22 Headache Medicine, v.2, n.1, p.17-24, jan./feb./mar. 2011
gência cerca de cinco vezes maior em relação aos não
migranosos, mostrando haver relação direta entre
migrânea e o comparecimento a um serviço de urgên-
cia. Assim como demonstrado em outras pesquisas, houve
um expressivo número de visitas aos setores de urgência,
como tem sido relatado na literatura.
(9,14)
Em um estudo
realizado em uma unidade de emergência de Ribeirão
Preto foi demonstrado que, no ano de 1996, foram inter-
nados 1.254 pacientes com queixa de cefaleia aguda.
(24)
Entre os internados, 95% ficaram menos de 12 horas no
hospital; desses, 77,0% apresentavam cefaleia primá-
ria, sendo que, em 72,0% dos casos, o diagnóstico final
foi migrânea. A incidência foi de 13 vezes mais pacien-
tes migranosos internados dos que não migranosos. O
resultado do estudo citado mostrou-se semelhante a este,
uma vez que houve um maior número de migranosos
que já compareceram a um serviço de urgência, porém
a incidência demonstrada foi mais que o dobro da refe-
rida neste estudo.
Em relação à frequência de cefaleia, os episódios
menos frequentes, na semana ou no mês, foram mais
comuns entre os não migranosos. A frequência das crises
ocorreu de modo mais constante entre os migranosos.
Geralmente a frequência de cefaleias, de quatro dias ou
mais por semana foi cinco vezes maior nos migranosos
do que nos não migranosos. A diferença entre os dois
grupos foi também significativa (p=0,006). Outro estu-
do semelhante detectou que a maioria (40,0%) apresen-
tava de duas a quatro crises/mês,
(25)
e contrapôs-se a
este estudo, onde a minoria (17,0%) dos migranosos
apresentava crises menos de uma vez ao mês. No estu-
do de Ribeirão Preto foi evidenciado que 55,0% dos alu-
nos com migrânea apresentavam cefaleia com a
frequência de um a cinco dias por mês,
(22)
também con-
trapondo-se a este estudo, em que a minoria (5,0%)
vivenciou o quadro menos que uma vez ao mês.
Esta pesquisa mostrou que tanto os indivíduos que
apresentavam como os que não apresentavam migrânea
tomavam um tipo de medicamento para a cefaleia; no
entanto, apenas os migranosos referiram tomar mais de
três tipos de remédios e correspondem a 2,4%. A inci-
dência de consumo de dois ou mais remédios entre os
portadores de migrânea foi cerca de cinco vezes maior
entre os não migranosos, com significância estatística
(p<0,001). Os portadores de migrânea apresentaram
então um maior consumo de diferentes tipos de remédi-
os, sugerindo que suas dores são mais intensas e que
precisam de uma quantidade maior de medicamentos
para alcançar o efeito desejado.
Outros estudos relacionaram o maior custo econô-
mico com a prescrição e uso abusivo de medicamentos
para o tratamento da migrânea.
(9)
No estudo de Ribei-
rão Preto demonstrou-se que na cefaleia do tipo tensional,
26,0% dos pacientes sentiram-se melhor sem receber
qualquer medicação analgésica ou recebendo apenas
uma; nos migranosos isso ocorreu em apenas 10,0% dos
casos.
(24)
Entre os alunos migranosos observou-se maior fre-
quência de sintomas premonitórios do que nos não
migranosos, com uma incidência de 1,4 vezes maior,
mais episódios de fotofobia e fonofobia e aura. Todos
os três ítens apresentaram diferença estatisticamente sig-
nificativa. A antecipação da crise é caracterizada pelo
aumento da magnitude da dor e tem sido associada a
uma maior deterioração na qualidade de vida e fun-
ções.
(7)
Sintomas associados à migrânea, como
fotofobia, fonofobia, náuseas e aura interferem nas ativi-
dades diárias e contribuem para o declínio do desem-
penho escolar de pacientes migranosos.
(9,22)
Na avaliação do rendimento escolar através de pro-
vas suplementares ou especiais, nosso estudo mostrou
que 26,0% dos migranosos as fizeram no primeiro perío-
do, em comparação com 12,0% dos não migranosos,
tendo havido diferença estatística (p=0,012). O resul-
tado foi relevante, apesar da comparação das médias
do número de matérias não ter apresentado a mesma
diferença. O fato de um maior número de alunos porta-
dores de migrânea ter realizado provas suplementares
ou especiais no primeiro período sugere que esta enti-
dade de fato pode determinar deficiências no estudante
que o levam a repetir disciplinas. Já nos períodos subse-
quentes não foi possível determinar relação entre a rea-
lização de provas suplementares ou especiais com a
migrânea, tanto na comparação de médias quanto na
de frequências (p>0,05). Ao se levar em conta, entre-
tanto, que a quantidade de estudantes que relataram ter
feito provas suplementares ou especiais diminui com o
avançar do curso, é lícito admitir-se que a incapacidade
de demonstrar tal relação a partir do segundo período
esteja relacionada com o tamanho da amostra, que a
partir de então tornou-se insuficiente para demonstrar a
relação anotada. Estudos mostraram que a migrânea
está relacionada ao déficit de atenção e concentração,
com consequente redução da efetividade nas funções
escolares e laborativas, gerando impacto social e pes-
soal.
(6,9,14)
Autores brasileiros observam que 54,0% dos
estudantes com migrânea relataram ser a dor incapa-
citante com consequente interferência nas atividades es-
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