24 Headache Medicine, v.5, n.1, p.21-24, Jan./Feb./Mar. 2014
COMENTÁRIOS
Ainda há muita controvérsia sobre a melhor forma
de ocluir um aneurisma intracraniano, se por via endo-
vascular ou através de um acesso microcirúrgico.
(2-4)
Contudo, parece que um consenso está sendo estabe-
lecido no sentido de que quando há compressão de
nervos intracranianos o melhor seria uma abordagem
microcirúrgica, possibilitando um descompressão direta
da estrutura neural.
(3-4)
No caso particular do terceiro nervo craniano a
clipagem direta do aneurisma parece ser a melhor opção,
como foi o caso aqui relatado. O cirurgião não deve,
entretanto, separar o saco aneurismático no nervo
oculomotor, porque isso pode danificar ainda mais essa
estrutural neural. Se achar que haveria algo a mais a
fazer, isso seria separar o restante do saco aneurismático
(deixando ele aderido ao nervo) do colo que encontra-
se clipado, usando-se uma microtesoura.
Güresir e colegas
(3)
encontraram 10 em 344 (2,9%)
aneurismas intracranianos que causavam paralisia do
terceiro nervo craniano. Esses autores estudaram 201
aneurismas da artéria comunicante posterior (132 pacientes
foram submetidos a clipagem microcirúrgica, 54 pacientes
foram tratados por via endovascular, e 15 pacientes não
foram tratados). Na análise multivariada, clipagem
cirúrgica foi significativamente associada com resolução
parcial de qualquer grau da paralisia (OR12,2, 95% CI
3-49) e de resolução completa (OR, 7,1, 95% CI 1,8-28)
em comparação com pacientes com tratamento endo-
vascular. Indicando a superioridade do procedimento
microcirúrgico em relação ao endovascular para esse
tipo particular de aneurisma cerebral.
Estudo recente
(5)
mostra que o tamanho do aneurisma
pode não influenciar o aparecimento da ptose palpebral,
mas a proximidade da carótida das estruturas da base
do crânio, incluindo o terceiro nervo, parece ser mais
importante como valor associativo. No nosso caso, a
clinoide anterior teve de ser removida para possibilitar a
clipagem adequada do aneurisma, mostrando uma
localização baixa do aneurisma, bem próximo da base
do crânio, com compressão do nervo por um aneurisma
relativamente pequeno (menor do que 6 mm).
Outros aspectos clínicos e relacionados com a
fisiopatogenia da compressão do oculomotor por um
aneurisma são revisados em publicação anterior.
(6)
Concluíndo, todos os pacientes com dor ocular fixa,
que perdura por vários dias, devem ser avaliados por
neuroimagem, incluindo ângio-ressonância magnética ou
angiotomografia computadorizada, mesmo aqueles sem
o acometimento da pupila, cuja possibilidade maior seria
acometimento do terceiro nervo craniano por uma
mononeuropatia diabética ou isquêmica, na qual as
fibras parassimpáticas do oculomotor estão poupadas.
REFERÊNCIAS
1. Valença MM, Andrade-Valença LPA, Martins C. Functional anatomy
of headache: circle of Willis aneurysms, third cranial nerve and
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3. Güresir E, Schuss P, Setzer M, Platz J, Seifert V, Vatter H. Posterior
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4. Güresir E, Schuss P, Seifert V, Vatter H. Oculomotor nerve palsy by
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doi: 10.3171/2012.8.JNS111239. Epub 2012 Aug 31.
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Y, Kawano Y, Hori Y, Nagatomi H, Abe T, Fujiki M. Third nerve
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artery aneurysm does not depend on the size of the aneurysm,
but on the distance between the ICA and the anterior-posterior
clinoid process. Clin Neurol Neurosurg. 2014 Aug;123:169-
73. doi: 10.1016/j.clineuro.2014.05.006. Epub 2014 Jun 4.
6. Valença MM, Andrade-Valença LP, Martins C, de Fátima Vasco
Aragão M, Batista LL, Peres MF, da Silva WF. Cluster headache
and intracranial aneurysm. J Headache Pain. 2007
Oct;8(5):277-82. Epub 2007 Oct 23.
Correspondência
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. VMarcelo M. V
Marcelo M. V
alençaalença
alençaalença
alença
Neurology and Neurosurgery Unit, Department of
Neuropsychiatry, Federal University of Pernambuco, Cidade
Universitária, 50670-420 Recife, Pernambuco, Brazil; Fax: +55
81 21268539; E-mail: mmvalenca@yahoo.com.br
Received Dec 5, 2013
Accepted Jan 25, 2014
VALENÇA MM, SILVA JC, BARBOSA M, VALENÇA MF, ALMEIDA LA, OLIVEIRA MC, ET AL.