190 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
Mecanismos farmacológicos do topiramato na
profilaxia e tratamento da enxaqueca: uma revisão
Pharmacological mechanism of topiramate in the prophylaxis and treatment of migraine:
a review
Emanuela Paz Rosas
1
,
Raisa Ferreira Costa
2
, Silvania Tavares Paz
3
, Ana Paula Fernandes da Silva
1
,
Manuela Freitas Lyra de Freitas
4
, Marcelo Moraes Valença
1,2
1
Programa de Pós-graduação em Biologia Aplicada à Saúde, Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil
2
Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas, UFPE, Brasil
3
Programa de Pós-graduação em Saúde Translacional, UFPE, Brasil
4
Departamento de Anatomia, UFPE, Brasil
Rosas EP, Costa RF, Paz ST, Silva APF, Freitas MFL, Valença MM. Mecanismos farmacológicos do topiramato na profilaxia e
tratamento da enxaqueca: uma revisão. Headache Medicine. 2018;9(4):190-95
VIEW AND REVIEW
RESUMO
Objetivo: Esta revisão buscou trazer evidências de estudos
que abordam os mecanismos de ação do topiramato na
prevenção e tratamento da enxaqueca. Introdução: A en-
xaqueca é um distúrbio neurovascular que acomete grande
parte da população mundial. O uso de profiláticos contribui
para a diminuição da frequência e gravidade desta doença.
Dentre os fármacos neuromoduladores utilizados, o
topiramato vem se mostrando como um dos mais eficazes
para o tratamento preventivo de enxaqueca. Apesar dos
mecanismos de ação desta droga ainda não estarem bem
elucidados na literatura, existem diversos mecanismos
moleculares propostos. Metodologia: Foi realizado um le-
vantamento na literatura, no período de fevereiro a março
de 2018, em diferentes bases de dados, utilizando os se-
guintes termos: topiramato, enxaqueca e mecanismos de
ação. Após uma seleção criteriosa, 25 artigos foram seleci-
onados para esta revisão. Resultados: Estudos apontaram
que os principais mecanismos de ação os quais o topiramato
atua está relacionado a uma modulação dos canais iônicos
de sódio e cálcio voltagem-dependentes, o bloqueio da trans-
missão excitatória do glutamato e inibição através dos re-
ceptores Ácido gama-aminobutírico (GABA), AMPA/kainato
e de algumas isoenzimas da anidrase carbônica. Além dis-
so, o topiramato está envolvido na supressão da depressão
alastrante cortical, na influência da atividade trigemino-
vascular e na excitabilidade neuronal. Conclusão: Sendo
assim, o topiramato poderia estar envolvido na prevenção
dos principais eventos da fisiopatologia da enxaqueca. Atu-
ando diretamente na depressão alastrante cortical (DAC),
na sinalização trigeminovascular e na diminuição da
sensibilização central da dor da enxaqueca.
Palavras-chave: Topiramato; transtornos de enxaqueca;
farmacologia
ABSTRACT
Objective: This review sought to bring evidence of studies
addressing the mechanisms of action of topiramate in the
prevention and treatment of migraine. Background: Migraine is a
neurovascular disorder that affects a large part of the world
population. The use of prophylactics contributes to the decrease
in the frequency and severity of this disease. Among the
antiepileptic drugs, the topiramate, has proven to be the most
effective for the treatment of migraine. Although the mechanism of
action of this drug is still not well elucidated in the literature, there
are several molecular mechanisms proposed. Methodology: A
survey was carried out in the literature, from February to March
2018, in different databases, using the descriptors: topiramate,
migraine and mechanisms of action. After a careful selection, 25
manuscripts were chosen for this review. Results: Evidence from a
number of studies has indicated that the main mechanisms of action
of topiramate are related to the modulation of voltage-dependent
sodium and calcium ion channels, blockade of excitatory
glutamate transmission and inhibition by gamma-aminobutyric
acid receptors (GABA), AMPA/kainate and some isoenzymes of
carbonic anhydrase. In addition, topiramate is involved in the
suppression of cortical spreading depression, besides influencing
trigeminovascular activity, and neuronal excitability. Conclusion:
Thus, topiramate could be involved in the prevention of major
events of the pathophysiology of migraine. Acting directly on
cortical spreading depression (DAC), trigeminovascular signals
and decreased central sensitization of migraine pain.
Keywords: Topiramate; Migraine disorders; Pharmacology
Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018 191
INTRODUÇÃO
A enxaqueca é um distúrbio neurológico de nature-
za multifatorial e de caráter hereditário, que ocorre em
todos os indivíduos em algum momento da vida, inde-
pendente da faixa etária e gênero.
(1)
Tem sido conside-
rada mais prevalente no sexo feminino, devido princi-
palmente ao ciclo hormonal.
(2)
Episódios de enxaqueca ocorrem em torno de 50%
da população ao longo do ano e em geral 90% das
pessoas relatam ao menos um episódio durante a vida.
(3)
Devido a constância, este distúrbio é considerado atu-
almente como a sexta doença mais incapacitante do
mundo, por afetar a qualidade de vida e a capacidade
funcional, além de trazer prejuízos socioeconômicos.
(4)
A etiologia da enxaqueca ainda não está bem evi-
denciada na literatura científica. Estudos vêm propondo
que haja o envolvimento de alguns eventos na
patogênese da enxaqueca, sendo estes: (1) depressão
alastrante cortical (DAC), (2) ativação do sistema
trigeminovascular (nociceptores durais) e, de alguma
forma, (3) sensibilização periférica e central desta via
da dor,
(5)
que pode ser desencadeada por uma
multiplicidade de fatores que contribuem para um au-
mento da hiperexcitabilidade neuronal. Além disso, a
dor ligada à enxaqueca pode ser resultante de uma ati-
vação repetida e inadequada de neurônios nociceptivos
dentro do nervo trigeminal, que posteriormente, induz a
liberação de neuropeptídios e um processo inflamatório
estéril.
(6)
A profilaxia na enxaqueca tem sido um método bas-
tante utilizado para reduzir a frequência, a gravidade e
as deficiências associadas à esta doença.
(7)
Vários me-
dicamentos são empregados na prevenção da enxaque-
ca, incluindo fármacos da classe dos antiepilépticos, dos
β-bloqueadores, dos bloqueadores dos canais de cál-
cio, e dos antidepressivos tricíclicos.
(8,9)
A classe dos antiepiléticos tem sido largamente uti-
lizada para prevenção deste distúrbio, e dentre eles o
topiramato (TPM) é um dos mais conhecidos, possuindo
um amplo espectro de mecanismos de ação.
(10-12)
Estudos vêm provando cada vez mais sua eficácia
na enxaqueca com uma redução média de 72% na
frequência de dor de cabeça e de 55% na gravidade.
(13)
No entanto, os mecanismos de ação desta droga ainda
não estão bem esclarecidos. Portanto, o objetivo dessa
revisão é trazer evidências de estudos que abordam os
mecanismos de ação do TPM no tratamento da enxa-
queca.
MÉTODO
A presente revisão foi realizada no período de feverei-
ro a março de 2018. Foram avaliados artigos de diferentes
delineamentos disponíveis nas bases de dados Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online
(SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ci-
ências da Saúde (LILACS), U.S. National Library of Medicine
and the National Institutes Health (PubMed) e Web of
Science.
Como estratégia de busca foram utilizados os seguintes
termos livres: "Topiramato" e "Mecanismos de Ação" e "Enxa-
queca" e seus equivalentes em inglês ("Topiramate" and
"Action Mechanism" and "Migraine") selecionados median-
te consulta ao Medical Subject Headings (MeSH). Apenas
os manuscritos que descrevessem os mecanismos de ação
do topiramato na profilaxia da migrânea foram inclusos.
O processo de seleção desta revisão de literatura ocor-
reu em três etapas. Na primeira foi realizada a leitura dos
títulos e resumos dos artigos encontrados. Posteriormente,
procedeu-se com a leitura dos artigos e, por último, foram
identificados artigos a partir da lista de referências destes
manuscritos. Além disso, artigos que não apresentassem
mecanismos de ação que não fossem do topiramato ou de
doenças que não fossem enxaqueca, e os artigos presentes
em mais de uma das bases de dados foram excluídos. Do
total de 80 artigos encontrados, 25 foram selecionados
para esta revisão.
OS MECANISMOS DE AÇÃO DO TOPIRAMATO
NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA MIGRÂNEA
O topiramato é um derivado do monossacarídeo
D-frutose natural, que vem sendo usado não só como
uma droga antiepiléptica, mas também como um método
preventivo em doenças não epilépticas como a enxaque-
ca.
(10-12)
Devido à semelhança fisiopatológica entre epi-
lepsia e enxaqueca mecanismos farmacológicos têm sido
propostos em ambas as doenças tais como: a modulação
dos canais iônicos de sódio dependentes de voltagem
(14-24)
e dos canais iônicos de cálcio (Ca
2+
) dependentes de volta-
gem
(14,17,19,20,22-25)
e do tipo L,
(15-17,24,26)
o bloqueio da trans-
missão do glutamato excitatório e inibição de algumas
isoenzimas II e IV da anidrase carbônica.
(14-16,18,19,22,26)
Es-
tes mecanismos podem influenciar o estado excitatório das
células por influenciar os complexos proteicos receptor/
canal, incluindo alterações nos seus estados de fosforilação.
Tais atuações são conhecidos por influenciar a atividade
trigeminovascular.
(15)
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS DO TOPIRAMATO NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA ENXAQUECA: UMA REVISÃO
192 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
A redução do disparo neuronal no complexo trigemi-
nocervical mediado pelo ácido gama-aminobutírico (GABA)
também é um dos mecanismos do topiramato. Por meio
dos receptores GABA, o TPM eleva o fluxo de cloreto.
(17,21)
Em humanos saudáveis, o TPM aumenta os níveis de GABA
no cérebro e de forma indireta, intensifica a transmissão
mediada pelo GABA.
(14-17,21,27)
Além disso, este fármaco
pode ter mecanismos de ação complementares como o de
interromper o ciclo fisiopatológico da enxaqueca por inibir
a sinalização glutamatérgica pelos nervos aferentes do
trigêmeo e pela modulação da sinalização nociceptiva atra-
vés dos receptores GABA
A
no núcleo caudal do trigêmeo
ou nas vias descendentes de tronco encefálico.
(26-28)
Outro efeito observado pelo TPM é sua ação inibitó-
ria na excitabilidade dos córtices motor e visual. Com esta
ação, o TPM pode impedir o desenvolvimento de DAC
reduzindo a transmissão nociceptiva e, na maioria das ve-
zes, inibindo a hiperexcitabilidade neuronal.
(14)
Entre as outras drogas antiepilépticas (AEDs) que são
utilizadas no tratamento da enxaqueca, o TPM é a única
droga que possui a capacidade de modificar a neuro-
transmissão excitatória através dos receptores de glutamato
Alfa-amino-3-hidroxi-metil-5-4-isoxazolpropiónico (AMPA)
subtipo kainato.
(15,17,21,26)
Andreou e Goadsby
( 29)
avalia-
ram os efeitos do TPM na ativação trigeminovascular em
neurônios de segunda ou terceira ordem do complexo
trigeminocervical (TCC) e do núcleo talâmico ventropos-
teriormedial (VPM), bem como sua ação nos receptores de
glutamato ionotrópico ácido N-metil-D-aspártico (NMDA),
e AMPA/kainato dentro desses núcleos. Observou-se que
nas duas vias houve uma inibição significativa da ativida-
de trigeminovascular no TCC e VPM. Em ambos os núcle-
os, a aplicação do TPM diminuiu significativamente a ação
induzida pelo ativação do receptor kainato, propondo as-
sim que o TPM pode modular a transmissão nociceptiva
trigeminovascular na via trigeminotalâmica, e que uma das
vias de ação deste fármaco tanto no núcleo do TCC quan-
to no VPM é o receptor AMPA/kainato.
(29)
A substância cinzenta periaquedutal (PAG) tem sido
apontada como relevante na modulação da nocicepção
craniovascular e está envolvida no sistema que modula a
dor descendente, participando na fisiopatologia da enxa-
queca.
(30-32)
Os canais de Ca
2+
em neurônios da PAG
modulam a nocicepção trigeminal e sua atividade disfun-
cional tem certa influência na enxaqueca.
(28)
A ativação
de aferências trigeminovasculares das meninges, que ocorre
na crise de dor na enxaqueca, e evidências substanciais
apontam que o sistema trigeminovascular é também ativa-
do por depressão alastrante cortical, e que é resultante da
hiperexcitabilidade neocortical. A alteração na atividade
dos canais de Ca
2+
nos neurônios corticais e da PAG pode
representar um alvo para a prevenção da enxaqueca.
(33)
Martella et al.
(34)
demonstraram em seu estudo que o TPM
agiu no bloqueio de canais de Ca
2+
ativados por alta vol-
tagem, de forma mais potente e eficaz, em neurônios do
PAG do que em células piramidais corticais. Essa diferen-
ça foi observada porque o TPM inibiu canais do tipo N, P
e L da PAG, enquanto que nos neurônios corticais esse
fármaco modulou apenas canais do tipo P e L. Esse blo-
queio de subtipos específicos de canais de Ca
2+
depen-
dentes de voltagem pode restaurar a atividade elétrica nor-
mal do córtex e o PAG, e assim pode ser uma das aborda-
gens terapêuticas deste fármaco na prevenção da enxa-
queca.
(34)
Em um estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego
realizado por Hebestreit e May,
(35)
observou-se que TPM
diminuiu significativamente a atividade no tálamo e em
outras áreas de processamento da dor, bem como foi visto
que o TPM aumentou a conectividade funcional entre o
tálamo e várias regiões cerebrais, tais como o precuneus
bilateral, o córtex cingulado posterior e o córtex soma-
tossensorial secundário. Sugere-se assim, que o TPM tem
como alvo um sistema, em vez de uma estrutura única, e
exibe efeitos modulatórios no processamento nociceptivo
em redes tálamo-corticais durante a dor do trigêmeo.
(35)
Ayata et al.
(24)
avaliaram o TPM na supressão da DAC
através da estimulação elétrica e aplicação com cloreto de
potássio (KCl) nos hemisférios direito de ratos. Os efeitos
dessa droga foram dependentes da dose: 60 e 80 mg/kg/
dia reduziram o número de DACs em 30% e 50%, respec-
ROSAS EP, COSTA RF, PAZ ST, SILVA APF, FREITAS MFL, VALENÇA MM
Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018 193
tivamente. Além disto, foi visto que com uma semana de
tratamento (80 mg/kg/dia) não foi suficiente para reduzir
o número de depressão alastrante, contudo tratamentos
mais longos suprimiram. Porém, o TPM reduziu significati-
vamente a velocidade de propagação de DAC após teste
agudo de uma única injeção. Esses dados fornecem fortes
evidências experimentais que a DAC está implicada na
fisiopatologia da enxaqueca, e que o tratamento sistêmico
crônico com drogas profiláticas como TPM suprimem a
DAC como uma de suas ações farmacológicas.
(24)
No estudo de Wiedemann et al.,
(36)
o TPM foi utiliza-
do para investigar se havia inibição da DAC através de
parâmetros da excitabilidade neuronal, tais como a veloci-
dade de espalhamento, latência e distúrbios de gradientes
iônicos em retinas de frangos. O TPM não apresentou efei-
to sobre a latência entre o estímulo e o início da onda,
mas reduziu a velocidade de propagação. Isto pode estar
relacionado ao seu efeito inibidor nos receptores AMPA.
Portanto, a redução da frequência da DAC pode ser uma
via de mecanismo que o TPM atua na prevenção do início
da enxaqueca, pois a mesma está diretamente associada a
liberação de moléculas durante a propagação de ondas
da DAC.
(36)
Em um estudo prospectivo realizado por Akerman e
Goadsby,
(37)
utilizaram-se 17 ratos e 13 gatos para observar
o efeito do topiramato (10 e 30 mg/kg) na depressão
alastrante cortical. No rato, o topiramato (10 mg/kg) não
afetou a velocidade de propagação, embora tenha atrasa-
do o início da resposta hiperêmica. No gato, a mesma con-
centração foi incapaz de impedir a ocorrência de depressão
alastrante ou retardar o início da resposta hiperêmica. Em
ambos, o topiramato (30 mg/kg) foi capaz de bloquear as
alterações no fluxo sanguíneo cerebral e pico cortical das
células na depressão alastrante, porém dos 13 gatos ape-
nas oito responderam. Sendo assim, é observado que o
topiramato pode agir por mecanismos relacionados à inici-
ação e propagação da depressão alastrante.
(37)
Medicamentos que impedem a produção de citocinas
ou bloqueiam a liberação de peptídeos vasoativos a partir
das terminações vasculares do trigêmeo podem ser úteis
no tratamento de enxaqueca.
(38)
A interleucina-6 (IL-6) é
uma das quimiocinas responsáveis por estimular a ativa-
ção dos nervos trigêmeos e liberação de peptídeos
vasoativos, resultando em inflamação. Em um estudo, rea-
lizou-se a medição dos níveis séricos de IL-6 em pacientes
com enxaqueca crônica, alguns utilizando o TPM como
tratamento preventivo e outros não. Com isso, foi visto que
este fármaco não atua em mecanismos da concentração
sérica de IL-6 em pacientes com enxaqueca crônica, per-
manecendo sem alterações como os que não utilizaram o
tratamento.
(39)
No estudo de Akerman e Goadsby,
(40)
foi avaliado o
efeito do TPM na vasodilatação neurogênica dural induzida
pelo peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP),
oxido nítrico (NO) e estimulação elétrica. O TPM foi ca-
paz de inibir a vasodilatação neurogênica dural na estimu-
lação elétrica apenas na maior dosagem e foi capaz de
inibir a dilatação dos vasos sanguíneos durais induzida
por NO em todas as doses. A dilatação dos vasos sanguí-
neos induzida por CGRP não foi alterada com o pré-trata-
mento com TPM em nenhuma das doses que foram usa-
das. O TPM, portanto, inibe a vasodilatação neurogênica
dural influenciando o estado excitatório das células, e, desse
modo, impede a liberação de neurotransmissores.
(40)
O estudo de Storer e Goadsby
(41)
demonstrou que a
aplicação local de TPM na sinapse de neurônios de se-
gunda ordem do sistema trigeminovascular de gatos cau-
sava uma inibição significativa do disparo de neurônios
induzidos por L-glutamato apenas nas maiores correntes
microiontoforéticas. Contudo, neste estudo,
(41)
também foi
visto que o TPM, quando administrado sistemicamente, ini-
bia parcialmente este disparo. Posterior a esta administra-
ção sistêmica, foi notada uma inibição profunda da ativa-
ção de células evocadas pelo L-glutamato no complexo
trigeminocervical na sinapse de segunda ordem do sistema
trigeminovascular. E, com isso, sugere-se que o topiramato
pode atuar fora do complexo trigeminocervical, em espé-
cies como o gato.
(41)
Em seu estudo. Karadas et al.
(42)
avaliaram a eficácia
do TPM na reatividade vasomotora (VMR) da artéria cere-
bral média (ACM) (direita e esquerda), e da artéria cere-
bral posterior (PCA), e o fluxo sanguíneo cerebral antes e
após tratamento em pacientes de enxaqueca com aura.
Houve também neste mesmo estudo o grupo controle (pes-
soas sem cefaleia) que foi submetido à medida de VMR
com a mesma técnica e usando as mesmas artérias. As
velocidades de fluxo obtidas a partir da ACM direita e es-
querda e os valores de VMR no grupo tratado com TPM
não diferiram daqueles do grupo controle. Desta forma, o
TPM mostrou-se um profilático eficaz em pacientes com
enxaqueca com aura exercendo um importante papel na
regulação do controle autonômico cerebrovascular.
(42)
Esse medicamento anticonvulsionante pode bloquear
a ativação de neurônios trigeminais.
(22,23)
Observou-se no
estudo de Storer e Goadsby
(43)
o efeito do topiramato na
ativação trigeminocervical através da estimulação do seio
sagital superior (SSS), que resultou em uma inibição dose-
dependente na ativação neuronal do SSS com queima
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS DO TOPIRAMATO NA PROFILAXIA E TRATAMENTO DA ENXAQUECA: UMA REVISÃO
194 Headache Medicine, v.9, n.4, p.190-195, Oct./Nov./Dec. 2018
máxima reduzida na dose 50 mg/kg aos 60 minutos e
evocou atividade de c-Fos e fluxo sanguíneo do núcleo
trigeminocervical. Além disso, o TPM teve um efeito quase
máximo em trinta minutos na dose de 5 mg/kg. Essa
estimulação do seio sagital superior na presença de
topiramato não indica necessariamente uma ação no com-
plexo trigeminocervical, mas demonstra regiões importan-
tes no mesencéfalo e ponte a ser ativada em ambas as
crises episódicas e crônicos. O topiramato pode, portanto,
bloquear a ativação de neurônios em um local distante do
complexo trigeminocervical.
(43)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do levantamento bibliográfico realizado nesta
revisão, estudos sugerem que o topiramato pode atuar em
neurônios dentro do sistema trigeminovascular ou secun-
dariamente em um local distante como no tálamo-córtices.
Sua ação, além de inibir o disparo excitatório dos neurônios,
bloqueando os canais de Na
+
e Ca
2+
, diminui a liberação
de neurotransmissores e peptídeos vasoativos que ajudam
na ativação e sensibilização dos neurônios aferentes pri-
mários e centrais da dor de enxaqueca. Além disso, a su-
pressão da DAC e a inibição de algumas isoenzimas de
anidrase carbônica, de receptores GABA
A
e AMPA/kainato
são vias pelas quais o topiramato tem prevenido e tratado
a enxaqueca.
Agradecimentos
À CAPES e FACEPE, pelo apoio financeiro dado a
este projeto de pesquisa, sem o qual esta pesquisa não
poderia ter sido desenvolvida.
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Correspondência
Emanuela Paz Rosas.
Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária,
Recife - PE, 50670-901.
E-mail: manu_pathy@hotmail.com
telefone: +55 81 2126-8529
Recebido: 6 dezembro 2018
Aceito: 22 de dezembro de 2018
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