26 Headache Medicine, v.8, n.1, p.26-27, Jan./Feb./Mar. 2017
Não deixem de ler os artigos do Dr. Bordini e cole-
gas
(1)
e do Dr. Mário Peres e colaboradores.
(2)
Eles nos
trazem informações sobre duas moléculas irmãs, uma
exógena e a outra endógena.
Olhando para a similaridade estrutural de ambas,
não surpreende que elas possam ter efeito sobre as dores
de cabeça ainda que este, pelo menos a princípio, seja
distinto.
Os Drs. Bordini et al. apresentam uma extensa revisão
sobre a indometacina, desde quando a sua molécula foi
sintetizada em 1963 e comer-
cializada pela Merck como
Indocin®.
São descritos os aspectos
farmacológicos, com uma
biodisponibilidade molecular cer-
ca de 98%, pico de concentra-
ção plasmática de 0,5-2 horas,
tempo de meia-vida médio de 4,5
horas, metabolismo hepático e
excreção renal.
Seus mecanismos de ação
são diversos, que levam à
vasoconstricção, redução da pressão liquórica, redução
da velocidade do fluxo sanguíneo, inibição da resposta
trigeminovascular e redução do CGRP e VIP. Para aqueles
que se perguntavam como a indometacina atuava nas
cefaleias associadas ao esforço físico, está aqui a sua ex-
plicação.
Interessantemente são listadas as cefaleias que são
responsivas à indometacina. Elas são classificadas em três
Indometacina e Melatonina: duas irmãs que continuam
reinando
Indomethacin and Melatonin: two sisters who continue to reign
grupos: 1) Cefaleias trigêmino-autonômicas: cefaleias em
salvas, hemicrania paroxística e hemicrania continua; 2)
Cefaleias relacionadas à atividade física ou sexual ou
induzidas por Valsalva: cefaleia primária da tosse, cefaleia
primária do exercício e cefaleia atribuída à atividade sexu-
al e 3) Miscelâneas: cefaleia primária em facas, cefaleia
numular e cefaleia hípnica.
Além disso, nos faz um alerta em relação à respon-
sividade ao uso da indometacina das cefaleias secundári-
as que mimetizam cefaleias trigêmino-autonômicas. Reve-
lando que a boa resposta terapêutica não é um indicativo
de benignidade da doença ou de uma cefaleia primária.
OPINIÃO PESSOAL
Dr. Carlos Alberto Bordini
Paulo Sergio Faro Santos
Médico residente, Departamento de Neurologia,
Instituto de Neurologia de Curitiba - INC - Paraná, Brasil
Santos PSF. Indomethacin and Melatonin: two sisters who continue to reign. Headache Medicine. 2017;8(1):26-7
Headache Medicine, v.8, n.1, p.26-27, Jan./Feb./Mar. 2017 27
Os autores abordam a questão da cefaleia provocada
pela indometacina, a qual ocorre em cerca de 20% da-
queles que a utilizam continuamente. Fazem ainda uma
abordagem crítica a respeito da resposta absoluta ao uso
desta medicação frente à hemicrania paroxística e à
hemicrania contínua, revelando que nem sempre esta res-
posta absoluta é real, visto que até 30% dos pacientes
não são respondedores ao tratamento.
Enfim, está a nossa disposição um excelente traba-
lho de revisão sobre uma intrigante medicação que ain-
da gera bastante discussão e curiosidade no dia a dia.
Já o grupo de pesquisa do Dr. Mário Peres,
(2)
que há
anos se dedica ao estudo da
fisiopatologia da migrânea e o
efeito terapêutico da melatonina
nesta condição clínica, nos apre-
senta, através de um ensaio clí-
nico randomizado placebo-con-
trolado, a eficácia e a boa
tolerabilidade da melatonina na
prevenção da migrânea.
Nesta pesquisa foram com-
paradas a melatonina 3 mg, a
amitriptilina 25 mg e o placebo.
Os resultados foram animadores.
Ambas, a melatonina e a amitriptilina, foram superiores no
desfecho primário (redução na frequência em dias das cri-
ses de migrânea por mês) em comparação ao placebo.
Entretanto, a melatonina se mostrou superior à amitriptilina
em um dos desfechos secundários, no qual o número de
pacientes com melhora era maior que 50% na frequência
da migrânea.
No que diz respeito à tolerabilidade das medica-
ções, não ocorreu algum efeito adverso grave, sendo
que os grupos da melatonina e do placebo foram seme-
lhantes em relação ao número de ocorrência de eventos
adversos.
Diante de um panorama em que a última medica-
ção aprovada pela Food Drug Administration para a pre-
venção da migrânea foi o topiramato, em 2004, a
melatonina surge como uma nova opção terapêutica de
baixo custo e com bons resultados clínicos.
A única barreira atual é a disponibilidade desta dro-
ga no mercado brasileiro, já que a Anvisa ainda não
autorizou sua comercialização no país. "No entanto, a
legislação garante que pacientes que recebam a indica-
ção de uso deste produto por um profissional médico pos-
sam importar para uso, seja via bagagem de mão ou
mesmo pela internet." (Assessoria de Imprensa da Anvisa).
Recebido: 26 de outubro de 2016
Aceito: 7 de novembro de 2016
REFERÊNCIAS
1. Bordini EC, Bordini CA, Woldeamanuel YW, Rapoport AM.
Indomethacin Responsive Headaches: Exhaustive Systematic
Review with Pooled Analysis and Critical Appraisal of 81 Published
Clinical Studies. Headache. 2016 Feb;56(2): 422-35.
2. Gonçalves AL, Martini Ferreira A, Ribeiro RT, Zukerman E, Cipolla-
Neto J, Peres MF. Randomised clinical trial comparing melatonin
3 mg, amitriptyline 25 mg and placebo for migraine prevention.
J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2016 Oct;87(10):1127-32.
(http://jnnp.bmj.com/content/early/2016/05/10/jnnp-2016-
313458.full)
ANVISA. Melatonina. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/
informacoes-tecnicas13/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/
content/melatonina/219201/pop_up?_101_I NSTANCE_ FXr
px9qY7FbU_viewMode=print&_101_INSTANCE_FXrpx9q
Y7FbU_languageId=pt_BR>. Acesso em: 26 de out. 2016.
Correspondência
Paulo Faro
dr.paulo.faro@gmail.com
INDOMETACINA E MELATONINA: DUAS IRMÃS QUE CONTINUAM REINANDO
Dr. Mário Peres