Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018 49
Bloqueios anestésicos em idosos no tratamento das
cefaleias
Anesthetic blocks in the elderly in the treatment of headache
Letícia Bergo Veronesi
1
, Matheus Guimarães Matos
1
, Karen dos Santos Ferreira
2
1
Faculdade de Medicina do Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto-SP, Brasil
2
PHD, Docente, Departamento de Neurociências e Ciências Comportamentais, Divisão de Neurologia,
Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil
Veronesi LB, Matos MG, Ferreira KS. Bloqueios anestésicos em idosos no tratamento das cefaleias.
Headache Medicine. 2018;9(2):49-54
ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Introdução: Cefaleia em pacientes idosos ainda é uma
queixa frequente e com características clínicas atípicas neste
grupo. Além disso, as opções de tratamento são limitadas,
considerando-se a presença de outras comorbidades e me-
dicações em uso. A possibilidade de realização de bloque-
ios anestésicos seria uma opção interessante para este gru-
po de pacientes. Objetivos: Este estudo objetivou descre-
ver o uso de bloqueios anestésicos no tratamento da cefaleia
em pacientes idosos, incluindo os principais diagnósticos de
cefaleia, as indicações de bloqueios, pontos bloqueados,
efeitos colaterais e resposta ao tratamento. Métodos: O
estudo foi conduzido a partir da revisão de prontuários em
uma clínica neurológica especializada em tratamento da
dor. Foram incluídos casos com diagnóstico de cefaleia em
pacientes maiores de 50 anos que receberam bloqueios anes-
tésicos para dor. Foram descritos diagnóstico da cefaleia,
suas características, intensidade, frequência, comorbidades
associadas, tratamentos instituídos, incluindo os bloqueios
anestésicos realizados e aplicação de toxina botulínica, as-
sim como a resposta terapêutica e presença de efeitos ad-
versos. Resultados: Foram revisados 4.106 prontuários, aten-
didos entre os anos de 2013 e 2017. Destes, 785 casos
foram tratados para dor em geral com bloqueios anestési-
cos e 82 casos eram idosos com cefaleia, tratados com
bloqueios anestésicos. A idade média dos pacientes foi de
57,7 anos (DP 7,9) e 65 (79,3%) mulheres. Os principais
diagnósticos foram migrânea (n=41, 50%), cefaleia cervico-
gênica (n=33, 40,2%), disfunção têmporo-mandibular
(n=11, 13,4%), cefaleias trigêmino-autonômicas (n=4, 4,8%)
e cefaleia tensional (n=2, 2,4%). A frequencia de dor no mês
foi de 24,3 dias (DP 9,2) e intensidade de dor 9,3 (0-10).
O uso abusivo de medicações analgésicas foi descrito em
17 (20,7%). Os principais bloqueios realizados foram de
nervos occipitais maiores e menores (n=62, 75,6%) e blo-
queios de pontos de gatilho musculares (n=19, 23,2%). Foi
realizada aplicação de toxina botulínica em seis pacientes
(7,3%). A média de bloqueios realizados foi de 2,74 (DP
2,38) bloqueios por pacientes. Houve melhora total dos sin-
tomas em 52 (63,4%) pacientes e parcial em 22 (26,83%).
A média de frequência de dor após o tratamento foi de 4,3
dias no mês (DP 6,09). Não houve efeitos adversos relacio-
nados aos procedimentos. Conclusões: O uso de bloque-
ios anestésicos em idosos no tratamento da cefaleia foi con-
siderado seguro e efetivo como opção terapêutica.
Palavras-chave : Cefaleia; Bloqueio anestésico; Idoso
ABSTRACT
Introduction: Headache in elderly patients is a frequent
complaint, with atypical clinical features in this group. In
addition, treatment options are limited, considering the
presence of other comorbidities and daily medications in use.
The possibility of anesthetic blocks would be an interesting
option for this group of patients. Objectives: This study aimed
to describe and analyze, in a single center, elderly patients who
were treated with anesthetic blocks for headache. The main
types of headache, indications of peripheral blocks, blocked
points and, adverse effects response to treatment were also
assessed. Methods: The study was conducted from the review
of medical records in a Neurological Clinic. Patients with
headache diagnosis, with 50 years old and older, who received
anesthetic blocks were included. Diagnosis of headache,
characteristics, intensity and frequency, associated
comorbidities, instituted treatments, including anesthetic blocks
and botulinum toxin application, as well as therapeutic response
and presence of adverse effects were described. Results:
Medical records from 2013 to 2017 were reviewed (n= 4,106).
50 Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018
VERONESI LB, MATOS MG, FERREIRA KS
Of these, 785 patients were treated for chronic pain with
anesthetic blocks and 82 patients were elderly with headache,
treated with anesthetic blocks. The mean age of the patients
was 57.7 years (SD 7.89) and 65 (79.3%) were women. The
main diagnosis of headache was migraine (41, 50%),
cervicogenic headache (33, 40.2%), temporomandibular
dysfunction (11, 13.4%), trigeminal-autonomic headache (4,
4.8%) and tension-type headache (2, 2.4%). The frequency of
pain was 24.3 days/month (SD 9.2) and mean pain intensity
was 9.3 (0-10). The abusive use of analgesic medications was
described in 17 (20.7%) patients. The main anesthetic blocks
were major and minor occipital nerves (62, 75.6%) and mus-
cular trigger points (19, 23.2%). Botulinum toxin application
was performed in 6 patients (7.3%). The average number of
blocks was 2.74 (SD 2.38) per patient. There was a total
improvement of the symptoms in 52 (63.4%) and partial
improvement in 22 (26.83%). The mean frequency of pain after
treatment was 4.3 days/month (SD 6.09). There were no adverse
events related to the procedures. Conclusion: The use of
anesthetic blocks in the elderly in the treatment of headache
was considered safe and effective as a therapeutic option.
K eywords: Headache; Anesthetic block; Elderly
INTRODUÇÃO
A prevalência de cefaleias na população em geral é
de 47%, sendo 10% em média para migrânea e 30% para
cefaleia do tipo tensional. O pico de acometimento se si-
tua em torno de 30 a 50 anos.
(1)
A prevalência de cefaleias
em idosos entre 55 e 94 anos é de aproximadamente
40,5%.
(2)
Migrânea é também comum em idosos, com uma
prevalência de 6,4% em mulheres e 2,1% em homens.
(3,4)
Os custos sociais associados, perda de horas de tra-
balho e custos de tratamentos são grandes. A Organiza-
ção Mundial de Saúde considera a migrânea como uma
das 20 doenças mais incapacitantes.
(5)
CEFALEIAS EM IDOSOS
Apesar da prevalência da cefaleia diminuir em paci-
entes idosos, ela ainda é uma queixa frequente e com ca-
racterísticas clínicas atípicas nesse grupo. Algumas cefaleias
são características e quase exclusivas em idosos, como
cefaleias hípnicas, e cefaleias secundárias, como a arterite
temporal.
(1,6)
Um estudo realizado na Espanha avaliou pacientes
com cefaleias e descreveu a prevalência de distribuição
das cefaleias por faixas etárias. De 1.868 pacientes ava-
liados, 262 (14%) eram idosos com 65 anos ou mais.
(6)
O início da cefaleia ocorreu após os 65 anos em 136/
262 casos (51,9%). A maioria dos pacientes (90,5%) eram
adeptos ao tratamento apenas quando apresentavam sin-
tomas relacionados a cefaleia, ou seja, como tratamento
sintomático, enquanto 32,9% realizavam algum tipo de
tratamento preventivo.
Segundo a classificação ICHD (International
Classification of Headache Disorders, 3ª edição), as
cefaleias primárias são as mais comuns em idosos, sendo
mais encontradas as cefaleias do tipo tensional (28,7%) e
a migrânea (23,8%). As cefaleias secundárias foram res-
ponsáveis por 16%, sendo mais encontradas as cefaleias
atribuídas a traumas de cabeça e/ou pescoço e cefaleias
atribuídas ao uso de substâncias. Além disso, foram relata-
dos outros tipos de cefaleia, como a cefaleia por neuralgi-
as cranianas (7,2%). Além disso, foram registrados casos
de migrânea crônica, cefaleia hípnica, de neuralgia
occipital, cefaleia de curta duração, unilateral, neuralgi-
forme com hiperemia conjuntival e lacrimejamento
(SUNCT), cefaleia devido a tosse, além de casos relacio-
nados à arterite temporal.
(1,6)
Alguns estudos descrevem o principal diagnóstico de
cefaleia em idosos como cefaléia do tipo tensional, sendo
o segundo diagnóstico mais frequente o de migrânea.
(2,6)
Outros estudos, descrevem prevalências mais altas de
migrânea sem aura (27,8%) com relação à cefaleia do
tipo tensional (25,7%).
(7)
É importante ressaltar que a
migrânea tende a mudar com a idade, o que dificulta o
diagnóstico nos pacientes idosos. Características típicas
como pulsatilidade, associação a fotofobia ou fonofobia,
exacerbação com exercícios e aumento da intensidade
podem ser menos frequentes com o passar do tempo. Ape-
sar disso, sintomas autonômicos e bilateralidade da dor
continuam sendo sintomas comuns em pacientes idosos.
(6)
A cefaleia é um motivo frequente de procura por um
neurologista pelos pacientes idosos. É importante identifi-
car e pesquisar caso a caso para que o tratamento seja o
mais apropriado possível para cada paciente. Divide-se o
tratamento das cefaleias em tratamento da crise e trata-
mento profilático, recomendado nas crises frequentes (três
ou mais no mês) ou incapacitantes. Na crise utilizam-se
anti-inflamatórios não hormonais, analgésicos simples,
antieméticos e triptanos, podendo ser associados. As medi-
cações profiláticas mais utilizadas são beta-bloqueadores,
antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), antiepilépticos (áci-
do valproico, topiramato, gabapentina), bloqueadores dos
canais de cálcio e neurolépticos.
(1)
Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018 51
Foi descrito que os pacientes idosos costumam reali-
zar tratamento apenas dos sintomas relacionados a cefaleia,
muitas vezes não utilizando profiláticos, com receio de
interações medicamentosas com outros tratamentos que fa-
zem uso.
(6)
Como frequentemente esses pacientes apresen-
tam comorbidades, o tratamento das cefaleias em idosos é
um desafio aos médicos, considerando-se efeitos colaterais
de medicações (como efeitos anticolinérgicos, cardíacos,
comprometimento cognitivo) e interações medicamentosas.
BLOQUEIOS ANESTÉSICOS
Bloqueios anestésicos no tratamento das cefaleias são
recursos utilizados e descritos na literatura há muitos anos.
Entretanto, estudos controlados e randomizados são raros
sobre este assunto. A maior parte dos estudos constitui em
relatos de casos, série de casos e experiência pessoal de
equipes de neurologistas. Além disso, muitas vezes os ido-
sos e crianças são excluídos dos grupos de estudo realiza-
dos. Assim, considerando o grupo dos idosos, tentaremos
revisar os principais achados da literatura.
Pesquisa realizada pela American Headache Society,
com cefaliatras, detectou que 69% destes realizavam blo-
queios no manejo de cefaleias, porém, as técnicas, doses
de anestésicos e indicações não eram padronizadas.
(8)
Os principais bloqueios descritos em cefaleias são os
de nervos occipital maior e menor, ramos trigeminais (su-
pra-orbitários, supratrocleares, aurículo-temporais, maxi-
lares e mandibulares), bloqueios do gânglio de Gasser,
bloqueios de nervo glossofaríngeo, bloqueios de pontos de
gatilhos musculares e bloqueios de cicatrizes. As principais
indicações de bloqueios são: cefaleias primárias (migrânea,
cefaleia em salvas, cefaleia numular, hemicrânia contínua)
e cefaleias secundárias (cervicogênica, pós-traumática e
pós-craniotomia, neuralgias cranianas).
(9)
Um consenso publicado pela American Headache
Society
(10)
avaliou os principais pontos com relação a blo-
queios periféricos, considerando os grupos especiais: ido-
sos, grávidas, alérgicos aos anestésicos, ou usuários de
anticoagulantes. Não descreveu bloqueios em crianças.
Em idosos, os bloqueios são frequentemente utilizados, com
as seguintes recomendações:
a. Atenção para hipotensão ou hipertensão arterial
em idosos;
b. Reduzir a concentração de anestésico, evitar
lidocaína 5%;
c. Diminuir volume de lidocaína;
d. Limitar o número de nervos bloqueados em uma
única sessão;
e. Bloquear apenas um lado (em nervos occipitais)
por vez.
Um estudo revisou os aspectos clínicos relacionados
ao tratamento da cefaleia em idosos, com utilização de
bloqueios anestésicos. Sessenta e quatro pacientes foram
avaliados, com idade média de 71 anos. Os diagnósticos
de cefaléia foram: migrânea crônica 50%, migrânea episó-
dica 12,5%, cefaleia trigemino-autonômica 9,4% e neu-
ralgia occipital 7,8%. O número médio de bloqueios ner-
vosos periféricos por paciente foi de quatro. Bloqueios ner-
vosos periféricos foram efetivos em 73% dos casos, com
baixos índices de efeitos adversos.
(11)
Um outro estudo entrevistou 82 membros da sessão
pediátrica da American Headache Society, em junho de
2015. Foram investigadas as práticas de bloqueios e evi-
dências de resultados em crianças, outro grupo especial.
Migrânea crônica foi a principal recomendação, seguida
por neuralgia occipital. Os principais pontos de bloqueios
foram: nervos occipitais maiores, nervos occipitais meno-
res, nervos supraorbitais, pontos de gatilho musculares,
nervos aurículo-temporais. Todos usavam anestésicos lo-
cais e 46% usavam corticoides.
(12)
Assim, considerando o grupo dos idosos, estudos so-
bre bloqueios periféricos são raros. A maior parte dos estu-
dos constitui relatos de casos, série de casos e experiência
pessoal de equipes de neurologistas. Não existe nenhum
estudo no Brasil.
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi descrever o
uso de bloqueios anestésicos no tratamento das cefaleias
em idosos, incluindo os principais diagnósticos de cefaleia,
as indicações de bloqueios, pontos bloqueados, efeitos
colaterais e resposta ao tratamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido a partir da revisão de prontu-
ários em uma clínica neurológica especializada em trata-
mento da dor, de consultas realizadas entre os anos de
2013 e 2017. Foram revisados todos os prontuários de
consultas realizadas entre os anos de 2013 até 2017. Casos
com diagnóstico de cefaleia em pacientes maiores de 50
anos, tratados com bloqueios anestésicos foram incluídos.
Dados demográficos, características da dor, intensidade e
frequência, comorbidades e tratamentos instituídos foram
investigados. Foram descritos os bloqueios realizados como
tratamento, assim como a resposta em intensidade e
frequência de dor após os mesmos. Os dados foram anali-
sados utilizando-se o programa estatístico SPSS.
BLOQUEIOS ANESTÉSICOS EM IDOSOS NO TRATAMENTO DAS CEFALEIAS
52 Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018
VERONESI LB, MATOS MG, FERREIRA KS
Critérios de Inclusão
Idade acima de 50 anos
Diagnóstico de cefaleia
Tratados com bloqueios anestésicos
Aspectos Éticos
O presente estudo foi submetido ao Comité de
Bioética da Faculdade de Medicina do Centro Universi-
tário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, CAAE:
73540517.0.0000.5378.
Não existiu, para o participante, nenhum risco envol-
vido neste estudo, uma vez que foi realizada revisão de
prontuários. Foi mantida a privacidade e confidencialidade
sobre as informações obtidas bem como sigilo sobre os
nomes dos sujeitos envolvidos.
RESULTADOS
Foram revisados 4.106 prontuários. Desses, 785 ca-
sos foram tratados para dor em geral com bloqueios anes-
tésicos e 82 casos eram idosos com cefaleia, tratados com
bloqueios anestésicos, os quais foram incluídos no estudo.
A idade média dos pacientes foi de 57,7 anos (DP 7,89).
Quanto ao sexo, 17 (20,7%) eram homens e 65 (79,3%)
mulheres.
Os principais diagnósticos foram migrânea (41,
50%), cefaleia cervicogênica (33, 40,2%), disfunção
têmporo-mandibular (11, 13,4%), cefaleias trigêmino-
autonômicas (4, 4,8%) e cefaleia tipo tensional (2, 2,4%).
O tempo médio de dor foi de 18,1 anos (DP 7,89),
frequência no mês de 24,3 dias (DP 9,2), intensidade de
dor 9,3 (0 a 10). A dor foi hemicraniana em 46 indivídu-
os (56,1%) e holocraniana ou bilateral em 34 (41,5%),
sendo que 38 (46,3%) apresentavam dor pulsátil, 13
(15,9%) dor em pressão e 10 (12,2%) dor em choque ou
pontadas.
Os principais medicamentos profiláticos utilizados fo-
ram topiramato (15, 18,3%), pregabalina (5, 6,1%), áci-
do valproico (3, 3,7%), carbamazepina (3, 3,7%), ami-
triptilina (21, 25,6%), nortriptilina (11, 13,4%), venlafaxina
(5, 6,1%), ciclobenzaprina (3, 3,7%) e betabloqueadores
(2, 2,4%). Os analgésicos mais utilizados foram triptanos
(19, 23,2%), dipirona (11, 13,4%), anti-inflamatórios não
hormonais (8, 9,76%), ergotamina (5, 6,1%) e opioides
(3, 3,7%). O uso abusivo de medicações analgésicas foi
descrito por 17 (20,7%) pacientes.
Os principais bloqueios realizados foram de nervos
occipitais maiores e menores (n=62; 75,6%), bloqueios
de pontos de gatilho musculares (incluindo músculos
trapézios, temporais, esternocleidomastoideos) (n=19;
23,2%), bloqueios de nervos supraorbitários e supra-
trocleares (n=2; 2,4%), nervos aurículo-temporais (n=2;
2,4%), nervo mandibular (n=1; 1,2%) e cicatriz cirúrgica
(n=1; 1,2%) (Tabela 1). Foi realizada aplicação de toxina
botulínica em seis (7,3%) pacientes. A média de bloqueios
realizados foi de 2,74 (DP 2,38) bloqueios por pacientes.
Houve melhora total dos sintomas em 52 (63,4%), melho-
ra parcial em 22 (26,8%) e 8 (9,76%) pacientes não me-
lhoraram ou não retornaram à consulta. A média de
frequência de dor após o tratamento foi de 4,3 dias no
mês (DP 6,09). Não houve efeitos adversos relacionados
aos procedimentos, tais como sangramento, infecção lo-
cal, hipotensão ou arritmias.
As comorbidades mais frequentes foram hipertensão
(28; 34,2%), diabetes (13; 15,9%), transtorno depressivo
(8; 9,76%), hipotiroidismo (4; 4,88%), transtorno de an-
siedade generalizada (3; 3,7%), traumatismo craniano
(2; 2,4%), coronariopatia (2; 2,4%), hérnia discal (2; 2,4%).
Com relação ao diagnóstico, características das cefaleias,
intensidade, frequência e sintomas associados, os resulta-
dos estão descritos nas Tabelas 2 e 3.
Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018 53
DISCUSSÃO
Neste estudo retrospectivo, descrevemos dados
demográficos e clínicos de pacientes com mais de 50 anos,
que foram tratados com bloqueios anestésicos para
cefaleias. O tratamento da cefaleia em populações geriá-
tricas é um desafio, devido às limitações impostas pelas
comorbidades, efeitos colaterais de medicação e interações
medicamentosas.
As prevalências de comorbidades, tais como hiperten-
são, diabetes, transtorno depressivo e de ansiedade foram
importantes na população estudada. Além disso, 20% dos
pacientes faziam uso abusivo de medicações analgésicas.
Sabemos que analgésicos utilizados no tratamento abortivo
das cefaleias são muitas vezes evitados, pelo risco de do-
ença arterial coronariana (ergotamínicos e triptanos) e efei-
tos gastrointestinais e complicações renais (anti-inflama-
tórios). Opções seguras e com menos efeitos colaterais,
assim como os bloqueios anestésicos se mostraram, seriam
de grande benefício neste contexto.
Entre os diagnósticos mais frequentes de cefaleias em
idosos, encontram-se os de cefaleia tipo tensional e
migrânea.
(2,6,7)
Contudo, para os estudos que descrevem os
diagnósticos de cefaleias submetidas a tratamento com blo-
queios anestésicos, migrânea seria o mais frequente.
(8-12)
Em
nosso estudo, migrânea foi o principal diagnóstico, segui-
do de cefaleia cervicogênica. Acreditamos que a baixa
prevalência de cefaleia tipo tensional deve-se ao desenho
do estudo, o qual selecionou apenas pacientes submetidos
a bloqueios anestésicos. Sabemos que não é comum o uso
de bloqueios na cefaleia tipo tensional.
Estudos prévios envolvendo bloqueios anestésicos no
tratamento de cefaleias têm demonstrado bases de evidên-
cias para utilização deste tipo de tratamento em diversos
diagnósticos, tais como migrânea, cefaleia em salvas,
cefaleia cervicogênica e neuralgias cranianas.
(7-10)
Os acha-
dos deste estudo corroboram os resultados anteriores en-
contrados, demonstrando uma eficácia importante com este
tratamento, resultando em melhora total na maioria dos
pacientes (63,4%) ou melhora parcial (23,8%), sem efei-
tos adversos na população estudada. Outro aspecto des-
crito foi o uso de toxina botulínica também nesta popula-
ção, sem complicações descritas.
Reconhecemos as limitações do atual estudo incluin-
do a metodologia retrospectiva da pesquisa e o tamanho
pequeno da amostra. Também ressaltamos a ausência de
um grupo controle para o qual a comparação direta po-
deria ser feita. Sabemos também que medicações ou ou-
tras intervenções realizadas, tais como fisioterapia e tera-
pia psicológica ao mesmo tempo que os bloqueios, pode-
riam influenciar os resultados. Entretanto, acreditamos que
novos estudos possam ser feitos, prospectivamente, com
grupo controle, para analisar melhor estes possíveis vieses.
Nossos resultados indicam que os bloqueios anestési-
cos são seguros e eficazes no tratamento de diversas
cefaleias em idosos, reforçando-se aqui a necessidade de
estudos prospectivos e controlados, comparando a segu-
rança e eficácia dos bloqueios com outras modalidades
terapêuticas nessa população.
CONCLUSÕES
O uso de bloqueios anestésicos em idosos no trata-
mento da cefaleia foi considerado seguro e efetivo como
opção terapêutica.
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BLOQUEIOS ANESTÉSICOS EM IDOSOS NO TRATAMENTO DAS CEFALEIAS
54 Headache Medicine, v.9, n.2, p.49-54, Apr./May/Jun. 2018
Correspondência
Karen dos Santos Ferreira
karen.ferreira@baraodemaua.br
Recebido: 12 de junho de 2018
Aceito: 21 de junho de 2018
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VERONESI LB, MATOS MG, FERREIRA KS