148 Headache Medicine, v.7, n.4, p.148-149, Oct./Nov./Dec. 2016
Cefaleia da Diálise
Dialysis Headache
Eduardo Sousa de Melo, Rodrigo Pinto Pedrosa, Pedro Augusto Sampaio Rocha-Filho
Universidade Federa de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil
Melo ES, Pedrosa RP, Rocha-Filho PAS. Cefaleia da Diálise. Headache Medicine. 2016;7(4):148-9
SHORT COMMUNICATION
INTRODUÇÃO
A prevalência de pacientes que realizam tratamen-
to hemodialítico no mundo vem crescendo. A cefaleia
encontra-se entre os principais transtornos transdiálise.
Estima-se uma prevalência de cefaleia da diálise entre
27% a 73%.
(1-3)
Existem poucos estudos que avaliam a
cefaleia da diálise (CD) e, apesar de sua alta preva-
lência, não se sabe seu real impacto e mecanismos
fisiopatológicos.
Nosso trabalho tem como objetivos determinar a
frequência, características, impacto da CD e comparar o
comportamento vascular cerebral nos pacientes com e sem
o diagnóstico desta cefaleia.
MÉTODOS
Este é um estudo transversal. Foram incluídos 100
pacientes submetidos consecutivamente à hemodiálise em
duas unidades de hemodiálise na cidade do Recife, Hos-
pital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco
e Clínica Miltirim.
Todos os pacientes foram avaliados por neurologista
com experiência no diagnóstico e tratamento de cefaleias
que os entrevistou e realizou exame clínico e neurológico
antes da realização da sessão de hemodiálise.
Foi utilizado questionário semiestruturado contendo
dados sociodemográficos, sobre a insuficiência renal crô-
nica e seu tratamento, sobre a presença e características
das cefaleias apresentadas na vida e sobre a presença e
características da cefaleia da diálise. Utilizaram-se tam-
bém as escalas Headache Impact Test (HIT-6), Hospital
Anxiety and Depression Scale e Short Form-36 Health
Survey (SF-36).
Foi realizada ultrassonografia Doppler transcraniana
na primeira e quarta horas de hemodiálise para avalia-
ção das artérias cerebrais médias. Foram realizadas re-
gressões logística para avaliar o que estava relacionado
ao diagnóstico da cefaleia da diálise e ao impacto das
cefaleias.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
quisa do Centro de Ciências da Saúde da UFPE (CAAE
47077715.3.0000.5208) e obtida assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pela popula-
ção investigada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cem pacientes foram incluídos neste estudo. Estes ti-
nham idade média de 51,8 (±13,6) anos, 50 eram mu-
lheres, 49 tinham CD.
As características mais frequentes da CD foram o ca-
ráter pulsátil, início insidioso, localização bilateral e início
da dor após a segunda hora de diálise. O padrão mais
frequentemente encontrado foi um padrão equivalente ao
da cefaleia tipo tensional. Um estudo prévio encontrou
como padrão mais frequente o padrão migranoso.
(3)
O
tempo de início da dor está de acordo com a literatura.
(4)
Foram avaliadas que características dos pacientes es-
tiveram relacionadas à CD. As mulheres, os com menor
idade, maior escolaridade e maior tempo em programa
de hemodiálise tiveram significativamente mais cefaleia da
diálise (regressão logística).
Os pacientes com e sem CD foram comparados quanto
à qualidade de vida. Os com CD tiveram significativa-
mente pior qualidade de vida nos domínios dor (p<0,05,
teste de Mann Whitney) e estado geral de saúde (p<0,05,
teste de Mann Whitney) do SF-36.
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CEFALEIA DA DIÁLISE
Foram avaliadas que características dos pacientes e
das cefaleias apresentadas por estes estiveram relaciona-
das ao impacto das cefaleias (HIT-6).Ter uma renda fami-
liar menor, ter ansiedade e ter a cefaleia da diálise tiveram
associação significativa com um maior impacto da cefaleia
(regressão logística).
Dezessete pacientes não realizaram ultrassonografia
Doppler transcraniana porque não apresentavam janela
óssea transtemporal adequada para realização do exame.
Foram comparadas as medidas do Doppler transcraniano
antes e depois da sessão de hemodiálise entre os que ti-
nham ou não cefaleia da diálise. O índice de pulsatilidade,
que avalia a resistência dos vasos estudados, foi significa-
tivamente menor no grupo com cefaleia da diálise nas
artérias cerebrais médias direitas (p=0,01, teste de Mann
Whitney) e esquerdas (p=0,02, teste de Mann Whitney)
antes da hemodiálise e nas artérias cerebrais médias es-
querdas após a diálise (p=0,02, teste de Mann Whitney).
O estudo do comportamento da vascular cerebral em pa-
cientes com CD, até onde temos conhecimento, não ha-
via sido reportada. Esses dados sugerem padrão de
vasodilatação cerebral no grupo da cefaleia da diálise.
O tempo de início da cefaleia em relação à diálise,
um menor nível sérico de magnésio pós-diálise
(2)
e uma
maior concentração de peptídeo relacionado ao gene da
calcitonina (CGRP) pré-diálise nos pacientes com CD
(5)
em estudos prévios nos sugeriram uma possível participa-
ção vascular.
CONCLUSÕES
A CD é frequente, ocorre mais nas mulheres, nos mais
jovens, com maior escolaridade e maior tempo em pro-
grama de hemodiálise, tem impacto negativo na qualida-
de de vida dos pacientes. A avaliação por ultrassonografia
Doppler transcraniano sugere padrão de vasodilatação
cerebral nos pacientes com CD.
Correspondência
Pedro Augusto Sampaio Rocha-Filho
Departamento de Neuropsiquiatria, CCS
Universidade Federa de Pernambuco
Recife, Pernambuco, Brasil
Recebido: 5 de outubro de 2016
Aceito: 10 de novembro de 2016
REFERÊNCIAS
1. Göksan B, Karaali-Savrun F, Ertan S, Savrun M. Haemodialysis-
related headache. Cephalalgia. 2004;24(4):284-7.
2. Goksel BK, Torun D, Karaca S, Karatas M, Tan M, Sezgin N, et
al. Is low blood magnesium level associated with hemodialysis
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3. Antoniazzi AL, Bigal ME, Bordini C a, Tepper SJ, Speciali JG.
Headache and hemodialysis: a prospective study. Headache .
2003 Feb;43(2):99-102.
4. Sousa Melo E, Carrilho Aguiar F, Sampaio Rocha-Filho PA. Dialysis
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D.O.I.: 10.1111/head.12875
5. Alessandri M, Massanti L, Geppetti P, Bellucci G, Cipriani M,
Fanciullacci M. Plasma changes of calcitonin gene-related
peptide and substance P in patients with dialysis headache.
Cephalalgia. 2006;26(11):1287-93.