22 Headache Medicine, v.6, n.1, p.19-23, Jan./Fev./ Mar. 2015
de cabeça em crianças e adolescentes variam muito,
dependendo dos métodos e critérios de diagnóstico
aplicados.
(9)
Entretanto, poucos estudos
(9,10)
incluíram
crianças em sua amostra, sendo essa uma lacuna a ser
destacada tendo em vista que em crianças e
adolescentes, a cefaleia causa um impacto substancial
para a saúde física e mental, bem como para o
desempenho escolar e qualidade de vida. Além disso,
a cefaleia está associada com um número de
comorbidades como a asma, alergias, distúrbios
emocionais, problemas de comportamento, depressão
e ansiedade.
(18)
A maioria dos estudos fez o uso de questionários
para detectar a prevalência de cefaleia, incluindo itens
sobre dores de cabeça, aspectos da saúde e carac-
terísticas pessoais.
(19)
Apenas um estudo
(9)
teve o ques-
tionário avaliado por um neurologista após sua aplica-
ção, critérios definidos pelo International Headache
Society (IHS, 2004). A utilização do diário foi observada
em apenas um estudo,
(14)
que incluía itens que avaliam
frequência, duração e intensidade da dor de cabeça,
intensidade mensurada através de uma escala de
classificação numérica de dor 0-10.
Alguns achados relataram uma redução da quali-
dade de vida relacionada com a dor de cabeça.
(11,15)
Os dados de uma pesquisa realizada por Massey et
al.
(16)
mostraram que adolescentes com queixas de dores
de cabeça semanal e mensal tiveram uma menor qua-
lidade de vida, quando comparados àqueles que não
tinham dor de cabeça, avaliando pontos como: auto-
aceitação, frustação escolar, autoculpa e sintomas
depressivos. Milde-Busch et al.
(7)
concluiram que a dor
de cabeça está associada com menores escores de
qualidade de vida geral, de bem-estar físico e emo-
cional, bem como dificuldades de interação rela-
cionada à família e à escola, no qual esses pontos são
dimensões que contribuem à baixa qualidade de vida
geral em adolescentes.
De uma maneira geral observou-se maiores índices
de cefaleia nos adolescentes do sexo feminino. Neste
sentido, Castro et al.,
(9)
avaliando estudantes com idade
entre 10 a 14 anos, encontraram prevalências maiores
de cefaleia nas moças (32,2% vs. 23,3%). Observa-se,
durante a puberdade, um aumento da prevalência da
cefaleia entre as moças, o que sugere um papel dos
hormônios sexuais femininos na expressão da dor de
cabeça.
(10)
A associação entre as cefaleias e os níveis
de hormônios sexuais femininos pode ser observada
em decorrência das modificações dos níveis de estradiol
serem determinantes para alguns distúrbios neuro-
lógicos, tal como a migrânea, já que ocorrem alterações
de sintomas durante as diferentes fases do ciclo ova-
riano.
(21)
Além das alterações hormonais, essa maior
prevalência entre as moças pode estar relacionada aos
aspectos emocionais.
(15)
Quando avaliadas as crises de cefaleias mensais,
a prevalência de dor de cabeça pode chegar a 84%
entre os jovens.
(11)
O impacto negativo sobre a qua-
lidade de vida de indivíduos com crises de enxaqueca
e dor de cabeça é relatado também no estudo de
Ofovwe et al.,
(18)
onde a maioria dos alunos é incapaz
de se envolver em atividades de lazer ao ar livre e
observa-se um aumento do absentismo à escola. A
incapacidade funcional em crianças e adolescentes com
cefaleias recorrentes também tem sido mostrado como
um fator de risco para psiquiatria com condições tais
como depressão, comorbidades, sintomas psiquiátricos
e podem ter implicações para o tratamento multi-
disciplinar da cefaleia.
(14)
Ressalta-se, através da presente revisão, que existe
a necessidade de realização de pesquisas envolvendo
crianças e com um desenho longitudinal, minimizando
assim os possíveis erros de causalidade reversa e
avaliando a causa efeito dos distintos fatores rela-
cionados à cefaleia. Além disso, foi observado que
poucos estudos têm o diagnóstico de cefaleia ratificado
por um neurologista, ponto que aumentaria a fide-
dignidade de tal diagnóstico. Sendo assim, destaca-
se a importância de mais estudos que aprofundem a
temática, uma vez que a cefaleia na adolescência é
um quesito alarmante para o desenvolvimento de
alguns problemas de saúde, assim como para a
diminuição da qualidade de vida, principalmente em
adolescentes.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a cefaleia atinge fortemente os
adolescentes, podendo causar um impacto substancial
para a saúde física e mental, principalmente no sexo
feminino. Foi observada uma escassez de pesquisas
longitudinais e estudos envolvendo crianças com
cefaleia. Além disso, a cefaleia relacionou-se com
distúrbios emocionais, problemas de comportamento,
depressão, ansiedade e dificuldades de interação
relacionada à família e à escola, podendo ocasionar
a incapacidade de se envolver em atividades de lazer e
um aumento do absentismo à escola.
SILVA BR, SILVA AO, DINIZ PR, VALENÇA MM, SILVA LC, SANTOS CF, OLIVEIRA LM