Headache Medicine, v.4, n.1, p.13-19, Jan./Feb./Mar. 2013 17
matologia depressiva e encontrou presença significativa
destes sintomas em mais de 50% dos jovens estudados;
(8)
os sintomas de depressão foram rastreados pelo Beck
Depression Inventory,
(23)
que não é específico para a
população de adolescentes e não houve um grupo de
adolescentes sem cefaleia para comparação, diferente
deste artigo. Os autores não classificaram o tipo de
cefaleia primária, mas alertam para o fato de que
cefaleia crônica diária, na amostra, pode ter influenciado
no aparecimento dos sintomas depressivos, uma vez que
a presença constante da dor de cabeça pode limitar o
bem estar físico e mental do indivíduo, trazendo prejuízos
sócio-ocupacionais.
(28)
No nosso estudo não classificamos a cefaleia em CTT
episódica e crônica nem a migrânea em seus subtipos,
porém, foi observado que os pacientes migranosos (49%)
apresentavam mais sintomatologia depressiva quando
comparados aos com CTT (19,9%) e sem cefaleia (31,3%).
O maior percentual de sintomas depressivos para esse
tipo de dor de cabeça talvez possa ser explicado pelo
fato da migrânea ser considerada a causa mais comum
de cefaleia crônica na infância e adolescência e por essas
duas variáveis compartilharem as mesmas vias de
transmissão nervosa, as serotoninérgicas, envolvidas no
seu desencadeamento.
(29)
Mesmo sem ter sido encontrada associação entre
as cefaleias primárias e sintomas depressivos neste
trabalho, quando essas variáveis foram analisadas sepa-
radamente na amostra, se mostraram bem frequentes.
Neste estudo, a frequência de cefaleia ao longo da
vida (97,4%) e no último ano (93,2%) foi elevada entre
os adolescentes, sendo semelhante a outro estudo
realizado no Brasil
(2)
onde a prevalência de cefaleia
numa população de 538 adolescentes foi de 93,2% ao
longo da vida e 82,9% no último ano.
Em relação à frequência de cefaleia, observamos
que houve um percentual maior nas meninas no último
mês (77,9% vs. 55,1% dos meninos) e na última semana
(58,8% vs. 32,7% dos meninos). Esses achados corro-
boram com o estudo brasileiro acima citado,
(2)
onde foi
encontrada uma prevalência de cefaleia na última
semana (31,4%) significativa, com uma relação de duas
meninas para cada menino com dor de cabeça. Outro
estudo realizado na cidade de São Paulo
(30)
mostrou
resultados semelhantes, com relação à frequência de
cefaleia entre os gêneros [2.384/2.766 (86,2%) de meni-
nas com cefaleia vs. 1.978/2.413 (81,9%) de meninos;
p<0,001]. As diferenças hormonais ocorridas na adoles-
cência, mais acentuadas nas meninas, podem explicar
os resultados encontrados no presente trabalho e nos
outros.
(31,32)
Com relação ao tipo de cefaleia, a maior frequência
na amostra estudada foi de migranosos (57/117,
48,7%), diferente dos achados no estudo realizado no
sul do Brasil,
(3)
onde, tomando como referência a queixa
de cefaleia na última semana, encontrou-se uma preva-
lência de CTT de 25,6% (138/538) em comparação com
a de 5,7% de migrânea (31/538). De acordo com o
autor, apesar de a migrânea ser menos frequente que a
CTT, esta apresenta uma acentuada variação nas taxas
de prevalência entre crianças e adolescentes, sendo tal
fato justificado pela falta da padronização dos critérios
diagnósticos para o rastreamento das populações
estudadas.
A maior frequência de migranosos nesse estudo pode
estar relacionada aos critérios utilizados para classificar
os tipos de cefaleia na amostra, considerando-se
adolescentes que preenchiam os critérios tanto para
migrânea quanto para CTT como migranosos. Foi
observado, durante as entrevistas, que os adolescentes
apresentavam certa dificuldade para caracterizar a dor
e seus sintomas associados. Similarmente ao nosso
achado, uma pesquisa
(26)
observou que crianças com CTT
episódica frequente referem características de dor
semelhante aos migranosos, o que pode servir de fator
de confusão para análise dos dados.
O uso do diário de cefaleia ajudaria a reduzir
possíveis vieses nos resultados, permitindo um acom-
panhamento mais fidedigno das crises, com o registro
das características destas pelo adolescente no momento
em que ocorrem.
A presença de sintomatologia depressiva no presente
trabalho foi de 82,1%, sendo maior no sexo feminino,
onde as meninas representavam 67,7% e os meninos
32,3% deste grupo (média dos escores: meninas
23,50±3,3 e meninos 19,71±7,6; p=0,003). De modo
semelhante, um estudo paranaense utilizando o CDI em
463 adolescentes, encontrou uma média maior dos
escores de sintomas depressivos em meninas
(14,2±10,19 meninas e 5,5 ± 4,33 meninos) e adotan-
do o mesmo ponto de corte que o nosso, observou que
dos jovens que apresentavam sintomas indicativos de
depressão, 72,3% eram meninas e 27,7% eram
meninos.
(12)
Um estudo afirma que no início da puberdade é
comum haver um aumento da frequência dos sintomas
de depressão nas meninas, quando relacionadas aos
meninos, tendo vista todas as alterações hormonais
SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA EM ADOLESCENTES COM CEFALEIA PRIMÁRIA