Headache Medicine, v.2, n.4, p.204-208, Oct/ Nov/Dec. 2011 207
sempre obtendo êxito. No fim do tratamento, realizamos
entrevistas filmadas, onde cada um relata sua história
clínica completa, descrevendo sintomatologia, exames,
profissionais consultados e tratamentos realizados,
durante os anos de convalescimento.
Com base nas anamnese e nas entrevistas, elabo-
ramos um quadro de sintomatologia, no qual apa-
recem as porcentagens de prevalência de cada
sintoma.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
O exame do quadro de resultados nos leva às
seguintes conclusões;
1) A sintomatologia cervical, associada aos braços
e mãos, junto com dores de cabeça, estava presente em
90% dos pacientes tratados. Ressaltamos que desapa-
receram depois do tratamento dental. O que comprova
a existência da síndrome de MAS.
2) O cansaço, manifestado por 82,75% dos paci-
entes, vem como consequência da atividade muscular
forçada.
3) Zumbidos e equilíbrio, com 62% com sintomas
frequentes, e devemos incluí-los na anamnese.
4) Apesar das desarmonias oclusais, presentes em
todos os casos, só 48% tiveram manifestações de ATM e
28% com bruxismo.
5) O resto da sintomatologia só apareceu em casos
com dores agudas, ou contraturas musculares crônicas,
com limitação de movimentos.
DISCUSSÃO
O homem moderno padece frequentemente de
sintomatologias crônicas nas regiões da cabeça, pescoço,
cintura escapular e braços.
Temos assim dores na região da cabeça, às que a
medicina chama enxaquecas ou migrânias. Dores
cervicais, justificadas pela presença de hérnias ou bico
de papagaio (deformação das vértebras, causada por
compressão). Zumbido nos ouvidos; tonturas e dese-
quilíbrios, diagnosticados como labirintite. Adorme-
cimento ou diminuição de mobilidade nos braços e mãos,
diagnosticados como contraturas tencionais, ou lesão por
esforço repetitivo – LER.
O certo é que as pessoas passam a conviver com
afecções consideradas crônicas e tratadas com anal-
gésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares, para
aliviar os sintomas que elas provocam.
A especialização da medicina leva a que o otorrino
trate o zumbido, o traumatologista o pescoço, o neuro-
logista as dores de cabeça e as tonturas e o dentista os
dentes e a ATM.
O diagnóstico obtido através da análise de estruturas
ósseas e articulares, exame passivo (radiográfico), nos
leva a diagnosticar lesões que consideramos irreversíveis
e a pensar que são crônicas.
A medicina esqueceu o músculo, que é quem deter-
mina onde cada estrutura vai se posicionar, e do conceito
da sincronização muscular, onde toda a musculatura
trabalha associada.
O médico examina radiografias de coluna e não
palpa a musculatura, que é a que posiciona a vértebra,
e, portanto, não consegue interpretar a causa que pro-
vocou a lesão, geralmente associada a uma contratura
muscular.
A importância de poder observar o paciente de
forma global e funcional nos ajudará a resolver muitas
das afecções que se consideram crônicas. Prova do que
estou afirmando é que cresce cada vez mais a aplicação
da fisioterapia, como terapia alternativa.
O conceito fisiológico de sistema musculoarticular
superior nos leva a compreender a importância de esta-
belecer equilíbrio e harmonia para os músculos que o
compõem.
A mandíbula é o centro ósseo móvel que comanda
as funções mais importantes do sistema, fonação, mas-
tigação e deglutição. Além do mais, sua posição em
repouso exige a coordenação de todo o sistema muscular
superior de cabeça e pescoço. Cabe ao odontólogo
interpretar qual é a posição funcionalmente correta, que
não provoque desarmonias nas estruturas que o
compõem.
O dente funciona como fusível do sistema, já que se
desgasta. Foi assim no homem primitivo e é assim em
outras espécies. Substituir essa estrutura dental por
elementos mais duros e resistentes é um erro filosófico
que temos cometido na profissão.
Devemos analisar um pouco mais nossos princípios
reabilitadores. Não é possível que, ao terminar nossos
tratamentos, fiquemos satisfeitos por termos conseguido
lindos sorrisos fotográficos, mas condenados a usar uma
placa interoclusal noturna.
Interpretar a natureza e cuidar da qualidade de vida
de nossos pacientes é sem duvida o nosso objetivo. Está
em nossas mãos a solução de muitas das afecções
crônicas de cabeça, pescoço e braços. Devemos divulgar
estes conhecimentos para que a medicina os possa
SÍNDROME MUSCULOARTICULAR SUPERIOR