Headache Medicine, v.1, n.1, p.17-20, jan./fev./mar. 2010 17
Aspectos epidemiológicos das cefaleias em
pacientes idosos atendidos no Ambulatório de
Cefaleia de Sergipe
Epidemiological aspects of headache in elderly patients in the Outpatient
Headache Sergipe
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Introdução:Introdução:
Introdução:Introdução:
Introdução: Pacientes idosos constituem importante parcela
de todos os atendimentos médicos no Brasil. A cefaleia
continua sendo a queixa neurológica mais frequente nessa
população; suas peculiaridades nessa faixa etária devem
receber atenção especial devido à presença de características
distintas e a maior possibilidade de causas secundárias.
Objetivo: Objetivo:
Objetivo: Objetivo:
Objetivo: Determinar a prevalência das cefaleias em idosos
em ambulatório especializado além de descrever características
dessa algia craniana nesta faixa etária.
Material e Método: Material e Método:
Material e Método: Material e Método:
Material e Método:
Estudo retrospectivo e descritivo, realizado no Ambulatório
de Cefaléias do Hospital Universitário da UFS. Foram
estudadas as variáveis: quantidade de pacientes idosos
atendidos, idade, sexo, classificação das cefaleias,
comorbidades, anormalidade/normalidade no exame
neurológico e número de pacientes que retornaram para
segunda consulta.
Resultados: Resultados:
Resultados: Resultados:
Resultados: A prevalência de idosos no
centro de referência foi de 5,37%. Os tipos de cefaleias mais
frequentes foram a migrânea (45,94%) e a cefaleia tipo
tensional (21,62%); 32,43% incluíam outros tipos de cefaleia.
Conclusão: Conclusão:
Conclusão: Conclusão:
Conclusão: Estes achados sugerem que a cefaleia continua
sendo prevalente nos idosos, sendo mais comum entre
mulheres e que o tipo mais frequente continua sendo uma
cefaleia primária, a migrânea. Entretanto, o diagnóstico de
cefaleias secundárias aumenta nessa faixa etária.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chave:chave:
chave:chave:
chave: Idosos; cefaleia.
ORIGINAL ARTICLE
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Introduction:Introduction:
Introduction:Introduction:
Introduction: Elderly patients constitute important parcel of
all the medical care in Brazil. The headache continues being
the more frequent neurological complaint in this population;
its peculiarities in this age have received special attention due
to presence of distinct characteristics and a biggest possibility
of secondary causes.
Objective: Objective:
Objective: Objective:
Objective: To determine the prevalence
and characteristic of chronic headaches in aged patients.
Material and Methods:Material and Methods:
Material and Methods:Material and Methods:
Material and Methods: Carried through retrospective and
descriptive study in the Clinic of Chronic headache of the
University Hospital of the UFS, where the variable had been
studied: prevalence, age, sex, classification of the chronic
headaches, comorbidities, abnormality/normality in the
neurological examination and number of patients who had
returned for a second consultation.
Results:Results:
Results:Results:
Results: The ratio of elderly
was of 5.37%. The more frequent headache was migraine
(45.94%) and tensional type headache (21.62%), being that
32.43% correspond other types of chronic headaches.
Conclusion:Conclusion:
Conclusion:Conclusion:
Conclusion: These findings suggest that the chronic
headache continues being prevalent in the aged ones, being
more common in women and that the type most frequent in
aged continues being a primary chronic headache, the
migraine, even so the secondary chronic headaches increase
in frequency in this age.
Key words: Key words:
Key words: Key words:
Key words: Elderly; headache.
Alan Chester Feitosa de Jesus, Débora Dias Barreto
Ambulatório de Cefaleia, Liga de Cefaleia de Sergipe (Licese), Hospital Universitário,
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
de Jesus ACF, Barreto DD. Aspectos epidemiológicos das cefaleias em pacientes idosos atendidos
no Ambulatório de Cefaleia de Sergipel. Headache Medicine. 2010;1(1):17-20
18 Headache Medicine, v.1, n.1, p.17-20, jan./fev./mar. 2010
ALAN CHESTER FEITOSA DE JESUS E COLABORADORA
INTRODUÇÃO
Pacientes idosos constituem importante parcela de
todos os atendimentos médicos no Brasil e a expectativa
é que essa proporção aumente. A cefaleia é a queixa
neurológica mais frequente nesta população e as suas
peculiaridades na faixa etária dos idosos tem recebido
atenção especial na atualidade. Ao contrário do que
acontece com a maioria das queixas neurológicas, a
incidência e a prevalência da cefaleia diminuem com o
envelhecimento, mas continuam sendo significativas.
1,3
As cefaleias primárias, ou seja, aquelas que não
podem ser atribuídas a alterações estruturais, metabólicas,
tóxicas ou infecciosas, tais como a migrânea (enxaqueca),
a cefaleia do tipo tensional (CTT), a cefaleia em salvas e
outras são ainda as formas de dor de cabeça mais
prevalentes no idoso.
3
Apesar disso, a proporção de
cefaleias secundárias, como as decorrentes da arterite
temporal, de tumores cerebrais e de causas potencial-
mente graves, aumenta significativamente nessa faixa
etária.
3,4
Sabe-se ainda que pessoas idosas são mais
suscetíveis a efeitos adversos das medicações utilizadas
para tratamento e são frequentemente tratados com
vários fármacos.
4
No caso específico de medicamentos
para cefaleia, o tratamento oferece principalmente
prejuízos para a função renal e/ou hepática, aumentando
a morbimortalidade nessa faixa etária.
5
Na população senil é importante ainda investigar
doenças sistêmicas como hipertensão paroxística ou
grave, anemia ou policitemia, insuficiência renal, doenças
da tireoide, insuficiência pulmonar, apneia do sono,
hipercalemia, hiponatremia, infecções e cefalalgia
cardíaca.
6
Os principais sinais de alerta para cefaleias secun-
dárias são: primeiro episódio ou piora da cefaleia prévia,
cefaleia de início abrupto, progressão ou mudança no
padrão da dor, cefaleia recente em menores de 5 anos
ou maiores que 50 anos de idade, aparecimento de
cefaleia com câncer, imunossupressão ou gravidez,
associação com síncope ou ataque de uma doença,
desencadeada por esforço/valsalva/sexo, sintomas
neurológicos com mais de uma hora de duração e
anormalidades no exame geral ou neurológico.
7,8
Como se observa na prática clínica, as cefaleias
secundárias são mais frequentes no idoso e poucos estu-
dos sobre o tema abordam esse grupo populacional.
Há necessidade de se estudar a frequência e as carac-
terísticas da cefaleia em pessoas acima de 60 anos, bem
como suas peculiaridades para que se possa diagnosticar
corretamente e adequar o tratamento a essa população
diferenciada.
MATERIAL E MÉTODO
Este estudo retrospectivo e descritivo foi realizado
através da análise dos prontuários dos pacientes aten-
didos no Ambulatório de Cefaleia do Hospital Univer-
sitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde
foram estudadas as variáveis: proporção de pacientes
idosos (idade acima de 60 anos) atendidos, idade, sexo,
classificação das cefaleias segundo critérios da Clas-
sificação Internacional de Cefaleias (ICHD-II, 2004),
8
comorbidades, anormalidade/normalidade no exame
neurológico e número de pacientes que retornaram para
segunda consulta.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da UFS, de acordo com o processo N° CAAE -
0095.0.107.000-09.
Foram incluídos no estudo todos os pacientes que
se apresentaram com idade igual ou maior que 60 anos
e que foram atendidos no Ambulatório de Cefaléia no
período de janeiro de 2005 a janeiro de 2009.
A amostra foi não probabilística, dependente da
demanda do Ambulatório de Cefaleia da UFS.
Os dados foram organizados em banco de dados
em planilha de excel, onde foram calculados os parâ-
metros de desvio padrão e média de Idades e as porcen-
tagens dos diferentes tipos de cefaleia encontrados.
RESULTADOS
Dos 689 pacientes atendidos no ambulatório de
Cefaleia de Sergipe no período de janeiro de 2005 a
janeiro de 2009, 37 (5,37%) apresentavam idade maior
ou igual 60 anos. A média de idade desses pacientes foi
de 66,24 anos e o desvio padrão de ± 5,77.
Com relação ao sexo, observou-se maior prevalên-
cia de cefaleia em mulheres; foram 25 mulheres (67,57%)
para apenas 12 homens (32,43%).
Os principais tipos de cefaleias nos idosos atendidos
no serviço estão dispostos na Tabela 1.
As cefaleias primárias totalizaram 31 casos
(83,78%), incluindo migrânea, cefaleia tipo tensional
(CTT), cefaleia tipo tensional crônica (CTTC), cefaleia
hípnica, hemicrânia contínua, cefaleia primária desde o
início e a cefaleia numular. As cefaleias secundárias
estiveram presentes em 6 casos (16,22%), incluindo a
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cefaleia por uso excessivo de medicação analgésica, a
secundária a rinossinusite, a pós-traumática crônica e a
cefaleia da apneia do sono.
Dos 37 pacientes idosos atendidos nesse período
não foram evidenciadas alterações no exame neuro-
lógico.
Avaliando as comorbidades da população estuda-
da, encontramos os resultados mostrados na Tabela 2.
Com relação ao retorno para a segunda consulta
médica, observou-se que dos 37 pacientes idosos, 26
(70,27%) retornaram e apenas 11 (29,73) não.
DISCUSSÃO
Os idosos são parcela da população com tendência
numérica crescente e as peculiaridades das afecções que
esse grupo sofre devem ser estudadas e pesquisadas para
melhor condução clínica. Pessoas com idade acima de
60 anos costumam apresentar diversas doenças crônicas
e fazer uso de várias medicações. Estudando melhor esse
grupo populacional é possível prever o comportamento
das doenças mais prevalentes e quais as melhores con-
dutas a serem adotadas. Como a cefaleia é uma queixa
ainda comum nos idosos, seu diagnóstico e condução
adequada são essenciais.
Este estudo encontrou uma prevalência de pessoas
idosas atendidas no Ambulatório de Cefaleia do Hospital
Universitário de 5,73% (37 idosos) de um total de 689
atendimentos. A prevalência encontrada foi menor que
a observada na literatura. Santin e colaboradores
9
rela-
taram percentual de 17% de idosos atendidos e a mesma
frequência também foi encontrada por Pascual e Berci-
ano.
10
Souza e colegas
1
encontraram 21%. Já Camarda
e Monastero
11
verificaram maior proporção de atendi-
mentos para este grupo etário, de 21,8%. Bensenor e
colegas
12
encontraram 45,6% e Prencipe e colabo-
radores,
13
estudando população de idosos em área rural
da Itália, encontraram uma proporção da queixa cefaleia
em 51% do total de avaliações.
Com relação ao sexo, neste estudo encontrou-se
uma maior prevalência de cefaleia em mulheres idosas
(67,57%) em relação aos homens (32,43%). Isso
também já havia sido verificado por outros autores,
como Santin e colegas
9
que relataram 86% de mulheres.
Pascual e Berciano
10
encontraram 63% das mulheres
com cefaleia e apenas 37% dos homens. Prencipe e
colegas
13
também referem uma prevalência de cefaleia
maior entre mulheres idosas (62,1%), do que em homens
(36,6%). No estudo de Camarda e Monastero,
11
a
frequência no sexo feminino foi de 26,3%, e no sexo
masculino, de 16,5%. Essa frequência é menor, pois
refere-se à população geral e não a pessoas atendidas
em centro de referência em cefaleia, mas, mesmo assim,
observamos maior percentual de mulheres acometidas
do que homens. Essa indicação sugere, pela nossa
avaliação, que o sexo feminino parece ter uma maior
propensão a continuar apresentando cefaleia, mesmo
após a menacme.
Com relação aos tipos de dor de cabeça mais fre-
quentes observou-se que esse estudo encontrou uma
prevalência diferente da encontrada na literatura. O tipo
mais frequente foi a migrânea (45,94%, ou seja, 17
pacientes), divergindo de outros estudos onde predo-
minou a CTT.
12-14
Esses autores relatam, respectivamente,
frequência de migrânea de 10,6%, 4,6% e 11%. O
segundo tipo mais comum nessa pesquisa foi a CTT,
com 21,62%, enquanto na literatura observou-se
prevalência de 44,5%,
13
33,1%
14
e 16%.
14
Essa fre-
quência mais elevada de CTT encontrada em outros
estudos pode ser devida à transformação do quadro
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS CEFALEIAS EM PACIENTES IDOSOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE CEFALEIA DE SERGIPE
20 Headache Medicine, v.1, n.1, p.17-20, jan./fev./mar. 2010
Endereço para correspondência
DrDr
DrDr
Dr
. Alan Chester F. Alan Chester F
. Alan Chester F. Alan Chester F
. Alan Chester F
eitosaeitosa
eitosaeitosa
eitosa
Universidade Federal de Sergipe
Rua Cláudio Batista s/n – Sanatório
49060-100 – Aracaju-SE – Brasil
alanchester@uol.com
migranoso ao longo do tempo, passando a ser seme-
lhante ao de cefaleia de tensão.
Nessa pesquisa, seguindo a ICHDII/2004, observou-
se que as cefaleias primárias continuam sendo as mais
frequentes, com 31 pacientes acometidos (83,78%), pro-
porção maior que a de 59% encontrada por Souza e
colaboradores, em 2004.
1
As cefaleias secundárias foram
diagnosticadas em 6 pacientes (16,22%), enquanto Souza
e colegas relatam frequência de 41%.
1
Embora a fre-
quência de cefaleias secundárias tenha sido menor do
que a encontrada na literatura observa-se que esta con-
tinua sendo maior do que em pessoas jovens (6,5%),
como relatado anteriormente.
1
Com relação ao retorno para a segunda consulta
médica, observou-se que 70,27% dos idosos retornaram
para seguimento clínico. Resultado diferente foi observado
por Alonso
14
em pacientes atendidos em clínica particular,
onde apenas 27,8% completaram tempo satisfatório de
tratamento, (mais de um ano), e quase 50% abando-
naram o tratamento nos dois primeiros meses. Apesar
dos dados não poderem ser comparados de forma direta,
pode-se sugerir maior preocupação dos idosos com suas
cefaleias.
CONCLUSÃO
O presente estudo encontrou prevalência de
cefaleia em idosos atendidos em centro de referência
em cefaleia de Sergipe reduzida em relação à literatura;
este fato pode ser devido a uma menor procura local
desse grupo populacional pelos serviços de saúde ou
por dificuldade de acesso aos serviços locais.
Diferentemente do encontrado na literatura, o tipo de
cefaleia mais prevalente foi a migrânea, seguida pela
CTT. De forma geral essa queixa foi mais frequente no
sexo feminino. A divergência observada pode ser
atribuída às alterações no padrão dessa algia craniana
decorrentes das modificações sofridas com o
envelhecimento, levando à confusão diagnóstica
principalmente com a CTT.
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ALAN CHESTER FEITOSA DE JESUS E COLABORADORA