido dor
de cabeça. O que chama atenção da imagem é a face
de sofrimento, comum em pacientes com crises de forte
intensidade, como ocorre na migrânea, as estrelas e raios
podem ser interpretadas como dor unilateral, pulsátil e
com possível aura visual. Os olhos semifechados podem
indicar uma possível fotofobia.
Figura 3. Personagem
do artista Péricles de
Andrade Maranhão.
Sempre satírico,
irônico e crítico,
o personagem
"O amigo da onça"
aparecia
desmascarando seus
interlocutores ou
colocando-os em
situações
embaraçosas.
CARICATURA E CEFALEIA
26 Headache Medicine, v.6, n.1, p.24-26, Jan./Feb./Mar. 2015
Neste artigo, os autores buscaram revisar a utilização
da caricatura como forma de atividade artística, ao longo
da história, para destacar situações cotidianas. As
caricaturas são amplamente utilizadas como sátira política
e crítica social, sendo divulgadas em jornais, revistas e
manifestos. Além disso, elas podem ser utilizadas como
meio de entretenimento, por alguns profissionais, que
realizam a caricatura de determinada pessoa ou situação
momentâneas, exagerando certos aspectos relevantes
com intenção de captar detalhes da personalidade ou
impressões de sentimentos.
Hoje podemos encontrar na internet muitos
exemplos de caricaturas representando um o sofrimento
de uma pessoa com cefaleia.
REFERÊNCIAS
1. Wikipédia. Caricatura [acesso em 28 fev 2015]. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caricatura
2. Portal Endiv - uma janela para o mundo. Caricatura - história e
características [acesso em 28 fev 2015]. Disponível em: http:/
/emdiv.com.br/arte/enciclopediadaarte/685-caricatura-
historia-e-caracteristicas.html
3. Siqueri MS. Caricatura política e a produção de discursos
derrisórios. Cuiabá. Dissertação [Mestrado em Estudos de
Linguagem] - Universidade Federal de Mato Grosso; 2006.
4. Wikipédia. Los caprichos [acesso em 28 fev 2015]. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Los_caprichos
5. Mendes AIF. Caricatura e reconhecimento de faces. Ribeirão
Preto. Tese [Doutorado em Ciências, Área Psicobiologia] -
Universidade de São Paulo; 2007.
Figura 4. Caricatura representando uma mulher com cefaleia.
Curiosamente, a caricatura lembra uma das pessoas presentes no
momento que o artista realizava seu trabalho, a Louana Cassiano da
Silva, com exceção do cabelo louro. Contudo, não sabemos se esse
fato é verídico. Apenas que ela sofre muito com suas crises de
enxaqueca. Imagem do artista T. Oliveira, em Goiás, 2013.
Correspondência
Daniella Araújo de OliveiraDaniella Araújo de Oliveira
Daniella Araújo de OliveiraDaniella Araújo de Oliveira
Daniella Araújo de Oliveira
Av. Jorn. Anibal Fernandes, s/n, Cidade Universitária
50740-560 - Recife, PE, Brasil
Fone: (55-81) 21268937, Fax (55-81)21268491
E-mail: sabino_daniella@ig.com.br
Recebido: 3 outubro 2014
Aceito: 2 dezembro 2014
OLIVEIRA DA, SILVA LC, SILVA DF, SILVA GA, QUEIROZ ML, OLIVEIRA FILHO MA, ET AL