Headache Medicine, v.7, n.4, p.145-147, Oct./Nov./Dec. 2016 145
A mobilidade da coluna cervical superior pelo
flexion-rotation test em indivíduos com disfunção
temporomandibular
The mobility of the upper cervical spine by flexion-rotation test in individuals with
temporomandibular dysfunction
Michele Peres Ferreira
1
, César Becalel Waisberg
2
, Paulo César Rodrigues Conti
2
, Debora Bevilaqua-Grossi
1
1
Laboratório LAPOHM, Faculdade de Fisioterapia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
2
Departamento de Prótese, Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, Bauru, São Paulo, Brasil
Ferreira MP, Waisber CB, Conti PCR, Bevilaqua-Grossi D. A mobilidade da coluna cervical superior pelo
flexion-rotation test em indivíduos com disfunção temporomandibular. Headache Medicine. 2016;7(4):145-7
SHORT COMMUNICATION
INTRODUÇÃO
As disfunções da coluna cervical (DCC) têm sido fre-
quentemente descritas em indivíduos com DTM. A
prevalência varia entre 23% a 79%, sendo 91% deles em
condições crônicas. Tem sido sugerido que pessoas que
sofrem com DTM têm duas vezes mais chances de terem
dor cervical do que a população em geral.
(1)
Apesar de
ainda não ter sido demonstrado uma relação entre causa
e efeito, os sinais e sintomas cervicais parecem estar rela-
cionados com a severidade da DTM. Ou seja, a presença
da sintomatologia cervical pode perpetuar mais do que
predispor o aparecimento da DTM.
(2)
A literatura aponta que os níveis superiores da coluna
cervical demonstram ser os mais acometidos nesses paci-
entes.
(3)
As raízes cervicais C1-C2-C3 convergem com a
entrada das vias aferentes trigeminais da região orofacial,
e esse processo poderia induzir a sensibilização dos
neurônios de segunda ordem, facilitando a entrada de
informações nociceptivas da coluna cervical superior, re-
sultando em sintomas dolorosos orofaciais, ou vice-ver-
sa.
(4)
Além disso, estudos demonstram que esse segmento
superior da coluna apresenta menor mobilidade através
de análises palpatórias.
Recentemente, um único estudo verificou que mulhe-
res com DTM e cefaleia apresentam maior restrição da
mobilidade do segmento superior da coluna cervical e su-
gerem a avaliação desse segmento nesses pacientes.
(5)
Desde então, resultados semelhantes foram observados
apenas em pacientes com cefaleia cervicogênica e sinais
de DTM,
(6)
estimulando maiores investigações para me-
lhor compreensão da relação da coluna cervical em indi-
víduos com DTM.
OBJETIVOS
Verificar a amplitude de movimento passiva da colu-
na cervical no segmento superior pelo Flexion-Rotation
Test (FRT) em mulheres com Disfunção Temporo-
mandibular (DTM) com e sem relato de dor de cabeça.
MATERIAL E MÉTODOS
Todos os voluntários da pesquisa assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido e o trabalho foi apro-
vado pelo comitê de ética em pesquisa com número do
protocolo: 100946/2015.
Quarenta mulheres foram diagnosticadas com DTM
por uma equipe de dentistas especializados de acordo com
o RDC/TMD. Dezesete mulheres foram incluídas no grupo
controle (Tabela 1). Todas as voluntárias foram avaliadas
por um fisioterapeuta experiente que executou o exame
para analisar a mobilidade do segmento C1-C2 da colu-
na cervical superior com o Flexion-rotation Test (FRT)
CROM® (Cervical Range of Motion - Performance
Attainment Associates) (Figura 1).
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FERREIRA MP, WAISBER CB, CONTI PCR, BEVILAQUA-GROSSI D
Dada a alta frequência de relato de dor de cabeça, a
amostra de DTM foi estratificada pelo presença de relato
de dor, em DTM com cefaleia (n= 25) e DTM sem cefaleia
(n= 15). Foram aplicados ANOVA one way, seguida por
teste post hoc de Tukay e aplicado o test T-student. O nível
de significância adotado foi de 5%. A análise de relevân-
cia clínica foi conduzida conforme o método descrito por
Armijo-Olivo em 2011, baseado na distribuição do Effect
Size (ES) proposto por Cohen (Tabela 2).
RESULTADOS
O presente estudo identificou que a média da amplitu-
de de movimento da coluna cervical superior (C1-C2)
pelo FRT foi significativamente menor no grupo DTM em
relação ao grupo controle (p<0.05), sendo essas dife-
Figura 1. Flexion-rotation
Test
Headache Medicine, v.7, n.4, p.145-147, Oct./Nov./Dec. 2016 147
A MOBILIDADE DA COLUNA CERVICAL SUPERIOR PELO FLEXION-ROTATION TEST EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
renças consideradas clinicamente relevantes. Não foram
observadas diferenças entre os grupos DTM com e sem
cefaleia.
DISCUSSÃO
O segmento da coluna cervical superior tem demons-
trado uma maior restrição da mobilidade articular através
de análises palpatórias em sujeitos com DTM.
(3)
Adicional-
mente, o FRT foi descrito como útil para identificar a mobi-
lidade desse segmento e auxiliar os diagnósticos de cefaleia
cervicogênica.
(6)
Piekartz et al. foram os primeiros a sugerir uma relação
entre presença de CC e sinais ou sintomas de DTM, após
observarem que a intervenção terapêutica na região orofacial
proporcionou um aumento da mobilidade cervical, medida
pelo FRT, além de reduzir os sintomas de dor de cabeça.
(7)
Mesmo indivíduos que não foram diagnosticados com uma
DTM clássica, essa associação clínica despertou a atenção
para explorar o segmento superior cervical nos indivíduos
com DTM sem cefaleia. De fato, a literatura aponta uma
menor mobilidade no FRT em indivíduos com CC, porém,
isso nos fez considerar a presença de queixas de dor de
cabeça no indivíduos com DTM, para entender se haveria
uma influência na resposta dos testes clínicos.
No estudo de Grondin et al., todos as mulheres com
DTM apresentaram redução no FRT; contudo, a presença
de cefaleia demonstrou menores valores comparados aos
sujeitos sem dor de cabeça.
(4)
Interessantemente, em con-
traste, o presente estudo registrou relatos de dor de cabeça
em 65% da amostra do grupo DTM e, apesar de não te-
rem sido diagnosticadas, as queixas foram consideradas
no intuito de observar se a resposta do FRT poderia ser
influenciada pela presença de cefaleia e não pela DTM.
Figura 2. Gráfico da comparação do FRT entre os grupos
Diferença significativa comparada com grupo controle (p < 0.05)
No entanto, os dados analisados não demonstraram dife-
renças significativas entre os grupos com e sem cefaleia.
Adicionalmente, estudos afirmam efeitos benéficos nas
DTM's após intervenções terapêuticas direcionadas ao
segmento superior da coluna cervical. Os estudos suge-
rem que a mobilização articular nos níveis superiores da
coluna cervical promovem um efeito de modulação
nociceptiva no complexo trigeminocervical.
(8)
CONCLUSÃO
Pacientes com DTM com ou sem relato de dor de
cabeça apresentam menor ADM de rotação passiva do
segmento superior (C1-C2) da coluna cervical.
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2013 Mar;29(3):205-15.
Correspondência
Michele Peres Ferreira
Laboratório LAPOHM, Faculdade de Fisioterapia,
Universidade de São Paulo
Ribeirão Preto, SP, Brasil
Recebido: 05 de outubro de 2016
Aceito: 20 de outubro de 2016