January/February/March 2017
Nº 1
8
VOLUME
Headache
Medicine
Headache
Medicine
ISSN 2178-7468
EDITORIAL
Pineal gland, melatonin and the illuminated nights in the XXI century
Marcelo Moraes Valença
VIEW AND REVIEW
A importância da água nas cefaleias
Adriana Almeida Soares, Raimundo Pereira Silva-Néto
SHORT COMMUNICATION
Migrânea é comórbida ao transtorno do déficit de atenção e
hiperatividade na infância: um estudo populacional nacional
Marco Antônio Arruda, Renato Arruda, Vincenzo Guidetti, Marcelo Eduardo Bigal
Alterações no equilíbrio funcional e relato de quedas em pacientes com
migrânea crônica, migrânea com e sem aura
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D
Alodínia cutânea em pacientes com odontalgia atípica
Juliana Stuginski-Barbosa, AndLuís Porporatti, Paulo sar Rodrigues Conti
Contribuição de variáveis psicológicas na percepção da dor em
indivíduos com dor orofacial
Guilherme Vinícius do Vale Braido, Marco lio Faria Oliveira, Leticia Bueno Campi,
Fernanda Salloume Sampaio Bonafé, João Marôco, Juliana Alvares Duarte
Bonini Campos
NEUROIMAGEM EM CEFALEIA
Headache as a single clinical manifestation of a colloid cyst in the
third ventricle
Marcelo Moraes Valença, Helysânia Shádylla Santos de Farias, Laryssa Crystinne
Azevedo Almeida, Cassia Luana dos Santos Fraa, Karolyne Ernesto Luiz Nobre,
Marcelo Andrade Valença, Mário Luciano de Mélo Silva Júnior, Luciana Patrízia
Alves de Andrade Valença
OPINIÃO PESSOAL
Indometacina e Melatonina: duas irmãs que continuam reinando
Paulo Sergio Faro Santos
Headache Medicine, v.8, n.1, p.1, Jan./Feb./Mar. 2017 1
CONTENTS
EDITORIAL
Pineal gland, melatonin and the illuminated nights in the XXI century
Glândula pineal, melatonina e as noites iluminadas do século XXI .............................................................................. 4
Marcelo Moraes Valença
VIEW AND REVIEW
A importância da água nas cefaleias
The importance of water in headaches .........................................................................................................................6
Adriana Almeida Soares, Raimundo Pereira Silva-Néto
SHORT COMMUNICATION
Migrânea é comórbida ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade na infância:
um estudo populacional nacional
Migraine, tension-type headache, and attention-deficit/Hyperactivity disorder in childhood:
A population-based study .......................................................................................................................................... 11
Marco Antônio Arruda, Renato Arruda, Vincenzo Guidetti, Marcelo Eduardo Bigal
Alterações no equilíbrio funcional e relato de quedas em pacientes com migrânea crônica,
migrânea com e sem aura
Changes in functional balance and falls in patients with chronic migraine, migraine with and without aura .............. 16
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D
Alodínia cutânea em pacientes com odontalgia atípica
Cutaneous allodynia in patients with atypical odontalgia .......................................................................................... 19
Juliana Stuginski-Barbosa, André Luís Porporatti, Paulo César Rodrigues Conti
Contribuição de variáveis psicológicas na percepção da dor em indivíduos com dor orofacial
Contribution of psychological variables in the perception of pain in individuals with orofacial pain ........................... 22
Fernanda Salloume Sampaio Bonafé, João Marôco, Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
NEUROIMAGEM EM CEFALEIA
Headache as a single clinical manifestation of a colloid cyst in the third ventricle
Cefaleia como manifestação clínica única de um cisto coloide do terceiro ventrículo ................................................. 25
Marcelo Moraes Valença, Helysânia Shádylla Santos de Farias, Laryssa Crystinne Azevedo Almeida
Cassia Luana dos Santos França, Karolyne Ernesto Luiz Nobre, Marcelo Andrade Valença,
Mário Luciano de Mélo Silva Júnior, Luciana Patrízia Alves de Andrade Valença
OPINIÃO PESSOAL
Indometacina e Melatonina: duas irmãs que continuam reinando
Indomethacin and Melatonin: two sisters who continue to reign ............................................................................... 26
Paulo Sergio Faro Santos
Capa/Cover – Figure 1, Valença et al. Headache Med 2017(1):25
INFORMATIONS FOR AUTHORS ........................................................................................................................... 28
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
Volume 8 Number 1 January/February/March 2017
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
2 Headache Medicine, v.8, n.1, p.2-3, Jan./Feb/Mar. 2017
Headache Medicine
ISSN 2178-7468
A revista Headache Medicine é uma publicação de propriedade da Sociedade Brasileira de Cefaleia, indexada no Latindex e no Index Scholar, publicada pela
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Medicina e faculdades de Medicina do Brasil, e sociedades congêneres.
Editor-in-Chief
Marcelo Moraes Valença
Vice-Editor-in-Chief
Fabíola Dach Éckeli
Past Editors-in-Chief
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José Geraldo Speciali (1996-2002)
Carlos Alberto Bordini (1996-1997)
Abouch Valenty Krymchantowsky (2002-2004)
Pedro André Kowacs and Paulo H. Monzillo (2004-2007)
Fernando Kowacs (2008-2013)
Editors Emeriti
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Wilson Luiz Sanvito, São Paulo, SP
International Associate Editors
Cristana Peres Lago, Uruguai
Gregorio Zlotnik, Canadá
Isabel Luzeiro, Portugal
José Pereira Monteiro, Portugal
Kelvin Mok, Canadá
Marcelo Bigal, USA
Nelson Barrientos Uribe, Chile
Abouch Valenty Krymchantowski, Rio de Janeiro, RJ
Alan Chester F. Jesus, Aracaju, SE
Ana Luisa Antonniazzi, Ribeirão Preto, SP
Ariovaldo A. Silva Junior, Belo Horizonte, MG
Carla da Cunha Jevoux, Rio de Janeiro, RJ
Carlos Alberto Bordini, Batatais, SP
Célia Aparecida de Paula Roesler, São Paulo, SP
Claudia Baptista Tavares, Belo Horizonte, MG
Cláudio M. Brito, Barra Mansa, RJ
Daniella de Araújo Oliveira, Recife, PE
Deusvenir de Sousa Carvalho, São Paulo, SP
Djacir D. P. Macedo, Natal, RN
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Elder Machado Sarmento, Barra Mansa, RJ
Eliana Meire Melhado, Catanduva, SP
Fabíola Dach Éckeli, Ribeirão Preto, SP
Fabíola Lys Medeiros, Recife, PE
Fernando Kowacs, Porto Alegre, RS
Hugo André de Lima Martins, Recife, PE
Jano Alves de Sousa, Rio de Janeiro, RJ
João José de Freitas Carvalho, Fortaleza, CE
Joaquim Costa Neto, Recife, PE
José Geraldo Speziali, Ribeirão Preto, SP
Luis Paulo Queiróz, Florianópolis, SC
Marcelo C. Ciciarelli, Ribeirão Preto, SP
Marcelo Rodrigues Masruha, Vitória, ES
Marcos Antônio Arruda, Ribeirão Preto, SP
Mario Fernando Prieto Peres, São Paulo, SP
Maurice Vincent, Rio de Janeiro, RJ
Mauro Eduardo Jurno, Barbacena, MG
Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho, Recife, PE
Pedro Ferreira Moreira Filho, Rio de Janeiro, RJ
Pedro André Kowacs, Curitiba, PR
Raimundo Silva-Néto, Teresina, PI
Renan Domingues, Vitória, ES
Renata Silva Melo Fernandes, Recife, PE
Headache Medicine
Scientific Publication of the Brazilian Headache Society
Editorial Board
Headache Medicine, vv.8, n.1, p.2-3, Jan./Feb./Mar. 2017 3
Sociedade Brasileira de Cefaleia – SBCe
filiada à International Headache Society – IHS
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Luis Paulo Queiróz
Marcelo Ciciarelli
Pedro André Kowacs
Editor da Headache Medicine
Marcelo Moraes Valença
Vice-Editor da Headache Medicine
Fabíola Dach Éckeli
Diretoria Biênio 2016/2018
Comitês
Comitê de Dor Orofacial
Ricardo Tanus Valle
Comitê de Cefaleia na Infância
Marcos Antônio Arruda
Thais Rodrigues Villa
Comitê de Leigos
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Henrique Carneiro de Campos
João José de Freitas Carvalho
Pedro Augusto Sampaio Rocha Filho
Delegado junto à IHS
João José Freitas de Carvalho
Responsáveis pelo Portal SBCe
Elder Machado Sarmento
Paulo Sergio Faro Santos
Representante junto à SBED
José Geraldo Speziali
Representante junto à ABN
Célia Aparecida de Paula Roesler
Fernando Kowacs
Raimundo Pereira da Silva Neto
Responsável pelas Midias Sociais
Thais Rodrigues Villa
4 Headache Medicine, v.8, n.1, p.4-5, Jan./Feb./Mar. 2017
he secretion of melatonin by the pineal gland undergoes a significant
influence of light. In the absence of light, there is a release of melatonin, a hormone
that exerts major physiological actions to maintain a healthy life. During the last 100
thousand years, the brain of Homo sapiens was under a natural control of the amount
of light that reach the eyes, e.g., near the equator a circadian rhythm of approximately
12 hours of daylight: 12 hours darkness. A drastic change in the light-dark cycle
occurred in the last 200 years. The population in the big cities regularly is continuously
working at night in bright environments, watching television, playing on the computer;
thus, a series of activities are performed with an artificial light source on, actually
inhibiting the secretion of melatonin by the pineal gland.
The way that the eyes use to inform the cells of the body that is day or night is
done by the decrease or increase, respectively, in the concentration of melatonin in
the blood. With present-day technology and varied sources of artificial light, there is
an inadequate pattern of signaling to the organism of the external environment. This
reduction in the duration of darkness (absence of light), often irregular, perturbs and
confounds the brain interpretation of natural phenomena that would regulate
physiological functions as in the example of the sleep cycle, hormonal secretion,
among other biological cycles.
Some scientists suggest that after 45 years of age melatonin should be
supplemented because there is a significant drop in blood concentration of this
hormone in the fifth decade of life. Melatonin has been used for several conditions,
such as insomnia, in the fight against pain, as an antineoplastic drug and to attenuate
the production of free radicals, used thus to prevent aging.
Paulo Faro,
(1)
in this issue, is commenting two excellent articles
(2,3)
published by
Brazilian colleagues on melatonin and indomethacin. The molecular structure of
melatonin is very similar to that of indomethacin, and, curiously, some types of
headache can be individually treated by both drugs.
Following the suggestion of Mario Peres, I have used melatonin to treat various
forms of headache, including cluster headache and migraine associated or not to
overuse of analgesic, recommending oral intake at 7:00 p.m. In addition, since
melatonin's biological half-life is approximately 30 to 100 minutes a second dose
may be repeated a few hours later.
Pineal gland, melatonin and the illuminated nights in the
XXI century
Glândula pineal, melatonina e as noites iluminadas do
século XXI
T
EDITORIAL
Headache Medicine, v.8, n.1, p.4-5, Jan./Feb./Mar. 2017 5
Marcelo Valença
Neurosurgery and Neurology Unit, Federal University of Pernambuco
Recife - Pernambuco, Brazil
Editor da Headache Medicine
As the good news recently revealed by AVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), we now know that melatonin was authorized in Brazil to be produced by
compounding pharmacies.
REFERENCES
1. Santos PSF. Indometacina e Melatonina: duas irmãs que continuam reinando. Headache Med 2017;
(1):26-7.
2. Bordini EC, Bordini CA, Woldeamanuel YW, Rapoport AM. Indomethacin Responsive Headaches: Exhaustive
Systematic Review with Pooled Analysis and Critical Appraisal of 81 Published Clinical Studies. Headache.
2016 Feb;56(2):422-35.
3. Gonçalves AL, Martini Ferreira A, Ribeiro RT, Zukerman E, Cipolla-Neto J, Peres MF. Randomised clinical
trial comparing melatonin 3 mg, amitriptyline 25 mg and placebo for migraine prevention. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 2016 Oct;87(10):1127-32.
PINEAL GLAND, MELATONIN AND THE ILLUMINATED NIGHTS IN THE XXI CENTURY
6 Headache Medicine, v.8, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2017
A importância da água nas cefaleias
The importance of water in headaches
Adriana Almeida Soares
1
, Raimundo Pereira Silva-Néto
2
1
Nutricionista, Centro de Neurologia e Cefaleia do Piauí – Teresina, Brasil
2
Neurologista, Universidade Federal do Piauí – Teresina, Brasil
Soares AA, Silva-Néto RP. A importância da água nas cefaleias. Headache Medicine. 2017;8(1):6-10
VIEW AND REVIEW
RESUMO
Objetivo: Esta revisão objetivou investigar o papel da água
como fator agravante ou atenuante nas cefaleias. Méto-
do: Pesquisou-se a literatura referente ao papel da água
nas cefaleias nas principais bases de dados médicas (LiLacs,
SciELO, Bireme, Scopus, EBSCO e PubMed). Resultados:
A privação de água ocasiona uma inusitada cefaleia deno-
minada cefaleia por privação de água, além de ser um
gatilho dos ataques de migrânea. Por outro lado, a ingestão
de água é fator de melhora das seguintes cefaleias secun-
dárias: cefaleia pós-punção dural, cefaleia das grandes
altitudes e cefaleia da ressaca. Conclusões: A privação
de água pode ser considerada um gatilho dos ataques de
cefaleia, mas sua ingestão é fator atenuante.
Pa la vr as-chave : Cefaleia; Privação de água; Desidra-
tação
INTRODUÇÃO
Acredita-se que a desidratação resulte em cefaleia,
mas a eficácia do aumento da ingestão de água em paci-
entes que sofrem frequentemente de cefaleia ainda é pou-
co estudada.
Vários estudos mostraram que a privação de água
pode precipitar ataques de cefaleia em indivíduos saudá-
veis, causando uma inusitada cefaleia denominada cefaleia
por privação de água,
(1-3)
ainda não descrita na
International Classification of Headache Disorders, Third
Edition (ICHD-3β).
(4)
Há, também, estudos comprovando
que a privação de água é um gatilho das crises de
migrânea.
(5-9)
Por outro lado, a ingestão de água é recomendada
no tratamento de outras formas de cefaleia, tais como,
cefaleia pós-punção dural,
(10)
cefaleia das grandes altitu-
des
(11)
e cefaleia da ressaca.
(12)
Cefaleia por privação de água
Em 2004, o neurologista alemão Joseph Norman Blau
(1928-2010) descreveu, pela primeira vez, em dois estu-
dantes de medicina, um novo tipo de cefaleia, induzida
por privação de água.
(3)
Até então, não havia sido docu-
mentado que a simples privação de água fosse um
precipitante de cefaleia em indivíduos saudáveis.
A partir desses dois relatos de caso, esse autor investi-
gou 34 indivíduos e os dividiu em dois grupos, de acordo
com o tempo necessário para o alívio da cefaleia com a
ingestão de água. Houve a constatação de que a ingestão
de, em média, 500 ml de água ocasionou a melhora de
22 indivíduos, em 30 minutos; e a ingestão de, em mé-
dia, 750 ml de água foi responsável pela melhora de 11
indivíduos, dentro de 1 a 3 horas.
(3)
Acredita-se que a desidratação leve e crônica pode
desencadear a cefaleia. No entanto, é necessário um en-
saio controlado, randomizado, metodologicamente sóli-
do, para confirmar esta eficácia.
(13)
A cefaleia por privação de água é comum, mas, ain-
da, não há critérios diagnósticos bem definidos. Ela não
está descrita na ICHD-3β.
(4)
Supõe-se que se trate de uma
cefaleia primária e que a dor surja nas meninges, mas o
cérebro também estaria envolvido.
(3)
Conduta nutricional. A ingestão de água é uma
intervenção econômica, não invasiva e de baixo risco
para reduzir ou prevenir a cefaleia. Então, recomenda-
Headache Medicine, v.8, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2017 7
se o aumento da ingestão de água para amenizar a
cefaleia.
(13)
MIGRÂNEA
A partir da descrição da cefaleia induzida por priva-
ção de água em indivíduos saudáveis, começaram a sur-
gir descrições de que os ataques de migrânea poderiam
ser precipitados, também, pela privação de água
(6-9)
ou
melhorados pelo aumento da ingestão de água.
(9)
O conhecimento desse gatilho da cefaleia em paci-
entes com migrânea surgiu a partir de observações em
dois estudos. No primeiro, foram entrevistados cinquenta
migranosos e lhes perguntaram se a ingestão insuficiente
de líquidos poderia provocar seus ataques de migrânea. A
resposta foi positiva em vinte deles. No segundo estudo,
realizado no Reino Unido com 45 migranosos que partici-
pavam de uma reunião da British Migraine Association,
14 reconheceram a privação de água como um dos gati-
lhos de suas crises de migrânea. Concluiu-se que, nos
dois estudos com 95 migranosos, 34 sabiam que a desi-
dratação poderia provocar seus ataques, um precipitante
ainda não reconhecido pela classe médica.
(8)
Em 2007, as neurologistas portuguesas Isabel Pa-
vão Martins e Raquel Gil Gouveia, de Lisboa, descreve-
ram o caso de um homem de 38 anos com migrânea
desde os 12 anos, com ataques, nitidamente, relaciona-
dos à privação de água. Este paciente apresentou me-
lhora da frequência dos ataques de cefaleia após ter au-
mentado a ingestão diária de água, aproximadamente
80-100 mL para 1.500 mL/dia. Quando se compara-
ram os períodos de baixa ingestão de água com aqueles
de alta ingestão, constatou-se que houve uma redução
no número médio de ataques por mês (10,5 para 5,4;
p<0,0001) e na média mensal de ingestão de compri-
midos de triptano (11,6 para 6,2; p<0,0001).
(6)
No mesmo ano, o neurologista brasileiro Maurice
Vincent, professor da UFRJ, examinou um caso curioso
de cefaleia desencadeada por privação de água. O pa-
ciente dizia que, sobretudo em vôos longos, a falta de
ingestão hídrica poderia desencadear seus episódios
migranosos.
(5)
Quanto à resposta terapêutica com o aumento da
ingestão hídrica, realizou-se um estudo piloto sobre os
efeitos da ingestão regular de água em pacientes com
migrânea. Nesse estudo, observou-se, em 18 pacientes
com migrânea, uma redução média de 21 horas de
cefaleia em duas semanas, durante um período de se-
guimento de três meses.
(9)
Foi realizado um estudo randomizado com paci-
entes com migrânea para investigar os efeitos do au-
mento da ingestão de água na cefaleia. O grupo de
intervenção recebeu instruções para aumentar a
ingestão diária de água em 1,5 litros. Na avaliação,
utilizaram-se o diário da cefaleia e o questionário
Migraine Specific Quality of Life (MSQOL). Consta-
taram que o aumento da ingestão hídrica resultou em
uma melhoria, estatisticamente significante, de 4.5
pontos no MSQOL.
(2)
As observações que vêm sendo feitas parecem pro-
missoras, mas é preciso lembrar que outros fatores in-
terferem sobre os efeitos positivos do aumento da ingestão
de água em pacientes com migrânea, tais como, curso
natural da doença, efeito placebo, tamanho pequeno
da amostra etc. No entanto, parece razoável recomen-
dar aos pacientes com migrânea esta intervenção tera-
pêutica por certo período de tempo e observar suas
melhorias.
Mecanismos fisiopatológicos. O estresse, um
gatilho comum da migrânea, induz a liberação de
hormônio adrenocorticotrófico,
(14)
resultando em
hipersecreção de glicocorticoides, o que leva a um
desequilíbrio de processos homeostáticos, incluindo o
balanço hídrico.
O sono normal está associado a uma redução da
excreção de sódio urinário devido a um aumento fisio-
lógico da aldosterona plasmática;
(15)
mas a privação de
sono, outro gatilho da migrânea, pode aumentar as pro-
porções de n-acetil-aspartato e colina para a água no
córtex, sugerindo uma hipo-hidratação celular relativa
dentro da variabilidade fisiológica.
O exercício físico, também um desencadeante da
migrânea, está relacionado à perda de água através do
aumento da transpiração e, muitas vezes, pode resultar
em hipo-hidratação subclínica ou manifesta.
(16)
A atividade neuronal depende do equilíbrio iônico
transmembranoso e funciona adequadamente apenas
dentro de uma estreita faixa de osmolalidade
plasmática,
(17)
por isso, é essencial a manutenção da
água na homeostase iônica.
Todos os casos descritos anteriormente revelaram a
importância do metabolismo da água em indivíduos com
migrânea, evidência que está de acordo com a visão
atual da migrânea como uma canalopatia/ionopatia
neuronal.
(18,19)
Conduta nutricional. Recomenda-se o aumento da
ingestão de líquidos.
A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NAS CEFALEIAS
8 Headache Medicine, v.8, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2017
SOARES AA, SILVA-NÉTO RP
CEFALEIA PÓS-PUNÇÃO DURAL
Pacientes que são submetidos a punções lombares
para anestesia espinhal ou diagnóstico neurológico po-
dem apresentar uma complicação relativamente comum,
a cefaleia pós-punção dural.
(20,21)
Esta cefaleia foi relatada, pela primeira vez, em
1898
(22)
e, até os dias de hoje, continua a ser uma ques-
tão clínica significativa. Dentro de cinco dias, um pacien-
te que realizou punção dural começa a apresentá-la.
Atribui-se a sua causa ao vazamento do líquido
cefalorraquidiano (LCR) através da punção dural; ge-
ralmente, é acompanhada de rigidez de nuca e/ou sin-
tomas auditivos subjetivos; e piora dentro de 15 minu-
tos, após o indivíduo sentar-se ou ficar em pé e melhora
dentro de 15 minutos após deitar-se.
(4)
Habitualmente,
esse quadro clínico acontece em 95% dos casos. Quan-
do a cefaleia persiste, esta relação causal é posta em
dúvida.
A cefaleia pós-punção dural desaparece, espontane-
amente, dentro de 14 dias ou após tratamento eficaz do
extravasamento liquórico, usualmente, através de tampo-
namento sanguíneo epidural (blood patch).
O tratamento conservador inclui, habitualmente, re-
pouso no leito, hidratação, analgésicos, cafeína e
glicocorticoides.
(23,24)
Na prática clínica, aconselham-se os pacientes a au-
mentar a ingestão diária de líquidos, via oral, após a pun-
ção lombar, a fim de aumentar a produção de LCR por re-
hidratação e, portanto, tentar prevenir a cefaleia pós-pun-
ção dural.
(10)
Na ICHD-3β,
(4)
existe um grupo de cefaleias atribuí-
das à baixa pressão do LCR. No subgrupo codificado como
7.2.1, há a cefaleia pós-punção dural com critérios diag-
nósticos bem definidos (Tabela 1).
Conduta nutricional. Recomenda-se o aumento da
ingestão de líquidos por via oral após a punção, como
forma de tratamento preventivo.
(25)
CEFALEIA DAS GRANDES ALTITUDES
A cada ano, grande número de pessoas viaja para
lugares de elevadas altitudes.
(26)
Contudo, a ascensão a
altitudes superiores a 2.500 metros desencadeia uma
cefaleia denominada cefaleia das grandes altitudes, que
desaparece dentro de 24 horas após a descida.
Caracteriza-se por ser bilateral, em peso ou pressão,
de intensidade fraca a moderada e agravada pelo esforço
físico, tais como levantamento de peso, tosse, espirro, eva-
cuação etc.
Na ICHD-3β,
(4)
existe um grupo de cefaleias atribuí-
das a transtornos da homeostase. No subgrupo codifica-
do como 10.1.1, há a cefaleia das grandes altitudes com
critérios diagnósticos bem definidos (Tabela 2).
Alguns fatores de risco independentes para o apare-
cimento da cefaleia pós-punção dural foram demonstra-
dos recentemente. São eles: sexo feminino, idade entre 31
e 50 anos, história anterior de cefaleia pós- punção dural
e orientação do bisel da agulha perpendicular ao longo
da coluna vertebral no momento do punção dural.
A cefaleia das grandes altitudes ocorre em mais de
30% dos alpinistas. Os fatores de risco incluem histórico
de migrânea,
(27)
baixa saturação de oxigênio arterial, alto
grau de esforço percebido e ingestão de líquidos abaixo
de 2 litros em 24 horas.
(11,28)
Esse tipo de cefaleia configura-se como, pelo menos,
moderada e combinada com um ou mais dos sintomas
seguintes: náuseas, anorexia, fadiga, fotofobia, tonturas e
distúrbios do sono. A maioria dos pacientes responde a
analgésicos simples como paracetamol (acetaminofeno)
ou ibuprofeno.
(29)
Headache Medicine, v.8, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2017 9
A acetazolamida, na dose de 125 mg, duas a três
vezes ao dia, e os esteroides podem reduzir a susceptibili-
dade à cefaleia das grandes altitudes. Além disso, reco-
menda-se dois dias de aclimatização antes de se envolver
em exercício extenuante em altitudes elevadas.
(29,30)
Vários estudos já demonstraram que a ingestão de
líquidos abaixo de 2 litros em 24 horas é um importante
fator de risco para o surgimento da cefaleia das alturas.
(11,28)
Por isso, a hidratação adequada é sugerida como requisi-
to crítico de desempenho em altitude.
(31,32)
Dentre as estratégias preventivas, estão o aumento da
ingestão de líquidos e a suspensão de bebida alcoólica.
Além disso, uma dieta rica em carboidratos, com baixo
teor de gordura e de sal, também pode auxiliar na preven-
ção do aparecimento da cefaleia das grandes altitudes.
(33)
Conduta nutricional. Recomenda-se aumentar a
ingestão de líquidos, principalmente os gelados, e de ali-
mentos contendo carboidratos. Orienta-se, também, evi-
tar o consumo de álcool.
(25)
CEFALEIA DA RESSACA
Ressaca é definida como um mal-estar causado pela
ingestão de bebidas alcoólicas. Este termo deriva do es-
panhol "resaca", que significa movimento das fortes ondas
de um mar agitado avançando contra a areia na praia. A
força da ressaca costuma danificar construções à beira-
mar, além de arrastar banhista mar adentro.
No Brasil e em Portugal, o termo ressaca ganhou um
significado metafórico. Segundo o linguista e tradutor John
Robert Schmitz, da Universidade de Campinas (Unicamp),
quem bebe demais passa, também, por muita turbulência
na manhã seguinte.
(34)
Há um termo médico para esse mal-estar que, vul-
garmente, se conhece como ressaca. Cientificamente, cha-
ma-se veisalgia (do norueguês "kveis", mal-estar posterior
a uma farra; e do grego "algos", dor). Infelizmente, o ter-
mo veisalgia ainda não encontrou acolhimento em nosso
vocabulário.
Na ICHD-3β,
(4)
a cefaleia da ressaca é conhecida
como cefaleia tardia induzida por álcool e codificada
como 8.1.4.2, com critérios diagnósticos bem definidos
(Tabela 3).
A cefaleia da ressaca surge após ingestão de uma
quantidade moderada de bebida alcoólica, por um indi-
víduo migranoso, ou uma quantidade tóxica, por pessoa
não migranosa. A cefaleia aparece após a diminuição ou
a redução a zero dos níveis sanguíneos de álcool e desa-
parece em até 72 horas.
O mecanismo da cefaleia da ressaca é desconheci-
do, mas são atribuídos como causas o metabólito do etanol
acetaldeído e a desidratação;
(12)
por isso, é importante a
re-hidratação no seu tratamento. Os sintomas podem per-
sistir por algumas horas e, geralmente, melhoram com o
repouso, hidratação e o uso de analgésicos.
(35)
Drogas que inibem a síntese de prostaglandinas ou o
metabolismo acelerado do álcool também são utilizadas.
(36)
Essa busca pela cura da cefaleia da ressaca é tão antiga
quanto o próprio álcool, apesar de poucos dos tratamen-
tos comumente descritos terem sido submetidos à avalia-
ção científica.
(37)
Conduta nutricional. Recomenda-se o aumento da
ingestão de líquidos.
CONCLUSÕES
A privação de água pode ser considerada um gati-
lho dos ataques de cefaleia, mas sua ingestão é fator
atenuante.
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Correspondência
R. P. Silva-Néto
Universidade Federal do Piauí
Avenida Frei Serafim, 2280, Centro
64001-020 – Teresina, PI Brasil
Tel. + 55 863215-5696
E-mail: neurocefaleia@terra.com.br
Recebido: 05 de abril de 2017
Aceito: 10 de junho de 2017
SOARES AA, SILVA-NÉTO RP
Headache Medicine, v.8, n.1, p.11-15, Jan./Feb./Mar. 2017 11
Migrânea é comórbida ao transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade na infância: um estudo
populacional nacional
Migraine, tension-type headache, and attention-deficit/Hyperactivity disorder in childhood:
A population-based study
Marco Antônio Arruda
1
, Renato Arruda
2
, Vincenzo Guidetti
3
, Marcelo Eduardo Bigal
4
1
IG - Instituto Glia, Ribeirão Preto, SP;
2
FCM/Unicamp – Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp – Campinas, SP
3
La Sapienza – Universidade de Roma "La Sapienza" – Roma, Itália
4
AECM – Albert Einstein College of Medicine, Estados Unidos
Arruda MA, Arruda R, Guidetti V, Bigal ME. Migrânea é comórbida ao transtorno do déficit de atenção e
hiperatividade na infância: um estudo populacional nacional. Headache Medicine. 2017;8(1):11-5
SHORT COMMUNICATION
INTRODUÇÃO
A migrânea e o Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) apresentam uma alta prevalência,
acometendo, respectivamente, em torno de 5% e 10%
da população infantil mundial
(1,2)
(Figura 1), provocan-
do um impacto clinicamente significativo e de grau vari-
ado na qualidade de vida,
(3)
bem-estar psicológico,
(4)
de-
sempenho escolar
(5)
e ajuste psicossocial da criança.
(6)
Ambas as condições se encontram no grupo das doen-
ças crônicas não comunicáveis, hoje consideradas pela
Organização Mundial de Saúde como as principais cau-
sas de morbidade na infância, exigindo programas espe-
cíficos de saúde pública.
A possível comorbidade entre a migrânea e o TDAH é
cogitada na literatura apenas por estudos clínicos, care-
cendo de evidências advindas de estudos populacionais
representativos, não influenciados por vieses de seleção.
No presente estudo, apresentamos resultados obti-
dos em uma amostra populacional em que as crianças
foram randomicamente selecionadas em suas escolas e
seus pais e professores foram diretamente entrevistados
(Projeto Atenção Brasil), a fim de investigar se o TDAH e/
ou os sintomas de hiperatividade-impulsividade e
desatenção são comórbidos à migrânea e/ou à cefaleia
do tipo tensional (CTT).
MÉTODO
O Projeto Atenção Brasil foi desenhado com o obje-
tivo de estabelecer coortes para estudar aspectos do de-
senvolvimento infantil. Em sua fase nacional, contou com
a participação voluntária de professores de todo o Brasil
que fazem parte da Comunidade Aprender Criança, uma
comunidade acadêmica, virtual e sem fins lucrativos, cri-
ada em 2006 com o objetivo de desenvolver a interface
entre as Neurociências e a Educação. A partir de um
convite aberto a todos educadores da referida comuni-
dade, um planejamento amostral identificou 124 profes-
sores, que, em seguida, completaram um treinamento
on-line de 4 horas conduzido por um de nós (MAA) com
orientações sobre o processo de seleção da amostra e o
preenchimento dos questionários.
Os professores completaram a versão brasileira vali-
dada da escala MTA-SNAP-IV7 para identificação de sin-
tomas do TDAH, além de um módulo referente ao de-
sempenho escolar, para cada um dos seus alunos incluí-
dos na amostra. Em seguida, os pais foram entrevistados
pelos professores através de um questionário padroniza-
do com 102 perguntas que avaliam características socio-
demográficas, antecedentes pessoais, cefaleia e saúde
mental. O módulo de cefaleia, composto por 14 ques-
tões que avaliam aspectos distintivos das cefaleias de acor-
12 Headache Medicine, v.8, n.1, p.11-15, Jan./Feb./Mar. 2017
ARRUDA MA, ARRUDA R, GUIDETTI V, BIGAL ME
do com a segunda edição da Classificação Internacional
das Cefaleias (ICHD-2), foi validado em numerosos estu-
dos brasileiros com adultos e crianças. O estado de saúde
mental da criança foi avaliado pela versão brasileira vali-
dada do Questionário de Capacidades e Dificuldades
(SDQ)8, além da escala MTA-SNAP-IV. O SDQ identifica
hiperatividade, desatenção, sintomas emocionais, proble-
mas de relacionamento com colegas e problemas de con-
duta. O suplemento de impacto do SDQ foi aplicado para
avaliar a presença de comprometimento clinicamente sig-
nificativo dos sintomas do TDAH nos vários contextos de
vida da criança, requerido pelos critérios operacionais de
diagnóstico do DSM-IV.
Para caracterização da amostra foi utilizada estatísti-
ca descritiva e as taxas de prevalência bruta e ajustada
foram obtidas utilizando modelo de regressão binária. Fo-
ram construídos modelos para análise multivariada por
regressão logística que avaliam a presença de TDAH em
função do diagnóstico da cefaleia, idade, sexo, raça, ren-
da familiar, características clínicas da cefaleia, bem como
a presença de abuso de analgésicos. O nível de signifi-
cância adotado foi de 5%. A análise estatística foi realiza-
da com o auxílio do programa SPSS 15.0 para Windows
(SPSS Inc. Chicago, IL).
RESULTADOS
Das 8.599 crianças da amostra-alvo, um consenti-
mento informado dos pais foi obtido em 6.445 (75%) e
questionários com informações completas e analisáveis em
5.671 (65,9%), a amostra final. A idade variou de 5 a 12
anos, sendo 50,7% delas do sexo masculino, oriundas de
87 cidades de 18 estados brasileiros, representando as
cinco regiões nacionais (Tabela 1).
A prevalência de TDAH foi de 3,9% (6,0% em meni-
nos e 1,8% em meninas), migrânea episódica 9,4% e
CTT episódica em 12,6% da amostra. Em comparação
às crianças sem cefaleia, a prevalência de TDAH foi sig-
nificativamente maior em crianças com migrânea em
geral (6% vs. 2,1%, RR 2,9, IC 95% 1,9-4,5), migrânea
episódica (6,8% vs. 2,1%, RR 3,3 IC 95% 2,0-5,3), pro-
vável migrânea (5,3% vs. 2,1%, RR 2,5; IC95% 1,6-
3,4), migrânea crônica (17,1% vs. 2,1%, RR 8,2; IC
95% 3,8-17,9), CTT em geral (3,6% vs. 2,1%, RR 1,7;
IC95% 1,1-2,7) e provável CTT (3,7% vs. 2,1%, RR 1,8;
IC95% 1,2-2,8). Em relação aos sintomas de hipera-
tividade e impulsividade, a prevalência foi significativa-
mente maior em crianças com migrânea em geral,
migrânea episódica e provável migrânea em compara-
Figura1. Mapa-mundi da prevalência de TDAH e migrânea em crianças e adolescentes
(1,2)
Headache Medicine, v.8, n.1, p.11-15, Jan./Feb./Mar. 2017 13
ção com as crianças sem cefaleia (p <0,04). Em com-
paração com as crianças sem cefaleia, a prevalência de
sintomas de desatenção foi significativamente maior em
crianças com migrânea em geral, migrânea episódica,
provável migrânea, migrânea crônica, CTT em geral e
provável CTT (p <0,03) (Tabela 2).
De acordo com a análise multivariada, em crianças
com migrânea em geral, migrânea episódica, provável
migrânea e migrânea crônica, o diagnóstico de TDAH foi
significativa e independentemente influenciado pelo sexo
masculino (p<0,0001), alta frequência (p<0,04) e forte
intensidade (p<0,001) da cefaleia, presença de náuseas
(p<0.0001) e fonofobia (p<0,024) nas crises de cefaleia,
presença de problemas de conduta (p<0,008), um esco-
re total anormal do SDQ (p<0,0001) e um desempenho
escolar abaixo da média (p<0,0001) (Tabela 3).
MIGRÂNEA É COMÓRBIDA AO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA INFÂNCIA:
UM ESTUDO POPULACIONAL NACIONAL
14 Headache Medicine, v.8, n.1, p.11-15, Jan./Feb./Mar. 2017
ARRUDA MA, ARRUDA R, GUIDETTI V, BIGAL ME
CONCLUSÕES
Os resultados do presente estudo sugerem que a
migrânea e o TDAH são comórbidos na infância, po-
dendo agregar e somar impacto sobre a qualidade de
vida, saúde mental e desempenho escolar da criança.
Esses dados apresentam implicação imediata na clínica
de crianças com cefaleia e na elaboração de progra-
mas de saúde pública dirigidos à infância. Diante de
uma criança com cefaleia,o clínico deve ampliar sua
investigação em busca de sintomas como desatenção,
hiperatividade, impulsividade e disfunções executivas,
bem como avaliar seu estado de saúde mental e funcio-
namento escolar (desempenho, assiduidade, etc.). Ao
identificar a comorbidade entre migrânea e TDAH o
clínico deve oferecer uma abordagem terapêutica
multimodal, dirigida a ambas as condições e baseada
nas melhores evidências científicas disponíveis, redu-
zindo o impacto sobre a vida da criança e maximizando
a eficácia do tratamento.
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Headache Medicine, v.8, n.1, p.11-15, Jan./Feb./Mar. 2017 15
Correspondência
Marco Antônio Arruda
Instituto Glia
Av. Braz Olaia Acosta, 727, s. 310
Ribeirão Preto, SP, Brasil
arruda@institutoglia.com.br
Recebido: 05 de outubro de 2016
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MIGRÂNEA É COMÓRBIDA AO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA INFÂNCIA:
UM ESTUDO POPULACIONAL NACIONAL
16 Headache Medicine, v.8, n.1, p.16-18, Jan./Feb./Mar. 2017
Alterações no equilíbrio funcional e relato de quedas
em pacientes com migrânea crônica, migrânea com e
sem aura
Changes in functional balance and falls in patients with chronic migraine, migraine with and
without aura
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D
3
Setor de Traumatologia e Ortopedia, Depto. de Fisioterapia da Universidade Federal de
São Carlos - São Carlos, SP
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D. Alterações no equilíbrio funcional e relato de
quedas em pacientes com migrânea crônica, migrânea com e sem aura. Headache Medicine. 2017;8(1):16-8
INTRODUÇÃO
A literatura sugere que pacientes com migrânea apre-
sentam disfunções subclínicas do sistema vestibular e do
tronco cerebral,
(1)
além de alterações nas vias centrais ves-
tibulares.
(2-4)
É também verificada a presença de altera-
ções no equilíbrio estático,
(1-3,5)
especialmente na presen-
ça da aura.
(6)
No entanto, é desconhecida a influência dos subtipos
de migrânea no controle postural durante a execução de
atividades funcionais, bem como a prevalência de quedas
nesta população.
OBJETIVOS
Avaliar o autorrelato de quedas e o desempenho
em tarefas funcionais em diferentes subgrupos de
migranosos.
MÉTODOS
Foram avaliados 140 pacientes divididos igualmente
em quatro grupos de acordo com o diagnóstico, migrânea
com aura (MA, idade: 37±9,5), migrânea sem aura (M,
idade: 35±8,7), migrânea crônica (MC, idade: 37±9,2)
e controles (GC, idade: 36±9,5) (Tabela 1). Este estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HC/
FMRP-USP (Processo n. 16693/2012).
Um avaliador cego quanto ao diagnóstico aplicou
um questionário relacionado ao relato de desequilíbrio
e ocorrência de quedas nos últimos 12 meses. Além
disso foi aplicado um protocolo de avaliação funcional
realizado no equipamento Balance Master (Neurocom®)
composto pelos testes de marcha, marcha tandem, su-
bida e descida do degrau e movimento de sentado para
em pé.
Os grupos foram comparados pelo teste ANCOVA,
com variáveis confundidores incluídas no modelo de aná-
lise, considerando α=0,05 pelo software SAS® versão
9.2. Além disso foi calculado o risco de prevalência de
quedas nesta população.
RESULTADOS
Comparados aos grupos M e GC, pacientes dos gru-
pos MA e MC apresentaram maior relato de desequilíbrio
(MA: 85,7%, MC: 62.9%, p<0,0001), maior história
de quedas (MA: 86%, MC: 43%, p<0,0001) e maior
número quedas no último ano (MA: 2,2, MC: 1,4,
p<0.04) (Tabela 2). Dentre os pacientes com história de
quedas, cerca de 65,7% do grupo MA, 40% do grupo
CM e 37% do grupo M relataram lesões leves decorren-
tes da queda como: contusões, arranhões, torções de
tornozelo e dores de curta duração nas regiões da colu-
na, mão e cabeça. Fraturas ou lesões graves não foram
relatadas.
SHORT COMMUNICATION
Headache Medicine, v.8, n.1, p.16-18, Jan./Feb./Mar. 2017 17
Em relação aos testes funcionais, todos os pacientes
com migrânea apresentaram velocidade e comprimento
de passo reduzido durante a marcha (p<0.001) e mar-
cha tandem (p<0,03) em relação ao GC. Foram
verificadas diferenças na largura de passo entre indivíduos
do GC em relação aos grupos MA e MC durante a mar-
cha (p<0,03) e M, MA e MC durante a marcha tandem
(p<0,03).
Todos os migranosos levaram mais tempo para rea-
lizar a transferência de peso e apresentaram reduzido ín-
dice de elevação durante o movimento de levantar a partir
da posição sentada em comparação ao GC (p<0,002).
No teste de subida e descida do degrau foram obser-
vadas diferenças entre migranosos e controles em ambas
as pernas direita e esquerda na variável velocidade de
movimento (p<0,006). Além disso, foi verificada menor
descarga do peso corporal durante a subida e descida
do degrau em todos os migranosos versus CG (p<0,02)
e durante a subida no degrau entre M versus MA
(p<0,01).
DISCUSSÃO
Nossos resultados demonstraram que pacientes com
migrânea, independente da presença de aura e croni-
cidade, apresentam alterações na performance de ati-
vidades funcionais em relação a controles. A presença
da aura influenciou apenas uma das variáveis dentre os
quatro testes. No entanto, a presença destes dois fato-
res foi determinante para o maior relato de quedas,
desequilíbrio e presença de lesões consequentes às que-
das. Assim nosso estudo demonstra que a presença da
aura e cronicidade estão associadas ao risco de que-
das em migranosos.
ALTERAÇÕES NO EQUILÍBRIO FUNCIONAL E RELATO DE QUEDAS EM PACIENTES COM
MIGRÂNEA CRÔNICA, MIGRÂNEA COM E SEM AURA
18 Headache Medicine, v.8, n.1, p.16-18, Jan./Feb./Mar. 2017
Estudos de imagem relacionam a presença da aura e
maior frequência de crises com maior quantidade de le-
sões isquêmicas no território das artérias vértebro-basilares,
especialmente no cerebelo, tronco encefálico e ouvido in-
terno.
(7)
Futuros estudos que avaliem tanto a presença de
microisquemias quanto o controle postural, podem elucidar
associação entre estes fatores. Assim, estratégias relacio-
nadas à prevenção e manejo da deterioração do controle
postural em nestes grupos de migranosos pode ser consi-
derada.
No entanto, não foram encontradas diferenças
significantes entre migranosos sem aura, com aura e crô-
nicos na performance dos testes funcionais; diferente de
um estudo prévio que verificou influência da aura no con-
trole postural estático.
(6)
Corroborando com estes resulta-
dos, foram verificadas alterações da marcha tandem e
marcha em migranosos, comparados a controles.
(2,6)
Como
a avaliação do equilíbrio estático exige controle postural
mais refinado e preciso, é possível que as diferenças entre
os subgrupos de migrânea se tornem mais evidentes.
Além disso, é importante destacar que a amostra ava-
liada é composta de indivíduos jovens, cuja idade média
gira em torno de 36 anos. Talvez o deterioramento do
controle postural decorrente da doença, como já eviden-
ciado por Akdal, 2012,
(8)
associado ao decorrente do
processo de envelhecimento, possa evidenciar maiores
diferenças entre os grupos. Porém, estas alterações já
são suficientes para influenciar o relato de desequilíbrios
e quedas nesta população. Isso pode causar um impacto
importante nas vidas destes pacientes, somado ainda à
influência da dor, que é bastante conhecida.
Assim este estudo é o primeiro a evidenciar que as
alterações do controle postural afetam a performance de
atividades funcionais como subir e descer degraus, sen-
tar para em pé, marcha e marcha tandem. A presença
de aura e cronicidade estão associados ao risco de que-
das nestes pacientes. Estudos direcionados no sentido de
maior investigação clínica e planejamento de interven-
ções terapêuticas apropriadas são necessárias.
CONCLUSÃO
Pacientes com migrânea apresentam alterações na
performance em tarefas funcionais, sugerindo deteriora-
ção precoce do controle postural com consequente inter-
ferência na vida diária com maior prevalência de que-
das e associação com o risco de quedas. Avaliação ade-
quada do equilíbrio e estratégias de reabilitação devem
ser consideradas para pacientes com migrânea.
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2. Akdal G, Donmez B, Ozturk V, Angin S. Is balance normal in
migraineurs without history of vertigo? Headache
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3. Ishizaki K, Mori N, Takeshima T, et al. Static stabilometry in
patients with migraine and tension-type headache during a
headache-free period. Psychiatry Clin Neurosci 2002;56:85-
90.
4. Baker BJ, Curtis A, Trueblood P, Vangsnes E. Vestibular functioning
and migraine: comparing those with and without vertigo to a
normal population. J Laryngol Otol 2013;127:1169-76.
5.Ongun N, Atalay NS, Degirmenci E, Sahin F, Bir LS. Tetra-
ataxiometric Posturography in Patients with Migrainous Vertigo.
Pain physician 2016;19:E87-96.
6. Carvalho GF, Chaves TC, Dach F, et al. Influence of Migraine
and of Migraine Aura on Balance and Mobility - A Controlled
Study. Headache 2013;53:1116-22.
7. Kurth T, Mohamed S, Maillard P, et al. Headache, migraine, and
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Epidemiology of Vascular Ageing-MRI study. BMJ
2011;342:c7357.
8. Akdal G, Balci BD, Angin S, Ozturk V, Halmagyi GM. A longitu-
dinal study of balance in migraineurs. Acta Otolaryngol
2012;132:27-32.
Correspondência
Gabriela Ferreira Carvalho
Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de
São Carlos
Setor de Traumatologia e Ortopedia
São Carlos, SP
Recebido: 05 de outubro de 2016
Aceito: 10 de outubro de 2016
CARVALHO GF, SILVA CA, FLORENCIO LL, PINHEIRO CF, DACH F, BEVILAQUA-GROSSI D
Headache Medicine, v.8, n.1, p.19-21, Jan./Feb./Mar. 2017 19
Alodínia cutânea em pacientes com odontalgia atípica
Cutaneous allodynia in patients with atypical odontalgia
Juliana Stuginski-Barbosa, André Luís Porporatti, Paulo César Rodrigues Conti
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Departamento de Odontologia – Florianópolis, SC, Brasil
Stuginski-Barbosa J, Porporatti AL, Conti PCR. Alodínia cutânea em pacientes com odontalgia atípica.
Headache Medicine. 2017;8(1):19-21
INTRODUÇÃO
Odontalgia atípica (OA) é uma dor neuropática crô-
nica, constante, de moderada a forte intensidade, locali-
zada na região dentoalveolar e na mucosa oral, não atri-
buída a outra condição. A Associação Internacional para
o Estudo da Dor (International Association for the Study
of Pain – IASP) definiu OA como uma dor contínua,
latejante e severa no dente sem associação com nenhuma
patologia maior. Frequentemente a dor está presente por
meses e até mesmo anos, sem alterações significativas em
suas características clínicas. OA está atualmente incluída
na classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia
(International Headache Society – IHS) na categoria cha-
mada de Neuropatia Trigeminal Dolorosa Pós-traumática
(IHS 13.1.2.3).
Pacientes com OA podem apresentar clinicamente
alterações somatossensoriais de alodínia, hiperalgesia no
local da dor e exacerbação da dor por fatores térmicos,
mecânicos e/ou químicos. Os testes sensoriais quantitati-
vos (TSQs) são ferramentas adequadas para avaliar a pre-
sença dessas alterações.
Alodínia é uma resposta dolorosa perante um estímu-
lo que normalmente não causa dor, ou um estímulo inó-
cuo. A alodinia cutânea (AC) é uma dor provocada por
estímulos inócuos na pele.
OBJETIVOS
Estimar a ocorrência de AC em pacientes com OA e
correlacionar com sintomas de ansiedade e depressão,
qualidade do sono, qualidade de vida e resultados de
TSQs.
MÉTODOS
Este trabalho recebeu o apoio da Fundação de Am-
paro à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (2013/
15496-1). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Seres Humanos da Faculdade de Odontologia de Bauru
– Universidade de São Paulo (FOB-USP). O termo de con-
sentimento livre e esclarecido por escrito foi obtido de to-
dos os participantes.
Adultos de ambos os sexos passaram por uma
anamnese, que incluiu dados pessoais, queixa principal,
histórico médico e odontológico, e exame físico. A amos-
tra foi coletada dentre os pacientes que procuraram as
clínicas de atendimento odontológico da FOB-USP, de de-
zembro de 2013 a janeiro de 2015.
Antes da inscrição do sujeito no estudo, os pesqui-
sadores realizaram diagnóstico de OA com base nos cri-
térios: 1) dor persistente apresentando-se ao menos oito
horas ao dia, durante 15 dias ou mais por mês, e por
pelo menos três meses; 2) localizada em região
dentoalveolar; e 3) não causada por outra doença ou
distúrbio excluídos por exame odontológico, neurológi-
co e de imagem. O diagnóstico preciso investigou radio-
grafias periapicais do dente e/ou panorâmicas dos ossos
maxilares. Para alguns pacientes, a tomografia
computadorizada do tipo cone-beam foi realizada como
forma complementar.
Uma sequência de quatro TSQs foi realizada em to-
dos os sujeitos da pesquisa, instalados confortavelmente
em uma sala silenciosa com temperatura estável de 22ºC
a 25ºC. A duração de todos os testes foi de aproximada-
mente 25 minutos. Um pesquisador experiente realizou
todos os procedimentos e os participantes foram orien-
SHORT COMMUNICATION
20 Headache Medicine, v.8, n.1, p.19-21, Jan./Feb./Mar. 2017
STUGINSKI-BARBOSA J, PORPORATTI AL, CONTI PCR
tados durante todo o processo para garantir precisão.
Os TSQs, aplicados sobre a mucosa dentoalveolar da re-
gião dolorosa relatada, englobaram:
Limite de Detecção Mecânica (LDM)
Este teste constou da utilização de um kit com vinte
monofilamentos de nylon (von Frey) com diâmetros dife-
rentes, calibrado para exercer forças específicas, variando
de 0,008 g/mm
2
a 300 g/mm
2
. Foi realizado para esti-
mar a menor força aplicada que os participantes reconhe-
ciam como toque leve e não dor. O método de limites foi
usado, onde aproximadamente seis a oito estímulos as-
cendente/descendente foram aplicados, e então a força
média foi calculada.
Limiar de Detecção Mecânica Dolorosa (LDMD)
O mesmo protocolo para LDM foi executado, no en-
tanto, neste momento buscou-se estimar a menor força
aplicada que os participantes reconheciam como dor e
não toque.
Alodinia Mecânica Dinâmica (AMD)
Dez segundos de ligeira vibração com um cotonete
foram aplicados na mucosa dentoalveolar (área estimada
de 2 mm
2
) e, imediatamente após, a intensidade da dor
foi registrada com o auxílio de uma Escala Analógica Vi-
sual (EAV) de 10 cm.
Somação Temporal (ST)
Um estímulo doloroso de 26 g/mm
2
foi aplicado
repetidamente durante trinta segundos utilizando-se um
monofilamento de von Frey (aproximadamente um es-
tímulo por segundo, na frequência de 1 Hz). No 1º,
10º, 20º, e 30º segundo, os indivíduos avaliaram a
intensidade da dor em uma Escala Analógica Numéri-
ca (EAN).
Além dos TSQ, o questionário Allodynia Symptom
Checklist (ASC-12) em sua versão em Português brasileiro
foi utilizado para aferir a AC utilizando 12 questões sobre
frequência de sintomas de alodínia. As questões abrangi-
am perguntar se, durante a dor mais forte, os sujeitos sen-
tiam incômodo ao fazer a barba, usar óculos, prender os
cabelos, escovar os cabelos, ao usar roupas justas, entre
outras.
Neste estudo, a frequência dos sintomas de alodínia
foi investigada baseada nos últimos trinta dias de dor e
não nas "crises de cefaleia" como originalmente desen-
volvido. Ainda, sintomas de ansiedade foram verificados
utilizando o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), en-
quanto o Inventário de Depressão de Beck (BDI) verificou
sintomas de depressão. Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh (PSQI) foi utilizado para verificar a qualidade
do sono e o Questionário Short-Form 36 (SF-36) foi utiliza-
do para verificar qualidade de vida. Para a análise estatís-
tica, o coeficiente de correlação de Spearman (rho) foi
utilizado para estimar as correlações entre as variáveis.
Toda a análise foi realizada com o auxílio do programa
MINITAB® 16 (Minitab Inc. State College, Pensilvania,
EUA). Os resultados foram considerados a um nível de
significância de 5%.
Certificado de Apresentação para Apreciação Éti-
ca:#19840113.2.0000.5417
RESULTADOS
Um total de 42 indivíduos foialiado, sendo que ape-
nas vinte sujeitos preencheram os critérios de inclusão para
OA. A idade foi de 58,5± 12,9 anos. As mulheres foram
mais prevalentes com 75% dos casos (n=15), e a região
mais afetada foi a mandíbula com 65% (n=13). Em mé-
dia, a duração da dor nos indivíduos com OA foi de 42,33
meses (9 a 120 meses).
Segundo o questionário ASC-12, 15% dos sujeitos
apresentaram AC grave, 15% moderada, 25% leve e 45%
nenhuma AC. Escores do ASC-12 foram correlacionados
positivamente com escores do questionário BAI
(rho=0.682; p=0,001) (Figura 1), e BDI (rho=0.523;
p=0,018) (Figura 2).
Nenhum resultado dos TQS realizados apresentou cor-
relação significativa com o escore do questionário ASC-
12 (Tabela 1).
Figura 1. Correlação entre os valores do questionário Allodynia Symptom
Checklist (ASC-12) e os escores do Inventário de Ansiedade de Beck
(BAI).
Headache Medicine, v.8, n.1, p.19-21, Jan./Feb./Mar. 2017 21
Figura 2. Correlação entre os valores do questionário Allodynia Symptom
Checklist (ASC-12) e os escores do Inventário de Depressão de Beck
(BDI).
CONCLUSÕES
A maioria dos pacientes com OA apresenta AC, o
que sugere que este sintoma também precisa ser investiga-
do na clínica. A severidade da AC foi correlacionada com
sintomas de ansiedade e depressão.
REFERÊNCIAS
Baad-Hansen L. Atypical odontalgia - pathophysiology and clinical
management. J Oral Rehabil. 2008 Jan;35(1):1-11
Headache Classification Committee of the International Headache
Society (IHS). The International Classification of Headache
Disorders, 3rd edition (beta version). Cephalalgia. 2013
Jul;33(9):629-808. doi: 10.1177/0333102413485658.
FIorencio LL, Chaves TC, Branisso LB., Gonçalves MC, Dach F,
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Porporatti AL, Costa YM, Stuginski-Barbosa J, Bonjardim LR, Conti
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10.1016/j.archoralbio.2015.02.027. Epub 2015 Mar 28.
Porporatti AL, Costa YM, Stuginski-Barbosa J, Bonjardim LR, Duarte
MA, Conti PC. Diagnostic Accuracy of Quantitative Sensory
Testing to Discriminate Inflammatory Toothache and Intraoral
Neuropathic Pain. J Endod. 2015 Oct;41(10):1606-13. doi:
10.1016/j.joen.2015.07.006. Epub 2015 Aug 22.
Svensson P, Baad-Hansen L, Pigg M, List T, Eliav E, Ettlin D, et al.
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in oro-facial pain conditions--a taskforce report. J Oral Rehabil.
2011 May;38(5):366-94.
Correspondência
André Porporatti
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Departamento de Odontologia
Florianópolis, SC, Brasil
andreporporatti@yahoo.com.br
Recebido: 05 de outubro de 2016
Aceito: 10 de novembro de 2016
ALODÍNIA CUTÂNEA EM PACIENTES COM ODONTALGIA ATÍPICA
22 Headache Medicine, v.8, n.1, p.22-24, Jan./Feb./Mar. 2017
Contribuição de variáveis psicológicas na percepção da
dor em indivíduos com dor orofacial
Contribution of psychological variables in the perception of pain in individuals with
orofacial pain
Fernanda Salloume Sampaio Bonafé
1
, João Marôco
2
, Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
3
1
Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista – Araraquara, SP, Brasil
2
Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida-ISPA/IU – Lisboa, Portugal
3
Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Universidade Estadual Paulista – Araraquara, SP, Brasil
Bonafé FSS, Marôco J, Campos JADB. Contribuição de variáveis psicológicas na percepção da dor
em indivíduos com dor orofacial. Headache Medicine. 2017;8(1):22-4
INTRODUÇÃO
Segundo a Associação Internacional para o Estudo
da Dor (IASP),
(1)
a dor se caracteriza como "experiência
sensorial e emocional desagradável associada a um dano
real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tal
dano. A dor sempre é subjetiva e cada indivíduo aprende
a utilizar este termo por meio de suas experiências". Esta
definição remete tanto à multidimensionalidade da dor
quanto à individualidade da percepção dolorosa. Sendo
assim, a dor deixa de ser somente um fenômeno físico que
apresenta uma intensidade e passa a considerar a percep-
ção individual sobre o impacto que essa dor exerce na
vida de uma forma geral. Essas percepções têm sido
mensuradas a partir de escalas utilizando o autorrelato
dos indivíduos.
A percepção dolorosa é construída a partir de expe-
riências cognitivas, comportamentais e sociais que estão
refletidas no autorrelato. Algumas teorias, propostas na
literatura, buscam identificar os fatores intrínsecos a es-
sas experiências que podem determinar o comportamen-
to frente a dor dos indivíduos. Os processos cognitivo,
comportamental e emocional têm sido os mais aborda-
dos na conceituação e operacionalização da percepção
dolorosa.
Apesar de a literatura apresentar propostas teóricas
sólidas envolvendo esses aspectos, poucos são os estudos
que presentam evidências que confirmem e/ou refutem
essas teorias. Além disso, estudos relacionados ao impac-
to de variáveis psicológicas/comportamentais na percep-
ção da intensidade e da interferência da dor orofacial na
vida dos indivíduos são escassos.
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a contri-
buição de variáveis psicológicas na percepção da dor em
indivíduos adultos com dor orofacial.
MÉTODO
Desenho de estudo e tamanho amostral
Trata-se de estudo transversal. Foram convidados a
participar indivíduos adultos que buscaram atendimento
junto à Faculdade de Odontologia de Araraquara –
UNESP. O tamanho mínimo da amostra foi calculado es-
timando-se de cinco a dez indivíduos por item do modelo
teórico a ser testado. Como o modelo teórico apresenta
83 ítens, o tamanho amostral deveria ser composto por,
pelo menos, 415 pessoas.
Variáveis e procedimentos
Foram levantadas informações demográficas como
sexo, idade e nível econômico dos indivíduos. O nível eco-
nômico foi avaliado de acordo com o Critério Brasil-ABEP.
A intensidade e a interferência da dor na vida dos
participantes foram avaliadas a partir do Inventário Breve
de Dor (BPI).
(2)
A presença e a localização da dor orofacial
também foram investigadas.
SHORT COMMUNICATION
Headache Medicine, v.8, n.1, p.22-24, Jan./Feb./Mar. 2017 23
Para compor os processos cognitivos, foram inves-
tigadas a catastrofização (e seus fatores ruminação, de-
samparo e magnificação) e a atenção em relação à dor.
Para tanto, foram utilizados os instrumentos Escala de
Catastrofização da dor (PCS)
(3)
e o Questionário de Vigi-
lância e Consciência em relação à Dor (PVAQ),
(4)
respec-
tivamente.
As variáveis autoeficácia e locus de controle (locus
de controle interno, ao acaso, em profissionais e em ou-
tros) compuseram os processos comportamentais. Para tan-
to, foram utilizados o Questionário de Autoeficácia em
relação à Dor (PSEQ)
(5)
e a Escala Multidimensional de
Locus de Controle da Saúde - forma C (MHLC).
(6)
Os aspectos emocionais foram constituídos pelas va-
riáveis alexitimia (dificuldade de identificar e descrever sen-
timentos) e distresse geral (depressão, ansiedade e estresse).
Essas variáveis foram coletadas utilizando-se a Escala de
Alexitimia de Toronto - 20 (TAS)
(7)
e a Escala de Depres-
são, Ansiedade e Estresse - 21 (DASS).
(8)
Os dados foram coletados por meio de entrevista,
enquanto o indivíduo aguardava, na sala de espera, pelo
seu atendimento odontológico.
Análise Estatística
Foi realizada análise fatorial confirmatória utilizando
os índices de qualidade de ajustamento 2/gl, CFI, GFI e
RMSEA para verificar a validade dos instrumentos para a
amostra. A confiabilidade dos dados foi avaliada pela
Confiabilidade Composta (CC).
Foi proposto modelo de equações estruturais para
avaliar o impacto das variáveis psicológicas na percepção
da intensidade e da interferência da dor orofacial em indi-
víduos adultos.
Aspectos éticos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara -
UNESP (CAAE: 14986014.0000.5416). Participaram
deste estudo somente os indivíduos que concordaram e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Participaram 438 indivíduos adultos que relataram dor
na região orofacial. A média de idade foi de 36 (DP=9)
anos. A caracterização da amostra encontra-se na Tabela 1.
Nota-se que a maioria eram mulheres, com nível eco-
nômico médio, casadas e que reportavam dor orofacial
de possível origem odontogênica.
Todos os instrumentos utilizados, ou seja, o Inventário
Breve de Dor (BPI), a Escala de Catastrofização da dor
(PCS), o Questionário de Vigilância e Consciência em
relação à Dor (PVAQ), o Questionário de Autoeficácia
em relação à Dor (PSEQ), a Escala Multidimensional de
Locus de Controle da Saúde - forma C (MHLC), a Escala
de Alexitimia de Toronto - 20 (TAS) e a Escala de Depres-
são, Ansiedade e Estresse - 21 (DASS) apresentaram ajus-
tamento adequado aos dados (χ
2
/gl<5,00,CFI e
GFI>0,90 e RMSEA <0,10) apontado para adequada
validade dos resultados obtidos. Observou-se adequada
confiabilidade dos dados obtidos (CC>0,70). Ressalta-
se, no entanto, que foi necessário refinamento da estrutu-
ra dos instrumentospara que os mesmos se ajustassem ade-
quadamente aos dados da amostra.
Em relação ao modelo teórico proposto para avaliar
o impacto das variáveis psicológicas na percepção dolo-
rosa dos indivíduos, as variáveis ruminação, magni-
ficação, atenção, autoeficácia, locus de controle em ou-
tros, dificuldade de descrever/identificar sentimento e
distresse geral apresentaram impacto significativo
(p<0,05) na percepção da dor dos indivíduos. Este mo-
delo apresentou adequado ajustamento aos dados da
amostra (χ
2
/gl=1,665;CFI=0,915 e RMSEA=0,039).
Além disso, o modelo proposto explicou 24% da vari-
abilidade da percepção da intensidade da dor e 65% da
variabilidade da percepção da interferência da dor na vida
dos indivíduos.
CONTRIBUIÇÃO DE VARIÁVEIS PSICOLÓGICAS NA PERCEPÇÃO DA DOR EM INDIVÍDUOS COM DOR OROFACIAL
24 Headache Medicine, v.8, n.1, p.22-24, Jan./Feb./Mar. 2017
CONCLUSÃO
As variáveis psicológicas apresentaram contribuição
significativa na percepção da intensidade e da interferên-
cia da dor na vida de indivíduos adultos com dor orofacial.
REFERÊNCIAS
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a list with definitions and notes on usage. Pain. 1979;6:249-
252.
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Development and validation. Psychol Assess. 1995;7(4):524-
532.
4. McCracken LM. ''Attention'' to pain in persons with chronic pain:
A behavioral approach. Behav Ther. 1997;28(2):271-284.
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the annual conference of the British Psychological Society. 1989.
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factor structure. J Psychosom Res. 1994 Jan;38(1):23-32.
8. Lovibond SH, Lovibond PF. Manual for the Depression Anxiety
Stress Scales (DASS). Psychology Foundation Monograph.
Australia: The Psychology Foundation 1993.
Correspondência
Fernanda Salloume Sampaio Bonafé
Faculdade de Odontologia de Araraquara
Universidade Estadual Paulista
Araraquara, SP, Brasil
Recebido: 06 de outubro de 2016
Aceito: 10 de outubro de 2016
BONAFÉ FSS, MARÔCO J, CAMPOS JADB
Headache Medicine, v.8, n.1, p.25, Jan./Feb./Mar. 2017 25
Headache as a single clinical manifestation of a colloid cyst
in the third ventricle
Cefaleia como manifestação clínica única de um cisto coloide do terceiro ventrículo
Marcelo Moraes Valença
1
, Helysânia Shádylla Santos de Farias
1
, Laryssa Crystinne Azevedo Almeida
1
,
Cassia Luana dos Santos França
1
, Karolyne Ernesto Luiz Nobre
2
, Marcelo Andrade Valença
1
,
Mário Luciano de Mélo Silva Júnior
1
, Luciana Patrízia Alves de Andrade Valença
1
1
Neurosurgery and Neurology Unit, Federal University of Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brazil
2
FCM, Campina Grande, Paraíba, Brazil
Valença MM, Farias HSS, Almeida LCA, França CLS, Nobre K, Valença MA, Silva Júnior MLM, Valença LPAA.
Headache as a single clinical manifestation of a colloid cyst in the third ventricle. Headache Medicine. 2017;8(1):25
NEUROIMAGING IN HEADACHE
INTRODUCTION
The colloid cyst of the third ventricle is a rare tumor. Its
estimated incidence is 3 cases per million inhabitants per
year.
(1)
With the more frequent use of neuroimaging, many
of the colloid cysts of the third ventricle are incidental findings,
so they are asymptomatic lesions.
(1)
In a large series of 163 cases, only 40% of the
individuals with colloid cyst of the third ventricle were
symptomatic.
CASE REPORT
In this article, the authors wish to show the images
(Figure 1) obtained by MR of a 32-year-old woman
complaining of one week of a history of severe, pulsatile,
holocranial and continuous headache, partially alleviated
with analgesics. There was a progressive increase in pain
intensity until a week later when she had a very severe
headache, referred to as the worst she experienced in her
life, associated with visual impairment, nausea, photo- and
phonophobia. Vomiting was not present and she had no
previous history of primary headache.
This type of headache associated with colloid cyst of the
third ventricle should be valued because the cyst may obstruct
the foramen of Monro, causing obstruction in the CSF passage,
leading to acute hydrocephalus and sudden death.
(1,2)
REFERENCE
1. Beaumont TL, Limbrick DD Jr, Rich KM, Wippold FJ 2nd, Dacey RG
Jr. Natural history of colloid cysts of the third ventricle. J Neurosurg.
2016 Dec;125(6):1420-1430. Epub 2016 Mar 11.
2. Spears RC. Colloid cyst headache. Curr Pain Headache Rep. 2004
Aug;8(4):297-300.
Received: January 29, 2017
Accepted: February 5, 2017
Figure 1. Images obtained by magnetic resonance of the encephalon in the transverse, sagittal and
coronal sections.
26 Headache Medicine, v.8, n.1, p.26-27, Jan./Feb./Mar. 2017
Não deixem de ler os artigos do Dr. Bordini e cole-
gas
(1)
e do Dr. Mário Peres e colaboradores.
(2)
Eles nos
trazem informações sobre duas moléculas irmãs, uma
exógena e a outra endógena.
Olhando para a similaridade estrutural de ambas,
não surpreende que elas possam ter efeito sobre as dores
de cabeça ainda que este, pelo menos a princípio, seja
distinto.
Os Drs. Bordini et al. apresentam uma extensa revisão
sobre a indometacina, desde quando a sua molécula foi
sintetizada em 1963 e comer-
cializada pela Merck como
Indocin®.
São descritos os aspectos
farmacológicos, com uma
biodisponibilidade molecular cer-
ca de 98%, pico de concentra-
ção plasmática de 0,5-2 horas,
tempo de meia-vida médio de 4,5
horas, metabolismo hepático e
excreção renal.
Seus mecanismos de ação
são diversos, que levam à
vasoconstricção, redução da pressão liquórica, redução
da velocidade do fluxo sanguíneo, inibição da resposta
trigeminovascular e redução do CGRP e VIP. Para aqueles
que se perguntavam como a indometacina atuava nas
cefaleias associadas ao esforço físico, está aqui a sua ex-
plicação.
Interessantemente são listadas as cefaleias que são
responsivas à indometacina. Elas são classificadas em três
Indometacina e Melatonina: duas irmãs que continuam
reinando
Indomethacin and Melatonin: two sisters who continue to reign
grupos: 1) Cefaleias trigêmino-autonômicas: cefaleias em
salvas, hemicrania paroxística e hemicrania continua; 2)
Cefaleias relacionadas à atividade física ou sexual ou
induzidas por Valsalva: cefaleia primária da tosse, cefaleia
primária do exercício e cefaleia atribuída à atividade sexu-
al e 3) Miscelâneas: cefaleia primária em facas, cefaleia
numular e cefaleia hípnica.
Além disso, nos faz um alerta em relação à respon-
sividade ao uso da indometacina das cefaleias secundári-
as que mimetizam cefaleias trigêmino-autonômicas. Reve-
lando que a boa resposta terapêutica não é um indicativo
de benignidade da doença ou de uma cefaleia primária.
OPINIÃO PESSOAL
Dr. Carlos Alberto Bordini
Paulo Sergio Faro Santos
Médico residente, Departamento de Neurologia,
Instituto de Neurologia de Curitiba - INC - Paraná, Brasil
Santos PSF. Indomethacin and Melatonin: two sisters who continue to reign. Headache Medicine. 2017;8(1):26-7
Headache Medicine, v.8, n.1, p.26-27, Jan./Feb./Mar. 2017 27
Os autores abordam a questão da cefaleia provocada
pela indometacina, a qual ocorre em cerca de 20% da-
queles que a utilizam continuamente. Fazem ainda uma
abordagem crítica a respeito da resposta absoluta ao uso
desta medicação frente à hemicrania paroxística e à
hemicrania contínua, revelando que nem sempre esta res-
posta absoluta é real, visto que até 30% dos pacientes
não são respondedores ao tratamento.
Enfim, está a nossa disposição um excelente traba-
lho de revisão sobre uma intrigante medicação que ain-
da gera bastante discussão e curiosidade no dia a dia.
Já o grupo de pesquisa do Dr. Mário Peres,
(2)
que há
anos se dedica ao estudo da
fisiopatologia da migrânea e o
efeito terapêutico da melatonina
nesta condição clínica, nos apre-
senta, através de um ensaio clí-
nico randomizado placebo-con-
trolado, a eficácia e a boa
tolerabilidade da melatonina na
prevenção da migrânea.
Nesta pesquisa foram com-
paradas a melatonina 3 mg, a
amitriptilina 25 mg e o placebo.
Os resultados foram animadores.
Ambas, a melatonina e a amitriptilina, foram superiores no
desfecho primário (redução na frequência em dias das cri-
ses de migrânea por mês) em comparação ao placebo.
Entretanto, a melatonina se mostrou superior à amitriptilina
em um dos desfechos secundários, no qual o número de
pacientes com melhora era maior que 50% na frequência
da migrânea.
No que diz respeito à tolerabilidade das medica-
ções, não ocorreu algum efeito adverso grave, sendo
que os grupos da melatonina e do placebo foram seme-
lhantes em relação ao número de ocorrência de eventos
adversos.
Diante de um panorama em que a última medica-
ção aprovada pela Food Drug Administration para a pre-
venção da migrânea foi o topiramato, em 2004, a
melatonina surge como uma nova opção terapêutica de
baixo custo e com bons resultados clínicos.
A única barreira atual é a disponibilidade desta dro-
ga no mercado brasileiro, já que a Anvisa ainda não
autorizou sua comercialização no país. "No entanto, a
legislação garante que pacientes que recebam a indica-
ção de uso deste produto por um profissional médico pos-
sam importar para uso, seja via bagagem de mão ou
mesmo pela internet." (Assessoria de Imprensa da Anvisa).
Recebido: 26 de outubro de 2016
Aceito: 7 de novembro de 2016
REFERÊNCIAS
1. Bordini EC, Bordini CA, Woldeamanuel YW, Rapoport AM.
Indomethacin Responsive Headaches: Exhaustive Systematic
Review with Pooled Analysis and Critical Appraisal of 81 Published
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2. Gonçalves AL, Martini Ferreira A, Ribeiro RT, Zukerman E, Cipolla-
Neto J, Peres MF. Randomised clinical trial comparing melatonin
3 mg, amitriptyline 25 mg and placebo for migraine prevention.
J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2016 Oct;87(10):1127-32.
(http://jnnp.bmj.com/content/early/2016/05/10/jnnp-2016-
313458.full)
ANVISA. Melatonina. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/
informacoes-tecnicas13/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/
content/melatonina/219201/pop_up?_101_I NSTANCE_ FXr
px9qY7FbU_viewMode=print&_101_INSTANCE_FXrpx9q
Y7FbU_languageId=pt_BR>. Acesso em: 26 de out. 2016.
Correspondência
Paulo Faro
dr.paulo.faro@gmail.com
INDOMETACINA E MELATONINA: DUAS IRMÃS QUE CONTINUAM REINANDO
Dr. Mário Peres
28 Headache Medicine, v.8, n.1, p.28, Jan./Feb./Mar. 2017
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demonstrate disease mechanisms or diagnostic issues; (c) presents
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