Headache Medicine, v.7, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2016 7
mãos em barro e terra, sentimentos de um extremo furor.
Quão belas as esculturas delas, das mãos poéticas do es-
cultor, eximem arte, destreza, proeza e amor. Amor por algo
que ainda vai criar, mas que se tornará sua expressão mais
profunda de captação de elementos invisíveis, pois são sen-
tidos e muitas vezes não ditos.
A dor humana é algo misterioso, é uma dor sem
mensuração, a causa não pode ser só uma, mas uma his-
tória, uma revolta, uma paixão, uma decepção, um so-
nhar, um simples existir.
Se existo crio, sonho e faço:
Com argila faço o que acho que passa nas emoções;
Capto do silêncio de um cadáver;
O que passou em sua mente;
Sombria mente;
Que um dia já pensou;
Em coisas belas;
Tristezas e desamores;
Sonhou;
Por isso esculpo na terra o sentimento da dor;
A dor pode ser minha; pode ser sua e pode ser nossa;
Quando só minha, é loucura, é acaso;
Quando junta, com a de outrem, ou por outrem;
Passa a ser mais minha, prisão desvairada, que tenho
que libertar toda a energia, captada de volta ao
seu lugar;
Para isso uso o corpo, que se expressa sem falar;
Daí vem não só o artista, mas o anatomista, que com
perfeição e arte;
Parte para a obra finalizar;
Inicialmente sem forma sem contexto, até com desprezo;
Começa-se a criar, depois uma agonia de quem
sempre cria;
De que algo não está bom;
Tem que melhorar;
Depois o alívio, a paixão e a necessidade de fazer;
E com o conhecimento filosófico e anatômico passo a
tecer;
As experiências de vida e que vejo na vida para o meu
novo ser criatura/escultura;
Onde coloco em linhas duras e delicadas,
as impressões ósseas, os tendões e músculos e suas
fáscias a revestir;
Órgãos e vasos e tudo que posso tecer;
Teço com a agulha de um mestre da escultura,
minhas mãos;
As mãos também falam, assim como, a expressão do
corpo e da face e de todo o ser;
Momentos estes que fico até sem braços,
falo eu, escultura;
E outros, onde até mesmo me abraço, com a minha
solidão, com a minha depressão, ansiedade e
indecisão;
Só posso dizer que, sem a arte não haveria
compreensão do que se passa no interior, mais guardado,
de uma alma e de um coração;
Pois não me controlo, apenas ponho para fora toda a
emoção, captada com a mais alta perfeição.
Estas palavras foram escritas com as mãos, mas vie-
ram das emoções após contemplar as esculturas do profes-
sor anatomista/artista plástico que homenageamos na capa
da Headache Medicine.
Eulâmpio José da Silva Neto, nasceu no Recife-PE no
dia 13 de dezembro de 1961, terceiro filho de Lourival
José da Silva e Irene Maria Castelo Branco. Cursou Medi-
cina Veterinária na Universidade Federal Rural de Pernam-
buco (UFRPE). Cursou Mestrado em Anatomia Veterinária
na Universidade de São Paulo (USP) e Doutorado em Ci-
ências Naturais (Anatomia de Vertebrados), na Universida-
de de Tuebingen, Alemanha. Em Tuebingen, também cur-
sou técnica escultória em madeira. Lecionou Anatomia
Veterinária na UFRPE e atualmente é Professor de Anato-
mia Humana da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Continuou seu treinamento no âmbito das artes plásticas,
realizando o curso de técnicas escultóricas em argila com
o professor Ilson Morais em João Pessoa, PB em 2008. Isso
resultou em algumas exposições e publicações, entre elas
citamos:
• Pathos das Dores e das Loucuras, 6 de fevereiro
a 6 de março, Casarão 34, João Pessoa/PB, exposição
conjunta (Selecionado em edital de ocupação 2008/9 do
Casarão 34);
• Pathos das Dores e das Loucuras, 2 a 31 de maio
de 2009, Livraria Cultura Recife, Paço da Alfândega -
Recife, PE;
• Pathos das Dores e das Loucuras, 13 a 31 de
julho de 2009, Centro de Cultura Amalry de Carvalho -
Patos, PB;
• Coletânea Paraibana, 26/08 a 4/11/2009, Es-
tação Cabo Branco - Ciência Cultura e Artes, exposição
coletiva, João Pessoa, PB;
• Pathos das Dores e das Loucuras
(parte II), 10/10
a 16/11/2009, Pinacoteca da UFPB - Biblioteca Central
da UFPB, exposição individual, João Pessoa, PB;
• Por que Sapatos, 05 a 30/11/2009, Centro Cul-
tural são Francisco, exposição coletiva, João Pessoa, PB;
ANATOMIA E ARTE: UNIÃO NECESSÁRIA COMO O CORPO E A ALMA