14 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
Relação entre cefaleia primária e restrição de
amplitude de movimento cervical: um estudo piloto
Relation between primary headache and restriction of cervical range of
motion: a pilot study
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLEORIGINAL ARTICLE
ORIGINAL ARTICLE
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
IntroduçãoIntrodução
IntroduçãoIntrodução
Introdução: As cefaleias constituem a sintomatologia neuro-
lógica mais comum em todo o mundo; a presença desta
alteração pode promover diversas consequências na biome-
cânica dos músculos cervicais, que podem limitar a mobilidade
cervical e causar prejuízos aos pacientes que sofrem com
cefaleia.
ObjetivoObjetivo
ObjetivoObjetivo
Objetivo: Avaliar a relação entre a presença de
cefaleia primária e a restrição na amplitude de movimento
cervical.
MétodosMétodos
MétodosMétodos
Métodos: Foi realizado um estudo piloto com 33
indivíduos (27 mulheres) com idade entre 20 e 38 anos (26
± 5 anos). Para avaliar a mobilidade cervical ativa foi utilizado
o goniômetro universal. O grau de disfunção cervical foi
avaliado pelo questionário de Índice de Disfunção relacionado
ao Pescoço. Para classificar a cefaleia primária foram utilizados
os critérios estabelecidos pela International Classification of
Headache Disorders (ICHD-III beta version, 2013).
ResultadosResultados
ResultadosResultados
Resultados: Não houve diferenças estatísticas entre os grupos
em relação ao gênero e última crise de cefaleia. A mobilidade
cervical apresentou diferenças entre os grupos com cefaleia e
saudáveis, mas essas não foram estatisticamente significantes.
Também houve diferenças entre os grupos cefaleia e saudáveis
em relação à classificação do Índice de Disfunção relacionado
ao Pescoço, sem diferença significante (p<0,05).
ConclusãoConclusão
ConclusãoConclusão
Conclusão:
O estudo não demonstrou diferença entre a mobilidade
cervical em pacientes com cefaleia primária, quando com-
parados a indivíduos saudáveis.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave
::
::
: Cefaleia; Mobilidade; Cervical.
Manuella Moraes Monteiro Barbosa Barros, Angélica da Silva Tonório, Thaís Ferreira Lopes Diniz Maia,
Camila Carolinne Silva de Almeida, Daniella Araújo de Oliveira
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco
Barros MMMB, Tonório AS, Maia TFLD, Almeida CCS, Oliveira DA. Relação entre cefaleia primária e restrição de
amplitude de movimento cervical: um estudo piloto. Headache Medicine. 2014;5(1):14-20
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
IntroductionIntroduction
IntroductionIntroduction
Introduction: Headache is the most common neurological
symptom across the world. The presence of this alteration
promotes different effects on the biomechanics of cervical
muscles, which may limit cervical mobility and also bring
damage to patients suffering with headache.
ObjectiveObjective
ObjectiveObjective
Objective:
Evaluate the relation between the presence of primary headache
and cervical range of motion restriction.
MethodsMethods
MethodsMethods
Methods: Pilot study
conducted by using a sample of 33 subjects aged between 20
and 38 years (26 ± 5 years). To evaluate active cervical
mobility, universal goniometer was used. The degree of cervical
dysfunction was assessed by Neck Disability Index
questionnaire. To sort the primary headache were used criteria
established by the International Classification of Headache
Disorders (ICHD-III beta version, 2013).
ResultsResults
ResultsResults
Results: There was
no statistical difference between the groups in relation to gender
and last headache crisis. The cervical mobility differs between
groups with headache and healthy, but this was not statistically
significant. There were also differences between the headache
and the healthy group regarding to the Neck Disability Index
(NDI).
ConclusionConclusion
ConclusionConclusion
Conclusion: The study does not demonstrate a
difference between the cervical mobility in patients with primary
headache compared to healthy subjects.
KeywordsKeywords
KeywordsKeywords
Keywords: Headache; Mobility; Neck.
INTRODUÇÃO
A cefaleia é a desordem neurológica mais prevalente
na população em geral. Dados epidemiológicos
estimam que 50% da população mundial apresentou
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 15
cefaleia no último ano e 90% já relataram ter experi-
mentado episódios de cefaleia alguma vez na vida.
(1,2)
Entre os tipos de cefaleias primárias, a cefaleia tipo
tensional (CTT) é a mais frequente na população, com
uma prevalência de aproximadamente 52%, em seguida
vem a migrânea, com uma prevalência de 18%.
(3,4)
Em
relação aos aspectos clínicos, são encontradas em ambos
os sexos e atingem todas as faixas etárias, com início
mais frequente após os 20 anos de idade, sendo encon-
trado maior número de casos entre os 20 e 50 anos.
(5-11)
A fisiopatologia da CTT ainda é pouco conhecida,
alguns estudos sugerem que pode originar-se a partir de
mecanismos periféricos (alterações nos tecidos mio-
fasciais) e mecanismos centrais do sistema nervoso.
(11-15)
Durante muito tempo, a migrânea foi considerada uma
cefaleia de origem vascular. Hoje, acredita-se que as
anormalidades vasculares são secundárias a uma disfun-
ção do sistema nervoso central; também é relacionada
a um forte componente genético.
(16,17)
Diversos estudos demonstram que indivíduos com
cefaleias primárias podem apresentar um aumento da
sensibilidade à palpação dos tecidos miofasciais
pericranianos, alterando a ativação do músculo dolorido
e a coordenação entre os músculos agonistas e anta-
gonistas cervicais. A coativação das musculaturas agonista
e antagonista ocorre como estratégia de proteção,
limitando a velocidade, força e amplitude de movimento
articular.
(3,13,15)
A função muscular da região cervical
também pode ser afetada pela presença de trigger points
localizados nos músculos da cabeça, pescoço e ombros
(mais encontrados em suboccipitais, trapézio superior e
esternocleidomastoídeo).
(11,14)
Outro fator considerável de
alteração da cervical frequentemente encontrado é a
anteriorização da cabeça, que associada à dor na região
cervical é caracterizada por um encurtamento dos
músculos extensores cervicais posteriores e fraqueza dos
músculos flexores cervicais anteriores.
(16-18)
A anterio-
rização da cabeça também pode causar compressão
mecânica da coluna cervical superior, produzindo
diminuição na mobilidade dos tecidos moles e articu-
lações deste segmento.
(19)
Todas as alterações citadas
contribuem para a modificação da biomecânica da
região do pescoço, resultando em dor e prejuízos à
mobilidade cervical.
(17,20)
Apesar de ser uma doença extremamente frequente
em todas as faixas etárias na população global e diversos
estudos comprovarem sua relação direta com alterações
cervicais, as consequências da presença de cefaleia para a
mobilidade cervical ainda não foram bem definidas. Logo,
o presente estudo tem como objetivo avaliar a amplitude
de movimento cervical em indivíduos com cefaleias
primárias e analisar as possíveis alterações ocorridas.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo piloto observacional e des-
critivo, com uma amostra espontânea por conveniência
composta por 33 indivíduos (27 mulheres), com idade
entre 20 e 38 anos de idade (26 ± 5 anos). Os voluntários
foram abordados e convidados a participar da pesquisa,
afirmando sua participação por meio da assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; aqueles que
se encontravam dentro da faixa etária de 20 a 40 anos
eram incluídos no estudo. Eram excluídos os que pos-
suíam alguma patologia neurológica conhecida, que
apresentassem alguma alteração degenerativa ou trau-
mas na região cervical. O estudo foi realizado no Labo-
ratório de Eletrotermofototerapia do Departamento de
Fisioterapia. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do CCS-UFPE com CAAE -
01661812.9.0000.5208.
Os voluntários responderam a um questionário
elaborado pelas pesquisadoras para obtenção dos
dados sociodemográficos: gênero, Índice de Massa
Corpórea (IMC) e prática de atividade física. O IMC foi
dividido em dois grupos: saudáveis (aqueles que se
encontravam com IMC<25) e sobrepeso (IMC>25),
utilizando os critérios da Organização Mundial de
Saúde.
(21)
Quanto à prática de atividade física, foram
considerados como praticantes aqueles que realizavam
alguma atividade física com uma frequência de, no
mínimo, três vezes por semana; e os sedentários os que
não realizavam nenhuma atividade física (OMS, 2005).
Para caracterizar a cefaleia utilizou-se um questionário
adaptado do Procefaleia,
(22)
baseado nos critérios
estabelecidos pela Sociedade Internacional de Cefaleia
(ICHD-II, 2004).
(4)
Foram considerados indivíduos sem
cefaleia aqueles não apresentaram nenhum episódio de
cefaleia no último mês (
oito voluntários), e foram conside-
rados como grupo cefaleia, os voluntários que preenchiam
aos critérios da Sociedade Internacional de Cefaleia (ICHD-
II, 2004) para as cefaleias primárias (25 voluntários).
O questionário sobre Índice de Disfunção relacio-
nado ao Pescoço (NDI - Neck Disability Index) foi desen-
volvido em 1989 por Howard Vernon com o objetivo de
avaliar a incapacidade em indivíduos com dor na região
cervical e, posteriormente, adaptado e validado para a
população brasileira.
(23)
Ele é constituído por dez seções,
RELAÇÃO ENTRE CEFALEIA PRIMÁRIA E RESTRIÇÃO DE AMPLITUDE DE MOVIMENTO CERVICAL: UM ESTUDO PILOTO
16 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
BARROS MMMB, TONÓRIO AS, MAIA TFLD, ALMEIDA CCS, OLIVEIRA DA
subdivididas em seis itens (variam de 0-5) com escores
que variam entre 5 e 50, que é a pontuação total. A
partir da pontuação obtida, classifica-se em: sem disfun-
ção (0-4 pontos), disfunção leve (5-14 pontos), disfunção
moderada (15-24 pontos), disfunção grave (25-34
pontos) ou disfunção completa (>35 pontos).
(24,25)
Para avaliar o movimento cervical foi feita a gonio-
metria ativa utilizando o goniômetro universal (Carci,
Indústria e Comércio de Aparelhos Cirúrgicos e Ortopé-
dicos Ltda, Brasil) com escala de medida de dois em
dois graus para realizar as medições (Figura 1).
Todas as medidas foram obtidas pelo mesmo
examinador e utilizando o mesmo protocolo. O voluntário
era orientado a se sentar confortavelmente, mantendo a
coluna apoiada no encosto da cadeira e os pés apoiados
no chão. Inicialmente se marcava pontos de referência
no processo espinhoso de C7, no centro do lóbulo da
orelha e no centro do nariz e alinhava-se a coluna cervical.
Todos os movimentos cervicais ativos (flexão, extensão,
inclinação lateral direita, inclinação lateral esquerda,
rotação direita, rotação esquerda) foram avaliados
usando como referência os pontos descritos previamente
em outro estudo.
(26)
Na flexão, o braço fixo do goniômetro
era posicionado em nível do acrômio, paralelo ao solo
e no mesmo plano transverso do processo espinhoso de
C7 e, o braço móvel era dirigido ao ponto marcado no
lóbulo da orelha, amplitude de movimento (ADM)
esperada de 0 a 65°; para extensão utilizou-se os mesmos
pontos de referência da flexão, com ADM esperada entre
0 a 50°. A inclinação lateral foi obtida com o eixo do
goniômetro posicionado sobre o processo espinhoso de
C7, braço fixo paralelo ao solo e braço móvel dire-
cionado na linha média da coluna cervical e protu-
berância occipital externa, ADM esperada de 0 a 40°.
Na rotação, o eixo do goniômetro localiza-se no centro
da cabeça e, os braços fixo e móvel encontram-se na
sutura sagital, ADM esperada de 0-55° (Figura 2).
Figura 1. Goniômetro Universal Carci
Figura 2. Goniometria ativa dos movimentos cervicais; A - Rotação à direita, B - Rotação à esquerda, C - Flexão, D - Extensão, E - Inclinação
lateral esquerda, F - Inclinação lateral direita.
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 17
Foram obtidas três medidas de cada movimento e
utilizada média aritmética entre as mesmas para análise.
Os dados estatísticos são mostrados como média ±
desvio padrão. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado
para verificar o tipo de distribuição das variáveis a serem
estudadas. Como as variáveis não apresentarem uma
distribuição normal foi utilizado o teste não-paramétrico
Mann-Whitney. Na análise das variáveis categóricas foi
aplicado o qui-quadrado (χ
2
), conforme a frequência
esperada nas células. O nível de significância considerado
como diferente estatisticamente foi p<0,05. Os dados foram
tabulados no programa Microsoft Excel, versão 2007 e
posteriormente processados usando o programa SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0.
RESULTADOS
A amostra foi constituída de 33 voluntários, sendo
27 mulheres (81,8%) e seis homens (18,2%), com idades
variando de 20 a 38 anos (26 ± 5 anos). O IMC da
amostra demonstrou que 85% (28 indivíduos) encontrava-
se com IMC normal (<25), e 15% (5 indivíduos)
encontravam-se com sobrepeso (>25). Não houve
diferença entre indivíduos com cefaleia e a média de
IMC (22,69 Kg/m
2
com cefaleia e 22,7 Kg/m
2
sem
cefaleia; p=0,985; Teste de Mann Whitney). Compa-
rando-se os níveis de atividade física, 63% (21 voluntários)
da amostra total foram considerados sedentários. Dos
indivíduos com cefaleia, 16/25 (75,8%) eram sedentários.
Em relação à última crise, 25 (75,8%) voluntários
apresentaram cefaleia no último mês e foram classifi-
cados como grupo cefaleia e os 8 (24,2%) restantes que
não apresentaram cefaleia no último mês foram consi-
derados como o grupo sem cefaleia (Tabela 1). Não
houve diferença significativa entre os grupos quando foi
feita a relação entre gênero e última crise (21/27 mulheres
no último mês e 4/6 homens com p=0,566).
A Tabela 2 mostra a relação entre a presença de
cefaleia e o movimento cervical. O grupo com cefaleia
apresentou menores amplitudes de movimento cervical
quando comparado com os indivíduos sem cefaleia, porém
não houve diferença estatística entre os grupos; p<0,05.
Relacionando os grupos cefaleia e sem cefaleia com
a disfunção cervical (Tabela 3), mostrou-se que indivíduos
com cefaleia possuem os seguintes graus de disfunção
cervical: 24% sem disfunção, 28% disfunção leve, 36%
com disfunção moderada e 12% disfunção grave. O
grupo sem cefaleia apresentou: 50% sem disfunção,
37,5% disfunção leve, 12,5% com disfunção moderada
e nenhum caso de disfunção grave. A mobilidade cervical
entre os indivíduos com menor disfunção cervical e os
com disfunções mais graves não mostrou diferença
estatística; p<0,05 (Tabela 4).
RELAÇÃO ENTRE CEFALEIA PRIMÁRIA E RESTRIÇÃO DE AMPLITUDE DE MOVIMENTO CERVICAL: UM ESTUDO PILOTO
18 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
BARROS MMMB, TONÓRIO AS, MAIA TFLD, ALMEIDA CCS, OLIVEIRA DA
DISCUSSÃO
Apesar dos mecanismos fisiopatológicos que
desencadeiam as cefaleias primárias ainda não
estarem totalmente definidos, alguns estudos apontam
uma possível relação da cefaleia com alterações na
função da musculatura da região cervical e
ombros.
(3,12,13,16)
Alterações na ativação muscular em pacientes com
cefaleias primárias foram avaliadas em estudos que
propõem que o controle motor está afetado em indivíduos
acometidos, alterando a biomecânica da cabeça e da
região cervical. Em consequência às modificações
biomecânicas, podem ser observadas alterações posturais
(anteriorização da cabeça), diminuição na produção da
força máxima dos músculos da região cervical e da
cabeça e mecanismos compensatórios na ativação desses
músculos; favorecendo as restrições na mobilidade
cervical.
(14,16)
A disfunção cervical é constituída por diversos
fatores, como: presença de dor, limitação do movimento
e alterações posturais que vão resultar em compro-
metimento funcional deste segmento corporal.
No presente estudo, indivíduos com cefaleia apre-
sentaram índices de disfunção cervical mais altos (76%)
do que os sem cefaleia (50%), avaliados pelo NDI. Estu-
dos anteriores mostram que existe uma relação entre a
presença de cefaleias primárias e a disfunção cervical,
porém estes não fizeram uso do NDI para esta com-
paração.
(3,10)
A disfunção cervical nesses estudos geral-
mente é identificada através de eletromiografia (análise
da ativação muscular), mensuração da amplitude de
movimento cervical, análise postural (anteriorização da
cabeça, presença de encurtamentos musculares), pre-
sença de trigger points à palpação.
(11,14,15,17)
São escas-
sos os estudos que comparam as variáveis cefaleia e
disfunção cervical através do NDI, ou que compare os
níveis de disfunção do NDI com a presença da cefaleia,
apesar ser comprovada a presença da disfunção cervical
em portadores de cefaleias primárias.
(18,20)
Em relação à mobilidade cervical ativa, foram
encontradas diferenças entre os grupos nos movimentos
de flexão/extensão, inclinação lateral direita/esquerda
e rotação direita/esquerda; com o grupo cefaleia apre-
sentando mobilidade diminuída em relação ao grupo
sem cefaleia, mas o resultado não foi significativo
(p< 0,05). Dados semelhantes foram encontrados em
um estudo realizado em 1997, onde a mobilidade
cervical foi relacionada com a presença de cefaleia. Este
estudo continha uma população de 141 indivíduos que
se dividia em: 51 controles, 28 pacientes com migrânea,
34 com cefaleia tipo-tensional (CTT) e 28 com cefaleia
cervicogênica; estes foram submetidos à avaliação da
ADM cervical e não houve diferença significativa entre a
mobilidade dos indivíduos com migrânea e CTT e o grupo
controle.
(27)
Outros estudos, em desacordo com os resul-
tados obtidos nesta pesquisa, encontraram diferenças
estatisticamente significantes em todos os movimentos
cervicais (flexão, extensão, inclinação direita/esquerda,
rotação direita/esquerda) entre os grupos de cefaleia e
sem cefaleia.
(10,14)
Resultados diferentes dos achados em estudos ante-
riores podem ser justificados pelas diferenças meto-
dológicas entre os estudos. Em relação à amostra,
estudos anteriores utilizaram amostras cujas médias de
idade variavam de 42±18 anos
(10)
a 51±15 anos,
(14)
sendo a idade mínima de 20 e a máxima de 70 anos.
Em nosso estudo, a média de idade foi de 26±5 anos,
variando de 20 a 38 anos. O tamanho da amostra
também foi menor (n=33) e não equivalente entre os
grupos (25 cefaleia e oito sem cefaleia), além de não
haver subdivisões entre os subtipos de cefaleias
primárias. Tal fato dificulta a comparação entre os
estudos.
Outro fator que pode interferir nos resultados é a
da cronicidade da cefaleia, em uma amostra mais
jovem, a prevalência da cefaleia crônica é menor e,
consequentemente, as alterações biomecânicas também
estão diminuídas, visto que a cronicidade da cefaleia
relaciona-se diretamente proporcional ao aumento da
idade.
(10,14)
Na amostra estudada, apenas seis volun-
tários (24%) apresentaram uma frequência de crises
maior do que cinco vezes por mês e, todas as crises
possuíam duração menor do que 24 horas, não
caracterizando nenhum indivíduo como cefaleia crônica.
Segundo os critérios da Sociedade Internacional de
Cefaleia (ICHD-III beta version, 2013), é considerada
cefaleia crônica quando as crises ocorrem durante 15
dias ou mais em um período de um mês, com média
maior ou igual a 180 dias por ano.
(4)
O instrumento utilizado, goniômetro universal,
apesar de ser de baixo custo, fácil manuseio e mais
difundido na prática clínica, não é o mais empregado
atualmente em pesquisas. Estudos semelhantes utilizaram
o goniômetro cervical, que reproduz medidas mais
exatas,
(10,12,14,16)
por possuir uma confiabilidade intra-
observador entre 0,7-0,9 e a confiabilidade interobser-
vador entre 0,8-0,87.
(28)
Porém, estudo realizado para
comparar os métodos de mensuração da mobilidade
Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014 19
cervical ativa mostrou que o goniômetro universal
alinhado nos pontos de referência seguidos no presente
estudo, é o método que mais se assemelha aos resultados
obtidos pelo goniômetro cervical (CROM).
(29)
Apesar deste estudo não ter demonstrado nenhuma
significância estatística entre os grupos, houve uma
diferença de amplitude de movimento cervical ativo em
todos os movimentos (flexão/extensão, inclinação lateral
direita/esquerda e rotação direita/esquerda), e uma clara
diferença na classificação da disfunção cervical pelo NDI
entre os indivíduos com cefaleia e os sem cefaleia. Tal
fato nos leva a identificar a importância da avaliação
cervical por um fisioterapeuta nos indivíduos com cefaleia
primária para identificação da provável disfunção cervical
e posterior abordagem terapêutica dos indivíduos
acometidos, direcionando o tratamento desses para suas
implicações clínicas, melhorando assim a qualidade de
vida e auxiliando na diminuição da frequência de crises
nos mesmos.
Sugere-se que então que novos estudos sejam
realizados com amostras maiores e metodologia mais
rigorosa, pois já é definido que a presença da cefaleia
primária gera alterações na região cervical.
Diante do exposto, conclui-se que neste estudo não
foram encontradas diferenças na mobilidade cervical
entre indivíduos com cefaleia e sem cefaleia.
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20 Headache Medicine, v.5, n.1, p.14-20, Jan./Feb./Mar. 2014
Correspondência
Daniella Araújo de Oliveira
Departamento de Fisioterapia
Av.Jorn. Anibal Fernandes, s/n
Cidade Universitária,
50740-560– Recife, Pernambuco, Brasil,
(55-81) 2126-8937; Fax: (55-81)21268491
sabino_daniella@ig.com.br
Recebido: 20/12/2013
Aceito: 20/02/2014
Conflito de interesses: A pesquisa não foi financiada. Os autores
declaram que não há conflitos de interesse.
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