18 Headache Medicine, v.1, n.1, p.17-20, jan./fev./mar. 2010
ALAN CHESTER FEITOSA DE JESUS E COLABORADORA
INTRODUÇÃO
Pacientes idosos constituem importante parcela de
todos os atendimentos médicos no Brasil e a expectativa
é que essa proporção aumente. A cefaleia é a queixa
neurológica mais frequente nesta população e as suas
peculiaridades na faixa etária dos idosos tem recebido
atenção especial na atualidade. Ao contrário do que
acontece com a maioria das queixas neurológicas, a
incidência e a prevalência da cefaleia diminuem com o
envelhecimento, mas continuam sendo significativas.
1,3
As cefaleias primárias, ou seja, aquelas que não
podem ser atribuídas a alterações estruturais, metabólicas,
tóxicas ou infecciosas, tais como a migrânea (enxaqueca),
a cefaleia do tipo tensional (CTT), a cefaleia em salvas e
outras são ainda as formas de dor de cabeça mais
prevalentes no idoso.
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Apesar disso, a proporção de
cefaleias secundárias, como as decorrentes da arterite
temporal, de tumores cerebrais e de causas potencial-
mente graves, aumenta significativamente nessa faixa
etária.
3,4
Sabe-se ainda que pessoas idosas são mais
suscetíveis a efeitos adversos das medicações utilizadas
para tratamento e são frequentemente tratados com
vários fármacos.
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No caso específico de medicamentos
para cefaleia, o tratamento oferece principalmente
prejuízos para a função renal e/ou hepática, aumentando
a morbimortalidade nessa faixa etária.
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Na população senil é importante ainda investigar
doenças sistêmicas como hipertensão paroxística ou
grave, anemia ou policitemia, insuficiência renal, doenças
da tireoide, insuficiência pulmonar, apneia do sono,
hipercalemia, hiponatremia, infecções e cefalalgia
cardíaca.
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Os principais sinais de alerta para cefaleias secun-
dárias são: primeiro episódio ou piora da cefaleia prévia,
cefaleia de início abrupto, progressão ou mudança no
padrão da dor, cefaleia recente em menores de 5 anos
ou maiores que 50 anos de idade, aparecimento de
cefaleia com câncer, imunossupressão ou gravidez,
associação com síncope ou ataque de uma doença,
desencadeada por esforço/valsalva/sexo, sintomas
neurológicos com mais de uma hora de duração e
anormalidades no exame geral ou neurológico.
7,8
Como se observa na prática clínica, as cefaleias
secundárias são mais frequentes no idoso e poucos estu-
dos sobre o tema abordam esse grupo populacional.
Há necessidade de se estudar a frequência e as carac-
terísticas da cefaleia em pessoas acima de 60 anos, bem
como suas peculiaridades para que se possa diagnosticar
corretamente e adequar o tratamento a essa população
diferenciada.
MATERIAL E MÉTODO
Este estudo retrospectivo e descritivo foi realizado
através da análise dos prontuários dos pacientes aten-
didos no Ambulatório de Cefaleia do Hospital Univer-
sitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde
foram estudadas as variáveis: proporção de pacientes
idosos (idade acima de 60 anos) atendidos, idade, sexo,
classificação das cefaleias segundo critérios da Clas-
sificação Internacional de Cefaleias (ICHD-II, 2004),
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comorbidades, anormalidade/normalidade no exame
neurológico e número de pacientes que retornaram para
segunda consulta.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da UFS, de acordo com o processo N° CAAE -
0095.0.107.000-09.
Foram incluídos no estudo todos os pacientes que
se apresentaram com idade igual ou maior que 60 anos
e que foram atendidos no Ambulatório de Cefaléia no
período de janeiro de 2005 a janeiro de 2009.
A amostra foi não probabilística, dependente da
demanda do Ambulatório de Cefaleia da UFS.
Os dados foram organizados em banco de dados
em planilha de excel, onde foram calculados os parâ-
metros de desvio padrão e média de Idades e as porcen-
tagens dos diferentes tipos de cefaleia encontrados.
RESULTADOS
Dos 689 pacientes atendidos no ambulatório de
Cefaleia de Sergipe no período de janeiro de 2005 a
janeiro de 2009, 37 (5,37%) apresentavam idade maior
ou igual 60 anos. A média de idade desses pacientes foi
de 66,24 anos e o desvio padrão de ± 5,77.
Com relação ao sexo, observou-se maior prevalên-
cia de cefaleia em mulheres; foram 25 mulheres (67,57%)
para apenas 12 homens (32,43%).
Os principais tipos de cefaleias nos idosos atendidos
no serviço estão dispostos na Tabela 1.
As cefaleias primárias totalizaram 31 casos
(83,78%), incluindo migrânea, cefaleia tipo tensional
(CTT), cefaleia tipo tensional crônica (CTTC), cefaleia
hípnica, hemicrânia contínua, cefaleia primária desde o
início e a cefaleia numular. As cefaleias secundárias
estiveram presentes em 6 casos (16,22%), incluindo a