Headache Medicine, v.8, n.1, p.6-10, Jan./Feb./Mar. 2017 7
se o aumento da ingestão de água para amenizar a
cefaleia.
(13)
MIGRÂNEA
A partir da descrição da cefaleia induzida por priva-
ção de água em indivíduos saudáveis, começaram a sur-
gir descrições de que os ataques de migrânea poderiam
ser precipitados, também, pela privação de água
(6-9)
ou
melhorados pelo aumento da ingestão de água.
(9)
O conhecimento desse gatilho da cefaleia em paci-
entes com migrânea surgiu a partir de observações em
dois estudos. No primeiro, foram entrevistados cinquenta
migranosos e lhes perguntaram se a ingestão insuficiente
de líquidos poderia provocar seus ataques de migrânea. A
resposta foi positiva em vinte deles. No segundo estudo,
realizado no Reino Unido com 45 migranosos que partici-
pavam de uma reunião da British Migraine Association,
14 reconheceram a privação de água como um dos gati-
lhos de suas crises de migrânea. Concluiu-se que, nos
dois estudos com 95 migranosos, 34 sabiam que a desi-
dratação poderia provocar seus ataques, um precipitante
ainda não reconhecido pela classe médica.
(8)
Em 2007, as neurologistas portuguesas Isabel Pa-
vão Martins e Raquel Gil Gouveia, de Lisboa, descreve-
ram o caso de um homem de 38 anos com migrânea
desde os 12 anos, com ataques, nitidamente, relaciona-
dos à privação de água. Este paciente apresentou me-
lhora da frequência dos ataques de cefaleia após ter au-
mentado a ingestão diária de água, aproximadamente
80-100 mL para 1.500 mL/dia. Quando se compara-
ram os períodos de baixa ingestão de água com aqueles
de alta ingestão, constatou-se que houve uma redução
no número médio de ataques por mês (10,5 para 5,4;
p<0,0001) e na média mensal de ingestão de compri-
midos de triptano (11,6 para 6,2; p<0,0001).
(6)
No mesmo ano, o neurologista brasileiro Maurice
Vincent, professor da UFRJ, examinou um caso curioso
de cefaleia desencadeada por privação de água. O pa-
ciente dizia que, sobretudo em vôos longos, a falta de
ingestão hídrica poderia desencadear seus episódios
migranosos.
(5)
Quanto à resposta terapêutica com o aumento da
ingestão hídrica, realizou-se um estudo piloto sobre os
efeitos da ingestão regular de água em pacientes com
migrânea. Nesse estudo, observou-se, em 18 pacientes
com migrânea, uma redução média de 21 horas de
cefaleia em duas semanas, durante um período de se-
guimento de três meses.
(9)
Foi realizado um estudo randomizado com paci-
entes com migrânea para investigar os efeitos do au-
mento da ingestão de água na cefaleia. O grupo de
intervenção recebeu instruções para aumentar a
ingestão diária de água em 1,5 litros. Na avaliação,
utilizaram-se o diário da cefaleia e o questionário
Migraine Specific Quality of Life (MSQOL). Consta-
taram que o aumento da ingestão hídrica resultou em
uma melhoria, estatisticamente significante, de 4.5
pontos no MSQOL.
(2)
As observações que vêm sendo feitas parecem pro-
missoras, mas é preciso lembrar que outros fatores in-
terferem sobre os efeitos positivos do aumento da ingestão
de água em pacientes com migrânea, tais como, curso
natural da doença, efeito placebo, tamanho pequeno
da amostra etc. No entanto, parece razoável recomen-
dar aos pacientes com migrânea esta intervenção tera-
pêutica por certo período de tempo e observar suas
melhorias.
Mecanismos fisiopatológicos. O estresse, um
gatilho comum da migrânea, induz a liberação de
hormônio adrenocorticotrófico,
(14)
resultando em
hipersecreção de glicocorticoides, o que leva a um
desequilíbrio de processos homeostáticos, incluindo o
balanço hídrico.
O sono normal está associado a uma redução da
excreção de sódio urinário devido a um aumento fisio-
lógico da aldosterona plasmática;
(15)
mas a privação de
sono, outro gatilho da migrânea, pode aumentar as pro-
porções de n-acetil-aspartato e colina para a água no
córtex, sugerindo uma hipo-hidratação celular relativa
dentro da variabilidade fisiológica.
O exercício físico, também um desencadeante da
migrânea, está relacionado à perda de água através do
aumento da transpiração e, muitas vezes, pode resultar
em hipo-hidratação subclínica ou manifesta.
(16)
A atividade neuronal depende do equilíbrio iônico
transmembranoso e funciona adequadamente apenas
dentro de uma estreita faixa de osmolalidade
plasmática,
(17)
por isso, é essencial a manutenção da
água na homeostase iônica.
Todos os casos descritos anteriormente revelaram a
importância do metabolismo da água em indivíduos com
migrânea, evidência que está de acordo com a visão
atual da migrânea como uma canalopatia/ionopatia
neuronal.
(18,19)
Conduta nutricional. Recomenda-se o aumento da
ingestão de líquidos.
A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NAS CEFALEIAS