100 Headache Medicine, v.4, n.4, p.96-101, Oct./Nov./Dec. 2013
LEITE LC, LUCENA NC, VALENÇA MM, OLIVEIRA DA
O impacto na qualidade de vida gera custos diretos
e indiretos. Os custos diretos englobam gastos em
assistência médica, ambulatorial e medicamentosa.
(19)
Estes
dados corroboram os achados no presente estudo, pois
observou-se que a maioria dos policiais com cefaleia nos
últimos três meses [76/142 (53,5%)] fazia uso de remédio
para cefaleia e neste mesmo grupo 82/142 (57,7%) houve
maior presença de transtorno mental comum. Atualmente
sabe-se que o uso excessivo de medicações para cefaleia,
associado às alterações comportamentais e psicológicas
(ansiedade, depressão e distúrbios do sono, bem como
anormalidades nos testes de avaliação psicológica), está
associado à cronificação da cefaleia.
(20)
Os custos indiretos estão relacionados à diminuição
na produtividade do trabalho,
(19,21)
que no estudo pode
ser visto através da pouca satisfação ou insatisfação dos
policiais com o trabalho, onde 12/23 policiais que
estavam pouco satisfeitos (52,2%) atribuíram maior escore
grave(i. e. 8-10) na escala numérica da dor.
A intensidade da dor observada no grupo com
cefaleia nos últimos três meses obteve um de escore de
5,3 (±1,9), o qual pode ter ocorrido devido ao fato dos
homens apresentarem menos queixa de dor que as
mulheres. Há relato na literatura que mostra a diferença
desse escore entre gêneros. Nesse mesmo estudo, a
prevalência de condições dolorosas, especialmente a
cefaleia, foi maior e com dor mais grave nas mulheres,
que pode estar relacionada às flutuações cíclicas de
estrogênio e progesterona.
(22)
O grupo de policiais com cefaleia nos últimos três
meses obteve um resultado de maior impacto na qua-
lidade de vida dos indivíduos que apresentaram maior
escore na intensidade da dor de cabeça, coincidindo
com estudos prévios que mostram influência direta da
intensidade da dor na qualidade de vida profissional,
por gerar incapacidade nos indivíduos que a apre-
sentam.
(23,24)
É importante considerar a organização do trabalho
a que os funcionários estão submetidos, pois quando
certas situações são apresentadas como natural, existe a
desconsideração da organização do trabalho como fator
relevante na presença de sofrimento.
(25)
Existe na literatura uma demonstração de que uma
resposta psicológica à cefaleia está associada à
diminuição na qualidade de vida, independentemente
das características da dor de cabeça e de outras variáveis
demográficas e psicológicas.
(26)
Respostas do estresse são medidas por características
individuais que podem ser de natureza cognitiva,
comportamental, afetiva ou fisiológica, englobando
estados de apatia, insatisfação, fadiga e ansiedade,
podendo ainda gerar distúrbios psicossomáticos de maior
gravidade,
(5)
evidenciando que tanto a cefaleia quanto
os transtornos mentais podem coexistir no mesmo
indivíduo.
(27)
Indo de acordo com o que foi dito, no pre-
sente estudo observou-se que nos policiais com presença
de transtornos mentais comuns houve uma maior pon-
tuação na intensidade da cefaleia.
Os policiais que nunca apresentaram cefaleia na
vida também não sofriam de transtornos mentais comuns,
nem estavam insatisfeitos com o trabalho. Esse fato
poderia sugerir que esses indivíduos se adaptam com
mais facilidade a situações de estresse, como visto em
estudo anterior, o qual relata que a presença de agentes
estressores impõe exigências físicas ou psicológicas
especiais às pessoas que são capazes de executar
respostas adaptativas ao estresse.
(5,28)
De acordo com o que foi visto no presente estudo,
a presença de fatores estressantes nas atividades laborais
estão relacionadas com o prejuízo na qualidade de vida
dos policiais militares com cefaleia. Dessa forma, vale
ressaltar a importância de um acompanhamento
multidisciplinar para o tratamento, como também
trabalhos de prevenção da cefaleia para uma melhora
na promoção e proteção da qualidade de vida desses
profissionais.
CONCLUSÃO
A presença da cefaleia, nos últimos três meses, em
policiais militares do Recife, causou impacto negativo
na qualidade de vida, com maiores índices indicativo
de morbidade psiquiátrica não psicótica nestes
indivíduos.
REFERÊNCIAS
1. Queiroz LP, Peres MFP, Kowacs F, Piovesan EJ, Ciciarelli MC,
Souza JA, Zukerman E. Um estudo epidemiológico nacional da
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2. Tsuji SR, Carvalho DS. Aspectos psíquicos das cefaleias primárias.
Rev. Neurociências. 2002;10(3):129-36.
3. Lipton RB, Bigal ME. Epidemiology of migraine in Latin America:
an editorial. Headache. 2005;45:103-4.
4. Rasmussen BK. Epidemiology of headache. Cephalalgia.
2001;21:774-7.
5. Bernardi MT, Bussadori SK, Fernandes KPS, Biasotto-Gonzalez
DA. Correlação entre estresse e cefaleia tensional. Fisioter.
Mov. 2008;21(1):87-93.