CE 57 – Cefaleia na instalação do acidente vascular cere-
bral: Uma análise de 3.550 casos
Carvalho JJF; Machado CB; Viana GAA; Lemos ACS; Alves MB; Santos BC; Silva GS
Secretaria de Saúde do Estado do Ceará / Hospital Albert Einstein
Introdução: Introdução:
Introdução: Introdução:
Introdução: Cefaleia é o motivo de consulta de 2 a 4% das pesso-
as que procuram uma emergência. Em muitos casos a dor de cabeça
acontece no contexto de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Re-
conhecida desde 1664 por Thomas Willis, a relação entre cefaleia e
doença cerebrovascular, somente no século passado teve o primeiro
estudo abrangente publicado por Miller Fisher.
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Desde então, vários
trabalhos apontam para uma frequência entre 7 e 65% o que reflete
a variedade de denominações e metodologias.
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Na instalação, esti-
ma-se que entre 17 e 34% dos pacientes apresentem dor de cabeça.
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Esta frequência pode estar subestimada, pois muitos pacientes apre-
sentam algum grau de comprometimento da consciência que associ-
ado a alterações de linguagem e do estado mental frequentemente
inviabilizam uma boa anamnese. A despeito destas observações,
muitos aspectos ainda persistem controversos, dentre eles, um me-
lhor entendimento da cefaleia associada à instalação do AVC.
Ob-Ob-
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jetivo: jetivo:
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jetivo: Este trabalho, objetiva estudar a frequência e fatores associ-
ados à cefaleia como sintoma inaugural de AVC em uma grande
população de pacientes.
Método: Método:
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Método: Analisamos as fichas de 3.550
pacientes investigados no projeto de vigilância epidemiológica do
AVC em Fortaleza desenvolvido desde junho de 2009 pela Secreta-
ria de Saúde do Estado do Ceará, com o apoio e suporte do Instituto
de Responsabilidade Social do Hospital Israelita Albert Einstein de
São Paulo. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de ética do Hos-
pital Geral de Fortaleza. Baseadas no programa Steps Stroke pro-
posto pela Organização Mundial da Saúde, as fichas, além dos da-
dos demográficos contém o estado funcional anterior ao AVC, os
sintomas inaugurais, os fatores de risco e dados da hospitalização,
diagnóstico, exames complementares, tratamento multiprofissional,
complicações, evolução e desfecho. A presença de cefaleia na insta-
lação do AVC foi considerada quando referida, sob questionário,
pelo paciente ou familiar ou acompanhante que o assistiu quando da
instalação do quadro. Os dados foram tratados estatisticamente com
testes não-paramétricos (teste do Qui-quadrado) além de frequências
absolutas e porcentagens. Em todos os casos foram considerados
significantes resultados com p = 0,05.
Resultados:Resultados:
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Resultados: Foram 1854
(52%) mulheres e 1696 (48%) homens, com idade média de 67 ± 14
anos com 2540 (72%) AVC´s isquêmicos (AVCI), 508 (14%) AVC´s
hemorrágicos (AVCH), 121 (3%) hemorragias subaracnoideas (HSA),
104 (3%) ataques isquêmicos transitórios (AIT) e 277 (8%) AVC´s não
especificados (se isquêmicos ou hemorrágicos). Em 213 pacientes,
não foi possível confirmar ou não a presença de cefaleia na instalação
do AVC. Nos demais pacientes, a cefaleia esteve entre os sintomas
inaugurais do AVC em 30,8% dos casos. Quanto ao tipo de AVC ela
esteve presente em 23% dos AIT´s, 26% dos AVCI´s, 44% dos AVCH´s
e 84% das HSA´s. As mulheres relataram mais dores de cabeça que os
homens (33% x 29%, p = 0,0282) assim como os pacientes mais
jovens (abaixo dos 50 anos) (55% x 27%, p < 0,0001). Não foram
observadas diferenças quanto à raça. Em relação aos fatores de risco,
pacientes com hipertensão arterial (29% x 41%, p < 0,0001), diabetes
(25% x 35%, p < 0,0001), AVC prévio (27% x 35%, p < 0,0001) e
Fibrilação Atrial (25% x 32%, p = 0,0070) apresentaram menos dores
de cabeça, porém, pacientes tabagistas (36% x 30%, p = 0,0022) e
etilistas (35% x 31%, p = 0,0215) referiram o sintoma de forma
muito mais frequente. Cefaleia foi sintoma isolado na apresentação
de 3% dos AVCH´s e 16% nos casos de HSA. Quanto ao desfecho,
a presença de cefaleia na instalação se correlaciona com menor taxa
de óbito (27 % x 32%, p = 0330) (Tabela 1).
Discussão:Discussão:
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Discussão: Ainda não
há consenso sobre uma definição e mecanismo fisiopatológico da
cefaleia que ocorre na instalação do AVC. Na literatura, por exemplo,
encontram-se diversas definições temporais. Alguns estudos definem
como uma dor que ocorre de 48 horas antes até 24 horas depois do
AVC. Outros adotam um período de 3 dias antes e depois do ictus e
outros ainda não estabelecem prazos.
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Em nosso estudo, adotamos
o critério de cefaleia que se apresentou em clara relação temporal e,
definitivamente, fez parte da constelação de sintomas que levaram o
paciente a procurar auxílio médico que resultou no diagnóstico do
primeiro ou um novo AVC. Como já relatado, os nossos pacientes
mais jovens e as do sexo feminino apresentaram mais dores de
cabeça. Também de acordo com outros trabalhos, o nossos pacientes
com hipertensão arterial apresentaram menos cefaleias. Em nossa
casuística, porém, a presença de diabetes, AVC prévio e fibrilação
atrial também estiveram relacionados com uma menor incidência do
sintoma. Por outro lado, o tabagismo e o etilismo se correlacionaram
com mais dor. Infelizmente, não temos informações detalhadas das
características das cefaleias a permitir a classificação das mesmas,
nem detalhes dos exames de neuroimagem que possibilitariam
tipificar melhor os AVC´s quanto ao tamanho, regiões cerebrais e
territórios vasculares acometidos. Certamente isso nos permitiria
uma melhor correlação dos achados. Não temos ainda um modelo
acabado que reflita os mecanismos envolvidos na cefaleia associada
à instalação da doença cerebrovascular. Várias conjecturas são
elencadas nos diversos trabalhos sobre o tema, todas no terreno das
hipóteses.
4,5,6
Certamente, desde mecanismos reflexos que podem
induzir dor a partir do território lesado à participação do sistema
trigêmino-vascular, dos sistemas simpático, parassimpático e
neuroendócrino além de mediadores locais, são muitas e, possivel-
mente, multifatoriais as possiblidades fisiopatológicas.
Conclusão: Conclusão:
Conclusão: Conclusão:
Conclusão:
Nossos dados demonstram que a cefaleia, presente na instalação de
cerca de um terços dos AVC´s sinaliza para a etiologia hemorrágica
(AVCH e HSA) e menor taxa de óbitos hospitalares por determinantes
que ainda precisam ser melhor estabelecidos em estudos apro-
priados.
Referências:Referências:
Referências:Referências:
Referências:
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TEMAS LIVRES CEFALEIA - APRESENTAÇÃO ORAL
Headache Medicine, v.2, n.3, p.99-128, Jul./Aug./Sep. 2011 123