Headache Medicine, v.8, n.2, p.38-42, Apr./May/Jun. 2017 39
Durante a antiguidade até os anos que antecederam
o século XX, o homem usou diferentes tratamentos para o
alívio de sua dor. Especificamente na cefaleia, foram utili-
zados desde os rituais de magia e perfurações cranianas
até a ingestão de infusão de ervas ou mesmo de estranhas
substâncias, tais como, fezes e urina.
(2,3)
Esses tratamentos eram feitos de acordo com a cultu-
ra de cada civilização. No entanto, o uso das ervas medi-
cinais contribuiu para o surgimento das primeiras medica-
ções analgésicas.
(2,3)
Desde o descobrimento do Brasil, marcado pela che-
gada dos portugueses, já se passaram mais de quinhen-
tos anos, mas como em todo o mundo, os primeiros anal-
gésicos somente chegaram a este país, há menos de cem
anos.
Ácido acetilsalicílico
As propriedades analgésicas do ácido acetilsalicílico
foram observadas, pela primeira vez, em 1826, a partir
da identificação de compostos ativos da casca do salguei-
ro (Salix alba), dentre eles, a salicina, por dois químicos
italianos, Brugnatelli e Fontana.
(1,2)
Finalmente, em 1829, o farmacêutico francês Henri
Leroux isolou, pela primeira vez, a salicilina e, em 1838,
o químico italiano Raffaele Piria, converteu-a, por
hidrólise e oxidação, em ácido salicílico, uma substân-
cia que causava extrema irritação gástrica, dificultando
o seu uso como fármaco.
(4)
Para minimizar esse efeito, o
químico alemão Felix Hoffmann (1868-1946) sintetizou,
em 1887, o ácido acetilsalicílico, cujo mecanismo de
ação é inibir, de forma irreversível, as enzimas cicloxi-
genases I e II.
(1,2)
No entanto, esse fármaco somente foi colocado à
venda, na Alemanha, em 1899, pela empresa Bayer,
com o nome comercial de Aspirina©. Inicialmente, era
vendida em pó, mas em 1910, ela ganhou a versão em
comprimidos. O medicamento chegou ao Brasil, em
1912.
(1,2)
Paracetamol
Em 1893, o químico norte-americano Harmon
Northrop Morse (1848-1920) sintetizou o paracetamol ou
acetaminofeno, uma substância com notáveis proprieda-
des antipiréticas e analgésicas. No entanto, poucos anos
antes, já haviam sido desenvolvidas duas outras substân-
cias com essas mesmas propriedades, a acetanilida,em
1886, e a fenacetina, em 1887. Tanto a acetanilida como
a fenacetina e o paracetamol pareciam ter, exatamente, o
mesmo efeito sobre o organismo.
(1,2,5)
Em 1895, foi constatada a presença de paracetamol
em pacientes que haviam ingerido fenacetina; e ,em
1889, em pacientes que haviam ingerido a acetanilida.
Somente em 1948, os bioquímicos Julius Axelrod (1912-
2004), nascido em Nova York, filho de judeus imigran-
tes da Polônia, e Bernard Brodie (1907-1989), nascido
em Liverpool, no Reino Unido, constataram que o
paracetamol era o maior metabólito da fenacetina e da
acetanilida.
(1,2,5)
A partir de 1955, o paracetamol foi comercializado
nos EUA com o nome de Tylenol© e, no ano seguinte, na
Inglaterra. Somente, em 1974, este medicamento chegou
ao Brasil e seu uso é extremamente popular, puro ou com-
binado com outros fármacos.
(1,2,5)
Em decorrência da nomenclatura usada em química
orgânica, para-acetil-aminofenol e N-acetil-para-
aminofenol originaram, respectivamente, as palavras
paracetamol e acetaminofeno, mas a International Union
of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) recomenda, des-
de 1993, o nome de N-(4-hidroxifenil)etanamida.
(2)
Hoje, sabe-se que o paracetamol ou acetaminofeno
é um fármaco com propriedades analgésicas, mas sem
propriedades anti-inflamatórias clinicamente significa-
tivas e que atua por inibição da síntese das prosta-
glandinas. Esta substância também apresenta efeitos
antipiréticos.
(2)
Dipirona
Em 1883, o químico alemão Ludwig Knorr (1859-
1921) tentava sintetizar um antitérmico substituto da qui-
nina, um produto de custo excessivamente alto e de eficá-
cia relativa. Acidentalmente, obteve a antipirina, derivada
da pirazolona. Posteriormente, em 1897, utilizando-se a
antipirina, foi sintetizada a aminopirina, outro analgésico
derivado pirazolônico. Somente em 1889, as proprieda-
des analgésicas da antipirina e aminopirina foram consta-
tadas.
(2)
Em 1913, a empresa alemã Hoechst AG, hoje, Sanofi-
Aventis, desenvolveu a melubrina, o primeiro composto
injetável da família pirazolona. Finalmente, em 1920, esta
mesma empresa sintetizou o mais importante derivado
pirazolônico, a dipirona, também chamada de metamizol
ou metilmelubrina, composta de uma associação de
melubrina (50%) e aminopirina (50%). No Brasil, a sua
comercialização se iniciou em 1922, com o nome de
Novalgina©, sendo o principal analgésico utilizado nas
OS ANALGÉSICOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO ABORTIVO DA MIGRÂNEA: QUANDO ELES CHEGARAM AO BRASIL?