120 Headache Medicine, v.8, n.4, p.120-123, Oct./Nov./Dec. 2017
Disfunção temporomandibular e hábitos parafuncionais
em crianças e adolescentes
Temporomandibular dysfunction and habits parafunction in children and adolescents
Manoel Gomes de Araújo Neto
1
, Alisson Sousa Santos
1
, Paulo Henrique Martins Sousa
1
, Laryssa Castro Vale
1
,
Caroline Fernanda de Oliveira Farias Lopes
1
, Guilherme Gonçalves Silva Pinto
2
, Ana Lurdes Avelar Nascimento
3
,
Adelzir Malheiros e Silva C. B. Haidar
3
, Sarah Tarcísia Rebelo Ferreira de Carvalho
3
, Maria Claudia Gonçalves
4
1
Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade CEUMA. Aluno de iniciação científica do
Núcleo de Pesquisa em Reabilitação Funcional e Atenção à Saúde/NUPERF/CEUMA/CNPQ
2
Discente do Curso de Medicina das Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central-FACIPLAC
Membro do Núcleo de Pesquisa em Reabilitação Funcional e Atenção à Saúde/NUPERF/CEUMA/CNPQ
3
Docente titular do Curso de Fisioterapia da Universidade CEUMA. Pesquisadora Membro do Núcleo de Pesquisa em
Reabilitação Funcional e Atenção à Saúde/NUPERF/CEUMA/CNPQ
4
Docente titular do Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e do Curso de Fisioterapia da Universidade CEUMA.
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa Mecanismos de modulação de saúde e ambiente no Maranhão/CEUMA/CNPQ
Araújo Neto MG, Santos AS, Sousa PHM, Vale LC, Lopes CFOF, Pinto GGS, Nascimento ALA, Haidar AMSCB,
Carvalho STRF, Gonçalves MC. Disfunção temporomandibular e hábitos parafuncionais em
crianças e adolescentes. Headache Medicine. 2017;8(4):120-123
ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Introdução: A Disfunção temporomandibular (DTM) na mai-
oria das vezes é descoberta durante a fase adulta, porém
seus sintomas podem começar cedo, ainda na infância. De-
vido às grandes transformações musculares, esqueléticas e
articulares presentes durante o crescimento craniofacial, cri-
anças e adolescentes podem apresentam sinais e sintomas
de DTM. Objetivo: Avaliar a frequência de sinais e sinto-
mas e o diagnóstico da DTM, bem como os hábitos
parafuncionais orais em crianças e adolescentes. Material
e Método: Participaram deste estudo 44 crianças e adoles-
centes, regularmente matriculados na Escola U.E.B Luís Viana
/Alemanha e na Escola Nosso Mundo/Bequimão situada na
cidade de São Luís- MA, com idade entre 10 e 15 anos,
foram excluídos aqueles indivíduos que tenham realizado
cirurgias ortognáticas prévias, tenham feito ou estejam rea-
lizando tratamentos ortodônticos ou para DTM´s, que tives-
sem sofrido trauma na face e que não apresentassem o
consentimento assinado pelos pais. A severidade da DTM
foi avaliada com o índice anamnésico de Fonseca e o diag-
nóstico de DTM com o Critério diagnóstico em pesquisa
RDC/TMD. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em pesquisa da Universidade CEUMA, parecer nº 1.307.233.
Todos os pais e responsáveis assinaram o termo de Consen-
timento Livre e esclarecido. Resultados: O diagnóstico de
DTM em crianças e adolescentes foi demonstrado e o mes-
mo se apresentou elevado. Os sinais e sintomas de DTM e
os hábitos parafuncionais orais também apresentaram
frequência elevada e podem ser usados como preditores do
agravamento da DTM.
Palavras-chave: Disfunção temporomandibular; severida-
de; diagnóstico
RESUMO
Introduction: Temporomandibular dysfunction (DTM) Most
of the time is discovered during the adult phase, but its
symptoms may be ginearly, even in childhood. Due to large
muscular, skeletal and joint transformations present during
craniofacial growth, children and adolescents may present signs
and symptoms of DTM. Objective: To evaluate the frequency
of signs and symptoms and the diagnosis of DTM, as well as
the oral parafunctional habits in children and adolescents.
Material and Method: Participated in this study 44 children
and adolescents, regularly enrolled in the EU school B Luís
Viana/germany and at the schoolour World/Bequimão located
in the city of São Luís-MA, aged between 10:15 years, were
excluded those individuals who have performed pre-
ortognáticas surgeries, have done or are conducting or
thodontic treatments or for DTM´S, who had suffered trauma
to the face and did not present the consent signed by the parents.
The severity of the DTM was evaluated with the anamnesico
Headache Medicine, 8, n.4, p.120-123, Oct./Nov./Dec. 2017 121
INTRODUÇÃO
Disfunção Temporomandibular (DTM) é um termo co-
letivo que envolve todas as condições relativas a Articula-
ção Temporomandibular (ATM) e estruturas do sistema
estomatognático ou mastigatórios associadas. A DTM se
refere a um aglomerado de desordens caracterizadas por
ruídos articulares, limitação na amplitude de movimento
ou desvios durante a função mandibular, que são conside-
rados como sinais de DTM, e dor pré-auricular, dor na
ATM ou nos músculos mastigatórios, caracterizados como
sintomas.
(1)
A etiologia da DTM é multifatorial, entre os fatores
etiológicos estão traumas da mandíbula ou ATM, malo-
clusão e interferências oclusais, alterações nos músculos
mastigatórios, microtraumas causados pelos hábitos para-
funcionais, condições reumáticas, estresse emocional, an-
siedade e anormalidades posturais.
(2)
A DTM geralmente é diagnosticada na fase adulta,
entretanto já na fase infantil se pode perceber alguns si-
nais e sintomas. Na criança e no adulto com até 40 anos
de idade prevalece a DTM do tipo miogênica, aquele em
que somente os músculos estão envolvidos, e, após essa
idade, o fator principal da etiologia é degenerativo, envol-
vendo além dos músculos a articulação (DTM
artrogênica).
(3)
Durante o período de crescimento, devido
ao desenvolvimento craniofacial, existe a possibilidade do
desenvolvimento significativo de sinais e sintomas de DTM,
predispondo as crianças ao surgimento de tal distúrbio.
(4)
Entre os fatores etiológicos, os hábitos parafuncionais
orais parecem ser importantes para o surgimento da DTM
em crianças.
(3)
Dessa forma, a hipótese desse trabalho é
que crianças e adolescentes apresentem elevada frequência
de diagnóstico de DTM bem como de hábitos para-
funcionais.
Objetivo
Avaliar a presença do diagnóstico da DTM e de hábi-
tos parafuncionais orais em crianças e adolescentes.
MATERIAL E MÉTODOS
Participaram deste estudo 44 crianças e adolescen-
tes, regularmente matriculados em uma escola municipal
na cidade de São Luís - MA, com idade entre 10 e 15
anos, sendo excluídos aqueles que haviam realizado ci-
rurgias otognáticas prévias, estivessem fazendo ou já ti-
vessem feito tratamentos ortodônticos, sofrido traumas na
face e que não apresentassem o consentimento assinado
pelos pais.
O diagnóstico de DTM foi avaliado com o eixo I do
critério diagnóstico em pesquisa para disfunção
temporomandibular RDC/TMD
(5)
e para avaliar o diag-
nóstico de DTM um avaliador previamente treinado para
utilização dessa ferramenta. O paquímetro digital foi uti-
lizado para avaliar a amplitude de movimento mandi-
bular.
O RDC/TMD consiste na mensuração da amplitude
de movimento mandibular, avaliação da dor à palpação,
além da observação de estalidos e crepitações ao movi-
mento.
(6)
Este mesmo avaliador questionou sobre os hábi-
tos parafuncionais por meio das perguntas elaboradas no
método de Merighi et al, 2007,
(7)
por meio de perguntas
como: Você tem o hábito de morder os lábios? Você tem
o hábito de roer as unhas? Você tem o hábito de apertar
os dentes? Você tem o hábito de ranger os dentes? Você
tem o hábito de chupar o dedo?
Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética em
pesquisa da Universidade CEUMA, parecer 1.307.233.
Todas as crianças assinaram o termo de assentimento e
todos os pais e responsáveis assinaram o termo de Con-
sentimento livre e esclarecido.
Para a análise inicialmente, os grupos foram dividi-
dos por gênero, as variáveis quantitativas foram descritas
por média e desvio padrão (média ± DP) e as qualitati-
vas foram apresentadas em frequência. Os dados foram
analisados no software Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS 18.0). A idade, peso e altura entre os
grupos foram comparados por meio da análise de variância
(ANOVA). As proporções entre os grupos foram compa-
radas utilizando-se o teste Qui-quadrado (χ
2
) de corre-
ção de Yates. O Odds ratio (OR) e o intervalo de confi-
ança (IC) foram usados para avaliar a associação entre o
gênero e o diagnóstico de DTM. O nível de significância
estatística de p 0,05 foi adotado.
content of Fonseca and the diagnosis of DTM with the diagnostic
criterion in research RDC/TMD. This project was approved by
the CEUMA University Research Ethics Committee, Opinion No.
1,307,233. All parents and guardians signed the term of
consent free and clear. Results: The diagnosis of DTM in
children and adolescents was demonstrated and the same wa
selevated. The signs and symptoms of DTM and the oral
parafunctional habits also presented high frequency and can
be used as predictors of the worsening of DTM.
Keywords: Temporomandibular dysfunction; Severity Diagnosis.
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E HÁBITOS PARAFUNCIONAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
122 Headache Medicine, v.8, n.4, p.120-123, Oct./Nov./Dec. 2017
ARAÚJO NETO MG, SANTOS AS, SOUSA PHM, VALE LC, LOPES CFOF, PINTO GGS, ET AL
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quarenta e sete estudantes foram avaliados, três alu-
nos foram excluídos por fazerem uso de aparelho
ortodôntico. Do total de 44 indivíduos da amostra,59,09%
(n=26) pertenciam ao gênero feminino, foi observada uma
frequência de diagnóstico de 29,54% (n=13) de DTM
miogênica, onde o gênero feminino apresentou maior
frequência de diagnóstico 38,46% (n=10) p<0,05. Foi
observado risco quatro vezes maior de desenvolvimento de
DTM no gênero feminino em relação ao masculino Odds
ratio /IC 4,7 (2,22-9,93). (Tabela 1)
Figura 1. Frequência em porcentagem dos hábitos parafuncionais orais em crianças e adolescentes
Nossos achados são semelhantes aos de Rubin et
al.,
(7)
que avaliaram 153 crianças e adolescentes de am-
bos os gêneros e observaram frequência de DTM de 35%.
Ainda, Suvinem, et al. (2005),(8) também avaliaram 91
crianças de ambos os gêneros e observaram predomi-
nância do diagnóstico de DTM no sexo feminino.
Todos os sujeitos da amostra estudada, 100% apre-
sentavam algum hábito parafuncional; os hábitos mais
constatados foram roer unha, mascar chiclete, morder ob-
jetos, e os os ítens mais citados por ambos os gêneros foi
mascar chiclete, feminino (77,78% n=14) e masculino
(92,31 % n=24). (Figura 1)
Semelhante aos nossos achados, Rubin et al.
(9)
tam-
bém encontraram alta frequência, 93%, de hábitos
parafuncionais orais em sua amostra de crianças e ado-
lescentes. Esses achados possibilitam estabelecer uma re-
lação entre a prática de hábitos parafuncionais orais e a
frequência de DTM.
Os hábitos parafuncionais orais promovem um des-
gaste e/ou mal posicionamento mandibular; roer unhas
e marcar chiclete causam excesso de pressão em uma da
face de mastigação causando efeitos deletérios, assim
como o aumento de chances de desenvolvimento de DTM
em níveis mais dolorosos.
Considerando que sinais e sintomas de DTM são mui-
to comuns na população em geral, quando os primeiros
sinais e sintomas aparecem pode ser de fato difícil identifi-
car o começo do agravo e aparecimento da DTM. Além
disso, devido à etiologia ser multifatorial, muitos sintomas
podem ser confundidos ou menosprezados.
Assim, o aumento da frequência de hábitos
parafuncionais orais podem ser usados como um preditor
Headache Medicine, 8, n.4, p.120-123, Oct./Nov./Dec. 2017 123
do surgimento da DTM. Corroborando com nossa hipó-
tese, Mingheli et al.
(10)
concluíram em seu estudo com
crianças e adolescentes que hábitos parafuncionais au-
mentam a probabilidade do surgimento dessa doença da
DTM.
Pesquisas com crianças apresentam dificuldades,
como interesse em participar e a atenção durante os
questionamentos, além da necessidade da autorização
de terceiros, justificando o tamanho da amostra estudada
e, dessa forma, os resultados expostos precisam ser anali-
sados à luz de todo conhecimento disponível na literatura
sobre esse assunto. As ferramentas validadas, principal-
mente o uso de uma ferramenta de diagnóstico como o
RDC/TMD aplicada por um avaliador treinado, são con-
siderados pontos fortes desta pesquisa.
CONCLUSÃO
A frequência de diagnósticos de DTM em crianças e
adolescentes foi alta principalmente no gênero feminino
(38%), que possuem quatro vezes mais risco de desenvol-
ver DTM quando comparados ao gênero masculino. To-
dos os alunos praticavam pelo menos um habito
parafuncional oral e indivíduos do sexo. Como ainda existe
carência de estudos, sobretudo com diagnóstico, de DTM
em crianças e adolescentes, é necessário que este assun-
to continue sendo estudado, em amostras maiores uma
vez que a DTM pode reduzir a qualidade de vida e o
rendimento escolar, devido ao desconforto e/ou dores.
Bem como o desenvolvimento de estudos de prevenção e
promoção do conhecimento ainda na infância sobre os
fatores que promovem o surgimento ou agravamento da
DTM.
REFERÊNCIAS
1. American Society Of Temporomandibular Joint Surgeons
(ASTJS). Guidelines for diagnosis and management of disorders
involving the temporomandibular joint and related
musculoskeletal structures. Cranio. 2003;21(1):68-76.
2. Pedroni CR, De Oliveira AS, Guaratini MI. Prevalence study
and symptoms of temporomandibular disorders in university
students. J Oral Rehabil. 2003 Mar;30(3):283-9.
3. Biasotto-Gonzalez DA. Abordagem interdisciplinar das dis-
funções temporomandibulares. São Paulo: Manole, 2005.
4. Bayardo RE, Mejia JJ, Orozco S, Montoya K. Etiology of oral
habits. ASDC J Dent Child. 1996 Sep-Oct;63(5):350-3.
5. Dworkin SF, Leresche L. Research diagnostic criteria for
temporomandibular disroders: review, criteria, examinations
and specifications, critique. J Craniomandib Disord. 1992 Fall;
6(4):301-55.
Correspondência
Manoel Gomes de Araújo Neto
netto_guerrerodecristo@hotmail.com
Recebido: 05 de outubro de 2017
Aceito: 30 de outubro de 2017
6. Chaves TC, Oliveira AS, Bevilaqua-Grossi D. Principais instru-
mentos para avaliação da disfunção temporomandibular (par-
te II): critérios diagnósticos; uma contribuição para a pratica
clínica e de pesquisa. Fisioter. Pesqui. [Internet]. 2008;15(1):
92-100.
7. Merighi LB, Silva MM, Ferreira AT, Genaro KF, Berretin-Felix G.
Occurrence of temporomandibular disorder (TMD) and its
relationship with harmful oral habits in children from Monte
Negro - RO. Rev CEFAC 2007;9:497-503.
8. Suvinen TI1, Reade PC, Kemppainen P, Könönen M, Dworkin
SF. Review of etiological concepts of temporomandibular pain
disorders: towards a biopsychosocial model for integration of
physical disorder factors with psychological illness impact
factors. Eur J Pain. 2005 Dec;9(6):613-33.
9. Friedman Rubin P, Erez A, Peretz B, Birenboim-Wilensky R,
Winocur E. Prevalence of bruxism and temporomandibular
disorders among orphans in southeast Uganda: A gender and
age comparison. Cranio. 2017 May 30:1-7.
10. Minghelli B, Cardoso I, Porfírio M, Gonçalves R, Cascalheiro
S, Barreto V, et al. Prevalência de desordem temporo-
mandibular em crianças e adolescentes de escolas públicas
no sul de Portugal. N Am J Med Sci. 2014 Mar;6(3):126-32.
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E HÁBITOS PARAFUNCIONAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES