Headache Medicine, v.8, n.4, p.116-119, Oct./Nov./Dez. 2017
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CEFALEIA E O FENÔMENO DA SENSAÇÃO DE QUE "O MUNDO ESTÁ EM CÂMERA LENTA"
Marcelo M. Valença
Professor Titular, Neurologia e Neurocirurgia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil.
Editor-chefe da revista Headache Medicine
mmvalenca@yahoo.com.br
ma "sensação de câmera lenta", porém com a percepção de estar fora de seu corpo e vendo a queda de seu
corpo até cair sentado no solo. Afirmou que, na ocasião, não houve trauma craniano, nem perda da consciência.
Tais "distorções na percepção do tempo" podem ocorrer quando alguém experimenta uma situação extrema
de risco iminente de morte, como em um acidente de trânsito ou durante um assalto.
(6)
Em experimento bem elaborado, Eagleman estudou a possibilidade de o tempo ser percebido de forma
diferente em pessoas em queda livre sob grande emoção, de uma estrutura com mais de 30 metros de altura.
(2,5)
Se a percepção do tempo fosse diferente, i.e. mais devagar, na condição de queda, elas poderiam perceber
números em um monitor preso no pulso que passavam com velocidades diferentes. Em condições normais seria
impossível identificar a mudança nos números, a não ser que, para essas pessoas, o tempo passasse em câmera
lenta.
(2,5)
A conclusão do estudo foi que o indivíduo tinha a ilusão que o tempo se dilatava, não houve o efeito
Matrix citado acima, ou seja, de ambos, o indivíduo e o meio ambiente, estarem numa dimensão diferente, porém
idêntica, de tempo. O tempo é considerado por muitos da Física como a quarta dimensão.
Esse evento é conhecido na neurociência como efeito da dilatação do tempo,
(7)
e vários experimentos têm
demonstrado ser um evento cerebral,
(8)
e, portanto, uma falha na função do sistema nervoso pode provocar um
distúrbio na percepção do tempo, que pode perdurar por minutos.
(9)
O processo neurobiológico de como um indivíduo entende o tempo ainda precisa ser melhor estudado. O
encontro de pacientes com migrânea e ilusão na percepção do tempo pode acender alguma luz na compreensão
desse fenômeno tão importante na vida dos seres humanos.
REFERÊNCIAS
1. lmeida LCA, Valença MM. “Um mundo em câmera lenta" como manifestação da Síndrome de Alice no País das Maravilhas. Headache
Medicine. 2017;8(4):134-137.
2. Eagleman DM. Human time perception and its illusions. Curr Opin Neurobiol. 2008 Apr;18(2):131-6. doi: 10.1016/
j.conb.2008.06.002. Epub 2008 Aug 8.
3. Durstewitz D. Neural representation of interval time. Neuroreport. 2004 Apr 9;15(5):745-9.
4. Kitazawa S. [The science of the mental present: implications of temporal illusions]. Brain Nerve. 2013 Aug;65(8):911-21. [Article in
Japanese]
5. Neurocientista explica efeito "câmara lenta" relatado por pessoas em situações extremas. https://zap.aeiou.pt/neurocientista-explica-
efeito-camera-lenta-relatado-pessoas-viveram-situacoes-extremas-168591 Por ZAP - 31 Julho, 2017
6. Stetson C, Fiesta MP, Eagleman DM. Does time really slow down during a frightening event? PLoS One. 2007 Dec 12;2(12):e1295.
7. van Wassenhove V, Wittmann M, Craig AD, Paulus MP. Psychological and neural mechanisms of subjective time dilation. Front Neurosci.
2011 Apr 26;5:56. doi: 10.3389/fnins.2011.00056. eCollection 2011.
8. Sucala M, David D. Slowing down the clock: a review of experimental studies investigating psychological time dilation. J Gen Psychol.
2012 Oct-Dec;139(4):230-43. doi: 10.1080/00221309.2012.695410.
9. Eagleman DM, Tse PU, Buonomano D, Janssen P, Nobre AC, Holcombe AO. Time and the brain: how subjective time relates to neural
time. J Neurosci. 2005 Nov 9;25(45):10369-71.