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Headache Medicine, v.2, n.4, p.187-193, Oct/ Nov/Dec. 20
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SILVA NÉTO RP
sintetizou o paracetamol, também com notáveis proprie-
dades antipiréticas e analgésicas. Tanto a acetanilida
como a fenacetina e o paracetamol pareciam ter exata-
mente o mesmo efeito sobre o organismo.
Em 1895, foi constatada a presença de paracetamol
em pacientes que haviam ingerido fenacetina; em 1889,
em pacientes que haviam ingerido a acetanilida.
Somente em 1948, os bioquímicos Julius Axelrod (1912-
2004), nascido em Nova York, filho de judeus imigrantes
da Polônia, e Bernard Brodie (1907-1989), nascido em
Liverpool, no Reino Unido, constataram que o parace-
tamol era o maior metabólito da fenacetina e da
acetanilida.
(3)
Hoje, sabe-se que o paracetamol ou acetamino-
feno é um fármaco com propriedades analgésicas, mas
sem propriedades anti-inflamatórias clinicamente signi-
ficativas e que atua por inibição da síntese das pros-
taglandinas. Esta substância também apresenta efeitos
antipiréticos.
A partir de 1955, o paracetamol foi comercializado
nos EUA com o nome de Tylenol© e, no ano seguinte,
na Inglaterra. Seu uso é extremamente popular, puro ou
combinado com outros fármacos.
Em 1883, o químico alemão Ludwig Knorr (1859-
1921) tentava sintetizar um antitérmico substituto da
quinina, um produto de custo excessivamente alto e de
eficácia relativa. Acidentalmente, obteve a antipirina,
derivada da pirazolona. Posteriormente, em 1897,
utilizando-se a antipirina, foi sintetizada a aminopirina,
outro analgésico derivado pirazolônico. Somente em
1889, as propriedades analgésicas da antipirina e da
aminopirina foram constatadas.
Em 1913, a empresa alemã Hoechst AG (hoje
Sanofi-Aventis) desenvolveu a melubrina, o primeiro
composto injetável da família pirazolona. Finalmente, em
1920, esta mesma empresa sintetizou o mais importante
derivado pirazolônico, a dipirona, também chamada de
metamizol ou metilmelubrina, composta de uma asso-
ciação de melubrina (50%) e aminopirina (50%). No
Brasil, a sua comercialização se iniciou em 1922, com o
nome de Novalgina©, sendo o principal analgésico
utilizado nas unidades de emergência para combater a
crise migranosa.
(4)
Em 1949, foi desenvolvido o primeiro anti-inflama-
tório não salicilato, a fenilbutazona, utilizada no trata-
mento da artrite reumatoide e doenças relacionadas.
(1)
Em 1963, surgiu outro anti-inflamatório não salici-
lato, a indometacina, um derivado do ácido indolacético,
sintetizada por Shen e colaboradores no laboratório
Merck Sharp. Difere, ligeiramente, dos outros anti-inflama-
tórios não esteroides nas suas indicações e efeitos tóxi-
cos.
(1)
A partir dos anos de 1960, novos fármacos passa-
ram a ser sintetizados, hoje denominados de anti-infla-
matórios não esteroides tradicionais, como: naproxeno,
cetoprofeno, ibuprofeno, piroxicam, tenoxicam, meloxi-
cam e diclofenaco.
(1)
Em meados de 1975, o químico norte-americano
George Moore, nascido em Boston (1941), juntamente
com seus colaboradores nos Laboratórios Riker, desen-
volveu a nimesulida. Esta droga foi, primeiramente,
autorizada e vendida na Itália em 1985.
(5,6)
O mecanismo de ação de todos esses medicamentos
permaneceu desconhecido por bastante tempo, apesar
do primeiro anti-inflamatório não esteroide, o ácido
acetilsalicílico, ter sido criado no século XIX. Contudo,
somente em 1971, o farmacologista inglês Sir John Vane
(1927-2004) sugeriu que esses medicamentos agiam no
sistema nervoso central e periférico inibindo a atividade
da cicloxigenase (COX), uma enzima responsável pela
síntese de substâncias envolvidas na inflamação, tais como
as prostaglandinas.
(1,7)
Em 1990, a partir dos estudos de
Sir John Vane, foi demonstrada a existência da ciclooxi-
genase 1 (COX-1) e da ciclooxigenase 2 (COX-2).
(1)
Em 1999, foram desenvolvidos os anti-inflamatórios
do grupo dos coxibs, inibidores seletivos da COX-2, e
foram lançados em vários países, inclusive no Brasil.
Progressivamente, surgiram vários questionamentos
sobre a segurança desses coxibs, especialmente com
relação à toxicidade cardiovascular. Por isso, foram
retirados do mercado brasileiro: o rofecoxib (Vioxx©),
em setembro de 2004; o valdecoxib (Bextra©), em abril
de 2005 e o lumiracoxib (Prexige©), em outubro de
2008. Ainda restam o celecoxib (Celebra©) e o etoricoxib
(Arcoxia©), mas vendidos somente com a retenção da
receita médica, de acordo com Resolução nº 79, de 5
de novembro de 2008, da Portaria nº 344/98 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na Tabela 1, mostra-se a classificação tradicional,
baseada na estrutura química, de alguns anti-inflama-
tórios convencionais de uso corrente.
(7)
O USO DE NEUROLÉPTICOS E
CORTICOIDES
Em 1977, o neurologista italiano Federigo Sicuteri
(1920-2003) foi o primeiro a propor a associação entre
dopamina e migrânea.
(8)
A partir da segunda metade