12 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Topiramato e função cognitiva: revisão
Topiramate and cognitive function: review
VIEW AND REVIEW
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A despeito da eficácia terapêutica, em suas várias indicações,
os efeitos colaterais cognitivos são achados comuns com o
uso do topiramato. Estudos descritivos indicam queixas
cognitivas inespecíficas, lentificação psicomotora e dificul-
dades de linguagem, como principais queixas entre os
pacientes que precisaram suspender uso da medicação,
mesmo quando este apresenta eficácia no controle sintomático
do paciente. Mesmo em pacientes que não apresentam
queixas de natureza cognitiva com o uso de topiramato, foram
encontradas alterações no desempenho em testes psico-
métricos. Os efeitos cognitivos negativos induzidos pelo
topiramato são frequentemente temporários e cessam após
descontinuação da medicação. Parece haver determinadas
condições associadas a um maior risco para desenvolvimento
de efeitos colaterais, como o esquema de titulação aplicado,
a dose usada, tempo de manutenção em politerapia e
susceptibilidade individual. O modo pelo qual o topiramato
leva às alterações cognitivas ainda é pouco compreendida.
Estudos de neurofisiologia e neuroimagem funcional procuram
elucidar a questão. A magnitude das alterações cognitivas
pode ser suficiente para interferir no desempenho escolar, no
trabalho e relações sociais e estão entre as principais causas
de descontinuação da medicação durante o tratamento.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Cognição; Epilepsia; Migrânea; Obesidade;
Psiquiatria; Topiramato
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Despite the therapeutic efficacy, in its various indications,
cognitive side effects are common findings with topiramate.
Descriptive studies indicate nonspecific complaints cognitive,
psychomotor slowness and language difficulties, as main
complaints among patients who had to discontinue use of the
medication, even when it shows efficacy in symptomatic control
of the patient. Even in patients who do not have cognitive
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos, Hugo André de Lima Martins, Valdenilson Ribeiro Ribas,
Louana Cassiano Silva Lima, Camila Cordeiro dos Santos, Daniella de Araújo Oliveira, Marcelo Moraes Valença
Unidade Funcional de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco,
Cidade Universitária, Recife, Pernambuco, Brasil
Mendonça Santos KA, Martins HA, Ribas VR, Lima LC, Santos CC, Oliveira DA, Valença MM.
Topiramato e função cognitiva: revisão. Headache Medicine. 2015;6(1):12-8
complaints topiramate-related, changes were found in the
performance of psychometric tests. The negative cognitive
effects induced by topiramate are often temporary and cease
after its discontinuation. There appears to be certain conditions
associated with an increased risk for the development of side
effects such as titration scheme, the dose used, maintenance
time polytherapy and individual susceptibility. The mechanism
in which topiramate leads to cognitive impairments is still poorly
understood. Neurophysiology and functional neuroimaging
studies seeking to elucidate the question. The magnitude of
the cognitive changes may be enough to interfere with school
performance, work and social relationships and are among
the leading causes of discontinuation of medication during
treatment.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Cognition; Epilepsy; Migraine; Obesity; Psychiatric;
Topiramate
INTRODUÇÃO
O topiramato vem sendo utilizado no tratamento das
cefaleias, particularmente em pacientes com crises
frequentes e incapacitantes de migrânea. Como todo
fármaco com efeito biológico, efeitos adversos podem
acontecer com o uso do topiramato, por esse motivo a
dose terapêutica deve ser escalonada com doses
crescentes no sentido de diminuir maiores efeitos colaterais
da droga.
Uma das grandes vantagens do topiramato é não
causar ganho de peso, efeito esse frequentemente
encontrado em outros fármacos usados no tratamento
preventivo da migrânea. Pelo contrário, o uso do
Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015 13
topiramato provoca uma perda de peso significativa ao
longo das semanas do tratamento.
Contudo, o topiramato provoca uma queda na
capacidade cognitiva do indivíduo submetido ao
tratamento crônico com esse fármaco, o que em muitas
situações a pessoa sabendo de tal efeito adverso prefere
não tomar a medicação. Isso ocorre com relativa
frequência quando o cliente é vestibulando, estudantes
do curso de Medicina, médicos e advogados quando se
preparam para provas ou concursos públicos.
Nesta revisão os autores desejam comentar a
farmacodinâmica, possíveis mecanismos de ação e
efeitos colaterais cognitivos do topiramato.
Farmacodinâmica do topiramatoFarmacodinâmica do topiramato
Farmacodinâmica do topiramatoFarmacodinâmica do topiramato
Farmacodinâmica do topiramato
O topiramato foi desenvolvido no final da década
de 1970, com objetivo de criar um medicamento para
tratamento do diabetes.
(1)
À molécula da D-frutose, açúcar
de ocorrência natural, foram acrescidos dois radicais
cetona, conferindo formato tridimensional particular de
"canoa torcida", além de um radical sulfeto.
(1)
Contudo,
precocemente, verificou-se sua atividade anticonvulsi-
vante, primeira aplicação clínica, mediante teste de
convulsão induzida por eletrochoque máximo, apresen-
tando uma boa eficácia.
(1)
As características moleculares do topiramato o tornam
uma molécula versátil, conferindo diversas propriedades
farmacodinâmicas, como: a) inibição de receptores de
glutamato, subtipos kainato e AMPA;
(2,3)
b) efeitos inibitó-
rios em alguns tipos de canais de Na
+
voltagem-
dependentes,
(4)
c) inibição de canais de Ca
2+
,
(5)
e d)
modulação de alguns subtipos de receptores GABA-A.
(6)
Alguns autores
(2)
têm sugerido, ainda, a existência de um
mecanismo comum para essas ações, relacionado com
bloqueio da fosforilação da adenosina-5-trifosfato (ATP)
em alguns canais, receptores ou proteínas auxiliares da
transdução celular.
O topiramato apresenta ação inibitória sobre o
influxo iônico promovido pelos receptores glutama-
térgicos. Angehagen et al. demonstraram que as correntes
transitórias de Ca
2+
dos receptores AMPA são mitigadas
pelo topiramato.
(3)
As correntes de Na
+
voltagem-dependentes são
responsáveis pelo potencial de ação rápido e as des-
polarizações subliminares em condições fisiológicas.
(4)
O
topiramato apresenta propriedade de diminuição do
influxo das correntes persistentes de Na
+
voltagem-
dependentes e mantém níveis de voltagem mais negativos
no estado inativado.
(4)
Os canais de Ca
2+
voltagem-
dependente também têm sua função modulada pelo
topiramato.
(5)
O influxo de Cl
-
mediado pelo GABA é amplifica-
do pelo topiramato, como demonstrado por estudo
com radioligandos.
(6)
A interação da molécula com
receptores GABA-A ainda não está bem elucidada, mas
sabe-se que o topiramato não altera a ligação de outras
substâncias ao receptor, como barbituratos e benzo-
diazepínicos.
(6)
Simeone et al identificaram uma prefe-
rência de ação modulatória com subunidades
específicas do receptor GABA, o que poderia explicar
certa variação de efetividade do medicamento.
(7)
Entretanto, dentre estes mecanismos, desconhecem-se
aqueles que contribuem para ação antimigranosa
propriamente dita.
Possíveis mecanismos de ação na migrâneaPossíveis mecanismos de ação na migrânea
Possíveis mecanismos de ação na migrâneaPossíveis mecanismos de ação na migrânea
Possíveis mecanismos de ação na migrânea
Estudos demonstram o papel relevante exercido
pelo glutamato nos mecanismos algogênicos na migrâ-
nea.
(8)
A ação do topiramato sobre os receptores de
glutamato, tipos AMPA e kainato e, em menos intensi-
dade, sua ação inibitória sobre os canais de Ca
2+
voltagem-dependentes parecem ser o mecanismo mais
consistente para explicar sua ação antimigranosa.
(1)
A
faixa terapêutica estreita (50-100 mg ao dia), para
controle dos sintomas migranosos, sugeriria que somente
poucos dos mecanismos conhecidos do topiramato
teriam ação significativa.
(1)
O aumento da neurotransmissão mediada pelo
glutamato contribui para a sensibilização central,
fenômeno relacionado ao desenvolvimento da cefalalgia
crônica.
(9)
Estudando o efeito do topiramato sobre os
receptores glutamatérgicos tipo kainato, em culturas de
neurônios da via trigêmino-talâmica, foi demonstrada
redução da atividade de disparo desta via, predo-
minantemente no complexo trigêmino-cervical e núcleo
talâmico ventro-póstero-medial,
(10)
demonstrando
atividade farmacológica específica em via neuronal di-
retamente relacionada com a fisiopatologia da
migrânea.
Shields et al. demonstraram, em estudos em gatos,
o papel dos canais de Ca
2+
na geração dos potenciais
de ação dos neurônios nociceptivos do sistema trigemino-
vascular,
(11)
inferindo um possível mecanismo de ação
do topiramato na migrânea. Coadunando-se com a
descrição de que alterações no gene da subunidade alfa-
1A do canal de Ca
2+
tipo P/Q estão relacionadas à
TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
14 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
MENDONÇA SANTOS KA, MARTINS HA, RIBAS VR, LIMA LC, SANTOS CC, OLIVEIRA DA, VALENÇA MM
migrânea hemiplégica familiar.
(12)
Os canais de Ca
2+
mediam a vasodilatação neurogênica e a dilatação
induzida pelo CGRP.
(13)
Um dos fenômenos relacionados à migrânea,
principalmente com a aura migranosa, é a depressão
alastrante. Essa é caracterizada por rápida e completa
despolarização de grupos de neurônios contíguos,
mediante grande redistribuição iônica dos compar-
timentos intra e extracelular.
(9)
A ativação da corrente
de Na
+
persistente é necessária para o desenvolvimen-
to da depressão alastrante, e o bloqueio de alguns
canais de Ca
2+
pode inibi-la,
(14)
tendo o topiramato
propriedades farmacodinâmicas inibitórias descritas
nesses sítios.
Efeitos terapêuticos estabelecidos naEfeitos terapêuticos estabelecidos na
Efeitos terapêuticos estabelecidos naEfeitos terapêuticos estabelecidos na
Efeitos terapêuticos estabelecidos na
profilaxia da migrâneaprofilaxia da migrânea
profilaxia da migrâneaprofilaxia da migrânea
profilaxia da migrânea
A dor, incluindo cefalalgias, pode ser interpreta-
da como um sinal de alerta para o sistema nervoso.
(15)
Alterações de plasticidade neuronal podem se
estabelecer levando a modificações funcionais cere-
brais perpetuadoras da percepção dolorosa. A
abordagem profilática faz-se necessária para inibir os
mecanismos relacionados ao desenvolvimento de
dores crônicas.
A eficácia terapêutica das drogas antiepilépticas,
em especial o topiramato, na profilaxia da migrânea,
tem sido demonstrada através de vários estudos.
(16,17)
Silvestrini et al., em estudo prospectivo placebo-contro-
lado, encontraram redução de frequência de crises em
pacientes com migrânea transformada por abuso de
analgésicos.
(16)
Diener et al.,
(18)
em um estudo prospectivo placebo-
controlado com pacientes com cefaleia crônica por
abuso de analgésicos, encontraram superioridade do
topiramato em relação ao placebo, com melhora da
frequência e na escala MIDAS. Estudo americano, multi-
cêntrico e placebo-controlado, comparou efeito
profilático do topiramato com amitriptilina, cuja
indicação clínica para profilaxia já está estabelecida.
Como resultado, não se observou diferença da eficácia
terapêutica entre os grupos, estando, inclusive, o
topiramato relacionado com melhora de alguns
indicadores de qualidade de vida, como perda e
satisfação com próprio peso.
(17)
Estudo descritivo e prospectivo,
(19)
comparativo com
divalproato de sódio, mostrou boa resposta terapêutica
com boa tolerabilidade para ambas as medicações no
controle de crises migranosas em pacientes com migrânea
episódica requerente de profilaxia.
Efeitos colaterais cognitivosEfeitos colaterais cognitivos
Efeitos colaterais cognitivosEfeitos colaterais cognitivos
Efeitos colaterais cognitivos
A despeito da eficácia terapêutica, em suas várias
indicações, os efeitos colaterais cognitivos são achados
comuns com o uso do topiramato. Park et al., em revisão
sobre o tema, indicaram que sonolência, lentificação
mental, déficit de memória e problemas de linguagem
são queixas comuns gerados pelo topiramato.
(20)
Mesmo
em pacientes que não apresentam queixas de natureza
cognitiva com o uso de topiramato foram encontradas
alterações no desempenho em testes psicométricos.
(21,22)
Thompson et al.,
(23)
em estudo com pacientes epilépticos,
encontraram pior desempenho em fluência verbal e
aprendizado verbal, entre aqueles que usaram
topiramato. As avaliações que requeriam processamento
verbal mostraram-se especialmente sensíveis à
medicação.
(23)
Estudo prospectivo, para avaliação dos
efeitos da medicação pós-comercialização, descreveu
queixas cognitivas inespecíficas (32,5%), lentificação
psicomotora (29,9%) e dificuldades de fala (6,5%) como
principais relatos entre os pacientes que precisaram sus-
pender uso da medicação.
(24)
Em estudo comparativo com pacientes em profilaxia
para migrânea, com e sem topiramato, foram encon-
trados 27% de pacientes apresentando queixas de
alterações na linguagem, confirmadas por testes
neuropsicológicos, além de observadas alterações nas
áreas da atenção, habilidades visuo-espaciais, velo-
cidade psicomotora, memória de curto prazo e flexibili-
dade cognitiva.
(25)
A resposta para teste de fluência
semântica para as letras F, C e A tiveram menores escores
para os pacientes em uso de topiramato. Os testes de
fluência fonêmica mostraram também resultado menores
em pacientes em uso de topiramato, mas de modo não
significativo.
(25)
Outro estudo
(26)
descreveu um maior com-
prometimento da fluência fonêmica do que a fluência
semântica em pacientes migranosos, que foi atribuído à
maior demanda das funções executivas verbais na pri-
meira.
Na avaliação de pacientes saudáveis, também há
comprometimento cognitivo após administração de
topiramato. Estudo
(27)
comparativo entre gabapentina,
lamotrigina e topiramato, com voluntários saudáveis,
descreveu maior decaimento das medições psicométricas,
especificamente na atenção e fluência verbal, no grupo
do topiramato, usando esquema de titulação rápida,
Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015 15
iniciando com 200 mg ao dia e gradualmente alcançando
400 mg em cerca de três semanas. Meador,
(28)
usando
esquemas de titulação de 50 mg semanais, descreveu al-
terações cognitivas brandas, especificamente nos domíni-
os de atenção, vigilância e nomeação, parecendo ser
melhor tolerado quando doses são tituladas lentamente e
sob menor dose possível.
(29)
Marino et al., estudando indivíduos saudáveis após
tomada de dose única de 100 mg de topiramato,
verificaram aumento do tempo de reação em testes de
fluência verbal, sugerindo disfunção do córtex frontal.
(30)
Pandina et al.,
(31)
estudando uso de topiramato em
adolescentes saudáveis, observaram significante declínio
na fluência semântica no grupo em uso de 50 mg/dia,
enquanto o grupo com 100 mg/dia teve redução
significativa no tempo de reação psicomotor, latência
de reconhecimento e latência de processamento visual.
Contudo, o aumento de latência psicomotora não pôde
ser atribuído a comprometimento no aprendizado,
memória ou nas funções executivas.
(31)
Romigi et al., com voluntários saudáveis sob
esquema de uso de 100 mg ao dia, demonstraram
declínio da fluência verbal após 60 dias de tratamen-
to.
(32)
O declínio na fluência fonêmica foi similar aos
encontrados em estudos com pacientes epilépticos.
(32)
Estudo usando dosagem máxima de 50 mg duas vezes
ao dia, em 35 pacientes avaliados no curso de três
meses, o declínio na habilidade de concentração foi a
única alteração cognitiva encontrada em testes
objetivos.
(33)
O topiramato é bem tolerado pela maioria dos
pacientes, contudo determinadas condições estão
associadas a um maior risco para desenvolvimento de
efeitos colaterais, como o esquema de titulação aplicado,
a dose usada, tempo de manutenção em politerapia e
susceptibilidade individual.
(20)
As alterações cognitivas
desenvolvidas parecem instalar-se gradualmente com
implemento do uso da medicação, apresentando
melhora quando da sua retirada.
(22)
Os efeitos cognitivos
negativos induzidos pelo topiramato são frequentemente
temporários e cessam após descontinuação da
medicação.
(29)
O modo pelo qual o topiramato leva às alterações
cognitivas ainda é pouco compreendido. Embora
incipientes, estudos de neurofisiologia e neuroimagem
funcional estão sendo realizados para elucidar a
questão.
Estudos com ressonância magnética funcional
avaliam ativação de regiões neurais, através das
modificações de sinal cerebral, após estímulos ou tarefas
específicas. Mais propriamente, estudos de farma-
corressonância cognitiva comparam o sinal cerebral
durante um teste cognitivo em condição de placebo e
medicação. Como limitações ao método citamos a
baixa intensidade de sinal do efeito direito da
medicação (contornado pela comparação dos
resultados de testes ou estímulos entre grupos com e
sem droga) e efeitos da medicação sobre estruturas
neurais e vasculares ao mesmo tempo.
(34)
Apesar destas
dificuldades, os achados das pesquisas recentes dão
informações valiosas sobre os efeitos de medicações
na cognição e comportamento,
(34)
incluindo o
topiramato.
Smith et al.
(35)
demonstraram lentificação das
respostas e aumento dos erros, durante testes de memória
de trabalho, entre pacientes em uso de topiramato, mas
não com lamotrigina, assim como o aumento da potência
do EEG nas frequências abaixo de 6 Hz, bem como
redução da amplitude da onda lenta no potencial
evocado, achados compatíveis com prejuízo de memória
de trabalho. Jung et al.
(36)
compararam resultados do
Potencial Evocado Cognitivo e de Tomografia
eletromagnética cerebral de baixa resolução (sLORETA),
em um grupo de epilépticos, sem tratamento medica-
mentoso prévio, antes e após início do topiramato.
Observaram aumento da onda P200 relacionada ao
uso de topiramato, bem como diminuição da ativação
nas regiões pré-frontal, têmporo-límbica e parieto-
occipital.
(36)
O componente P200 do potencial evocado está
relacionado à seleção de informações relevantes ou
desprezáveis após estímulo. O aumento de sua amplitu-
de em pacientes usando topiramato poderia ser devido
às dificuldades de categorização e classificação por esses
pacientes. Em estudo com pacientes migranosos,
(33)
a
onda P300 não se alterou significativamente entre os
pacientes em uso de topiramato, embora tenha-se
observado redução dos escores da seção de atenção
da Escala de Memória de Wechsler.
De Ciantis et al.,
(37)
comparando resultados de
ressonância magnética funcional de pacientes migra-
nosos com indivíduos saudáveis, observaram alterações
da atividade cerebral ocorridas durante as tarefas
fonêmicas naqueles com distúrbio de linguagem, por
redução na ativação das áreas pré-frontais e, nos
sujeitos sem queixas, aumento da ativação geral,
sugerindo aos pesquisadores algum tipo de mecanis-
mo compensatório.
TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
16 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Jansen et al.,
(38)
em estudos de RM funcional com
pacientes epilépticos, encontraram uma significativa
menor ativação das regiões relacionadas à linguagem
no córtex pré-frontal, associada também a escores
significativamente menores naqueles pacientes em uso
de topiramato. Em estudo brasileiro, Yasuda et al.
(39)
observaram que os pacientes recebendo topiramato,
mesmo em única dose, apresentaram diminuição da
desativação das áreas relacionadas à default mode
network (DMN), durante fRMI para fluência verbal, como
também redução dos escores nos testes de fluência verbal.
Esta desativação correlaciona-se com as variações da
dose do topiramato.
(39)
Mesmo as alterações cognitivas sendo considera-
das de intensidade leve a moderada, alguns pacientes
podem ter atividades centrais de suas rotinas
prejudicadas com o desenvolvimento de sintomas
cognitivos, como a leitura em crianças e a capacidade
para dirigir em adultos.
(40)
A magnitude dessas
alterações pode ser suficiente para interferir no desem-
penho escolar, no trabalho e relações sociais.
(23)
As
alterações cognitivas estão entre as principais causas
de descontinuação da medicação durante o tratamento,
em levantamento multicêntrico que acompanha os efeitos
de longo prazo do topiramato, após início da sua
comercialização.
(24)
O uso em pacientes migranosos requer, geralmen-
te, dosagens menores, até 100 mg ao dia. No entanto,
mesmo sob baixas doses, em uso diário, os pacientes
podem apresentar déficits cognitivos apreciáveis. Lee et
al.
(41)
compararam pacientes em uso de 50 mg, 75 mg e
100 mg de topiramato ao dia, encontrando, mesmo em
baixas doses, pacientes apresentando efeitos deletérios
sobre memória de trabalho e fluência verbal. Eles
demonstraram alterações nas avaliações psicométricas,
mesmo em grupos de pacientes usando baixas doses,
após um ano de tratamento, principalmente nos domínios
da linguagem e atenção/concentração, sugerindo não
haver habituação para os efeitos do topiramato sobre a
fluência verbal e memória de trabalho.
(41)
Parece haver correlação dos efeitos cognitivos com
a dose usada de topiramato. Estudo paralelo observou
a presença de escores mais baixos em testes psicométricos
a partir de 192 mg ao dia, com maior frequência em
doses de cerca de 384 mg ao dia, mas não em doses
entre 64 e 96 mg ao dia, em relação ao placebo,
(42)
ou
quando comparado à oxcarbazepina,
(43)
sugerindo certa
segurança para evolução de efeitos cognitivos nesta faixa
terapêutica.
CONCLUSÃO
O topiramato tem sido utilizado com eficácia no
tratamento de diversas doenças como epilepsia,
migrânea, obesidade e algumas desordens psiquiá-
tricas.
(29)
Apesar de ser considerado como medicamento
seguro, apresenta efeitos adversos sobre a cognição,
(20-
33)
que podem levar à descontinuação do tratamento
(24)
e interferência sobre suas atividades cotidianas do
paciente,
(23)
com impacto negativo sobre sua qualidade
de vida. O topiramato é melhor tolerado quando as doses
são ajustadas de forma lenta e doses mais baixas possíveis
são utilizadas.
(29)
Os efeitos cognitivos negativos induzidos
por topiramato, muitas vezes são temporários e cessam
após a interrupção de medicação.
(29)
Os estudos de ressonância magnética funcional têm
trazido informações relevantes acerca da compreensão
das alterações funcionais desencadeadas pelo topi-
ramato.
(33-34,37-39)
Como perspectiva futura, conside-
rando possível caráter genético da migrânea, mo-
dulado por outros fatores de origem endógena,
exógena, ou ambos, avanços em neurogenética po-
dem possibilitar a determinação de testes diagnós-
ticos específicos
(44)
para consequente identificação de
pacientes mais vulneráveis aos efeitos cognitivos do
topiramato.
A utilização do topiramato na profilaxia migra-
nosa pode expor o paciente ao desenvolvimento de
limitações de ordem cognitiva, que geralmente não
fazem parte da constelação sintomática do doente,
e se agregam como óbice ao seu contexto clínico,
mesmo diante de melhora da sintomatologia álgica.
Na profilaxia migranosa, a compreensão de como
se desenvolvem os efeitos cognitivos, a identifica-
ção de pacientes vulneráveis a suas manifestações,
ou ambos, podem contribuir para elaboração de
estratégias terapêuticas que permitam a utilização
segura do topiramato, como exclusão da opção de
uso do topiramato para determinados indivíduos
predispostos.
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TOPIRAMATO E FUNÇÃO COGNITIVA: REVISÃO
18 Headache Medicine, v.6, n.1, p.12-18, Jan./Fev./ Mar. 2015
Correspondência
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
karllusleite@yahoo.com.br
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Recife (PE): Pós-graduação em neuropsiquiatria e ciências do
comportamento da Universidade Federal de Pernambuco; 2011.
Recebido: 4 janeiro de 2015
Aceito: 8 fevereiro de 2015
MENDONÇA SANTOS KA, MARTINS HA, RIBAS VR, LIMA LC, SANTOS CC, OLIVEIRA DA, VALENÇA MM