Headache Medicine, v.3, n.1, p.36-40, Jan./Feb./Mar. 2012 39
diminuição do ângulo crânio-vertebral nos adultos com
cefaleia quando comparados aos indivíduos saudáveis.
O ângulo manúbrio-esternal é outra forma de avaliar
a anteriorização cervical. Em nosso estudo, adolescentes
com CTT não apresentaram maior ângulo (97,6° ± 1,7°)
em relação ao grupo sem cefaleia (96,6° ± 1,9°). Um
estudo realizado em crianças com bruxismo mostrou
aumento do ângulo manúbrio-esternal quando compa-
rado aos controles sem bruxismo.
(22)
Nos adolescentes migranosos, a mensuração do
ângulo crânio-vertebral não mostrou uma posição
anteriorizada da cabeça em relação ao grupo sem
cefaleia. Resultado semelhante foi encontrado em outro
estudo, onde os autores também não encontraram
diferença significante em anteriorização da cabeça
entre adultos migranosos e os indivíduos saudáveis.
(25)
Todavia, outros estudos mostram maior anteriorização
da cabeça em adultos migranosos, ou seja, menor
ângulo crânio-vertebral, quando comparados ao
grupo controle.
(19,24,26)
Quando avaliados pelo ângulo manúbrio-esternal,
os adolescentes migranosos mostraram maior anterio-
rização da cabeça, quando comparados aos controles
saudáveis a aos adolescentes com CTT, embora sem di-
ferença estatística.
Nosso estudo apresenta algumas limitações. Pri-
meiro, o tamanho da amostra. É necessário repetir o es-
tudo com um número maior de adolescente para esta-
belecer com mais precisão a relação entre anteriorização
cervical e cefaleia. É interessante realizar uma avaliação
da amplitude de movimento articular da coluna cervical,
bem como a presença de Trigger Points nos músculos da
região da cabeça e do pescoço.
A estática da coluna cervical depende do equilíbrio
entre a musculatura extensora e flexora do pescoço; dese-
quilíbrios biomecânicos e musculares podem alterar a
postura da cabeça causando dor e desconforto local ou
em regiões pericranianas.
(21)
Do ponto de vista biomecânico há um equilíbrio na
relação entre o osso hioide e a mandíbula até os três
anos de idade, após essa fase, fatores ligados ao desen-
volvimento podem ser geradores dos desequilíbrios bio-
mecânicos, como observados em alguns estudos, nos
quais foi visto que o osso hioide tende à anteriorização
na fase da puberdade, causando a anteriorização da
mandíbula.
(21)
Como período da adolescência se caracteriza por
alterações em diversos níveis – físico, mental e social,
as transformações biológicas geram constantes
alterações no sistema musculoesquelético, que, nessa
fase, ainda não estão totalmente consolidadas, suge-
rindo maior propensão aos desequilíbrios biomecâ-
nicos.
(18,27)
Ambos os ângulos são utilizados na literatura para
avaliar a anteriorização cervical.
(17,22)
As diferenças encon-
tradas entre as medidas, em nosso estudo, podem ser
explicadas pelo fato de cada angulação usar um refe-
rencial específico, e, provavelmente, alterações biome-
cânicas (e.g. relação entre o osso hioide e a mandíbula)
foram subestimadas na avaliação.
Dessa forma, a anteriorização de cabeça parece
ser uma característica comum em várias síndromes de
dor de cabeça. Porém, como ainda não está claramente
elucidado a sua colaboração nas cefaleias, acredita-
mos que ela pode ser uma consequência e não um fator
etiológico, uma vez que essa posição pode ser adotada
como forma de alivio da dor.
(26,28)
Com isso, é importan-
te a sua averiguação em pesquisas futuras, incluindo
crianças e adolescentes.
CONCLUSÃO
No presente estudo, não ficou evidente a correlação
entre a anteriorização de cabeça com as cefaleias primá-
rias. Contudo, é válida a realização de mais pesquisas
em adolescentes, para melhor elucidação e comparação
dos fatos.
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AVALIAÇÃO DA TENDÊNCIA DA ANTERIORIZAÇÃO DA CABEÇA EM ADOLESCENTES COM CEFALEIA PRIMÁRIA