Headache Medicine, v.2, n.1, p.13-16, jan./feb./mar. 2011 13
O uso de um diagrama craniano na localização
da dor
The use of a diagram of the skull in the localization of painThe use of a diagram of the skull in the localization of pain
The use of a diagram of the skull in the localization of painThe use of a diagram of the skull in the localization of pain
The use of a diagram of the skull in the localization of pain
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A localização da cefaleia é um dado semiológico importante,
pois esta informação é útil no conhecimento da etiologia e
do diagnóstico diferencial, além de influenciar na escolha
terapêutica. O objetivo deste trabalho é apresentar um mode-
lo de diagrama craniano, onde o paciente localiza com
exatidão a sua dor, pois o simples registro descritivo da região
craniana que dói não é suficiente. Quando um diagrama
craniano é apresentado ao paciente, as informações são mais
precisas e aumenta a acurácia do diagnóstico.
Descritores:Descritores:
Descritores:Descritores:
Descritores: Crânio; Cefaleia; Anamnese; Localização
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The localization of the headache is important semiological
dada, therefore this information it is useful in the knowledge
of the etiology and of the distinguishing diagnosis, beyond
influencing in the therapeutic option. The objective of the
present study is to present a model of diagram of the skull,
where the patient locates with exactness its pain. The simple
descriptive register of the region of the skull that aches is not
enough. When a diagram of the skull is presented the pa-
tient, the informations are more necessary and increase the
accuracy of the diagnosis.
Keywords:Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: Skull; Headache; Medical history taking;
Localization
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Raimundo Pereira da Silva Neto
Neurologista e Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, Centro de Neurologia e Cefaleia do
Piauí - Teresina, PI, Brasil
Silva Neto RP. O uso de um diagrama craniano na localização da dor.
Headache Medicine. 2011;2(1):13-16
A dor é definida como uma experiência subjetiva
desagradável, sensitiva e emocional, associada à lesão
real ou potencial dos tecidos.
(1)
Dentre as dores mais
referidas pelos pacientes, a cefaleia é a mais frequente
com diferentes características clínicas e inúmeras etiologias.
O avanço das pesquisas em cefaleia culminou com
o surgimento de uma classificação internacional.
(2)
Nela,
são descritos cerca de 150 tipos diferentes de cefaleia,
cada um com seu quadro clínico peculiar e seu tratamento
diferenciado. A maioria é classificada como primária, ou
seja, não apresenta lesão estrutural cerebral subjacente.
A anamnese é a única maneira de diagnosticar uma
cefaleia primária, uma vez que o exame físico e os
exames complementares são inexpressivos. É através dela
que se avalia a necessidade da solicitação de exames e
a tomada de decisão terapêutica.
O grande desafio de uma boa anamnese em
cefaleia é o conhecimento de suas características se-
miológicas, as quais incluem localização, irradiação,
caráter ou qualidade, intensidade, frequência, horário
das crises, evolução, duração, pródromos, modo de
instalação, fatores desencadeantes, de alívio ou de piora
e as manifestações associadas.
Vale ressaltar que nenhum dos dados tem valor
absoluto, como também nenhum é totalmente destituído
de valia. Em outras palavras, é o conjunto de todas as
características da cefaleia que permite formular um
diagnóstico correto.
(3
) No entanto, neste artigo, ressalta-
se a importância da localização da dor.
Geralmente, o médico questiona o paciente sobre
as regiões do crânio que doem e realiza o registro
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SILVA NETO RP
descritivo. Quando se trata de outras dores, é apre-
sentado ao paciente um diagrama corpóreo para que
ele assinale as áreas dolorosas.
(4)
O SURGIMENTO DE UM DIAGRAMA
CRANIANO
No início dos anos de 1970, o neurocefaliatra
Edgard Raffaelli Júnior (1930-2006) idealizou uma fi-
gura com cabeças esquematizadas para que o paciente
pudesse localizar a sua dor com mais precisão e lhe
auxiliasse na evolução do tratamento (Figura 1).
Em 1979, o artista plástico Francisco Raffaelli, falecido
em 4 de julho de 1977, foi o responsável pelo desenho
desse diagrama. Naquele ano, esse mesmo artista também
desenhou a atual logomarca da Sociedade Brasileira de
Cefaleia (SBCe), por ocasião do I Congresso Brasileiro
de Cefaleia realizado nos dias 9 e 10 de março.
(5)
Esse diagrama consiste em dividir a cabeça em várias
regiões e identificá-las com números ou letras (Tabela
1). Os números representam dores de localização bem
definida, à direita ou esquerda, e as letras representam
dores de localização difusa ou bilateral. Caso a dor
acometa a cabeça inteira, será anotado 0 (zero).
Habitualmente, os diários da cefaleia trazem infor-
mações dos pacientes a respeito da localização da dor,
além da data, hora de início, duração, intensidade,
caráter, medicamentos utilizados e menstruação. No
entanto, a descrição da localização da dor é incompleta,
pois o paciente tem poucas opções para assinalar aquela
que melhor represente a sua dor: unilateral direita,
unilateral esquerda ou bilateral.
O diagrama de Raffaelli é um instrumento de
avaliação diagnóstica muito importante para o médi-
co, pois permitirá que ele conheça com mais profundidade
uma das características da cefaleia. Ele veio como um
complemento do diário da dor, sendo bastante utilizado
pelos especialistas e por médicos generalistas, tanto na
anamnese como em pesquisas clínicas.
Raffaelli et al.
(6)
testaram o diagrama num estudo
onde os pacientes com migrânea foram orientados a
anotar a localização de todas as suas dores durante 12
meses. Ao fim desse período, observou-se que 28,0%
eram localizadas nas têmporas, mais à esquerda do que
à direita.
A determinação da localização da cefaleia é impor-
tante tanto no diagnóstico quanto no tratamento. E isto
depende da preciosa colaboração do paciente no
preenchimento do diário.
Observando a Classificação das Cefaleias da
International Headache Society,
(2)
nota-se que a localiza-
ção é um critério diagnóstico da maioria das cefaleias,
tanto primárias quanto secundárias (Tabelas 2 e 3).
É comum a localização ser variável e são raras as
modalidades de cefaleia nas quais as dores são es-
tritamente unilaterais e sempre do mesmo lado.
(3)
Alguns
pacientes podem ter unilateralidade mantida por vários
anos.
(7)
Quando há mudança de localização da dor,
pode ser um sinal de uma nova cefaleia ou uma compli-
cação.
Figura 1 – Diagrama de Raffaelli
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O USO DE UM DIAGRAMA CRANIANO NA LOCALIZAÇÃO DA DOR
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Alguns tipos de cefaleia são diferenciados pela
localização, como, por exemplo, a migrânea, que mais
frequentemente é unilateral, e a cefaleia do tipo tensional,
que é classicamente descrita como bilateral. No estudo
de Matta & Moreira Filho,
(8)
a unilateralidade da cefaleia
do tipo tensional episódica foi vista em apenas 10% e
na cefaleia do tipo tensional crônica em 8%, sendo a
localização bifrontal a mais frequente.
CONCLUSÃO
Durante a anamnese das cefaleias, o simples registro
descritivo da região craniana que dói não é suficiente.
Quando é apresentado ao paciente um diagrama
craniano, as informações são mais precisas e aumentam
a acurácia do diagnóstico.
REFERÊNCIAS
1. Carvalho MMMJ. Prefácio. In: Carvalho MMMJ. Dor: Um estudo
multidisciplinar. São Paulo: Summus 1999;7-8.
2. Headache Classification Subcommittee of the International
Headache Society. The International Classification of Headache
Disorders. Cephalalgia 2004;24(Suppl 1):1-160.
3. Farias da Silva W. Diagnóstico das cefaleias. São Paulo: Lemos
Editorial 2003;317 p.
4. Chaves LD. Dor pós-operatória: aspectos clínicos e assistência
de enfermagem. In: Chaves LD, Leão ER. Dor - 5º sinal vital:
reflexões e intervenções de enfermagem. Curitiba: Editora Maio
2004;151-68.
5. Silva-Néto RP. Quem foi Edgard Raffaelli Júnior. Migrâneas
Cefaleias. 2006;9(4):152-8.
6. Raffaelli Jr E, Roesler CP, Silva-Néto RP. The posterior deep temporal
artery. Migrâneas Cefaleias. 2008;11(2):60-2.
7. Almeida RF et al. Cefaleia com unilateralidade mantida secundária
a meningioma. Migrâneas Cefaleias. 2008;11(1):25-8.
8. Matta APC & Moreira Filho PM. A cefaleia do tipo tensional
pode ter localização unilateral? Migrâneas Cefaleias. 2003;
6(3):96-9.
Correspondência
DrDr
DrDr
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. R. R
. R. R
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aimundo Paimundo P
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ereira da Silva Netoereira da Silva Neto
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