16 Headache Medicine, v.8, n.1, p.16-18, Jan./Feb./Mar. 2017
Alterações no equilíbrio funcional e relato de quedas
em pacientes com migrânea crônica, migrânea com e
sem aura
Changes in functional balance and falls in patients with chronic migraine, migraine with and
without aura
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D
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Setor de Traumatologia e Ortopedia, Depto. de Fisioterapia da Universidade Federal de
São Carlos - São Carlos, SP
Carvalho GF, Silva CA, Florencio LL, Pinheiro CF, Dach F, Bevilaqua-Grossi D. Alterações no equilíbrio funcional e relato de
quedas em pacientes com migrânea crônica, migrânea com e sem aura. Headache Medicine. 2017;8(1):16-8
INTRODUÇÃO
A literatura sugere que pacientes com migrânea apre-
sentam disfunções subclínicas do sistema vestibular e do
tronco cerebral,
(1)
além de alterações nas vias centrais ves-
tibulares.
(2-4)
É também verificada a presença de altera-
ções no equilíbrio estático,
(1-3,5)
especialmente na presen-
ça da aura.
(6)
No entanto, é desconhecida a influência dos subtipos
de migrânea no controle postural durante a execução de
atividades funcionais, bem como a prevalência de quedas
nesta população.
OBJETIVOS
Avaliar o autorrelato de quedas e o desempenho
em tarefas funcionais em diferentes subgrupos de
migranosos.
MÉTODOS
Foram avaliados 140 pacientes divididos igualmente
em quatro grupos de acordo com o diagnóstico, migrânea
com aura (MA, idade: 37±9,5), migrânea sem aura (M,
idade: 35±8,7), migrânea crônica (MC, idade: 37±9,2)
e controles (GC, idade: 36±9,5) (Tabela 1). Este estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HC/
FMRP-USP (Processo n. 16693/2012).
Um avaliador cego quanto ao diagnóstico aplicou
um questionário relacionado ao relato de desequilíbrio
e ocorrência de quedas nos últimos 12 meses. Além
disso foi aplicado um protocolo de avaliação funcional
realizado no equipamento Balance Master (Neurocom®)
composto pelos testes de marcha, marcha tandem, su-
bida e descida do degrau e movimento de sentado para
em pé.
Os grupos foram comparados pelo teste ANCOVA,
com variáveis confundidores incluídas no modelo de aná-
lise, considerando α=0,05 pelo software SAS® versão
9.2. Além disso foi calculado o risco de prevalência de
quedas nesta população.
RESULTADOS
Comparados aos grupos M e GC, pacientes dos gru-
pos MA e MC apresentaram maior relato de desequilíbrio
(MA: 85,7%, MC: 62.9%, p<0,0001), maior história
de quedas (MA: 86%, MC: 43%, p<0,0001) e maior
número quedas no último ano (MA: 2,2, MC: 1,4,
p<0.04) (Tabela 2). Dentre os pacientes com história de
quedas, cerca de 65,7% do grupo MA, 40% do grupo
CM e 37% do grupo M relataram lesões leves decorren-
tes da queda como: contusões, arranhões, torções de
tornozelo e dores de curta duração nas regiões da colu-
na, mão e cabeça. Fraturas ou lesões graves não foram
relatadas.
SHORT COMMUNICATION
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Em relação aos testes funcionais, todos os pacientes
com migrânea apresentaram velocidade e comprimento
de passo reduzido durante a marcha (p<0.001) e mar-
cha tandem (p<0,03) em relação ao GC. Foram
verificadas diferenças na largura de passo entre indivíduos
do GC em relação aos grupos MA e MC durante a mar-
cha (p<0,03) e M, MA e MC durante a marcha tandem
(p<0,03).
Todos os migranosos levaram mais tempo para rea-
lizar a transferência de peso e apresentaram reduzido ín-
dice de elevação durante o movimento de levantar a partir
da posição sentada em comparação ao GC (p<0,002).
No teste de subida e descida do degrau foram obser-
vadas diferenças entre migranosos e controles em ambas
as pernas direita e esquerda na variável velocidade de
movimento (p<0,006). Além disso, foi verificada menor
descarga do peso corporal durante a subida e descida
do degrau em todos os migranosos versus CG (p<0,02)
e durante a subida no degrau entre M versus MA
(p<0,01).
DISCUSSÃO
Nossos resultados demonstraram que pacientes com
migrânea, independente da presença de aura e croni-
cidade, apresentam alterações na performance de ati-
vidades funcionais em relação a controles. A presença
da aura influenciou apenas uma das variáveis dentre os
quatro testes. No entanto, a presença destes dois fato-
res foi determinante para o maior relato de quedas,
desequilíbrio e presença de lesões consequentes às que-
das. Assim nosso estudo demonstra que a presença da
aura e cronicidade estão associadas ao risco de que-
das em migranosos.
ALTERAÇÕES NO EQUILÍBRIO FUNCIONAL E RELATO DE QUEDAS EM PACIENTES COM
MIGRÂNEA CRÔNICA, MIGRÂNEA COM E SEM AURA
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Estudos de imagem relacionam a presença da aura e
maior frequência de crises com maior quantidade de le-
sões isquêmicas no território das artérias vértebro-basilares,
especialmente no cerebelo, tronco encefálico e ouvido in-
terno.
(7)
Futuros estudos que avaliem tanto a presença de
microisquemias quanto o controle postural, podem elucidar
associação entre estes fatores. Assim, estratégias relacio-
nadas à prevenção e manejo da deterioração do controle
postural em nestes grupos de migranosos pode ser consi-
derada.
No entanto, não foram encontradas diferenças
significantes entre migranosos sem aura, com aura e crô-
nicos na performance dos testes funcionais; diferente de
um estudo prévio que verificou influência da aura no con-
trole postural estático.
(6)
Corroborando com estes resulta-
dos, foram verificadas alterações da marcha tandem e
marcha em migranosos, comparados a controles.
(2,6)
Como
a avaliação do equilíbrio estático exige controle postural
mais refinado e preciso, é possível que as diferenças entre
os subgrupos de migrânea se tornem mais evidentes.
Além disso, é importante destacar que a amostra ava-
liada é composta de indivíduos jovens, cuja idade média
gira em torno de 36 anos. Talvez o deterioramento do
controle postural decorrente da doença, como já eviden-
ciado por Akdal, 2012,
(8)
associado ao decorrente do
processo de envelhecimento, possa evidenciar maiores
diferenças entre os grupos. Porém, estas alterações já
são suficientes para influenciar o relato de desequilíbrios
e quedas nesta população. Isso pode causar um impacto
importante nas vidas destes pacientes, somado ainda à
influência da dor, que é bastante conhecida.
Assim este estudo é o primeiro a evidenciar que as
alterações do controle postural afetam a performance de
atividades funcionais como subir e descer degraus, sen-
tar para em pé, marcha e marcha tandem. A presença
de aura e cronicidade estão associados ao risco de que-
das nestes pacientes. Estudos direcionados no sentido de
maior investigação clínica e planejamento de interven-
ções terapêuticas apropriadas são necessárias.
CONCLUSÃO
Pacientes com migrânea apresentam alterações na
performance em tarefas funcionais, sugerindo deteriora-
ção precoce do controle postural com consequente inter-
ferência na vida diária com maior prevalência de que-
das e associação com o risco de quedas. Avaliação ade-
quada do equilíbrio e estratégias de reabilitação devem
ser consideradas para pacientes com migrânea.
REFERÊNCIAS
1. Harno H, Hirvonen T, Kaunisto MA, et al. Subclinical
vestibulocerebellar dysfunction in migraine with and without
aura. Neurology 2003;61:1748-52.
2. Akdal G, Donmez B, Ozturk V, Angin S. Is balance normal in
migraineurs without history of vertigo? Headache
2009;49:419-25.
3. Ishizaki K, Mori N, Takeshima T, et al. Static stabilometry in
patients with migraine and tension-type headache during a
headache-free period. Psychiatry Clin Neurosci 2002;56:85-
90.
4. Baker BJ, Curtis A, Trueblood P, Vangsnes E. Vestibular functioning
and migraine: comparing those with and without vertigo to a
normal population. J Laryngol Otol 2013;127:1169-76.
5.Ongun N, Atalay NS, Degirmenci E, Sahin F, Bir LS. Tetra-
ataxiometric Posturography in Patients with Migrainous Vertigo.
Pain physician 2016;19:E87-96.
6. Carvalho GF, Chaves TC, Dach F, et al. Influence of Migraine
and of Migraine Aura on Balance and Mobility - A Controlled
Study. Headache 2013;53:1116-22.
7. Kurth T, Mohamed S, Maillard P, et al. Headache, migraine, and
structural brain lesions and function: population based
Epidemiology of Vascular Ageing-MRI study. BMJ
2011;342:c7357.
8. Akdal G, Balci BD, Angin S, Ozturk V, Halmagyi GM. A longitu-
dinal study of balance in migraineurs. Acta Otolaryngol
2012;132:27-32.
Correspondência
Gabriela Ferreira Carvalho
Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de
São Carlos
Setor de Traumatologia e Ortopedia
São Carlos, SP
Recebido: 05 de outubro de 2016
Aceito: 10 de outubro de 2016
CARVALHO GF, SILVA CA, FLORENCIO LL, PINHEIRO CF, DACH F, BEVILAQUA-GROSSI D