Headache Medicine, v.5, n.2, p.46-58-xx, Apr./May/Jun. 2014 47
INTRODUÇÃO
É evidente que o uso da farmacoterapia (adminis-
tração de drogas) é atualmente a forma de tratamento
mais convencional das cefaleias. Apesar disso, a história
relata formas de tratamentos adversos que marcaram a
história da cefaleia. Entram para a história dois modos
de intervenção que marcaram e atravessaram gerações:
1) a cauterização, um tratamento dito perigoso, o qual
era aplicado um ferro quente na cabeça do enfermo no
momento em que a dor ainda estiver instalada; o paci-
ente que resistir a intervenção era considerado corajoso
e vigoroso; e 2) trepanação, que consiste na perfuração
do crânio dos seres humanos que ainda encontravam-se
vivos, acreditando-se que dali sairia o que estaria fazendo
mal; tal prática transpassou do período mesolítico até a
Antiguidade e a Idade Média.
(1)
Porém outro método menos invasivo e doloroso
também fez parte da história, ganhando notoriedade
até os dias atuais. O uso e prática das plantas
medicinais como forma de tratamento e intervenção
na saúde da humanidade dar-se por volta do período
paleolítico, no qual os seres humanos tratavam suas
doenças e os males através do uso de produtos naturais
diversos oriundos de plantas, outros animais e alguns
minerais. Estudos apontam que desde a mais tenra
época, os humanos já conheciam, pelo método de
tentativa e erro, e se utilizavam de propriedades das
plantas e suas estruturas (flores, raízes, folhas, sumo,
cascas e frutos), utilizando-se delas como anestésicos,
psicotrópicos, anti-inflamatórios, antigripais e outros
fins medicinais.
(2,3)
Evidências arqueológicas mostram elaborações
farmacológicas dos egípcios, os quais colecionavam
uma variação significativa de recursos de origem
natural e que através da tecnologia atual há
comprovação de efetividade medicamentosa. Grécia,
China, Índia e Tibet foram palcos de experimentos de
sucesso do uso das plantas há cerca de 3.000 a 1.000
anos. O especialista da área possuía destaque por
seu conhecimento, poder e influência profissional na
sociedade, tornando-se assim figura de respeito e
reconhecimento.
(3)
O século 18 destoa como um novo marco para o
tratamento das enfermidades pelo uso de plantas medi-
cinais. Foi nesse século em que um naturalista Carolus
Linnaeus documentou de forma padronizada as espécies
botânicas, características, identificações e suas histórias
evolutivas. O documento tornou-se marco para a taxo-
nomia atual, servindo como base para muitos estudos
de botânicos, taxonomistas, herbalistas e estudiosos da
área.
(3)
Mas foi apenas em 1808, com a vinda da corte
Real para o Brasil e o decreto de D. João VI para a
abertura dos portos às nações amigas, que se encontram
os primeiros marcos históricos oficiais da já ciência
considerada também brasileira: as primeiras expedições
científicas passaram a chegar ao país com o intuito de
coletar espécimes da fauna e flora, além de promover o
conhecimento. Esse era utilizado pelos fazendeiros, jesuítas
e índios que buscaram na natureza alternativas para curar
seus males. Médicos, botânicos, zoólogos validaram os
estudos sistemáticos da fauna e flora brasileiras, além
de legitimarem a notoriedade das plantas medicinais
locais, para uso fitoterápico; validade esta que reper-
cutem até os dias atuais, de forma difundida e diversa-
mente contemplada por diversas culturas do país.
(4,5)
Num contexto atual, nota-se a perpetuação do
costume pelo convívio íntimo com a natureza de certos
grupamentos culturais, os quais observam em seu dia a
dia, exploram e experimentam esse patrimônio de modo
constante. A transmissão oral é um importante meio de
consolidação do conhecimento, mas a prática em si é
o meio mais comum, pois além de manter a tradição, é
a alternativa mais viável de muitas comunidades de tratar
e prevenir doenças, além de manter a saúde. O uso
das plantas vai para além da cura das doenças e ganha
força na cultura como portadoras de poderes espirituais,
crença também perpetuada como tradição, a qual
ganha sentido com os rituais religiosos - costume esse
valorizado tanto na África quanto no Brasil - em que se
acredita que algumas doenças podem ser atribuídas a
energia de maus espíritos. Portanto, segundo essas
tradições, quando as pessoas são tratadas de alguma
enfermidade, há uma estreita relação com os ritos e
com o uso das ervas. A utilização da planta varia de
acordo com o problema: chás (por infusão ou decoc-
ção), pomadas, tinturas, xaropes, garrafadas e até
mesmo banho podem ser recomendados – este último,
principalmente se a ordem for mística, porém leva-se
em consideração que todo tratamento realizado através
das plantas medicinais são realizados em conjunto com
outras práticas ritualísticas.
(5-8)
É comum notarmos que a busca pelo tratamento
alternativo faz parte da história da humanidade,
caracterizando os indivíduos como seres que são capazes
de autoajustes culturais, pertinentes às questões que
permeiam a época e ética.
USO DE PLANTAS MEDICINAIS COMO ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DAS CEFALEIAS