Headache Medicine, v.3, n.4, p.181-187, Oct./Nov./Dec. 2012 181
Revisão dos principais fatores de risco para
cronificação da enxaqueca
Review of major risk factors for chronic migraine
VIEW AND REVIEWVIEW AND REVIEW
VIEW AND REVIEWVIEW AND REVIEW
VIEW AND REVIEW
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
A enxaqueca é uma doença crônica com manifestações
episódicas que pode progredir num determinado grupo de
pacientes para uma forma mais frequente (15 ou mais dias
ao mês) e incapacitante. Esse processo ocorre com uma taxa
de cerca de 3% ao ano e denominamos de enxaqueca crônica.
Os fatores de risco que levam a este processo de transformação
de uma enxaqueca episódica em crônica é um assunto
importante no tratamento destes doentes. Nós realizamos uma
revisão sistemática através da United States National Library
of Medicine (PUBMED) usando os termos "chronic migraine"
e selecionamos dentre aqueles que eram pertinentes ao estudo
dos fatores de risco para ocorrência da enxaqueca crônica.
PP
PP
P
alavrasalavras
alavrasalavras
alavras
--
--
-
chavechave
chavechave
chave: Enxaqueca crônica; Fatores de risco
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
Migraine is a chronic disease with episodic manifestations
that can progress in a particular group of patients to a more
frequent (15 or more days per month) and disabling form.
This process occurs at a rate of about 3% per year and is
called chronic migraine.The risk factors that lead to this process
of transformation of episodic migraine into a chronic illness is
an important issue in such patients. We performed a systematic
review by the United States National Library of Medicine
(PUBMED) using the terms "chronic migraine" and selected
from among those that were pertinent to the study of risk factors
for the occurrence of chronic migraine.
Keywords:Keywords:
Keywords:Keywords:
Keywords: Chronic migraine; Risk factors
INTRODUÇÃO
A cefaleia crônica diária (CCD) é um termo que des-
creve diferentes diagnósticos, que têm em comum a alta
frequência das crises de dor de cabeça independente-
mente de sua intensidade, ocorrendo 15 ou mais dias
por mês. Em estudos populacionais, a prevalência da
CCD é de cerca de 3% a 4%
(1,2)
e sua incidência em
cerca de 3/100 indivíduos/ano.
(3)
Os tipos primários de CCD podem ser divididos
naqueles com longa duração, cujas crises duram mais
de quatro horas, que incluem a enxaqueca crônica,
cefaleia tensional crônica, nova cefaleia persistente diária
de início súbito e a hemicrânia contínua. A CCD de curta
duração (duração inferior a quatro horas) inclui cefaleia
em salvas crônica, hemicrânia paroxística crônica, cefaleia
em facada idiopática, cefaleia hípnica, e a cefaleia
neuralgiforme de curta duração com injeção conjuntival
e lacrimejamento (SUNCT).
(4)
A maioria dos pacientes com CCD tem sido diag-
nosticada como enxaqueca crônica ou cefaleia tensional
crônica.
A enxaqueca é uma doença crônica com mani-
festações episódicas que progride em alguns pacientes.
Como não evolui na maioria dos pacientes, a identi-
ficação de fatores de risco que possam levar à trans-
formação de um quadro episódico (menos de 15 crises
ao mês) para um quadro crônico (15 ou mais crises ao
mês) passa ser um importante assunto para a prevenção
de um quadro tão debilitante.
(5,6)
Carlos Alberto da Silva de Jesus
Mario Fernando Prieto Peres
1
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp – São Paulo, SP, Brasil
Jesus CAS, Peres MFP. Review of major risk factors for chronic migraine.
Headache Medicine. 2012;3(4):181-7
182 Headache Medicine, v.3, n.4, p. 181-187, Oct./Nov./Dec. 2012
JESUS CAS, PERES MFP
O processo de cronificação especifica o aumento
da frequência das crises, fato este que pode ser consi-
derado empírico, usando-se como corte o número de
15 dias ou mais ao mês. Mais importante seria compre-
endermos os processos fisiopatológicos envolvidos neste
processo.
Podemos entender o processo de cronificação de
três maneiras complementares: a transformação clínica,
fisiológica e anatômica
(7)
(Figura 1).
a remissão espontânea para um padrão de alta ou baixa
frequência de cefaleia episódica (menos de 180 dias ao
ano) foi observada em 57%, e menos de uma crise por
semana em 14% dos pacientes portadores de cefaleia
crônica.
Katsavara et al.,
(13)
por sua vez, encontraram uma
taxa de conversão de enxaqueca episódica em cefaleia
crônica diária mais alta, de cerca de 14%.
A prevalência da enxaqueca crônica (referida ante-
riormente como enxaqueca transformada) na população,
com ou sem uso abusivo de medicação, é aproximada-
mente de 1%-2%.
(14)
A cronificação da enxaqueca é caracterizada pelo
aumento progressivo da frequência e duração da
cefaleia, frequentemente associada a redução da intensi-
dade e sintomas acompanhantes.
(15)
A fisiopatologia da dor na cefaleia crônica diária
primária ainda é desconhecida e pode depender de
vários mecanismos biológicos: (a) excitação anormal das
fibras periféricas aferentes nociceptivas (talvez pela
inflamação neurogênica repetitiva); (b) responsividade
aumentada núcleo caudal do trigêmeo e dos neurônios
da coluna dorsal (sensibilização central); (c) modulação
alterada do controle da dor central; (d) dor espontânea
central devido à ativação das células no bulbo; (e) uma
combinação destes fatores.
(16)
Observações clínicas indicam que as cefaleias crô-
nicas estão associadas com uma hiperalgesia persistente
e alodínia.
(17)
Estímulos nociceptivos prolongados pode-
riam não apenas iniciar a sensibilização dos circuitos
centrais da dor, mas também poderiam causar uma
neuroplasticidade nestes circuitos levando à transfor-
mação da cefaleia episódica em crônica.
(18,19)
A frequência da cefaleia é um fator de risco impor-
tante para a transformação de uma cefaleia episódica
em crônica,
(12)
sendo que uma frequência basal de
quatro a cinco dias de cefaleia por mês foi identificada
como o limiar para um aumento do risco de transfor-
mação para formas crônicas de cefaleia incluindo a
enxaqueca crônica.
(20)
A substância cinzenta periaquedutal, que constitui o
centro de um circuito neuronal antinoceptivo descendente,
apresenta uma deterioração progressiva na homeostase
do ferro tanto na enxaqueca episódica quanto na CCD,
possivelmente causada por crises repetidas de enxa-
queca, o que sugere o papel da substância cinzenta peri-
aquedutal como possível gerador da crises de enxaqueca,
potencialmente pelo controle disfuncional do sistema
nociceptivo trigeminovascular.
(21)
Figura 1. Podemos entender o processo de cronificação de três
maneiras complementares: a transformação clínica, fisiológica e
anatômica.
A transformação clínica, como já foi citado, refere-
se ao aumento da frequência das crises. Sua incidência
é menos estudada do que a prevalência da enxaqueca
crônica. Vale a pena ressaltar as diversas denominações
que já foram utilizados para discriminar uma mesma
situação, como cefaleia crônica diária, enxaqueca trans-
formada e enxaqueca crônica, o que evidentemente pode
levar a um viés nos estudos epidemiológicos. Isso ocorreu,
pois a definição dos vários termos não ocorreu de
maneira sistemática ao decorrer das diversas classifi-
cações da International Headache Society,
(8-10)
assim
como das propostas paralelas sugeridas.
(11)
Scher et al.
(12)
mostraram que, durante um ano,
portadores de cefaleias episódicas de baixa frequência
(2-104 dias por ano) apresentam um risco anual de 6%
para progredir para um padrão de episódico de alta
frequência (105-179 dias por ano) e um risco de 3%
para desenvolverem uma condição crônica (180 ou mais
dias de cefaleia ao ano); portanto, a incidência da
cefaleia crônica seria ao redor de 3%. No mesmo estudo,
SCP: Substância cinzenta periaquedutal
Headache Medicine, v.3, n.4, p.181-187, Oct./Nov./Dec. 2012 183
Uma das explicações para o acúmulo de ferro na
substância cinzenta periaquedutal, uma estrutura que
normalmente mostra uma alta atividade metabólica e
uma alta circulação de ferro, é que a hiperóxia repetitiva
poderia resultar em lesão celular mediada por radicais
livres, o que predisporia a uma sensibilização central,
que poderia explicar a cefaleia prolongada da enxa-
queca e a mudança do fenótipo da enxaqueca episó-
dica em crônica.
(22)
Haas
(23)
descreveu um caso de um paciente de 16
anos, sem antecedentes de cefaleia, portador de escle-
rose múltipla, em que uma placa desmielinizante na
substância cinzenta periaquedutal causou uma intensa
cefaleia tipo enxaqueca.
No entanto, devemos entender a transformação da
enxaqueca como um processo altamente dinâmico,
sendo que, da mesma forma como existe a cronificação
da enxaqueca, também temos sua remissão no mesmo
paciente.
(24)
O melhor conceito temporal da enxaqueca é que
se trata de uma desordem neurológica crônica caracte-
rizada por episódios recorrentes de cefaleia e sintomas
associados (náuseas, fotofobia, fonofobia, entre outros)
que duram em média de 4 a 72 horas, que, num deter-
minado grupo, pode ocorrer a progressão da cefaleia,
numa condição mais incapacitante.
(5)
Um subgrupo de pacientes que apresentam a
característica de cefaleia diária ou quase diária (dentre
estes a enxaqueca crônica como a mais frequente) tem
um quadro muito incapacitante, com uma diminuição
da qualidade de vida, além de um maior custo finan-
ceiro, levando-se em consideração o valor das medica-
ções e o absenteísmo ou diminuição da qualidade no
trabalho.
O estudo de fatores de risco que levam a um au-
mento da frequência das crises é de suma importância
para atenuarmos uma doença que, mesmo episódica,
já traz grande transtorno para os pacientes.
Em outras doenças crônicas também são estudadas
os fatores de risco para sua piora. Por exemplo, no
diabetes mellitus, o controle do peso, uma dieta espe-
cífica, a realização de exercícios contribuem para uma
evolução melhor. Nos pacientes com epilepsia, o controle
do estresse, evitar a privação do sono são recomenações
rotineiras, e assim por diante podemos enumerar uma
centena de doenças, onde não apenas a prescrição de
uma medicação é a única ferramenta de tratamento.
As comorbidades desempenham um papel impor-
tante neste processo de cefaleia diária ou quase diária.
O conceito de comorbidade é utilizado para se referir à
associação de duas condições que ocorram simultanea-
mente no mesmo indivíduo com uma probabilidade
maior do que o acaso.
(24)
Pacientes com enxaqueca apresentam várias comor-
bidades, as quais podem influenciar a escolha do trata-
mento preventivo. Condições tais como depressão, distúr-
bios do sono, ansiedade, depressão, hipertensão arterial
e obesidade podem aumentar a frequência da cefaleia
e a percepção da dor. Portanto, a identificação e apro-
priado tratamento de todas as condições clinicas comór-
bidas significativas é essencial antes de declarar o paci-
entes com enxaqueca crônica intratável.
(25)
Os fatores de risco podem ser subdividos em modi-
ficáveis e não modificáveis (Tabela 1).
Dentre os fatores de risco não facilmente modificáveis
temos a idade, baixo nível educacional/socioeconômico
e antecedente de trauma de crânio. Dentre os fatores de
risco modificáveis temos a frequência das crises, a obe-
sidade, o uso excessivo de medicações, eventos estres-
santes, uso excessivo de cafeína e o ronco.
(26)
A frequência das crises é um fator de risco importante,
sendo que Sher et al.
(12)
verificaram, num estudo popu-
lacional, que aqueles pacientes que apresentavam mais
do que quatro crises ao mês tinham um risco maior de
cronificação. O risco de cronificação da enxaqueca foi
seis vezes maior naqueles pacientes que tinham frequência
basal de seis a nove dias de cefaleia ao mês, e vinte
vezes maior naqueles que tinham frequência de dez a
14 dias ao mês, num estudo que incluiu 532 pacientes
comparado-os com aqueles com baixa frequência (0 a
4 dias ao mês).
(13)
A explicação fisiopatológica que envolve a frequên-
cia das crises na cronificação da enxaqueca refere-se
REVISÃO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA CRONIFICAÇÃO DA ENXAQUECA
184 Headache Medicine, v.3, n.4, p. 181-187, Oct./Nov./Dec. 2012
JESUS CAS, PERES MFP
ao processo de sensibilização central. As crises sucessivas
modificam a matrix dos centros modulatórios inibitórios
da dor, o que favorece o aumento das crises até a sua
cronificação.
Nicole Schmitz et al.
(27)
estudaram a frequência e
duração da enxaqueca como indicadores de dano
cerebral.
Infartos cerebrais subclínicos na circulação posterior
e lesões difusas na substância branca são mais evidentes
com o aumento da frequência da enxaqueca. Esta asso-
ciação com a frequência da enxaqueca aumenta a
possibilidade de que os achados de ressonância mag-
nética possam refletir insultos cerebrais cumulativos
devido a crises repetidas. Caso esta interpretação seja
correta, a enxaqueca poderá causar um dano cerebral
progressivo.
(28)
Portanto, as medicações profiláticas têm um papel
teórico importante em evitar o processo de sensibilização
central. Neste sentido vale ressaltar que temos uma
pequena porcentagem de pacientes que se utilizam do
tratamento medicamentoso profilático. Num estudo que
envolveu mais de 162.000 pacientes, apenas 13%
daqueles que poderiam se beneficiar de uma terapia
profilática faziam uso deste tratamento.
(29)
O uso abusivo de medicações é outro fator de risco
muito discutido na literatura como causa da cronificação
da enxaqueca.
(5,6,29-32)
Porém existe ainda um impasse
se o uso excessivo de medicações seria um fator causador
ou uma consequência do aumento da frequência das
crises.
(33)
Do ponto de vista farmacológico não é claro se
episódios repetitivos de curtas abstinências diárias ou um
efeito pró-nociceptivo dos analgésicos é o responsável
pela cefaleia induzida por analgésicos. Foi provado que
o fenômeno da tolerância à analgesia ao opioide pode
induzir a dor paradoxal, portanto muitos pacientes porta-
dores de cefaleia frequente poderiam apresentar um
efeito analgésico diminuído e exibir um aumento no con-
sumo de analgésicos.
(34)
Uma prevalência significativamente maior de trans-
torno depressivo maior, transtorno do pânico, fobia social
e uso de outras substâncias foram encontrados em
pacientes com história de cefaleia crônica por uso abusivo
de medicação.
(35)
A disfunção da substância cinzenta periaquedutal,
que é o centro de um sistema antinoceptivo central, pode
explicar porque o uso frequente de analgésico pode resul-
tar na cefaleia por uso excessivo de medicação em enxa-
quecosos.
(36)
O excesso de peso é outro fator de risco modificável
atribuído à transformação da enxaqueca episódica em
crônica. Vale ressaltar que o mesmo não ocorreu na
cefaleia tensional crônica.
(37)
Winter et al., num estudo que englobou 63.467
participantes do sexo feminino com idade igual ou
superior a 45 anos, das quais 12.613 (19,9%) relataram
história de enxaqueca, encontraram que o índice de
massa corpórea (IMC) não estava relacionado com a
ocorrência da enxaqueca, porém havia uma asssociação
entre o IMC e a sua frequência.
(38)
Muitos dos mediadores inflamatórios que estão
presentes nos pacientes obesos são importantes na
fisiopatologia da enxaqueca, incluindo interleucinas e o
peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, assim como
ambas as entidades são estados pró-trombóticos.
(39)
A disfunção hipotalâmica no circuito da orexinas e
da serotonina parece ser um fator de risco para as duas
condições.
(39,40)
A adiponectina e a leptina são duas adipocito-
cinas que têm um papel central e periférico na regula-
ção da alimentação e também estão alteradas na enxa-
queca.
(40-43)
Apesar disso pouco se sabe sobre a influência do
controle do peso como tratamento preventivo na melhora
da enxaqueca.
Bigal et al.
(44)
não conseguiram confirmar em um
estudo que os enxaquecosos obesos eram mais refratários
ao tratamento preventivo que os não obesos.
O estresse é um fator de piora ligado a várias enti-
dades nosológicas e pode estar relacionado à transfor-
mação da enxaqueca episódica em crônica.
(45-47)
Um estudo onde participaram 5.766 indivíduos de
uma amostra populacional, aqueles com idade inferior
a 50 anos com pelo menos uma crise de migrânea ao
mês apresentavam mais eventos estressantes.
(48)
D'Amico et al.
(49)
estudaram o estresse como fator
transformador na cronificação de uma cefaleia episódica,
avaliando 267 pacientes italianos com cefaleia crônica
e destes, 44,8% relacionaram um evento estressante com
o processo de transformação.
Vários estudos sugerem que existe uma correlação
entre os eventos estressantes da vida e a ocorrência de
cefaleia, que ocorreria principalmente em jovens e poderia
ser evidente apenas em grandes amostras.
(50)
Houle e Nash
(51)
descreveram os possíveis mecanis-
mos pelos quais o estresse influenciaria a cefaleia. A
exposição ao estresse influenciaria na iniciação do ataque
agudo de cefaleia. O medo associado ao estresse levaria
Headache Medicine, v.3, n.4, p.181-187, Oct./Nov./Dec. 2012 185
a uma inabilidade de controlar a dor, levando a um uso
excessivo de medicações, o que pioraria a cefaleia e
poderia influenciar em outras comorbidades relacio-
nados à cronificação, como distúrbios do sono, obesi-
dade e psicopatias.
O estresse que iniciamente poderia ter um efeito
analgésico, em longo prazo levaria a uma sensibilização
central, exaurindo o sistema de controle central da dor.
(51,52)
A experiência da cefaleia levaria a um aumento do
estresse, não apenas pela dor em si, mas também pelas
limitações e perdas associadas, como atividades recre-
ativas e profissionais.
(53)
As comorbidades psiquiátricas também têm sido
implicadas como um potencial fator de risco para a croni-
ficação da enxaqueca. Dentre estas, a depressão e a
ansiedade, fisiopatologicamente explicadas pela disfun-
ção do sistema serotoninérgico, uso excessivo de medi-
cações e fatores psicológicos, estando associados com
um prognóstico de tratamento pior.
(54)
A associação entre a enxaqueca e doenças psiqui-
átricas tem sido observada tanto em estudos clínicos
quanto populacionais.
(55)
A prevalência de doenças
psiquiátricas é maior em pacientes com CCD do que
outras formas de cefaleia, ocorrendo de 64% a 66,1%
até 90%. A maioria destas psicopatias foram ansiedade
e transtorno de humor.
(56)
Os transtornos de ansiedade ocorrem duas vezes
mais frequentemente em pacientes com enxaqueca.
(57)
Dentre os transtornos mais relacionados temos o trans-
torno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada,
transtorno obsessivo compulsivo e fobias e são mais
prevalentes nos casos de enxaqueca crônica.
(54)
Karakurum et al.
(58)
estudaram a depressão, ansie-
dade e transtornos de personalidade como fatores de
risco para a enxaqueca crônica.Verificaram que 74% dos
pacientes com enxaqueca crônica e 26% dos pacientes
com a forma episódica tinham depressão e 80% dos
pacientes com enxaqueca crônica e 36% dos pacientes
com a forma episódica tinham ansiedade. Traços de
personalidade como histeria, hipocondria, psicastenia,
depressão e fobia social estavam associados a enxa-
queca crônica.
Uma possível explicação para a comorbidade
entre a enxaqueca e os transtornos de ansiedade rela-
ciona-se à disfunção comum do sistema serotoninér-
gico. Níveis diminuídos da serotonina plasmática entre
as crises de enxaqueca e o aumento da serotonina
durante as crises foram observados com relativa con-
sistência.
(58,59)
Os distúrbios do sono são outro fator de risco que
está associado ao aumento da frequência e intensidade
das crises,
(47)
sendo que estão mais presentes nas cefaleias
crônicas do que as episódicas, sendo um fator de pior
prognóstico pelo menos nas cefaleias tensionais.
(60)
Pacientes com cefaleias crônicas apresentam várias
queixas de distúrbios do sono. A prevalência de insônia,
sonolência excessiva diurna e roncos associados a apneia
do sono foi significativamente maior em pacientes com
cefaleia crônica do que em cefaleias episódicas, sendo
que a insônia foi um fator de risco independente para
cronificação da cefaleia. Pacientes com cefaleia crônica
também relataram uso maior de drogas hipnóticas do
que pacientes com cefaleia episódica.
(61)
Os traumas de crânio e pescoço também têm sido
associados com uma maior frequência de cefaleia.
Couch et al.,
(62)
através de estudo populacional,
verificaram que o número de episódios de trauma, e
não a sua gravidade, estavam associados a maior risco
para cronificação da cefaleia e, portanto, que os
clínicos que atendiam pacientes com CCD deveriam
estar atentos a este antecedente.
Deste modo, como já foi referido anteriormente, o
estudo de novos fatores de risco para cronificação da
enxaqueca são de suma importância para prevenirmos
sua ocorrência que, por sua vez, diminui ainda mais a
qualidade de vida dos pacientes que, mesmo na forma
episódica, já ocupa lugar entre as vinte doenças mais
incapacitantes, segundo a Organização Mundial de
Saúde.
REFERÊNCIAS
1. Rasmussen BK. Epidemiology of headaches. Cephalalgia.1995;
15(1):45-68.
2. Pascual J, Colas R, Castillo J. Epidemiology of chronic daily
headache. Curr Pain headache Rep. 2001; 5(6):529-36.
3. Sher AI, Stewart WF, Ricci JA, Lipton RB. Chronic daily headache,
including transformed migraine, chronic tension-type headache,
and medication overuse. In Wolff´s Headache and Other Head
Pain, edn 8. Edited by Silberstein SD, Lipton RB, Dodick DW.
New York: Oxford University Press; 2008:315-377.
4. Midgette LA, Scher AI. The epidemiology of chronic daily headache.
Curr Pain Headache Rep. 2009; 3(1):59-63.
5. Lipton RB, Bigal ME. Migraine: Epidemiology, impact, and risk
factors for progression. Headache. 2005;45(suppl 1):S3-S13.
6. Bigal ME, Lipton RB. Modifiable risk factor for migraine progression
(or for chronic daily headaches) - clinical lessons. Headache.
2006; 46(suppl 3): S144-S146.
7. Bigal ME, Lipton RB.Clinical course in migraine - Conceptualizing
migraine transformation. Neurology. 2008;71(11):848-55.
REVISÃO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA CRONIFICAÇÃO DA ENXAQUECA
186 Headache Medicine, v.3, n.4, p. 181-187, Oct./Nov./Dec. 2012
JESUS CAS, PERES MFP
8. Classification and diagnostic criteria for headache disorders,
cranial neuralgias and facial pain. Headache Classification
Committe of the International Headache Society. Cephalalgia.
1988;8(suppl 7): 1-98.
9. The International Classification of Headache Disorders: 2nd
Edition. Headache Classification Subcommittee of the
International Headache Society. Cephalalgia. 2004;24 (suppl
1): 9-160.
10. Headache Classification Committee, Olesen J, Bousser MG,
Diener HC, Dodick D, First M, Goadsby PJ, Göbel H, Lainez
MJ, Lance JW, Lipton RB, Nappi G, Sakai F, Schoenen J,
Silberstein SD, Steiner TJ. New appendix criteria open for a
broader concept of chronic migraine. Cephalalgia. 2006;
26(6):742-6. Comment in: Cephalalgia. 2007;27(5): 469;
author reply 469-70.
11. Silberstein SD, Lipton RB, Sliwinski M.Classification of daily
and near-daily headaches: field trial of revised IHS criteria.
Neurology. 1996;47(4):871-5. Comment in: Neurology.
1997;49(2):638-9.
12. Scher AI, Stewart WF, Ricci JA, Lipton RB. Factors associated with
the onset and remission of chronic daily headache in a
population-based study. Pain. 2003;106(1-2):81-9.
13. Katsarava Z, Schneeweiss S, Kurth T, Kroener U, Fritsche G,
Eikermann A, et al. Incidence and predictors for chronicity of
headache in patients with episodic migraine. Neurology. 2004;
62(5):788-90.
14. Scher AI, Stewart WF, Liberman J, Lipton RB. Prevalence of frequent
headache in a population sample. Headache. 1998; 38(7):497-
506. Comment in: Headache. 1999;39(1):58.
15. De Simone R, Ranieri A, Fiorillo C, Bilo L, Bonavita V. Is idiopathic
intracranial hypertension without papilledema a risk factor for
migraine progression? Neurol Sci. 2010; 31(4):411-5.
16. Moschiano F, D'Amico D, Schieroni F, Bussone G. Neurobiology
of chronic migraine. Neurol Sci. 2003; 24(Suppl 2):S94-6
17. Kitaj MB, Klink M. Pain thresholds in daily transformed migraine
versus episodic migraine headache patients. Headache. 2005;
45(8):992-8.
18. Welch KMA, Goadsby PJ. Chronic daily headache. Curr Opinion
Neurol. 2002;115(3):287-95.
19. Lovati C, D'Amico D, Rosa S, Suardelli M, Mailland E, Bertora P,
et al. Allodynia in different forms of migraine. Neurol Sci.
2007;28(Suppl 2):S220-1.
20. Limmroth V, Biondi D, Pfeil J, Schwalen S. Topiramate in patients
with episodic migraine: reducing the risk for chronic forms of
headache. Headache. 2007;47(1):13-21.
21. Welch KMA, Nagesh V, Aurora SK, Gelman N. Periaqueductal
gray matter dysfunction in migraine: cause or the burden of
illness? Headache. 2001;41(7):629-37.
22. Welch KMA. Contemporary concepts of migraine pathogenesis.
Neurology. 2003; 61(8 Suppl 4):S2-8.
23. Haas DC, Kent PF, Friedman DI. Headache caused by a single
lesion of multiple sclerosis in the periaqueductal area.
Headache.1993; 33(8):452-5.
24. Lipton RB, Silberstein SD. Why study the comorbity of migraine?
Neurology. 1994;44(10 Suppl 7):S4-5
25. D'Amico D,Leone M,Grazzi L,Bussone G. When should "chronic
migraine" patients be considered "refractory" to pharmacological
prophylaxis? Neurol Sci. 2008;29(Suppl 1):S55-8.
26. Lipton RB, Bigal ME.Looking to the future: research designs for
study of headache disease progression. Headache. 2008;48
(1):58-66.
27. Schmitz N, Admiraal-Behloul F, Arkink EB, Kruit MC, Schoonman
GG, Ferrari MD, et al. Attack frquency and disease duration as
indicators for brain damage in migraine. Headache. 2008;
48(7):1044-55.
28. Lipton RB, Pan J. Is migraine a progressive brain disease?
JAMA. 2004;291(4):493-4. Comment in: JAMA. 2004; 291
(4):427-34.
29. Lipton RB, Bigal ME, Diamond M, Freitag F, Reed ML, Stewart
WF; AMPP Advisory Group. Migraine prevalence, disease
burden, and the need for preventive therapy. Neurology. 2007;
68(5):343-9.
30. Mathew NT, Stubits E, Nigam MP. Transformation of episodic
migraine into daily headache: analysis of factors. Headache.
1982; 22(2):66-8.
31. Bigal ME, Lipton RB. Overuse of acute migraine medications
and migraine chronification. Curr Pain headache Rep. 2009;
13(4):301-7.
32. Bigal ME, Sheftell FD, Rapoport AM, Tepper SJ, Lipton RB. Chronic
daily headache: identification of factors associated with induction
and transformation. Headache. 2002;42(7):575-81.
33. Tepper SJ. Analgesic overuse is a cause, not consequence, of
chronic daily headache. Headache. 2002;42(6):543-54.
34. Cevoli S, Sancisi E, Pierangeli G, Grimaldi D, Zanigni S, Nico-
demo M, et al. Chronic daily headache: risk factors and
pathogenetic considerations. Neurol Sci. 2006;27(Suppl 2):
S168-73.
35. Radat F, Creac'h C, Swendsen JD, Lafittau M, Irachabal S,
Dousset V, et al. Psychiatric comorbity in the evolution from
migraine to medication overuse headache. Cephalalgia. 2005;
25(7):519-22.
36. Boes CJ, Black MD, Dodick DW. Pathophysiology and
management of transformed migraine and medication overuse
headache. Semin Neurol. 2006;26(2):232-41.
37. Bigal ME, Lipton RB. Obesity is a risk factor for transformed
migraine but not chronic tension-type headache. Neurology.
2006;67(2):252-7.
38. Winter AC, Berger K, Buring JE, Kurth T. Body mass index,
migraine, migraine frequency and migraine features in women.
Cephalagia. 2008;29(2):269-78.
39. Bigal ME, Lipton RB. Putative mechanisms of the relationship
between obesity and migraine progression. Curr Pain Headache
Rep. 2008;12(3):207-12.
40. Peterlin BL, Rapoport AM, Kurth T. Migraine and obesity:
epidemiology, mechanisms, and implications. Headache. 2010;
50(4):631-48. Comment in: Headache. 2010; 50(4):649.
41. Peterlin BL, Alexander G, Tabby D, Reichenberger E.
Oligomerization state-dependent elevations of adiponectin in
chronic daily headache. Neurology. 2008;70(20):1905-11.
42. Berilgen MS, Bulut S, Gonen M, Tekatas A, Dag E, Mungen B.
Comparison of the effects of amitripyline and flunarizine on
weight gain and serum leptin, C peptide and insulin levels when
Headache Medicine, v.3, n.4, p.181-187, Oct./Nov./Dec. 2012 187
used as migraine preventive treatment. Cephalalgia. 2005;
25(11):1048-53.
43. Guldiken B, Guldiken S, Demir M, Turgut N, Tugrul A. Low leptin
levels in migraine: A case control study. Headache. 2008;
48(7):1103-7.
44. Bigal ME, Gironda M, Tepper SJ, Feleppa M, Rapoport AM,
Sheftell FD, et al. Headache prevention outcome and body mass
index. Cephalalgia. 2005;26(4):445-50.
45. Penzien DB, Rains JC, Lipton RB. Introduction to the special series
on the chronification of headache: Mechanisms, risk factors, and
behavioral strategies aimed at primary and secondary prevention
of chronic headache. Headache. 2008; 48:5-6.
46. Bigal ME, Lipton RB. Concepts and mechanisms of migraine
chronification. Headache. 2008;48(1):7-15.
47. Scher A, Midgette L, Lipton R. Risk factors for headache
chronification. Headache. 2008;48(1):16-25.
48. Passchier J, Schouten J, van der Donk J, van Romunde LK. The
association of frequent headaches with personality and life
events. Headache.1991;31(2):116-21.
49. D'Amico D, Libro G, Prudenzano MP, et al. Stress and chronic
headache. J Headache Pain.2000; 1(Suppl):S49–S52.
50. Reynolds DJ, Hovanitz CA. Life event strees and headache
frequency revisited. Headache. 2000;40(2):111-8.
51. Houle T, Nash JM. Stress and headache chronification. Headache.
2008;48(1):40-4.
52. Fanciullacci M, De Cesaris F. Preventing chronicity of migraine.
J Headache Pain.2005; 6(4):331-3.
53. Nash JM, Thebarge RW. Understanding psychological stress, its
biological processes, and impact on primary headache.
Headache. 2006;46(9):1377-86.
54. Smitherman TA, Rains JC, Penzien DB. Psychiatric comorbidities
and migraine chronification. Curr Pain Headache Rep. 2009;
13(4):326-31.
55. Wang SJ, Juang KD. Psychiatric comorbidity of chronic daily
headache: impact, treatment, outcome, and future studies. Curr
Pain Headache Rep. 2002;6(6):505-10.
56. Guidetti V, Galli F. Psychiatric comorbidity of chronic daily
headache: pathophysiology, etiology, and diagnosis. Curr Pain
Headache Rep. 2002;6(6):492-7.
57. Breslau N. Psychiatric comorbidity in migraine. Cephalalgia.
1998;18(Suppl 22):56-8; discussion 58-61.
58. Karakurum B, Soylu O, Karatas, M, Giray S, Tan M, Arlier Z, et
al. Personality, depression, and anxiety as risk factors for chronic
migraine. Intern J Neuroscience. 2004;114(11):1391-9.
59. Ferrari MD, Saxena PR. On serotonin and migraine: a clinical
and pharmacological review. Cephalalgia.1993;13(3):151-65.
60. Rains JC. Chronic headache and potentially modifiable risk
factors: screening and behavioral management of sleep
disorders. Headache. 2008;48(1):32-9.
61. Sancisi E, Cevoli S, Vignatelli L, Nicodemo M, Pierangeli G,
Zanigni S, et al. Increased prevalence of sleep disorders in
chronic headache: a case-control study. Headache. 2010;50
(9):1464-72.
62. Couch JR, Lipton RB, Stewart WF, Scher AI. Head or neck injury
increases the risk of chronic daily headache: a population-based
study. Neurology. 2007;69(11):1169-77.
Correspondência
Mario FMario F
Mario FMario F
Mario F
ernando Pernando P
ernando Pernando P
ernando P
rieto Prieto P
rieto Prieto P
rieto P
ereseres
ereseres
eres
R Joaquim Eugenio de Lima, 881 cj 708
01403-001 – São Paulo, SP
Submetido: 15/09/2012
Aceito: 05/11/2012
REVISÃO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA CRONIFICAÇÃO DA ENXAQUECA