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A influência do período menstrual nos índices de cefaleia,
incapacidade e modulação da dor em mulheres jovens
The influence of the menstrual period on the effects of pain, disability and modulation of pain
in young women
ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Introdução: A menstruação é um acontecimento que marca
a vida das mulheres, e seu primeiro episódio, a menarca,
representa o início da fase reprodutiva. Alterações pré-mens-
truais físicas e mentais acometem as mulheres durante sua
vida reprodutiva, a fase lútea e os sintomas pré-menstruais
estão correlacionados, incluindo cefaleias, cólicas, irrita-
bilidade, diminuição de concentração, depressão e ansieda-
de. Objetivo: Relacionar os sintomas de dor e cefaleia e
alterações na mobilidade cervical com o período menstrual
em universitárias jovens. Método: Trata-se de um estudo quan-
titativo experimental prospectivo que utilizou a Escala Visual
Analógica de Dor (VAS) para avaliar a intensidade de dor;
Questionário Midas para avaliar a incapacidade devido à
cefaleia; Algometria para avaliar o limiar de dor à pressão;
Modulação Condicionada da Dor para avaliar as vias inibi-
tórias de dor; Os questionários Start Back Screening Tool para
avaliar a presença de fatores psicossociais na dor e o Dizziness
Handicap Inventory para avaliar presença de tontura; Escala
Tampa para avaliar Cinesiofobia; Questionário Neck Disability
Index para avaliar a incapacidade cervical nas AVD's e o
Flexion Rotation Test para avaliar a ADM da cervical alta. Re-
sultados: O questionário Midas apresentou um dado cres-
cente de incapacidade leve a moderada, junto com a escala
Tampa para Cinesiofobia. Apesar destes resultados, as entre-
vistadas não apresentaram sinais de tontura, fatores psicosso-
ciais, restrição de ADM cervical e nem nociceptivos. Conclu-
são: Até o momento as jovens avaliadas não demonstraram
influência significativa do período menstrual na amplificação
do quadro de dor, cefaleia e a possível incapacidade ocasio-
nada pelas mesmas.
Palavras-chave: Menstruação; Dor; Cefaleia.
ABSTRACT
Introduction: Menstruation is an event that marks the lives of
women, and its first episode, the menarche, represents the
beginning of the reproductive phase. Premenstrual and physical
changes affect women during their reproductive life, the luteal
phase and pre-menstrual symptoms are correlated, including
headaches, cramps, irritability, decreased concentration,
depression and anxiety. Objective: To relate the symptoms of
pain and headache and changes in cervical mobility with the
menstrual period in young university students. Method: This
is a Prospective Quantitative Experimental Study that used Vi-
sual Analog Pain Scale (VAS) to assess pain intensity; Midas
questionnaire to assess disability due to headache; Algometry
to assess pressure pain threshold; Conditional Modulation of
Pain to assess pain inhibitory pathways; Start Back Screening
Tool Questionnaire to assess the presence of psychosocial
factors in pain; Dizziness Handicap Inventory questionnaire to
assess presence of dizziness; Tampa scale to evaluate
Kinesiophobia; Neck Disability Index Questionnaire to assess
cervical disability in ADLs and the Flexion Rotation Test to assess
cervical high ROM. Results: The Midas questionnaire presented
an increasing number of mild to moderate disability, along
with the Tampa scale for kinesiophobia. Despite these results,
the interviewees showed no signs of dizziness, psychosocial
factors, restriction of cervical and nociceptive ROM.
Conclusion: Up to the present time, the evaluated girls did
not demonstrate significant influence of the menstrual period
on the amplification of pain, headache and the possible
incapacity caused by them.
Keywords: Menstruation; Pain; Headache
Pablo Augusto Silveira da Silva
1
, Luiz Henrique Gomes Santos
2
1
Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé, MG, Brasil - UNIFEG
2
Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé, MG, Brasil - UNIFEG
Silva PAS, Santos LHG. A influência do período menstrual nos índices de cefaleia, incapacidade e
modulação da dor em mulheres jovens. Headache Medicine. 2018;9(2):55-60
56 Headache Medicine, v.9, n.2, p.55-60, Apr./May/Jun. 2018
SILVA PAS, SANTOS LHG
INTRODUÇÃO
A menstruação é um acontecimento que marca a vida
das mulheres, e seu primeiro episódio, menarca, represen-
ta o início da fase reprodutiva. Ocorre no período de alte-
rações físicas e psicológicas importantes, sendo influencia-
da por vários fatores, dentre eles, o clima, fatores genéticos
e étnicos, atividades físicas e o estado nutricional.
(1)
Normalmente, um ciclo menstrual ocorre de 21 a 35
dias, tendo em média 28 dias. É dividido em três fases,
folicular, ovulatória e lútea, sendo cada fase caracterizada
pelas mudanças nas secreções, pela hipófise anterior, dos
hormônios folículo estimulante e luteinizante, e de estrógeno
e progesterona, pelos ovários, fatores que as tornam mais
susceptíveis a quadros álgicos, quando comparado aos
homens.
(2)
A síndrome pré-menstrual é a mais significante das al-
terações, e os sintomas podem acontecer até duas semanas
antes da menstruação, causando mudanças emocionais,
comportamentais e físicas, exacerbadas com a chegada do
período menstrual. A fase lútea e os sintomas pré-menstruais
estão correlacionados, incluindo cefaleias, inchaço abdo-
minal, cólicas, mudanças de peso, irritabilidade, diminui-
ção de concentração, depressão e ansiedade.
(3,4)
Dentre os quadros álgicos e as síndromes mais co-
muns citam-se migrânea, cefaleia do tipo tensional, fibro-
mialgia, distúrbios temporomandibulares (DTM), artrite
reumatoide (AR), osteoartrite (OA) e síndrome do intestino
irritado (SII). A idade da mulher interfere na prevalência do
tipo de desordem que irá ter acometimento, por exemplo,
migrânea, DTM e SII ocorrem em maior evidência no auge
da época reprodutiva (18-50 anos), decorrente dos
hormônios ovarianos associados ao ciclo menstrual.
(5)
Estes estímulos nociceptivos por longo tempo no siste-
ma nervoso central podem levar a alterações funcionais e
estruturais, resultando em sensibilização central. Poderão
também ocorrer alterações em regiões do cérebro que es-
tão relacionadas com emoção, já que, durante a DMP, na
fase menstrual, podem ser associadas com ansiedade,
estresse e afetos negativos.
(6)
Em algumas circunstâncias, as cefaleias são relacio-
nadas à tensão no pescoço, e isso se explica pelo cruza-
mento dos nervos trigeminais aferentes e das fibras sensori-
ais dos nervos cervicais superiores, presentes no núcleo
trigeminocervical. Mesmo a cefaleia não estando relacio-
nada às disfunções musculoesqueléticas, a disfunção no
pescoço pode aumentar a sensibilização do núcleo
trigeminocervical. O estrogênio, que é um dos causadores
de cefaleia pré-menstrual, tem influência no aumento do
tamanho do campo receptor dos mecanorreceptores trige-
minais. A maior probabilidade para ocorrência da cefaleia
é durante os dois dias que antecedem a menstruação, au-
mentando nos dias de fluxo menstrual, principalmente nos
três dias posteriores ao primeiro dia. Nos dias que antece-
dem a menstruação, acontece queda dos níveis de estró-
geno, podendo estar associada com a fisiopatologia da
migrânea menstrual (MM). Outro fator que está correla-
cionado a esse acontecimento é o aumento nos níveis de
prostaglandinas que iniciará as dores de cabeça.
(7)
O objetivo deste estudo foi correlacionar os sintomas
de dor e cefaleia e alterações na mobilidade cervical com
o período menstrual em universitárias jovens.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa exploratório descritiva. O
projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa
do UNIFEG e aprovado sob parecer nº 2.268.314. A
pesquisa foi realizada em instituição de ensino superior na
cidade de Guaxupé-MG, no período de agosto a outubro
de 2017. Participaram da presente pesquisa 10 universitá-
rias (assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclare-
cido), devidamente matriculadas em cursos da área da
saúde, com faixa etária de 18 a 30 anos que apresentam
ciclo menstrual regular e fazem uso de métodos contra-
ceptivos.
Critérios de Inclusão
Mulheres jovens que apresentam ciclo menstrual re-
gular e mulheres que fazem uso de anticoncepcional
Critérios de Exclusão
Mulheres com alterações sensitivas, cognitivas e
motoras; mulheres que apresentem diagnósticos médicos
de lesões osteomioarticulares prévias; mulheres com histó-
rico de gestação prévia; mulheres que praticam atividade
física regularmente.
Protocolo de Avaliação
Neck Desability Index (NDI): O NDI consiste em dez
ítens relacionados à intensidade da dor, cefaleia, concen-
tração e diferentes atividades físicas (levantamento, cuida-
do pessoal, recreação, trabalho, condução, leitura e dor-
mindo) com seis possíveis respostas por item. A pontuação
de cada item varia de 0 a 5. A maior pontuação total
possível é 50, e essa pontuação é convertida em uma por-
centagem. Escores mais elevados representam níveis mais
elevados de incapacidade.
(8)
Headache Medicine, v.9, n.2, p.55-60, Apr./May/Jun. 2018 57
Dizziness Handicap Inventory (DHI): Foi desen-
volvido para avaliar os efeitos de autopercepção causa-
dos pela doença do sistema vestibular. Os ítens foram
subgrupos em três domínios de conteúdo que represen-
tam aspectos funcionais, emocionais e físicos de tonturas
e instabilidade.
(14)
Escala Tampa para Cinesiofobia (TSK): O TSK
é um questionário de 17 ítens desenvolvido para identifi-
car o medo de (re) lesões devido a movimentos ou ativi-
dades. Os ítens são classificados em uma escala Likert de
quatro pontos com possibilidades de pontuação variando
de "fortemente em desacordo" (pontuação=1) para "con-
cordar fortemente" (pontuação=4). As pontuações dos
ítens 4, 8, 12 e 16 são revertidas. Os escores totais vari-
am de 17 a 68.
(15)
Flexion Rotation Test: Para o teste de flexão-rota-
ção, a participante se encontra em decúbito dorsal em
uma maca. Foi solicitado para relaxar enquanto seu pes-
coço foi movido para a ADM final flexão cervical pelo
examinador. Nesta posição flexionada, a cabeça e o pes-
coço foram girados passivamente até possível dentro de
limites confortáveis.
(16)
RESULTADOS
As 10 participantes foram avaliadas nas fases pré,
durante e após o período menstrual. A algometria do ramo
oftálmico demonstrou crescimento da média entre a pri-
meira, segunda e terceira avaliações, de
= 3,45 ± 1
para = 3,95 ± 0,9 e = 4,68 +- 0,9; O mesmo ocor-
reu com os ramos maxilar, de
= 2,33 ± 0,5 para =
2,45 ± 0,7 e
= 2,68 ± 0,6 e mandibular de = 2,14
± 0,5 para = 2,33 ± 0,6 e = 2,79 ± 0,7. Nos
músculos trapézio superior de
= 3,40 ± 0,7 para =
3,43 ± 1 e = 4,10 ± 1; temporal de = 3,05 ± 1
para = 3,36 ± 0,7 e
= 3,75 ± 0,9; paravertebral de
= 7,03 ± 2,5 para = 8,22 ± 2,1e = 8,63 ± 1,5 e
tibial anterior de = 7,55 ± 2,1 para = 9,46 ± 2,2 e
= 9,58 ± 2,3 (p < 0,05); em epicôndilo lateral de =
4,41 ± 1,1 para = 4,79 ± 2,3 e = 4,85 ± 1,4 e
região occipital de
= 3,53 ± 0,9 para = 3,97 ± 0,9
e = 4,35 ± 1,2. Com isso, pode-se relacionar a baixa
no limiar de dor das entrevistadas com o período pré-mens-
trual que, foi aumentado ao longo dos períodos menstrual
e pós-menstrual (Tabela 1). Dados não estatisticamente sig-
nificativos, exceto para tibial anterior.
A modulação condicionada da dor (MCD) apresen-
tou-se com média crescente entre a primeira, segunda e
terceira avaliações dos ramos oftálmico, de
= 4,15 ± 1,2
Escala Visual Analógica de Dor (VAS): A VAS é
uma linha de 100 mm com dois pontos de extremidade,
aplicada a pacientes humanos capazes de responder a
comandos verbais e que poderiam descrever sua própria
quantidade de dor. Tem os pontos finais de "nenhuma dor"
(extremidade esquerda da linha) e, "pior dor possível" (ex-
tremidade direita da linha).
(9)
Questionário Midas: Neste questionário, as paci-
entes queixosas respondem a cinco questões, atribuindo
um ponto por cada dia em que, nos últimos três meses,
suas atividades diárias foram limitadas pela dor. O resul-
tado do questionário exprime-se numa pontuação que se
relaciona da seguinte forma com as necessidades de tra-
tamento: Escore 0-5 pontos (Incapacidade mínima); Es-
core 6-10 pontos (Incapacidade ligeira ou pouco fre-
quente); Escore 11-20 pontos (Incapacidade moderada);
Escore 21 pontos (Incapacidade grave).
(10)
Avaliação da sensibilidade dolorosa à pressão:
Os limiares de dor de pressão (PPTs) foram medidos com um
algômetro analógico de Fisher Dial, (Wagner Instruments,
Greenwich CT, EUA). Os PPTs dos participantes foram de-
terminados pelo aumento gradual da pressão proporciona-
da pelo algômetro (a uma taxa de 1 kg/s) até o momento
em que a sensação se tornou dolorosa (os participantes fo-
ram instruídos a dizer "parar" neste ponto). A algometria de
pressão foi considerada eficiente e confiável na exploração
dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na dor.
(11)
Inibição dolorosa endógena: Modulação Con-
dicionada da Dor: Para avaliar a modulação da dor con-
dicionada (CPM), medidas experimentais de dor foram
tomadas enquanto um manguito de oclusão foi inflado
para uma intensidade dolorosa e mantido nesse nível no
braço oposto (como um estímulo condicionante nocivo
heterotópico). O manguito foi inflado a aproximadamen-
te 200 mmHg/s até o momento em que a sensação se
tornou dolorosa (os participantes foram instruídos a dizer
"parar" neste ponto). Em seguida, houve adaptação por
trinta segundos ao estímulo e subsequentemente classifica-
ram sua dor em uma VAS. A medida de resultado para
CPM é a diferença entre a primeira pontuação de VAS
antes da inflação de manguito e o primeiro escore de VAS
durante a inflação de manguito.
(12)
Start Back Screening Tool: A ferramenta permite que
os clínicos estratifiquem os pacientes com base na presença
de indicadores prognósticos físicos e psicológicos potencial-
mente modificáveis para sintomas incapacitantes persisten-
tes. A ferramenta consiste em nove ítens e inclui construções
sobre dor, deficiência, medo, ansiedade e depressão. As per-
guntas 5-9 encapsulam características psicossociais.
(13)
A INFLUÊNCIA DO PERÍODO MENSTRUAL NOS ÍNDICES DE CEFALEIA, INCAPACIDADE E MODULAÇÃO DA DOR EM MULHERES JOVENS
58 Headache Medicine, v.9, n.2, p.55-60, Apr./May/Jun. 2018
SILVA PAS, SANTOS LHG
para = 4,62 ± 1,1 e = 5,04 ± 1,2; maxilar de =
2,66 ± 0,7 para = 3,07 ± 0,8 e = 2,94 ± 0,9 e
Mandibular de
= 2,49 ± 0,7 para =2,93 ± 0,8 e
= 2,90 ± 0,6 do nervo trigeminal. Nos músculos
Trapézio Superior de
= 3,83 ± 0,8 para = 4,35 ±
1,9 e
= 4,5 ± 1,2; temporal de = 3,23 ± 0,8 para
= 3,74 ± 1,1 e = 4,06 ± 1,5; paravertebral de =
7,38 ± 3,1 para
= 9,46 ± 3,6 e = 9,51 ± 3,1 e
tibial anterior de
= 7,54 ± 2 para = 10,91 ± 4,7 e
= 9,91 ± 2,4 (p < 0,05); em epicôndilo lateral de
= 5,01 ± 1,1 para = 5,53 ± 3,3 e = 5,53 ± 1,8
e região occipital de = 3,93 ± 0,9 para = 4,60 ± 2
e
= 4,54 ± 1,5. Foram obtidos dados de algometria e
MCD, que demonstrou média maior para o limiar de dor
quando aplicado um estímulo doloroso externo, fato que
mostra não haver alteração das vias inibitórias de dor
durante as fases pré, durante e após o período menstrual
(Tabela1). Dados não estatisticamente significativos, exceto
para tibial anterior.
Para a função cervical houvera médias decrescentes
entre a primeira, segunda e terceira avaliações, de
= 10
± 3,7 para
= 7,6 ± 4,1 e = 6,3 ± 4,5; Estes repre-
sentam incapacidade cervical branda durante as fases pré,
durante e após o período menstrual. Para o questionário
Midas, também houve média decrescente durante as três
avaliações – de
= 8,2 ± 6,5 na primeira avaliação para
= 6,8 ± 7,6 na segunda avaliação e = 7,3 ± 7,6 na
terceira avaliação, que representa incapacidade leve em
relação à cefaléia durante as fases do período menstrual.
Para a intensidade da dor as médias foram decrescentes
ao longo das avaliações, de
= 3 ± 2,8 para = 2,1 ±
1,9 e
= 1,4 ± 1,3; demonstrou a não influência do
período menstrual em relação à intensidade de dor. Os
dados mostram a não interferência do período menstrual
em relação à tontura e aspectos psicossociais. Constata-
dos pelo DHI que apresentou média decrescente de
=
10,2 ± 9,7 para = 6,4 ± 6,7 e = 5,4 ± 7,7. Mesmo
observado no Starback e Tampa de
= 2,9 ± 1,9 para
= 2,1 ± 1,4 e = 1,8 ± 1,3; = 30,5 ± 4,2 para
= 29 ± 3,1 e = 30,2 ± 4,7 respectivamente. Dados
não estatisticamente significativos (Tabela 2). Para mobili-
dade cervical, o FRT não apresentou alterações de mobili-
dade, demonstrado pelas médias de
= 49 ± 8 (D), 43
± 10 (E) para = 54 ± 6 (D), 44 ± 8 (E) e = 54 ± 7
(D), 47 ± 19 (E). Dados não estatisticamente significati-
vos (Tabela 3).
DISCUSSÃO
A presente pesquisa é pioneira na avaliação da dor,
mobilidade cervical e cefaléia em mulheres jovens durante
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as fases pré, durante e após o período menstrual. Os resul-
tados indicam que as participantes apresentaram baixo li-
miar de dor, maior incapacidade cervical e incapacidade
decorrente da cefaleia na fase pré-menstrual, se compara-
dos às demais fases, que apresentaram média decrescente.
Porém, em relação à modulação condicionada da dor,
não apresentaram alterações nas vias inibitórias de dor.
O estudo em questão sugere um questionamento, pois
as participantes não apresentaram consideráveis alterações
(relacionadas aos parâmetros analisados em relação à sen-
sibilidade dolorosa e à funcionalidade), haja vista que es-
tudos de neuroimagem funcional demonstram que mulhe-
res com síndromes dolorosas apresentam anormalidades
do sistema nervoso central, resultantes da relação com ex-
periência de dor durante a menstruação. Durante as fases
lútea e folicular, o tônus simpático, inflamação, produção
de prostaglandinas e sintomas afetivos estão no pico, en-
quanto que os sistemas inibitórios descendentes estão em
baixa. Com isso, pode-se explicar o porquê a fase pré-
menstrual é acompanhada do aumento da vulnerabilidade
a várias desordens dolorosas.
(8,9)
No entanto, estímulos
nociceptivos vindos da periferia podem gerar reorganiza-
ção adaptativa para reduzir o impacto da menstruação
acompanhada de dor.
(17)
Estes dados contrariam os resultados desta pesquisa,
já que as participantes não apresentaram consideráveis al-
terações de dor durante a menstruação. Todavia, Máximo
et al.
(18)
avaliaram o limiar de dor à pressão em mulheres
que utilizavam contraceptivos hormonais, demonstrando
que possuem maior limiar de dor em relação a mulheres
que não fazem uso de contraceptivos. Na pesquisa de Balter
et al.
(19)
participaram 39 mulheres que foram divididas em
dois grupos (22 com menstruação normal e 17 que faziam
uso de contraceptivo hormonal), e os resultados demons-
traram aumento nos níveis de estrogênio e progesterona
somente nas mulheres que não faziam uso de contraceptivos
hormonais. Ou seja, mulheres que fazem uso de anticon-
cepcionais podem não apresentar consideráveis alterações
hormonais, e, consequentemente, não apresentam altera-
ções dolorosas durante o período menstrual, o que corro-
bora a presente pesquisa.
Em relação à modulação condicionada da dor, a qual
não apresentou alteração durante as avaliações, Teepker
et al.
(20)
avaliaram a influência do período menstrual na
inibição dolorosa endógena e não encontraram mudan-
ças significativas durante as avaliações realizadas. Estes
têm como provável explicação a não interferência das al-
terações hormonais (que ocorrem durante o período mens-
trual) nas vias inibitórias de dor.
Karch et al.
(21)
avaliaram 2.600 mulheres no impacto
das alterações hormonais na migrânea e cefaleia do tipo
tensional. Participaram da pesquisa de Pavilovic et al.
(22)
1.697 mulheres com dor crônica no pescoço relacionada
ao período menstrual. E ambos utilizaram o questionário
Midas na avaliação, onde os resultados demonstraram
aumento significativo da pontuação do questionário du-
rante o período menstrual. Dados que vão contra a pre-
sente pesquisa, a qual apresentou média decrescente ao
longo do período menstrual.
Sobre a intensidade da dor, as participantes apre-
sentaram EVA leve e que se manteve constante durante as
avaliações, fato que corrobora com a pesquisa de Balter
et al.,
(19)
que avaliaram a intensidade da dor e ambos os
grupos apresentaram dor no pescoço constante. Os mes-
mos também avaliaram a incapacidade cervical nas AVD's,
e observou que as participantes não apresentaram mu-
danças significativas, exceto em relação ao tempo, onde
demonstraram menor incapacidade durante a menstrua-
ção.
Vários estudos mostram os efeitos da fase pré-mens-
trual nas mulheres que incluem cefaleia, irritabilidade, di-
minuição da concentração, ansiedade e depressão.
(3-5)
Porém, Yonkers et al.
(23)
avaliaram a influência do contra-
ceptivo hormonal cíclico na expressão da síndrome pré-
menstrual de 490 mulheres divididas em dois grupos (103
mulheres que utilizavam contraceptivos hormonais e 387
que não utilizavam contraceptivos hormonais) e constata-
ram que as mulheres que faziam uso de contracepção
hormonal demonstraram escores de mudança pré-mens-
trual significantemente menores, particularmente em rela-
ção a sintomas físicos, irritabilidade e depressão quando
comparados as mulheres que não utilizavam contraceptivos
hormonais.
CONCLUSÃO
Até o presente momento, as jovens avaliadas não de-
monstraram influência significativa do período menstrual
na amplificação do quadro de dor, cefaleia e a possível
incapacidade ocasionada por eles.
O seguimento da pesquisa poderá afirmar novas pre-
missas relacionadas à pesquisa. Além de sugerir partici-
pantes que não realizem uso de contraceptivo hormonal.
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Correspondência
Luiz Henrique Gomes Santos
profluizhenrique@yahoo.com.br
Recebido: 12 de junho de 2018
Aceito: 30 de junho de 2018
SILVA PAS, SANTOS LHG