Headache Medicine, v.7, n.2, p.43-49, Apr./May/Jun. 2016 43
Plantas medicinais usadas para tratamento de cefaleia:
inquérito de herbolários na Feira de Caruaru
Medicinal plants used for the treatment of headache: a survey of herbalists in
Free Fair of Caruaru
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
1,2
, Francijane de Almeida Barros
2
, Adalgisa Maria de Oliveira Cavalcanti
2
,
Louana Cassiano da Silva
1
, Hugo André de Lima Martins
1
, Marcelo Moraes Valença
1
1
Unidade Funcional de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco,
Cidade Universitária, Recife, PE, Brazil
2
Neuroagreste Neurologia e Neurofisiologia, Caruaru, Pernambuco, Brazil
Mendonça Santos KAL, Barros FA, Cavalcanti AMO, Silva LC, Martins HAL, Valença MM. Plantas medicinais usadas
para tratamento de cefaleia: inquérito de herbolários na Feira de Caruaru. Headache Medicine. 2016;7(2):43-9
VIEW AND REVIEW
RESUMO
Plantas são usadas para fins medicinais desde primórdios
da humanidade. Durante muito tempo constituiu princi-
pal forma de abordagem terapêutica, ainda conservan-
do significativa aplicação nos países em desenvolvimen-
to, através do conhecimento popular. Há um aumento da
demanda por produtos derivados de plantas em países
desenvolvidos, na forma de suplementos ou extratos pro-
cessados, para promoção de saúde e bem-estar geral.
Ainda há limitação à prescrição de ervas para uso clínico
por carência de evidências acerca de sua eficácia e efei-
tos colaterais possíveis, apesar do uso consolidado pela
prática popular. Este trabalho objetiva registrar quais são
as plantas comumente indicadas e como são utilizadas
para o tratamento de cefaleia por herbolários na cidade
de Caruaru.
Palavras-chave: Plantas medicinais; Fitoterapia; Cefaleia.
ABSTRACT
Plants are used for medicinal purposes since the early days
of humanity. For a long time it constituted the main form of
therapeutic approach, still retaining significant application
in developing countries through the popular knowledge.
There is an increased demand for plant derived products in
developed countries, in the form of supplements or processed
extracts to promote health and general well-being. There is
still limited to the prescription of herbs for clinical use due
to lack of evidence about their effectiveness and possible
side effects, despite the consolidated use the popular
practice. This study aims to record which are commonly
indicated plants and how they are used for the treatment of
headache by herbalists in the city of Caruaru.
Keywords: Medicinal plants; Phytotherapy; Headache.
INTRODUÇÃO
Plantas são usadas para fins medicinais desde
primórdios da humanidade. Antes da era farmacêutica,
provavelmente desde pré-história, os seres humanos trata-
vam as doenças através da experimentação de produtos
naturais derivados de vegetais, fungos, animais e mine-
rais.
(1)
Frutos, exsudatos (incluindo resinas e néctar) e ou-
tras estruturas das plantas, como caules, raízes e folhas,
contêm muitos compostos com propriedades anestésicas,
antimicrobianas, e psicotrópicas, provavelmente utilizadas
pelos primeiros humanos por tentativa e erro.
(2)
O desen-
volvimento, organização e assentamento das comunida-
des primitivas permitiu a melhor exploração destes recur-
sos com preparação de "vinhos medicinais" e pomadas
externas, nas quais os produtos vegetais foram dissolvidos
por decocção ou extração alcoólica.
(2)
Durante muito tempo constituiu principal forma de
abordagem terapêutica, ainda conservando significativa
44 Headache Medicine, v.7, n.2, p.43-49, Apr./May/Jun. 2016
MENDONÇA SANTOS KAL, BARROS FA, CAVALCANTI AMO, SILVA LC, MARTINS HAL, VALENÇA MM
aplicação na medicina tradicional oriental. Os primeiros
registros de fitoterápicos datam da China, no período en-
tre 2838-2698 a.C., quando o imperador chinês Shen
Nung mandou catalogar 365 ervas medicinais e venenos
utilizados na época, criando assim o primeiro herbário
identificado.
(3)
Hipócrates (364 anos a.C.) que substituiu
o fatalismo dos deuses pela observação clínica no trata-
mento do doente, já preconizava o uso de ópio (suco da
cápsula da Papaver somniferum).
(3)
Na Idade Média,
Avicena (980-1037) introduziu na Medicina árabe o ál-
cool, a cânfora, a noz-vômica (Strychnos nux vomica), a
erva-cidreira (Melissa officinalis) e óleo de cróton
(Codiacum variegatum).
(3)
Paracelso (1493-1541), que se interessava por al-
quimia, cabala e Medicina, afirmou terem as plantas, na
sua forma, a indicação medicamentosa e popularizou o
uso do ópio na Europa.
(3)
A Chinchona, de origem perua-
na, já era utilizada como antipirético na Europa desde
1640. Dela foram isolados os dois principais alcaloides:
l-cinchonidina e a l-quinina (primeira droga antimalárica
efetiva contra Plasmadium falciparum e para tratar "palpi-
tações"); posteriormente, daria origem ao antiarritmico car-
díaco do grupo I: a d-quinidina.
(3)
A partir do uso popular
de plantas para fins medicinais, para prevenir ou tratar
diversos males, desde momentos pré-históricos, os gran-
des terapeutas desenvolveram suas prescrições e orienta-
ções clínicas.
A partir do século XIX, o desenvolvimento da química
experimental permitiu a síntese laboratorial de novas subs-
tâncias orgânicas, fator determinante da revolução indus-
trial e tecnológica para produção de novos medicamen-
tos.
(3)
O advento da medicina científica contribuiu para o
aumento da sobrevida humana, na medida em que a apli-
cação de princípios científicos desencadeou a descoberta
de terapêuticas que melhoraram a qualidade de vida das
pessoas,
(4)
e levando ao declínio de práticas terapêuticas
consideradas tradicionais. Na primeira edição da
Farmacopeia Brasileira, em 1929, a maioria dos medica-
mentos era ainda de origem vegetal, enquanto que, na
última edição, as plantas medicinais não alcançam a taxa
de 5%,
(3)
apesar de o Brasil apresentar a maior diversidade
biológica do mundo, pois somente a Amazônia ostenta o
patrimônio de 600 mil espécies vegetais, das quais ape-
nas 5% foram estudadas.
(3)
Em um cenário onde cerca de 80% da população
dos países em desenvolvimento depende da medicina tra-
dicional na atenção primária, utilizam práticas tradicio-
nais em seus cuidados básicos de saúde e 85% destes
cuidados envolvem a utilização de plantas ou prepara-
ções destas, a OMS, a partir do final da década de 1970,
recomendou aos estados-membros o desenvolvimento de
políticas públicas para facilitar a integração da medicina
tradicional e da medicina complementar alternativa nos
sistemas nacionais de atenção à saúde.
(5)
Em 1991, a
OMS solicitou aos estados-membros que intensificassem a
cooperação entre praticantes da medicina tradicional e
da assistência sanitária moderna, valorizando o emprego
de remédios tradicionais de eficácia científica demonstra-
da, cujo aproveitamento, em particular daqueles deriva-
dos de plantas, poderia conduzir ao descobrimento de
novas substâncias terapêuticas.
(5)
Assim, em 2006, é estabelecida a Política Nacional
de Fitoterápicos, advogando as vantagens inerentes ao
estímulo da incorporação do uso de plantas medicinais
no cuidado à saúde. Estima-se que aproximadamente
40% dos medicamentos atualmente disponíveis foram de-
senvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes na-
turais, assim subdivididos: 25% de plantas, 12% de micro-
organismos e 3% de animais.
(6)
O Brasil é o país que
detém a maior parcela da biodiversidade, em torno de
15% a 20% do total mundial, com destaque para as
plantas superiores, nas quais detém aproximadamente
24% da biodiversidade.
(5)
Atualmente, os fitoterápicos
constituem importante fonte de inovação em saúde, sen-
do objeto de interesses empresariais privados e fator de
competitividade do Complexo Produtivo da Saúde.
(5)
O
estímulo ao consumo de produtos naturais, sua conse-
quente manufatura pode se configurar como importante
estratégia para o enfrentamento das desigualdades soci-
ais
(5)
e valoração cultural de certos segmentos e comuni-
dades.
As mais diferentes culturas registram o costume de
utilizar recursos da flora local, ou plantas trazidas de ou-
tras regiões, como instrumento para tratamento ou pre-
venção de doenças. Estudo etnofarmacológico, realiza-
do no Camboja, registrou o uso de 214 plantas para
tratamento de 51 afecções diferentes.
(7)
Na Turquia, fo-
ram registradas 52 diferentes espécies de plantas para
uso medicinal,
(8)
e 133 plantas, na Etiópia, para cerca
de 76 afecções diferentes, sob indicação e administra-
ção de costumes tradicionais.
(9)
Há percepção favorável
da eficácia dos remédios à base de plantas por usuários
que acessaram instalações de atenção primária na ilha
caribenha de Trinidad, tendo registro de mais de 100
ervas utilizadas, principalmente para afecções respirató-
rias, digestivas e hipertensão.
(10)
Estudo americano de-
monstrou que cerca de 38% dos entrevistados consumi-
am ervas ou produtos naturais para sua saúde ou bem-
Headache Medicine, v.7, n.2, p.43-49, Apr./May/Jun. 2016 45
PLANTAS MEDICINAIS USADAS PARA TRATAMENTO DE CEFALEIA: INQUÉRITO DE HERBOLÁRIOS NA FEIRA DE CARUARU
estar; destes, 57% o faziam para tratamento de condi-
ções específicas de saúde.
(11)
As indicações para tratamento da cefaleia com plan-
tas medicinais também são universalmente encontradas.
Inquérito realizado no Irã identifica uso de 166 ervas me-
dicinais exclusivamente para tratamento de diversos tipos
de cefaleia.
(12)
Ensaio etnobotânico em comunidade do
Himalaia listou apenas uma espécie de planta indicada
para cefaleia entre 57 utilizadas para fins medicinais.
(13)
Estudos realizados no Brasil também demonstram o uso de
plantas, com diferentes modos de tomada, para cuidados
do paciente com cefaleia em geral.
(14-16)
Este trabalho ob-
jetiva registrar quais são as plantas comumente indicadas
e como são utilizadas para o tratamento de cefaleia por
herbolários na cidade de Caruaru.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se estudo descritivo, baseado em pesquisa
de campo, entre abril e maio de 2016 onde foram aplica-
dos questionários semiestruturados, com herbolários, ven-
dedores de ervas e especiarias, nas maiores feiras livres de
Caruaru. O estudo foi realizado nas feiras livres de Caruaru,
PE, no Parque 18 de Maio (Feira de Caruaru), nos bairros
de Boa Vista I e II e do Salgado. Assim, os responsáveis
pelos boxes (herbolários) foram abordados nos próprios
locais de trabalho e aplicado questionário semiestruturado,
individual, com permissão prévia. Os herbolários foram
questionados sobre as plantas recomendadas para trata-
mento de dores de cabeça, segundo sua experiência, e a
forma de uso para fins medicinais. As informações dos
herbolários foram transcritas para a Tabela 1, que contém
as plantas citadas para o tratamento das cefaleias, bem
como a forma de uso e informações adicionais para ma-
nejo das dores de cabeça, segundo tradição popular do
local.
RESULTADOS
Quatro plantas medicinais foram citadas pelos
herbolários das feiras livres de Caruaru, PE com efeito
terapêutico contra a dor de cabeça, segundo indicação
popular e tradicional do local. Informação sobre as plan-
tas estudadas é apresentado na Tabela 1.
Informações etnobotânicas destas ervas incluem nome
científico, família, nome popular, partes usadas de plan-
ta, utilizando o método utilizado para finalidade tera-
pêutica.
DISCUSSÃO
O uso de medicamentos complementares e alternati-
vos é crescente a nível mundial, especialmente nos países
desenvolvidos,
(10)
enquanto que mais de 80% da popula-
ção, nos países em desenvolvimento, já utilizam modali-
dades de cura tradicionais, incluindo remédios à base de
ervas.
(17)
O aumento da popularidade de ervas nos países
desenvolvidos e o uso sustentado nos países em desenvol-
vimento é motivado pela percepção popular de que os
remédios à base de plantas são eficazes, em alguns casos,
mais do que medicamentos alopáticos prescritos pelo mé-
dico,
(10)
e de que são inócuos, mesmo com crescentes evi-
dências de efeitos colaterais e interações medicamentosas
deletérias.
(10,18)
Esse nível favorável de eficácia percebida
apoiaria o uso frequente de fitoterápicos, e em um núme-
ro significativo de pacientes, concomitantemente com me-
dicamentos convencionais alopáticos,
(10)
semelhante ao ob-
servado nos Estados Unidos.
(11)
A percepção de melhora
sintomática, em alguns casos, não é acompanhada por
melhora de parâmetros clínicos dos pacientes,
(10)
poden-
do ser atribuída a efeito placebo, pelo uso da substância
em si e o contexto cultural em que ele se dá.
(15)
Em países industrializados, drogas herbais e suple-
mentos são as principais apresentações consumidas,
(18)
enquanto que, em países em desenvolvimento, o uso de
46 Headache Medicine, v.7, n.2, p.43-49, Apr./May/Jun. 2016
MENDONÇA SANTOS KAL, BARROS FA, CAVALCANTI AMO, SILVA LC, MARTINS HAL, VALENÇA MM
plantas medicinais é predominantemente in natura ou de
partes secas (folhas, flores, caule, raízes), recomendadas
por conhecedores tradicionais.
(19)
A maioria das revisões
sistemáticas sobre o assunto considera que as evidências
atuais são promissoras, mas alguns poucos consideram
convincentes ou suficientes para basear decisões clínicas.
Geralmente, são bem estudados medicamentos fitoterápicos
(ou suplementos), enquanto que as plantas utilizadas nas
práticas populares raramente são submetidas a revisões
sistemáticas.
(18)
Um problema central na pesquisa clínica
com plantas medicinais é se diferentes produtos, extratos
(ou mesmo, diferentes lotes de um mesmo extrato) são com-
paráveis ou equivalentes.
(18)
O cravo-da-índia (Syzygium aromaticum L.) foi o pro-
duto mais citado entre os herbolários para a indicação de
tratamento de dores de cabeça com plantas medicinais.
O cravo representa uma das melhores fontes de compos-
tos fenólicos como flavonoides, ácidos hidroxibenzoicos,
ácidos hidroxicinâmicos e hidroxi-fenil-propenos.
(20)
O
eugenol é seu principal composto bioativo, constituindo
cerca de 89% do óleo essencial de cravo.
(20)
São descritas
várias propriedades biológicas para o eugenol como ati-
vidade anticarcinogênica,
(21)
antioxidante,
(20)
antimicro-
biano,
(20)
antiviral,
(20)
antipirético,
(22)
anti-inflamatória,
(20, 22)
e antinociceptivo.
(20,22)
Os mecanismos associados à antinocicepção do
eugenol não estão esclarecidos, embora várias proprieda-
des farmacológicas tenham sido descritas para melhor
compreensão, tanto em nível central como periférico.
Raghavendra et al. atribuíram o efeito analgésico do euge-
nol à sua capacidade para inibir as prostaglandinas e
outros mediadores inflamatórios, tais como leucotrienos.
(23)
Guenette et al. descreveram o alívio da hiperalgesia tér-
mica em um modelo animal de dor neuropática.
(24)
O
eugenol inibe os receptores de N-metil-D-aspartato
(NMDA), que estão envolvidos na sensibilidade à dor.
(25)
Mostrou-se também que o eugenol inibe as correntes de
Na+ nos neurônios dos gânglios das raízes dorsais de
murinos.
(26)
Estudo experimentais demostraram que a
naloxona atenuou os efeitos analgésicos do extrato aquo-
so de eugenol, sugerindo alguma ação via receptores
opioides.
(27)
Em relação ao possível efeito do eugenol no controle
de dores cefálicas, Muller et al.
(28)
descreveram a capaci-
dade do eugenol de suprimir as ondas de depressão
alastrante em ratos tratados com eugenol. Klein et al. evi-
denciaram que o eugenol e o carvacrol aumentam transi-
toriamente a resposta ao calor tanto em estímulos inóculos
quantos nociceptivos, em neurônios de primeira e segun-
da ordem da via trigeminal,
(29)
podendo levar a uma influ-
ência modulatória das vias trigeminais.
A lavanda (Lavandula angustifolia), na forma de in-
fusão, foi indicada neste inquérito para tratamento de do-
res de cabeça. O óleo de lavanda é obtido das flores de
Lavandula angustifolia por destilação a vapor, é predomi-
nantemente composto por acetato de linalila e linalool,
na proporção de 51% e 35%, respectivamente, conforme
estudos de cromatografia gasosa.
(30)
Estes compostos de-
monstraram ação antioxidante (possivelmente relaciona-
da com efeito neuroprotetivo em isquemia cerebral,
(31)
modulação gabaérgica e dopaminérgica, inibição simpa-
tética, inibição colinérgica.
(30)
Ao sistema colinérgico tem
sido sugerido desempenhar um papel nos efeitos analgé-
sicos, antiansiedade, antidepressivos e anticonvulsivantes
da lavanda.
(30,32)
Experiências com animais sugerem propriedades anti-
convulsivas, ansiolíticas, sedativas, analgésicas e neuro-
protetoras para lavanda.
(32)
Em humanos, a lavanda de-
monstrou efeito ansiolítico superior ao placebo em 221
pacientes com transtorno de ansiedade, melhorando in-
clusive sintomas associados, como inquietação, distúrbios
do sono e queixas somáticas, associado a melhora na
qualidade e duração de sono,
(33)
como também melhora
no tratamento, tanto agudo quanto crônico, da dor refra-
tária.
(34)
A inalação de óleo essencial de lavanda é sugeri-
do como tratamento efetivo e seguro na crise migranosa.
Quarenta e sete pacientes com ataques de enxaqueca re-
lataram significante redução da intensidade da dor e sin-
tomas associados após inalação de óleo de lavanda nos
estágios iniciais dos ataques.
(35)
O uso da camomila é difuso entre diversas culturas,
ao longo dos séculos, principalmente na forma de infu-
são, para cuidados com mais diversas queixas de saúde.
Estima-se que sejam consumidos cerca de um milhão de
xícaras de chá de camomila no mundo por dia.
(36)
Os
principais componentes das flores incluem vários compos-
tos fenólicos, principalmente flavonoides como a apigenina,
quercetina, luteolina, patuletina e seus glucosídeos.
(37)
Os
componentes principais do óleo essencial extraído das flo-
res são os terpenoides alfa-bisabolol e os seus óxidos, e
azulenos, incluindo chamazuleno.
(37)
A camomila tem mo-
deradas atividades antioxidante e antimicrobiana, e ativi-
dade antiagregante significativa in vitro.
(37)
Estudos em
modelos animais indicam potente ação anti-inflamatória,
algumas atividades antimutagênicas e para baixar o coles-
terol, bem como efeitos antiespasmódico e ansiolítico.
(37)
A aplicação de óleo essencial de camomila sobre as
têmporas, durante crise migranosa, foi avaliada como
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benéfica no controle da dor cefálica.
(38)
A inibição da ex-
pressão da NO-sintetase induzível em macrófagos ativados
pelo chamazuleno e apigenina, levando à diminuição da
síntese e liberação de NO,
(39)
forte inibição dos níveis
endógenos de prostaglandina E2 (PGE2) em RAW 264.7
macrófagos, através da inibição seletiva da COX-2(40),
efeitos anti-inflamatórios devido à inibição de biomar-
cadores pró-inflamatórios em THP1 macrófagos, com di-
minuição da inflamação neurovascular são possíveis me-
canismos para o efeito antimigranoso observado.
(38)
O Cânon de Avicena registra a indicação do uso de
anis-estrelado para tratamento de cefaleia desde a Idade
Média.
(41)
Extratos de I. verum apresentam efeitos
ansiolíticos,
(42)
sendo o anetol o principal composto
bioativo.
O anetol parece ser responsável pela maioria dos efei-
tos biológicos atribuídos ao anis-estrelado.
(43)
Ações
antioxidantes,
(44)
anti-inflammatória
(45)
e antinociceptiva
(46)
já foram descritas. O anetol, em estudos experimentais,
tem demonstrado ser capaz de reduzir a síntese ou libera-
ção de citocinas (IL-1 e TNF) e prostaglandina E2 em
modelos animais de inflamação, no entanto, não foi ob-
servada ação antinociceptiva central.
(43)
A redução dos
níveis de óxido nítrico no exsudato pleural de aninais tra-
tados com anetol também foi demonstrada,
(43)
podendo
estas propriedades exercer ação sobre crises migranosas.
Outros estudos locais também têm descrito uso medi-
cinal de diversas plantas, em sua maioria com indicação
para problemas digestivos ou respiratórios, mas a indica-
ção para dores de cabeça sempre registra algumas varie-
dades de ervas, seguindo a tradição, conhecimento e
habitualidade de cada comunidade. Albuquerque, em
2006, registrou cerca de 48 variedades de espécies vege-
tais utilizadas para fins terapêuticos, na comunidade de
Alagoinha, agreste pernambucano, sendo apenas quatro
espécies indicadas para tratamento de cefaleias [arruda
(Ruta graveolens), mororó (Bauhinia cheilantha), capim-
santo (Cymbopogon citratus), erva-cidreira (Lippia alba)].
(14)
Gazzaneo, analisando o uso de plantas medicinais na
Zona da Mata pernambucana, descreveu cerca de 125
espécies de plantas com recomendação para diversos pro-
blemas de saúde, sendo apenas duas indicadas para
cefaleia [amescla (Protium heptaphyllum) e colônia (Alpinia
zerumbet)].
(16)
Em estudo realizado no sertão de Alagoas, área de
vegetação caatinga, foi observado o uso medicinal de 187
espécies, havendo indicação de cinco delas para dores
de cabeça [colônia (Alpinia speciosa), araçá-verdadeiro
(Eugenia citrifolia), feijão-brabo (Senna splendida), mani-
çoba (Manihot glaziovii), mulungu (Erythrina velutina)].
(47)
O presente estudo não registrou nenhuma indicação co-
incidente de ervas para tratamento tradicional de cefaleia
com estudos anteriores. Na zona metropolitana de Recife,
estudo realizado junto aos herbolários dos mercados pú-
blicos metropolitanos descreveu um total de 38 espécies
de plantas indicadas para tratamento de dores de cabe-
ça.
(15)
Neste rol, mais extenso, verificam-se algumas plan-
tas citadas nos estudos anteriores, embora cada uma con-
serve referências encontradas apenas na comunidade es-
tudada. Observa-se que cada localidade tem alguma for-
ma tradicional, à base de plantas, para cuidar da cefaleia
e, apesar de regionalmente próximas, diferem em relação
às ervas utilizadas para este fim.
Em conclusão, a utilização de plantas para tratamen-
to de doenças, inclusive cefaleia, é difusa em diversas cul-
turas. É importante identificar as plantas que na prática
popular são utilizadas para cuidado com a saúde. Existe
uma percepção de eficácia terapêutica e relativa ino-
cuidade, que estimula seu consumo, por vezes conco-
mitante com alopatia. As indicações de plantas medici-
nais, baseadas em conhecimento popular, podem servir
como orientação para pesquisas clínicas que permitam
estabelecer, com segurança, a eficácia, tolerabilidade, a
forma de uso e doses adequadas para propósitos tera-
pêuticos.
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Correspondência
Karllus Andhre Leite de Mendonça Santos
karllusleite@yahoo.com.br
Recebido: 20 de junho de 2016
Aceito: 28 de junho de 2016
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